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De acordo com a legislação brasileira, a educação a distância é uma modalidade educacional, na qual a mediação didático-pedagógica nos processos de ensino-aprendizagem ocorre com a utilização de meios e Tecnologias da Informação (TI), com estudantes e professores desenvolvendo atividades educativas em lugares ou tempos diversos. Portanto, a compreensão sobre essas tecnologias vem contribuir para o processo de ensino- aprendizagem, representando, segundo Filatro (2004, p. 32), “uma oportunidade de redescobrir a natureza ímpar, insubstituível e altamente criativa da educação no processo de desenvolvimento humano e social”.

A educação a distância tem sido apontada como uma das várias soluções para as carências educacionais no contexto brasileiro atual. Ensejando tal perspectiva, projetos de cursos nessa modalidade são inseridos em políticas educacionais, mas que nem sempre refletem uma preocupação com o contexto cultural em que estão inseridas, nem tampouco para as condições reais que se desenvolvem, levando em conta que a educação, seja a distância ou não, deve ter como principal objetivo proporcionar ao estudante a autonomia no processo de aprendizagem.

Sua história tem início com a educação por correspondência já na idade média, segundo afirmam Moore e Kearsley (2007). No Brasil, os primeiros registros dessa estratégia de formação são do início do século XX, com iniciativas de formação através do rádio e com a criação do Instituto Universal Brasileiro (IUB), que vem proporcionando formação aos brasileiros há mais de 70 anos (FRÓES BURNHAM, 2002). Um pouco mais tarde, no final da década de 1950, a tecnologia do rádio passa a ser utilizada de forma mais intensa com a implantação do Serviço de Radiodifusão Educativa do Ministério da Educação (MEC)/Movimento de Educação de Base (MEB). Nos anos de 1970, é introduzida a tecnologia da televisão, quando foi criado o Programa Nacional de Tele-Educação (Prontel). A inserção efetiva dos sistemas computacionais acontece somente a partir da disponibilização da Internet para o grande público, em meados da década de 1990, mas ainda de forma tímida, em razão das limitações da infraestrutura de telecomunicações da época. Alcançar o ideal de infraestrutura tem sido um objetivo continuamente perseguido, considerando as constantes inovações dos sistemas computacionais que apoiam a educação a distância, com a inclusão ostensiva de vídeos e animações.

A educação a distância é um processo em construção, portanto, apesar da extensa história, e, por isso, permeiam dúvidas e impasses, em razão da existência de inúmeras questões, relacionadas à implantação desses cursos, ainda sem respostas mesmo nos dias de hoje. Esta confusão tem raiz no texto da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), que generaliza as modalidades de ensino, sem tratar sobre suas especificidades. Somente com o Decreto Lei no 2.494/1998 é que foram dadas algumas diretrizes para a estruturação de cursos nessa modalidade, como já mencionado anteriormente. Outros decretos e regulamentações foram promulgados posteriormente na tentativa de melhor orientar e reger o funcionamento dos cursos a distância, sendo: o Decreto Lei no 5.62228 de 19 de dezembro de 2005, que revoga o Decreto Lei no 2.494, de 10 de fevereiro de 1998, o qual inicialmente regulamentou o ensino nesta modalidade, fornecendo algumas diretrizes para a estruturação dos cursos. Esse Decreto, associado aos Decretos Lei no 5.773/200629 e no 6.303/200730, que alteram alguns de seus dispositivos, veio regulamentar o ensino a distância, já que a LDB, no 9.39631, promulgada em 20 de dezembro de 1996, referenciava a educação a distância apenas como uma complementação ao ensino presencial. A maior parte dos estados segue a regulamentação nacional para orientar a organização e funcionamento dos cursos na modalidade a distância. Porém, outros, como é o caso da Bahia32, Ceará, Paraná e Santa Catarina possuem legislação própria, baseada na federal.

Mesmo antes da promulgação da LDB em 1996, houve iniciativas em educação a distância no Brasil. Gonzalez (2005, p. 35-37) cita algumas dessas iniciativas, das quais cabe destacar que já em 1904, escolas privadas internacionais começaram a oferecer cursos pagos por correspondência; que o Instituto Universal Brasileiro começou a operar em 1939, e ainda hoje vem oferecendo cursos técnicos de aperfeiçoamento profissional, bom como o

28 Foi promulgado em 19 de dezembro de 2005 e regulamenta o Art. 80 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de

1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2005/Decreto/D5622.htm>. Acesso em: 30 out. 2012.

29 Foi promulgado em 9 de maio de 2006 e dispõe sobre o exercício das funções de regulação, supervisão e

avaliação de instituições de educação superior e cursos superiores de graduação e seqüenciais no sistema federal de ensino. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004- 2006/2006/Decreto/D5773.htm>. Acesso em: 30 out. 2012.

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Foi promulgado em 12 de dezembro de 2007 e altera dispositivos dos Decretos nos 5.622, de 19 de dezembro de 2005, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, e 5.773, de 9 de maio de 2006, que dispõe sobre o exercício das funções de regulação, supervisão e avaliação de instituições de educação superior e cursos superiores de graduação e seqüenciais no sistema federal de ensino. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/Decreto/D5773.htm> . Acesso em: 30 out. 2012.

31 Foi promulgada em 20 de dezembro de 1996 e estabelece as diretrizes e bases da educação nacional.

Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9394.htm>. Acesso em: 30 out. 2012.

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A resolução CEE no 79, de 3 de novembro de 2008, dispõe sobre a oferta de educação a distância no Sistema

de Ensino do estado da Bahia. Disponível em: <http://www2.abed.org.br/documentos/ArquivoDocumento333.pdf>. Acesso em: 30 out. 2012.

ensino supletivo; e que a Fundação Roberto Marinho iniciou em 1970, os telecursos de 1o e 2o graus, responsável pela formação de milhões de brasileiros. Por outro lado, foi somente na década de 1990, que as universidades começaram a investir em programas de educação superior e educação continuada, iniciando pela Universidade de Brasília (UnB), seguida pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

O governo brasileiro, inicialmente através da Secretaria de Educação a Distância (SEED), extinta em 2011, promove diversos programas de incentivo ao ensino a distância, tais como Proinfo, Mídias da Educação, Rived, TV Escola e Portal Domínio Público. Atualmente, inúmeros cursos estão sendo oferecidos, exclusivamente a distância, nas mais variadas áreas. Além das iniciativas da SEED, outras unidades do próprio MEC, como a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), através da Universidade Aberta do Brasil (UAB), a Secretaria de Educação Básica (SEB) e também iniciativas de outras esferas do governo federal brasileiro, como é o caso da Escola Nacional de Administração Pública (Enap), desenvolvem programas e projetos nessa linha. Esses programas e projetos vem fortalecer as políticas públicas de incentivo ao ensino na modalidade a distância.

Os programas desenvolvidos pelo MEC atualmente são: Banco Internacional de Objetos Educacionais, Domínio Público – biblioteca virtual, DVD Escola, e-ProInfo, e-Tec Brasil, Plataforma Freire, Programa de Atualização e Capacitação Continuada (PACC), Programa Banda Larga nas Escolas, Proinfantil, ProInfo, ProInfo Integrado, Portal do Professor, Programa Um Computador por Aluno (Prouca), Projetor Proinfo, UAB, e TV Escola. Dentre estes, o que mais se destaca seguramente é a UAB, que tem como missão ampliar e interiorizar a oferta de cursos e programas de educação superior, por meio da educação a distância. Tem como prioridade oferecer formação inicial a professores em efetivo exercício na educação básica pública, que ainda não possuem graduação na área de conhecimento em que atuam como docentes, além de formação continuada àqueles já graduados. Adicionalmente, também se propõe a ofertar cursos destinados a dirigentes, gestores e outros profissionais da educação básica da rede pública. Outro objetivo consequente do Programa, segundo o MEC, é reduzir as desigualdades na oferta de ensino superior e desenvolver um amplo sistema nacional de educação superior a distância (RIOS et al., 2009).

Para alcançar os objetivos a que se propõe, a UAB realiza ampla articulação entre instituições públicas de ensino superior, estados e municípios brasileiros, para promover, através da educação a distância, acesso ao ensino superior para camadas da população que

estão excluídas do processo educacional. O sistema UAB foi instituído em 2006, através do Decreto Lei nº 5.800, com a finalidade de expandir e interiorizar a oferta de cursos e programas de educação superior no país. Está ancorado sob cinco eixos fundamentais (UAB, s.d.):

a) Expansão pública da educação superior, considerando os processos de democratização e acesso;

b) Aperfeiçoamento dos processos de gestão das instituições de ensino superior, possibilitando sua expansão em consonância com as propostas educacionais dos estados e municípios;

c) A avaliação da educação superior a distância tendo por base os processos de flexibilização e regulação em implementação pelo MEC;

d) As contribuições para a investigação em educação superior a distância no país; e) O financiamento dos processos de implantação, execução e formação de recursos humanos em educação superior a distância.

O Sistema UAB funciona como articulador entre as instituições de ensino superior e os governos estaduais e municipais, com vistas a atender às demandas locais de educação superior e também continuada. Desse modo, funciona como um potencial instrumento para a universalização do acesso à educação pública, minimizando a concentração de oferta de cursos de graduação nos grandes centros urbanos e evitando o fluxo migratório para as grandes cidades.

Nessa articulação, é definida qual instituição de ensino deve ser responsável por ofertar determinado curso, quais serão as regiões atendidas e quais as parcerias locais serão necessárias para operacionalizar os polos de apoio presencial.

Figura 2.1 – Funcionamento da UAB33

O desenvolvimento de atividades pedagógicas presenciais é realizado em polos de apoio distribuídos por diversos municípios em todo o país, conforme ilustra a Figura 2.1, em que os estudantes entram em contato com tutores e professores e têm acesso à biblioteca e laboratórios de informática, biologia, química e física.

Uma das propostas da UAB é formar professores e outros profissionais de educação nas áreas mais diversas. O objetivo é a disseminação e o desenvolvimento de metodologias educacionais de inserção dos temas de áreas como educação de jovens e adultos, educação ambiental, educação patrimonial, educação para os direitos humanos, educação das relações étnico-raciais, de gênero e orientação sexual e temas da atualidade no cotidiano das práticas das redes de ensino pública e privada de educação básica no Brasil. Tais ações da UAB são uma resposta à demanda para o aperfeiçoamento profissional, especialmente para os profissionais de educação.

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