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Historia do homem da etnia "Tocandira"

No documento 1-1 i t órin do a t i { (páginas 187-193)

Naquele tempo, um homem daetnia.Maane,'Tocandira" ,foi corn a sua famflia atéoNuma!ia!i,0rio Umari. Todos os dias, quando ele ia pescar, eIe via0martim-pescador sair de la por um buraco até o Kuphe-inipll,,260rio Pira-parana. Isro é, eIe entrava de manha cedo pelo buraco e somente regressava à tarde, trazendo no bico muitos peixinhos. 0 ho-mem0observou fazer isso durante muito tempo.

- Deve ter um rio por aqui, ele pensou.

Um dia, eIe entrou no buraco e chegou na beira de um grande rio.

Al, eIe volrou para a casa e contou para a mulher deIe:

- La, ha um grande rio! Acho que tem muitos peixes. Algum dia, nôs iremos la fazer uma pescaria.

Esse rio, na realidade, nao era dessa terra, desse mundo. Era0 rio Umari,0rio subterrâneo, para onde vao os espiriros dos morros.

Cerro dia,0homem foi até la corn a mulher e os filhos. 0 buraco era bem grande. 0 homem entrou corn sua famîlia e iluminou corn um turi.

Eles viram entao um grande rio. Ele puxou a canoa corn a sua familia e entraram rodos no rio Umari. Começaram a subir0rio. Enquanto eles estavam subindo,0homem viu de longe algumas pontas bonitas. Mas era ru do capoeira. Ele viu também um lugar limpo.

- Vamos dormir aq ui, e1e disse.

Ele foi corrar uns paus para preparar um tapiri. Quando0tapiri esta-va pronto, e1e foi pescar. Ele pegou um bocado de peixes. Entregou-os para a sua mulher que os cozinhou. Eles comeram e foram deitar. Antes de dormir, a mulher falou:

- Você nos trouxe para um lugar muito triste. Aqui nao tem gente.

Você disse que havia muita gente, mas eu nao estou vendo ninguém. Por isso, eu me sinto muito triste.

1~iPfflÎ-mrirtÎcm tukano.

\26\Va /vaem tukano. Este rio tica na Colômbia.

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Eles adormeceram. Mais tarde, quando0homem acordou, as pontas que eram capoeiras haviam virado cidades todas iluminadas.

- Aqui tem gente. Olha para essas casas! Nos estamos dormindo num lugar onde naD tem ninguém. Vamos dormir para hl, e1e disse para a mulher.

Eles desamarraram as redes, colocaram as suas coisas dentro da ca-noa e atravessaram0rio. Ficaram dormindo no pono da cidade. Quando amanheceu, pelas cinco e meia da manha, as mulheres da cidade foram ao pono para tomar banho. Enquanto estavam descendo, e1as começaram a sentir0cheiro do corpo deI es. De fata,0ser humano tem um cheiro muita ruim. 0 homem e sua famflia tinham entrado no rio Umari corn0 carpo e tudo. Os moradares dessa cidade eram todos monos. Par isso, sentindo0cheiro, uma das mulheres falou:

- Chegou aqui um homem corn corpo humano. Pelo jeito, ele ainda naD jogou fora0seu carpo. Quem sera? Vamos ver!

- Sera alguém que nos conhecemos? sera um de nossos parentes?, perguntou outra.

Elas foram olhar. Elas eram tadas parentes do homem:

- Ah!Évocê que chegou aqui!, disseram, quando0reconheceram.

Para poder morar aqui, você deve primeiro jogar fara0seu corpo humano.

Nao ha ninguém vivo aqui. Somente aqueles que jogaram fora0seu corpo podem viver aqui. Nosso carpo cheira muita mal porque e1e apo-drece quando agente morre, explicaram. Vocês VaG tamar banho.

Elas tinham um cipo de sabao327nas maos mas e1e viu, no lugar, uma cobra muçurana. Elas Ihe deram0cipo de sabao:

- Você tama banho corn esse sabao! 0 porto é bem aqui, disseram, mostrando0lugar.

Ele pegou0cipo e foi até0lugar indicado. Ele devia passar em cima de alguns paus atravessados que serviam de degraus para descer até o rio. No entanta, em vez dos paus, e1e também viu cobras. Par isso, recuou e ficou longe dos degraus. Vendo isso, as mulheres perguntaram:

3DOs Antigos se limpavam corn sabao de pau ou de cipô.

- Do que vocè tem medo?

- Eu fiquei corn medo porque esses paus atravessados que descem até0porto SaD cobras para mim, ele respondeu.

Elas0levaram de volta para0porto. Chegando la, elas rasparam um pedaço do cipo de sabao e Ihe deram um banho, assim coma em sua famflia. Lavaram todos eles corn esse sabao. Depois, derramaram um perfume no corpo deles.

- Vocès esrao cheirando bem agora, disseram.

Deram-Ihes enrao uma agua bem limpa para beber, para tirar asujei-ra de dentro da barriga, do estômago, isto é, paasujei-ra eles ficarem cheirosos.

Depois, elas os levaram para a maloca. La, deram-Ihes um quarto para dormir. Nesse quarto, haviam camas corn colchôes e cobertores. Mas para o homem, isto é, aos olhos dele, os colch6es e os cobertores eram0couro de cobras grandes. Vendo isso, ele naD quis se aproximar das camas.

- Eu estou corn medo, ele disse, isso é couro de cobra!

Elas foram buscar comida para eles. Acomida era a mesma que nos comemos aqui, nessa terra. A unica diferença é que elas naD comiam peixes. Elas comiam qualquercarne de caça, mas naD comiam peixes.328 - Quando acabar de corner, vocè vai cortar lenha. Ali rem um pau bonito onde agente costuma cortar lenha, disseram-Ihe.

Elas Ihe indicaram0lugar onde havia0pau e Ihe deram um macha-do, assim coma um terçado. Ele foi até0lugar indicado mas, quando se aproximou, ele viu uma arvore alta. Era umaarvoresukedo.329Ele \impou a beira da arvore corn0terçado. Depois, ele pegou0machado para derru-bar a arvore. No primeiro corte, ela gritou:"oyooo!" e começou asangrar.

Vendo0pau gritar e sangrar, ele foi buscar um pau seco que ele rachou.

Ele fez um feixe de lenha que trouxe de volta para acasa. Vendo-o trazer lenha seca,0seu irmao, que ja havia morrido, perguntou:

- Por que vocè trouxe esse tipo de lenha? Ninguém usa lenha seca aqui. Na terra onde moravamos, agente sempre usava essa lenha seca.É

3,8Porque eles SaD Gente-Peixe.

329Àrvore naD identificada.

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· , 1 330P ~ - d b 1 porISS0que nos morremos ogo. or que voce naD erru ou aque a arvore que Ihe indicamos?

Dizendo isso, ele mandou0irmao jogar fora a lenha seca.

- Eu naD derrubei a arvore que vocês me indicaram porque ela gritou. Essa arvore é uma pessoa! Por isso que eu naD a derrubei, ele respondeu.

- Nao! Nao é uma pessoa!Éum pau de verdade! Éla que nos costumamos cortar lenha. Vamos juntos até la para vero que acontece quando eu estou derrubando esse pau, respondeu0irmao.

Os dois foram ver. 0 irmao morto derrubou0pau. Desta vez, de naD gritou nem sangrou. Ele caiu coma um pau mesmo.Ar,ele0cortou em pedaços, os quais rachou em seguida. Depois, ele fez varios feixes de lenha que a mulher e os filhos do seu irmao carregaram até a maloca.

- Depois de carregar essa lenha, vocês VaG tomar banho no porto corn aquele cipo, disse0irmao, mostrando0cipo de sabao.

No entanto, quando0homem quis pegar0cipo, ele0viu de nova coma uma cobra muçurana. Por isso, ele naD conseguiu pega-Io e voltou logo para a maloca. Vendo-o retornar,0irmao perguntou:

- Você corrou um pedaço do cipo?

- Nao, eu naD0correi porque ele naD é um verdadeiro cipo!Éuma cobra!

- Nao!Éum cipo! Entao, va:nos ver0que acontece na minha pre-sença, ele disse.

Os dois foram até a beira do porto onde estavam os cipos de sabao.

Quando chegaram, eram so cipos. 0 irmao do homem pegou um pedaço, raspou e tomou banho corn ele.

o

homem passou muito tempo corn eles e acabou se acostumando a morar no rio Umari. Nao aconteceu mais nada de estranho corn ele. Isto é, ele nao ouviu mais os paus gritarem de dor, nem os viu mais sangrar.

,\~IAlguns dizem que é porISSOque as brancos naa usam lenha seca para fazerfaga,mas somenre lenha verde,De faro, ranroasKuphe-l1Ull!>fkiquanro os bmncos somenre usam lenha verde[Ydfafazer faga,

Ele nao viu mais os cipos de sabao coma cobras muçuranas ... Os cipos eram mesmo cipos, as ârvores verdadeiras ârvores e assim por diante.

Um dia,0seu sobrinho, que tinha acabado de morrer, chegou. Ele veio cumprimentâ-Io:

- Você estâ aqui?, ele perguntou para0tio.

-Onde estao seus parentes?, perguntou-Ihe entao0homem.

- Eles estao todos lâ, nessa terra. Eles Ihe mandam lembranças, respondeu0sobrinho.

Depois de algum tempo,0sobrinho foi visitaros seus pais na terra.

Antes de ir para la, ele disse para0seu tio:

- Eles me convidaram a ir visita-los! Por isso eu vou.

Os pais, na realidade, estavam sempre pensando nele. Cada vez que eles iam fazer alguma coisa, pensavam no filho morto:

- Hoje, meu filho, nos vamos fazer isso ou isso, eles pensavam.

Isto é, ele estava sempre presente no seu pensamento.Épor isso que ele dizia que os pais0estavam convidando. Quando ele chegou na casa dos pais, eles pediram sua ajuda para carregar cana-de-açûcar para moer. Ele ficou três dias perto dos seus pais, sem ninguém0ver.

Ele, ao contrârio, via todas as pessoas que estavam vivendo na terra.

Mas os seres humanos nao0viam. De fato, ele era puro espîrito. Ele os ajudou muito em pensamento. Eles fizeram um dabucuri e dançaram comele.

Depois, ele voltou para0 rio Umari,0 corpo todo pintado de jenipapo, trazendo de volta os peixes moqueados e0beiju que os seus pais Ihe haviam dado coma presente. Quando chegou, ele os entregou para0seu tio, dizendo:

- Você os cozinhe agora. Eu vou primeiro para minha casa. Eu volto mais tarde para comê-Ios corn vocês.

a

homem ficou muito tempo no rio Umari. Chegou, no entanto,0

momento em que os outros começaram ase aborrecer corn asua presença e0mandaram de volta para a sua terra.

- Regressa para a tua terra, joga fora0teu corpo e volta a morar perto de nos, disseram-Ihe.

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Isto é, des0mandaram de volta aqui, nesta terra, para de morrer, jogar0seu corpo331 e regressar para0rio Umari, como puro espîrito.

Todos os seres humanos vao para0rio Umari depois da morte.Li,des ficam para sempre. Os brancos também têm0seu lugar nesse rio. Como0

homem nasceu da agua, isto é, da cuia de agua, de volta para la depois da morte.

o

homem voltou para a terra corn asua famîlia. Quando chegou, os outras perguntaram:

- Você esta vivo?

- Eu estou. Eu s6fui olhar como era avida no rio Umari!, ele respon-deu.

Eles mandaram-no contar0que tinha visto. Ele contou tudo. Ele explicou que des naD queriam saber de pessoas vivas, que naquele lugar somente viviam espîritos332

de pessoas que tinham morrido e que era par isso que eles0tinham mandado de volta para a terra. No dia seguinte, ele foi mordido por uma cobra jararaca na roça e morreu. Isso quer dizer que ele jâ tinha deixado0seu espîrito no rio Umari quando ele voltou para a terra. Outras dizem que sua mulher procurou aIguma coisa que ela havia guardado na casa e que uma aranha a mordeu, assim como0 marido.

Todos eles morreram e voltaram parasempre para0rio Umari. Outros ainda falam que0pessoal do rio Umari Ihe havia recomendado para nao contar a ninguém0que ele tinha visto, senao ele e sua famîlia iriam voltar logo para junto deles.

- Se você quer viver ainda muita tempo, você nao deve contar nada do que viu aqui, teriam-Ihe dito.

Como ele contou tudo, marreu e foi se juntar aos mortos, no rio Uman.

Aqui termina essahistôria.~.,

131Iseo é. ser enterrado.

'" liienflemrariana(œiÙM-l1lflsiem rnkano).

Yepâ-Sû'ria lisadoa nukili

No documento 1-1 i t órin do a t i { (páginas 187-193)