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Capítulo 1. Educação a Distância: conceitos, histórico, legislação e considerações

1.3 Histórico e as gerações da EaD

Ao contrário do que muitos pensam, a EaD enquanto uma forma de educação que permite a pessoas separadas espaço-temporalmente se instruírem não é uma novidade do nosso tempo. Têm-se indícios de que desde a invenção da escrita já eram realizadas trocas de informações e experiências que poderiam ser caracterizadas como EaD.

A esse respeito Malheiros (2008) refere-se às cartas de Platão, por exemplo, que datam de 400 a.C. e as Epístolas de São Paulo, por volta dos anos 50 d.C., que podem ser consideradas as experiências mais antigas das quais se tem conhecimento.

Posteriormente a autora aponta para a invenção da imprensa de Guttenberg, no século XV, que possibilitou a publicação em larga escala da palavra escrita. Nesse momento podemos considerar que a EaD teve seu primeiro grande avanço tecnológico.

No final do século XVIII surgiu o serviço postal na Europa e com ele as primeiras iniciativas de educação por correspondência. Até meados do século XX esse foi o modelo de EaD predominante. Algumas das iniciativas das quais se tem notícia se utilizavam também de tecnologias combinadas à correspondência, como o telefone.

Com relação às tecnologias utilizadas pela EaD nas diferentes épocas, Moore e Kearsley (2007) citam diversas gerações de EaD ao longo da história, a partir de 1880, quando era possível obter instrução de um professor a distância através do serviço postal eficiente, tornado possível principalmente pela ampliação das redes ferroviárias na Europa.

Os autores mencionam que a primeira geração da EaD, a realizada através de correspondência foi utilizada pela primeira vez no ensino superior pelo Chautauqua

Correspondence College, que em 1883 recebeu autorização do estado de Nova York para

conceder diplomas de bacharel nos cursos por correspondência. Nesse período o principal motivo para o oferecimento de cursos a distância era beneficiar aqueles que de outro modo não poderiam estudar, como as mulheres, que não tinham acesso às instituições tradicionais e por isso tinham materiais entregues em suas casas.

No Brasil a primeira instituição a oferecer cursos não presenciais foi o Instituto Monitor, inaugurado em 1934. Os alunos tinham acesso através de correspondência a folhetos e esquemas de aula (MALHEIROS, 2008).

Na segunda geração, segundo Moore e Kearsley (2007), com a popularização da comunicação através de rádio, no início do séc. XX, muitos educadores se mostraram otimistas quanto a sua utilização. Em 1925 a State University of Iowa oferecia seus primeiros cursos pelo rádio, através de uma emissora educacional. A programação, no entanto, era extremamente amadora no que se refere à qualidade técnica.

A TV foi utilizada pela State University of Iowa no ano de 1934. A universidade transmitiu nesse ano pela televisão programas relacionados à higiene oral e astronomia. Essa forma de educação teve mais sucesso que a rádio educativa, pois contou com o apoio financeiro da Fundação Ford que doou centenas de milhões de dólares para a transmissão educativa.

Em 1972 uma lei federal americana exigiu que todos os canais a cabo a tivessem pelo menos um canal educativo, tais programas foram chamados de Telecursos. Esses cursos de maneira geral integravam outras mídias como materiais impressos (guias de estudo, livros didáticos, guias para a administração e corpo docente).

No Brasil muitos projetos de EaD foram realizados com a utilização do rádio, como foi o caso do Projeto Minerva, que disponibilizou, sobretudo no meio rural, materiais e programas e assim reduziu as barreiras para os moradores do campo (MALHEIROS, 2008).

Com a popularização dos aparelhos de TV as aulas passaram a poder ser gravadas e reproduzidas numa proposta semelhante à da sala de aula presencial. A interação com os alunos começou a ser feita através de telefone, como auxiliar para tirar dúvidas.

E 1970 foi criada a Fundação Roberto Marinho, que oferecia cursos de ensino fundamental e médio no modelo de Teleducação, com aulas via satélite. A partir de 1978 a fundação Padre Anchieta em conjunto com a Roberto Marinho criou o Telecurso 2º grau, que

utilizava programas de TV e material impresso para realizar a formação de nível médio. Nos mesmos moldes do Telecurso 2º grau surgiu em 1995 o Telecurso 2000 (MALHEIROS, 2008).

A terceira geração da EaD, segundo Moore e Kearsley (2007), no fim dos anos 60 e começo de 70, foi quando surgiram as universidades abertas. As duas principais experiências foram a britânica (Universidade Aberta da Grã Bretanha) e norte-americanas (Projeto AIM da

University of Wisconsin) que integravam áudio/vídeo e correspondência com orientação face a

face, era baseada na abordagem sistêmica.

No Brasil a ideia de Universidade Aberta começou a gerar frutos no ano de 1986, quando uma comissão de especialistas do MEC produziu um documento denominado “Ensino a Distância uma opção”, proposta do Conselho Federal de Educação. O documento cita que a EaD deveria servir como alternativa válida para a democratização de oportunidades e entendendo a democratização como dependente de acesso, permanência e qualidade de ensino (PRETTI, 1996).

A quarta geração, iniciada nos anos 80, ocorreu com base na teleconferência, utilizada por grupos de pessoas, o que se aproximava mais da abordagem tradicional do ensino que ocorre nas classes, e por isso atraiu maior quantidade de educadores, ao contrário dos demais modelos com uso de correspondência ou de universidade aberta, que eram mais direcionados para que as pessoas aprendessem em casa. As primeiras iniciativas utilizavam-se de áudio conferência através de linhas telefônicas, que reuniam professores e alunos de praticamente qualquer localização em torno de qualquer estudo. Os estudantes além de terem acesso às informações passadas pelo professor poderiam responder e realizar questionamentos. A tecnologia impedia que fosse realizada áudio conferência com muitos participantes, por isso eventualmente era necessário dividir grupos de estudantes diversos (MOORE; KEARSLEY, 2007).

Com o lançamento de satélites de comunicação, a partir de 1965, foi possível expandir as comunicações possíveis. As universidades americanas começaram a fazer experiências com a transmissão de vídeos de programas educacionais. Universidades do Hawaii e do Alaska também se beneficiaram dessa tecnologia por terem a vantagem de comunicar-se a locais distantes e diversas ilhas até, no caso do Hawaii. Os custos, no entanto da transmissão e recepção via satélite eram altos. Apenas nos anos 90 foi possível que o sinal de satélite pudesse ser transmitido diretamente para as pessoas em suas casas ou escolas.

A comunicação bidirecional através de vídeo foi utilizada por Michael G. Moore em janeiro de 1986, quando foram realizados os primeiros cursos de graduação inteiramente transmitidos por teleconferência.

A quinta geração da EaD foi a em que a utilização de computadores e internet se tornou a principal forma de comunicação. Com o surgimento da internet e do primeiro navegador internet, o Mosaic, em 1993, foi possível que em qualquer distância as pessoas acessassem um mesmo documento, de diferentes equipamentos ou sistemas operacionais.

Na década de 90 algumas universidades como o New York Institute of Technology, e a

Penn State University começaram a utilizar programas baseados na internet e até cursos de

graduação completos on-line. Essa última realizou o primeiro curso de graduação em educação adulta por meio de um programa on-line chamado World Campus.

A expansão das iniciativas americanas de EaD on-line foi tanta que no final da década 83,3% das faculdades públicas e 74% das comunitárias já ofereciam cursos on-line. As faculdades privadas apresentaram um percentual menor, de cerca de 35,5% até o final da década.

A internet no Brasil começou a ser utilizada como apoio na educação à distância também ao final dos anos 90, quando ocorreu sua popularização, sobretudo em meio universitário. Com isso a interação passou a ser possível sem a necessidade de outros meios e a comunicação podia ser realizada de muitos para muitos (MALHEIROS, 2008).

Ressalta-se que da mesma forma que a EaD existiu durante algum tempo sem o advento da internet, nem toda iniciativa educativa que se utiliza de internet pode ser considerada EaD. Moore e Kearsley (2007, p. 2) acreditam que "(...) um curso a distância nem sempre é um curso on-line, mas pode ser." Um curso é muito mais que a variedade de tecnologias das quais se utiliza, é um conjunto de fatores como a existência de alunos, professores, conteúdo organizado em torno de objetivos de aprendizado, experiências de aprendizado e alguma forma de avaliação.