• Nenhum resultado encontrado

4 A INSTITUIÇÃO CATÓLICA DE EDUCAÇÃO

4.1 HISTÓRICO

Marcelino José Bento Champagnat. Conhecer a história do Instituto Marista pressupõe desvendar o homem por trás do santo fundador, as relações mantidas com a família, o Estado e a Igreja, e as escolhas e motivações que o levaram a dar vida à missão de evangelizar por meio da educação.

Nasceu em 20 de maio de 1789, em Rosey, no município de Marlhes, na França, no auge da Revolução Francesa, conforme dados da entrevista realizada com a diretora do Centro de Estudos Maristas. O contexto político e ideológico turbulento de militarização, combate à Igreja e a precarização das escolas que marcavam o período, e a cidade natal de Champagnat, montanhosa, de clima rigoroso, e essencialmente agrícola, já sinalizavam que a vida do religioso seria de embates e muito trabalho.

Foi o nono, dos dez filhos de uma família do campo, bem educada e de posses. Do pai, Jean Baptiste Champagnat, que além de viver da terra, exerceu cargos públicos e ligados à Igreja local, herdou a valorização do trabalho. A mãe, Marie-Thérèse Chirat, e a tia religiosa, Irmã Thérèse, inspiraram em Marcelino a devoção a Deus e Nossa Senhora. A primeira escola de Champagnat era assim, a própria casa, onde aprendeu com os familiares a ler e escrever, mesmo que de forma rudimentar, e, sem saber, já semeava em si os princípios do instituto fundado anos mais tarde.

Na pré-adolescência, vai para escola formal, onde passa pela experiência que o acompanhará até o fim da vida e o sensibilizará para a formação dos mais empobrecidos. Presencia o professor esbofetear o colega de turma, que se antecipou à leitura de texto destinada a Champagnat. Só volta a frequentar os bancos escolares anos mais tardes, já no seminário. Até lá, trabalha, por quatro anos, sob supervisão do pai, com ovelhas, no moinho e em marcenaria. “Era um adolescente praticamente analfabeto quando respondeu ao chamado de Deus para ser sacerdote”, como mostra a biografia (FURET, 1999, p. 11-12).

O trabalho e a família passam a imprimir valor essencial no caráter do futuro religioso, que mais tarde ficam claros na identidade, missão e obra de Champagnat.

O convite para ingressar no seminário veio aos 16 anos, de um padre que o visitou em casa. Para frequentar a instituição, teve de aprender latim e francês com o cunhado, com extrema dificuldade e falta de estímulo do parente.

Após o ingresso no Seminário Menor de Verrière, as limitações de aprendizado e o mau comportamento o fizeram ser expulso ao final do primeiro ano de estudo.

Todos os obstáculos, longe de desanimar o jovem, o confirmavam cada vez mais no seu propósito. Acompanhado pela mãe, Marcelino foi em peregrinação ao túmulo de São Francisco Régis em La Louvesc. Na volta, anunciava à família: ‘Preparem minhas coisas; quero ir para o seminário, hei de conseguir, já que Deus me chama’. (ZIND, 1988, p.41).

No retorno aos estudos, adota outra postura e adquire o respeito de educadores e colegas. Depois de oito anos, parte para o Seminário Maior, em Lyon, onde vai se preparar para o sacerdócio. Engaja-se em grupo de seminaristas, liderado por Jean Claude Courveille, que alegava ter recuperado a visão, quando adolescente, por intercessão de Nossa Senhora, ao passar nos olhos óleo da lamparina da Igreja de Nossa Senhora de Puy. Uma voz interior lhe ordenava a fundar, “para o combate dos Últimos Tempos, a “Sociedade de Maria” (ZIND, 1988, p.134).

A Sociedade seria formada por sacerdotes missionários, para, essencialmente, pregar o evangelho e a catequese. Como destaca Lanfrey (2013, p.60), o objetivo era regenerar a fé, não somente na França, por toda a parte, em todo o mundo, pela ação missionária inspirada nos Jesuítas, por meio de árvore de três galhos: padres, irmãs e ordem terceira. Em 22 de julho de 1816, 12 religiosos são ordenados, na Catedral de São João Batista, em Lyon. No dia seguinte, vão à Igreja de Fourvière, santuário mariano, fazer a consagração, com a promessa de que, onde quer que estivessem, levariam adiante o compromisso com a Sociedade de Maria.

O texto da “Promessa de Fourvière” revela os elementos fundantes da Congregação Marista, ou de Maria, e o compromisso estabelecido com a Igreja, nas figuras do papa e do bispo, e com o rei.

Em nome do Pai, do filho e do Espírito Santo, tudo para maior glória de Deus e a honra de Maria, mãe de nosso Senhor Jesus Cristo, nós, abaixo assinados, queremos trabalhar para a maior glória de Deus e de Maria, nosso Senhor Jesus Cristo, afirmamos que temos a sincera intenção e a firme vontade de nos consagrar, logo que surgir a oportunidade da

instituição da piedosíssima Congregação dos Maristas. Eis que, pelo presente ato, que leva a nossa assinatura, dedicamo-nos, irrevogavelmente, nós e tudo o que temos, tanto quanto possível, à Sociedade da Bem- aventurada Virgem Maria. E este compromisso, nós o assumimos não levianamente como crianças, nem por razões humanas ou por algum interesse temporal, mas com toda seriedade, após termos refletido seriamente, tomado conselho e pesado tudo diante de Deus, para a glória de Deus e a honra de Maria, mãe de nosso Senhor Jesus Cristo. Para atingirmos esse objetivo, dispomo-nos a assumir quaisquer contrariedades, trabalho, sofrimento, e, se preciso for, todos os tomentos, tudo podendo naquele que nos dá forças, nosso Senhor Jesus Cristo, a quem, por isso mesmo, prometemos fidelidade, no seio de Nossa Mãe, a santa Igreja Católica e Romana. Unindo-nos, com todas as nossas energias, ao chefe santíssimo dessa mesma Igreja, um romano pontífice, e também ao nosso reverendíssimo bispo, para deste modo sermos bons ministros de Jesus Cristo, nutridos pelas palavras de fé e da sã doutrina, que recebemos por sua graça. Confiamos que, sob o governo partícipe religioso, de nosso rei cristaníssimo, esta maravilhosa instituição será fundada. Prometemos, solenemente, nos doar, nós e tudo que temos, para salvarmos as almas por todos os meios, sob o nome augustíssimo da Virgem Maria e sob seus auspícios. Respeitamos, entretanto, em tudo o parecer dos superiores. Louvado seja a Santa Imaculada Conceição, da Bem-aventurada Virgem Maria, que assim seja. 23 de julho de 1816. (FURET, 1999, p.29).

Embora fizesse parte do grupo de padres diocesanos, ou seja, subordinados aos bispos, Champagnat desejava criar o quarto ramo na Sociedade de Maria, formado por Irmãos, religiosos, não sacerdotes, dedicados à educação, à evangelização e com caráter missionário. Devido às dificuldades enfrentadas de aprendizagem, pelas qual passou, em grande parte em função das limitações dos professores e de recursos pedagógicos da época, Marcelino desejava dar um futuro diferente às crianças e jovens. O grupo de neossacerdotes, no entanto, divergia sobre a real necessidade desse perfil de religioso, já que a proposta não configurava entre as prioridades da instituição. No entanto, concordaram com a proposta, desde que idealizador assumisse a responsabilidade pelo novo ramo. Ele assim o fez.

A Sociedade de Maria deu origem a congregações distintas, que surgiram em diferentes momentos históricos, mas que em comum têm o compromisso com a vida religiosa inspirada em Maria de Nazaré. Missão e identidade são distintos. O Irmão Marista Ivo Strobino (2007, p. 88), estudioso da história e espiritualidade da congregação, demonstra os quatro ramos maristas, com os respectivos fundadores e anos de fundação.

Extraído da apostila Hermitage Marista, de autoria do Ir. Ivo Strobino – Curitiba/PR – abril 2007.

Documentos relacionados