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5.4 ONGA’S E A PARTICIPAÇÃO NA GESTÃO DA BACIA HIDROGRÁFICA

5.4.2 Histórico e evolução da atuação política

Durante os primeiros anos de existência, as ONGA’s não mantinham nenhuma relação institucional com a administração pública, tanto pela inexistência de oferta estatal de participação, como, no caso da LPN, terem se constituído em meio à ditadura. Entretanto, há

Solidariedade Autonomia Cumplicidade Comprometimento Liberdade Supra-ONGA Inter-ONGA’s Intra-ONGA Sincrônica: entre as gerações presentes Diacrônica: com as gerações futuras Entre as instituições Igualdade de oportunidades Respeito Mútuo Confiança Responsabilidade Dedicação Cooperação

aquelas que desde cedo se firmaram na relação cooperativa com o governo – quer seja local, como a ADPM, quer seja nacional, como o GEOTA, em que um membro era ponte direta com a administração pública.

Com a abertura democrática e a organização de espaços consultivos de envolvimento da sociedade na gestão pública, todas as ONGA’s passaram a participar em diferentes iniciativas promovidas pelo governo. Tais iniciativas foram em boa parte orientadas pela ampla legislação no domínio do ambiente a partir de 1987, mas também impulsionadas pela adesão de Portugal à Comunidade Européia, cujas exigências para financiamentos de intervenções com impactos no ambiente influenciaram uma gestão pública mais democrática, já que os mecanismos legais previstos desde a Constituição de 1976 foram pouco efetivos neste sentido. As ONGA’s também estiveram envolvidas em algum tipo de manifestação e/ou protesto público, existindo mesmo aquelas que voltam parte de suas atividades para tal fim, como a QUERCUS.

As razões que levaram as ONGA’s a entrar no espaço público, estão associadas principalmente à oferta estatal, mas os interesses são, primordialmente, a busca por influenciar as políticas públicas e as ações governamentais no domínio do ambiente, e, ainda, tornar o trabalho da organização reconhecido publicamente, até obter apoio e simpatizantes junto à opinião pública e buscar voluntários para suas causas.

Nos primeiros anos de atuação, as atividades das ONGA’s estavam voltadas para a educação ambiental visando à proteção e conservação do meio ambiente. Realizavam também estudos sobre a questão ambiental e, mais reservadamente, dedicavam-se também à denúncias de crimes ambientais ou descumprimentos de leis. Atualmente, mantém as mesmas perspectivas, embora mais diversificadas devido a sua consolidação e tempo de existência, mas com a incorporação da mobilização política no seu conjunto de atividades, seguida da gestão das águas e, em alguns casos, da pesquisa científica.

Essa transição entre as atividades originalmente desenvolvidas pelas ONGA’s e as desenvolvidas atualmente tem, na concepção dos entrevistados, causas variadas: o amadurecimento e profissionalização dos membros, o crescimento das intervenções públicas com consideráveis impactos ambientais, a ausência de aplicação de instrumentos de ordenamento do ambiente e a necessidade de influenciar as políticas públicas no domínio do ambiente. Esta transformação no campo de atividades das ONGA’s conduziu a mudanças

significativas em suas estruturas e competências: maior planejamento e organização das atividades, maior reconhecimento social das ONGA’s atraindo novos associados e membros, e maior influência e respeito no espaço público. A inserção na agenda política da questão ambiental, a partir do final da década de 1980, trouxe também a possibilidade de diversificação das fontes de financiamento do trabalho das ONGA’s, considerada fundamental para a continuidade e ampliação de suas atividades. A ampliação dos recursos e a adesão de mais técnicos do setor permitiram que as próprias ONGA’s incrementassem a produção de informações e análises autônomas dos problemas ambientais, favorecendo a passagem de uma postura reativa às demandas do governo para uma postura pró ativa de estabelecimento de agendas e demandas.

De fato, houve também mudanças na estrutura organizacional destas organizações que são refletidas: pelo fortalecimento institucional para realizarem lobbie junto ao governo; pelas oportunidades de financiamento que permitiram a contratação de técnicos em tempo parcial ou integral, ou sob demanda, tornando-as setores de emprego; pela descentralização de suas atividades em níveis regional e local, criando núcleos e delegações favoráveis a sua atuação em nível nacional; e, por fim, pela possibilidade de aquisição de terras para fins de conservação, tornando algumas das ONGA’s proprietárias de bens imóveis.

A entrada das ONGA’s no campo da gestão das águas deu-se também sob duas formas principais, a primeira e mais frequente vem com a própria criação da ONGA, cujos princípios de atuação, voltados para o meio ambiente, tinham a questão dos cursos d’água como um de seus temas mobilizadores. A segunda, se deve ao debate sobre a Barragem do Alqueva em meados da década de 90, impulsionando as ONGA’s de uma maneira geral a se engajarem de forma mais politizada e técnica na questão dos recursos hídricos.

A entrada nos espaços públicos ofertados pelo governo, a partir do cumprimento de dispositivos legais e a dimensão territorial do país, permitiu que as ONGA’s se articulassem na participação em esfera nacional, regional e mesmo local. A adesão a redes internacionais, bem como a projeção que ganham com a busca de apoio à ONG’s internacionais e a elevação do processo de disputa contra Alqueva ao nível da Comissão Européia, ampliaram o âmbito de ação das ONGA’s para o nível internacional. Esta entrada mais visível no espaço público das ONGs nacionais (LPN, QUERCUS e GEOTA) resulta da sua articulação pela primeira vez, do processo de decisão da localização da nova ponte sobre o Tejo que segue à entrada de Portugal na EU em 1987. A articulação entre as 3 ONGs nacionais permitiu uma expansão no espaço de decisão e consequentemente a possibilidade de recorrer a espaços de arbitragem

superiores, como por exemplo o tribunal europeu, fomentando uma aprendizagem de trabalho colaborativo entre as ONGA’s (VASCONCELOS, 1997a).