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Na atualidade, o termo “sociedade civil” é palavra de ordem no discurso público e universal (KEANE, 1998). Segundo o autor, que refaz o caminho do ressurgimento histórico do termo e seu emprego global, fala-se tanto mais em sociedade civil hoje muito em vista de períodos históricos que marcaram recentemente diferentes sociedades, especialmente as lutas pela redemocratização na América Latina; bem como o incremento de organizações cívicas não governamentais no cenário internacional com agendas que reforçam relações além das

fronteiras estatais, ou, ainda, pela crença no que o autor chama de “Mito da Harmonia Coletiva” (KEANE, 1998, p. 46, 90).

Não obstante, não será feito aqui um apanhado histórico sobre o conceito de sociedade civil ao longo da história, começando pelo mundo grego, e passando pelas teorias modernas. Impõe-se neste trabalho uma escolha teórica pelo referencial de sociedade civil que auxiliará adequadamente aos argumentos desenvolvidos à guisa da compreensão da participação como oferta de políticas públicas setoriais descentralizadas. O que se pretende aqui, contudo, é evitar, como apresenta Keane (1998), uma concepção pragmática de sociedade civil: ou seja, que a sociedade civil seja concebida apenas como uma orientação para formulação de dada estratégia ou projeto político, esquecendo-se os seus aspectos conceituais e tornando-a um discurso vazio de significado.

Para tanto, torna-se imperativo utilizar alguns teóricos como base de sustentação do conceito de sociedade civil, tal como pretendeu-se neste trabalho. De Antonio Gramsci – cuja teoria política foi, como aponta Keane (2004) usada como arma contra o autoritarismo na América Latina – dirijo-me a Alain Touraine e Bernardo Sorj. De fato, traduzir o conceito de sociedade civil construído de maneira difusa na densa e extensa obra de Gramsci é tarefa arriscada, cabendo portanto a utilização de alguns autores que se consagraram como seus intérpretes no Brasil.

No prefácio da obra de Giovanni Semeraro, Carlos Nelson Coutinho, outro intérprete do trabalho de Gramsci, define bem o conceito deste último para sociedade civil: “uma arena privilegiada da luta de classe, uma esfera do ser social, onde se dá uma intensa luta pela hegemonia, e por isso, ela não é o “outro” do Estado, mas – justamente com a “sociedade política” ou o “Estado-coerção” – um dos seus inelimináveis momentos”.

Para Gramsci, segundo Semeraro (1999), a sociedade civil é o lugar onde se decide a hegemonia, onde se confrontam diversos projetos de sociedade, até prevalecer um que estabeleça a direção geral na economia, na política e na cultura. No seio da sociedade civil existe disputa pela hegemonia que se baseia na melhor ideologia e meios pra estabelecer tal direção acima das outras possíveis – além de contar com uma forma especifica de economia social.

Já em cárcere no final da década de 20, Gramsci aprofunda o seu pensamento sobre a sociedade civil, para que não fosse cooptada pela classe hegemônica, e para que o Estado5 fosse realmente democrático. Assim, as idéias de Gramsci têm uma estreita relação com o modo como ele analisou a sociedade civil em um momento de recuperação do regime capitalista frente ao levante das massas nos países do ocidente e a situação ideal para a concretização dos ideais revolucionários da sua época – uma sociedade regulada, onde o Estado se dissolveria.

A maior complexidade da sociedade civil ocidental, segundo Gramsci, livre, aberta, múltipla, dinâmica e criativa, impedia de se pensar tomar e manter o poder somente pela força e coerção – haja a ver que a “revolução passiva” apresentava além da racionalização, massificação e manipulação do imaginário coletivo. Antes mesmo da subida ao poder, já era para Gramsci possível estabelecer uma direção hegemônica sobre os grupos mais avançados da sociedade civil – o poder efetivo (SEMERARO, 1999).

Para Gramsci, portanto:

“[...] a sociedade civil é uma categoria dinâmica, de movimento, capaz de combinar na ação dos grupos sociais diferentes, forças convergentes e situações conjunturais dentro de amplos objetivos estratégicos – e é onde se define a política e se opera a compreensão critica de si mesmos por meio duma luta de hegemonias política, de direções contrastantes – antes no campo da ética, depois da política – para chegar a uma elaboração superior da própria concepção do real” (SEMERARO, 1999, p.83).

Ainda, para se compreender as idéias políticas de Gramsci sobre a sociedade civil, torna-se essencial nos debruçarmos também sobre a definição de sociedade política. Em Gramsci, enquanto a sociedade civil se caracteriza “pela elaboração e difusão das ideologias e dos valores simbólicos que visam a direção, a sociedade política - em relação dialética à primeira – compreende as instituições mais públicas como o governo, a burocracia, as forças armadas, o sistema judiciário, o tesouro público, etc., e se caracteriza pelo conjunto de aparelhos que concentram o monopólio legal da violência e visa a dominação” (SEMERARO, 1999. p.74; grifo nosso).

Assim, Semeraro (1999, p. 79) acrescenta sobre Gramsci, que:

5Ainda segundo Semeraro (1999), Gramsci considera o Estado o conjunto formado pela sociedade política e a sociedade civil, duas esferas da “superestrutura” – distintas e autônomas, mas em relação dialética: indissociáveis, a hegemonia encouraçada de coerção.

“[...] não há pressupostos mais apropriados para entender a sociedade civil como terreno surpreendente e aberto às determinações dos homens, que podem criar tanto formas de democracia e de participação das massas, valorizando a riqueza de suas iniciativas, como também podem instaurar formas de “revolução passiva” e ate “totalitarismo ideológico” que chegam a neutralizar as organizações da sociedade civil”.

Uma vez visto que as idéias políticas de Gramsci surgem num contexto histórico e político específico, centradas na atuação do partido e dos movimentos sindicais de sua época, torna-se necessário trazer o debate sobre o conceito de sociedade civil para a contemporaneidade. Para Keane (1998), embora haja elementos significativos na teoria de Gramsci, o papel das massas na condução de um novo projeto hegemônico não poderia ser aplicado às sociedades contemporâneas e seus sistemas capitalistas, nos quais as condições sociais e políticas sofreram profundas alterações, bem como o sistema político. Assim, o autor argumenta que o totalitarismo teve espaço onde a sociedade civil não estava bem desenvolvida, emergindo de crises revolucionárias em busca de uma maior abertura democrática. Segundo ele, o totalitarismo e democracia não seriam contraditórios, e os avanços em termos democráticos encontram-se no estímulo à formação da sociedade civil, mais do que em uma revolução súbita, quer esta venha das massas ou instaurada pela tomada do poder.

Touraine (1996) chama a atenção para o perigo de, em nome da democracia, serem deflagradas a manutenção dos status dos grupos dominantes que reduz os cidadãos a eleitores, e a ausência de garantia do reconhecimento e proteção da diversidade de orientações culturais. Na atualidade, segundo o autor, estaríamos “frente a uma sociedade civil que mais se aplica no entendimento e consolidação da democracia do que na tomada do poder pela força”.

Dada a sua teoria onde os conceitos estão intimamente associados, é impossível entender a democracia sem a relação entre Estado, Sociedade Política e Sociedade Civil, e esta, particularmente, sem o entendimento do sujeito. Inicialmente na concepção do autor, de forma clara e sucinta, a função da democracia é “limitar o poder e responder as demandas da maioria” (TOURAINE, 1996, p.23). Para ele, é o sistema político, devidamente autônomo, que se configura como espaço da democracia, não só por apreender da forma mais ampla possível a pluralidade de interesses e demandas da sociedade civil, como por intermediá-los junto ao Estado. Estado e sociedade civil, de lógicas distintas e muitas vezes opostas, devem ser ligados pela representatividade dos dirigentes políticos, e é por meio deles que a segunda

legitima o primeiro. A sociedade civil configura-se, assim, no espaço da pluralidade de atores e relações sociais marcadas pelo conflito, consenso e cooperação. É o espaço da liberdade de opinião, reunião e organização, da heterogeneidade e não da homogeneidade. Como afirma o autor:

“[...] entendo aqui por Estado os poderes que elaboram e defendem a unidade da sociedade nacional diante das ameaças e problemas externos ou internos, em relação também ao seu passado e futuro, portanto, à sua continuidade histórica. É mais do que um poder executivo: é igualmente administração. O sistema político tem uma função diferente, a saber: elaborar a unidade a partir da diversidade, e por conseguinte, subordinar a unidade às relações de força que existem no plano da sociedade civil, reconhecendo o papel dos partidos políticos que se interpõem entre os grupos de interesses ou as classes e o Estado [...]. A sociedade civil não se reduz a interesses econômicos; é o domínio dos atores sociais que são orientados por valores culturais e, ao mesmo tempo, por relações sociais, muitas vezes conflitantes” (TOURAINE, 1996, p.63).

O conflito não é uma expressão negativa para o autor, ela resulta do confronto da multiplicidade de indivíduos, grupos e interesses que coexistem na sociedade e que só a democracia pode colocar em debate contra toda lógica de dominação e poder contra o sujeito. Assim, torna-se difícil falar de sociedade civil em Touraine sem tratar do sujeito, “que é liberdade pessoal, mas também faz parte de uma sociedade e de uma cultura, que é projeto, mas também memória, simultaneamente, libertação e engajamento” (TOURAINE, 1996, p.32). Para o autor, o sujeito é um projeto inacabado que se constitui nas lutas contra a lógica dos aparelhos dominantes. Um dos atores sociais em que Touraine (1996, p.84) dedica elaborada conceituação são os movimentos sociais – “ações coletivas que visam modificar o modo de utilização de recursos importantes em nome de orientações culturais aceitas na sociedade considerada”.

Sua concepção está associada sempre à atuação pela libertação de um ator. Por isso, em “Poderemos Viver Juntos”, Touraine coloca a sociedade civil como espaço das “ações coletivas para libertação dos atores sociais e contra o funcionamento da economia dominada pelo lucro e pela vontade política de dominação” que ele considera os dois sistemas de poder” (TOURAINE, 1998, p.121). Embora promotor do conflito, não pressupõe violência, e sim negociação com o Estado. O conflito inevitável, mas indissociável da democracia, chega mesmo a ser sua base sólida, pois é através dele que os diferentes grupos sociais estão em confronto e debate expressando suas identidades. Identidades essas que devem ser respeitadas

e que representam demandas que podem chegar ao plano político e ser conduzidas até o Estado. Assim, para o autor, o sistema político não é acessado diretamente pela sociedade civil – a não ser pelo voto, que nem sempre é tão consciente. Não se trata, portanto, de crer no sufrágio universal tão somente como caminho para a democracia, uma vez que tem se mostrado uma crise de representação política nas últimas décadas, cujos interesses pessoais dos dirigentes e de aumento de seu próprio poder tem se sobreposto às demandas sociais. Tal crise, segundo o autor, aliada à perda do caráter de mobilização do proletariado no cenário da sociedade industrial, levou a um enfraquecimento da participação, e a um retraimento à vida privada. A representatividade estaria associada à capacidade do sistema político de exprimir as reivindicações formadas a partir da sociedade civil, considerando os diferentes setores da vida social. Por outro lado, se não há participação e as demandas não se expressam no plano político, perde-se a conexão entre a sociedade civil e o sistema político e a democracia deixa de existir abrindo-se espaços para os interesses pessoais ou dos grupos dominantes, pois segundo Touraine (1996, p.95). “não há democracia sem o reconhecimento de um campo político onde se exprimem os conflitos sociais e se formam, por voto majoritário, decisões reconhecidas como legítimas pelo conjunto da sociedade”.

Assim, torna-se fundamental para o autor que o sistema político represente a mais ampla diversidade de indivíduos e grupos sociais, o que garantirá que o maior nível de interesses possa ser difundido. O que Touraine busca é a menor desigualdade possível e só através da democracia é possível que os grupos menos favorecidos tenham iguais condições de participar das decisões e de limitar o poder e gerir, mesmo que indiretamente, as instituições sociais, tanto quanto os detentores de recursos políticos, econômicos e culturais. Aos grupos menos favorecidos, o “Estado deve garantir o direito de agir no quadro da lei contra a ordem desigual de que o próprio Estado faz parte” (TOURAINE, 1996, p.37).

Tanto a sociedade civil contemporânea vive uma complexidade diferente da que marcava a sociedade industrial, como os partidos que representam as classes sociais hoje absorvem diferentes projetos de vida coletiva e até os interesses de movimentos sociais. O espaço público, que permite a expressão das opiniões, demandas e interesses sociais - sobretudo dos grupos menos favorecidos que tem menos recursos econômicos e administrativos, também sofre mudanças: a mídia passa a ser um dos principais canais de veiculação, embora sob controle e influência de interesses dominantes da sociedade de consumo. Mas Touraine afirma que é positiva essa permeabilidade do espaço público pelos interesses da sociedade civil frente à invasão do espaço político pelos problemas do Estado e

exigências do mercado; e que são as organizações contemporâneas da sociedade civil, como as ONG’s e movimentos sociais, que mobilizam a mídia para os debates sobre os desafios à democracia que antes giravam em torno da ação dos sindicatos e partidos políticos; embora dissociados da formulação das políticas econômicas.

Não obstante, o autor não defende a transição da democracia representativa para a democracia participativa, mas a complementaridade entre as duas. Ele concorda em vários momentos sobre a importância cada vez maior que assume o cidadão no controle das decisões. Entretanto, ele não concebe um poder do povo, que levaria a um governo de massas, e ao risco de autoritarismo, mas defende que o poder seja realizado de baixo para cima, intermediado pelo sistema político.

Não é difícil de entender, após verificar sua defesa de uma democracia onde as minorias não sejam excluídas pelos grupos dominantes, que seu receio de uma substituição do sistema político pelo de representações diretas, pode, como afirma Bento (2003), excluir mais ainda as minorias que não têm organização ou preparo suficiente para competir com as organizações mais fortes da sociedade. É o sistema representativo que tem o papel de zelar pela extensão dos direitos a toda a sociedade, embora a democracia exista quando o maior número de pessoas tem vontade de participar das decisões que afetam suas vidas, desde que não se corra o risco do que Norberto Bobbio chama de cidadão total6 (BENTO, 2003, p.220). Assim, Touraine adverte sobre o fato das demandas sociais se subordinarem a programas políticos:

“[...] pelo fato de fazer reivindicações mais morais e culturais do que econômicas, (a sociedade civil) só pode agir em ligação com forças políticas; mas estas , por sua vez, não podem confundir-se com partidos e coalizões que administram a política nacional. Assim se constrói, a meio caminho entre os programas políticos e as situações sociais, um conjunto de mediações simultaneamente sociais e políticas. O exemplo mais claro são as ONGs nos paises subdesenvolvidos. Elas são movimentos de opinião e até movimentos sociais, mas também elementos do sistema político – ao qual as vezes são censuradas de pertencerem diretamente demais. Esta ligação entre demandas ou protestos sociais e forças de influência política opera-se muito mais em nível local do que em nível profissional, o que dá a vida política local e social local uma independência crescente em relação ao nível nacional”(TOURAINE, 1998, p.122).

Teríamos até aqui, três dimensões que para o autor constituem a democracia: respeito pelos direitos fundamentais, cidadania e representatividade dos dirigentes políticos (TOURAINE, 1996). Entretanto, o autor persiste na idéia do sujeito profundamente ligada à cultura democrática: ela tem a ver com a libertação dos indivíduos e/ou grupos dominados pela lógica de qualquer tipo de poder. Tal libertação, tida para o autor tanto pela sua concepção negativa quanto positiva, está vinculada à condição de formação do sujeito. A democracia garante, portanto, as condições para a formação do sujeito, que é capaz de resistir a toda lógica de dominação e de lutar pela sua liberdade não como individualidade, mas como reconhecimento do outro também como sujeito, o que permite não só a sua autonomia, mas, também, sua atuação como cidadão em nome da democracia. Cidadão não apenas criado a partir das instituições e com interesses coletivos acima dos privados, mas cidadão como sujeito político que, para o autor, está “submetido às relações de dominação e poder, é defensor de seus interesses ao mesmo tempo que cidadão e é força da resistência ao controle não só da consciência comunitária , mas também dos grupos dirigentes” (TOURAINE,1996, p.169).

Nesse marco de referência, é construída a concepção cívica da cidadania, ou seja, o interesse pela intervenção ativa na vida coletiva; assim como a concepção de sujeito ligada à “capacidade e a vontade do indivíduo que pretende ser um ator, de controlar seu meio ambiente e ampliar seu espaço de liberdade e responsabilidade” (TOURAINE, 1996, p.187). Por isso é preciso falar em cultura democrática, pois a democracia não pode ser reduzida a um conjunto de procedimentos institucionais que visam garantir os direitos de todos os cidadãos, no sentido da liberdade negativa:

“[...] mas antes de tudo o respeito pelos projetos individuais e coletivos, que combinam a afirmação de uma liberdade pessoal com o direito de identificação com uma coletividade social, nacional ou religiosa particular. A democracia não se apóia somente nas leis mas sobretudo em uma cultura política (TOURAINE, 1996:26)”.

Esta cultura política é “a concepção do ser humano que se opõe à resistência mais sólida a qualquer tentativa de poder absoluto – até mesmo validado por uma eleição – e, ao mesmo tempo, suscita a vontade de criar e preservar as condições institucionais da liberdade pessoal” (TOURAINE,1996, p.156).

Mesmo que considere que o sujeito não pode ser reduzido a cidadão devido a sua consciência de liberdade, a democracia não pode existir sem que o sujeito participe da vida

pública e requisite o direito de participar direta ou indiretamente nas decisões que afetam sua vida. Assim, a democracia passa de uma perspectiva negativa, para a democracia positiva.

A democracia acontece, enfim:

“[...] quando os atores sociais e atores políticos estão ligados plenamente uns aos outros e, portanto, quando a representatividade social dos governantes estiver garantida, com a condição de que essa representatividade esteja associada à limitação dos poderes e à consciência de cidadania” (TOURAINE, 1996, p.92).

Dada a transformação e a complexidade da sociedade civil pós-sociedade industrial, já discutida a partir da exposição dos autores anteriores, não poderia deixar de complementá-la ao apresentar uma abordagem voltada especificamente para o contexto da América Latina.

Quando Bernardo Sorj procura definir o conceito de sociedade civil, sem encerrá-lo em si mesmo, identifica-se como um observador de sua realidade e contesta a utilização de conceitos que foram pensados em épocas e realidades distintas e que, portanto, foram marcados pelas diferenças norte-sul. Para Sorj (2005), é mais conveniente tratar-se de “sociedades civis”, não só por considerar o contexto histórico, político e cultural onde são observadas, como também por se tratar de um conceito em movimento que atende as transformações dos próprios atores sociais e o surgimento de novos atores que a constituem. As ONG’s seriam para este autor um bom exemplo da evolução dos atores sociais nas sociedades civis.

Para ele, uma definição da sociedade civil deve ser clara, inclusiva, e observada na contemporaneidade da transição dos regimes autoritários para a abertura democrática no contexto capitalista e de globalização neoliberal. Como ele mesmo afirma: “a sociedade civil é uma instituição das modernas sociedades capitalistas democráticas” (Sorj, 2005, p.11).

O espaço público, outro conceito importante na visão do autor, refere-se a um espaço de constituição dos atores sociais – onde estes se engajam espontaneamente e experimentam uma reflexão sobre sua identidade e/ou alteração da própria realidade. Embora esteja em constante transformação, o autor considera, também, que atualmente o espaço público tenha sido reduzido pela criação e difusão dos meios eletrônicos de comunicação. Entretanto, ele acrescenta que nas sociedades atuais é impossível imaginar a atuação na esfera pública sem os recursos humanos e materiais que se designam na contemporaneidade, e que o grande desafio é realizar no espaço público os princípios da cultura democrática.

Com esta opção teórica sobre o conceito de sociedade civil, passa-se então ao tema da participação social e as abordagens que têm sido empregadas no envolvimento da sociedade nos espaços públicos.