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4.6 O JUS POSTULANDI DA JUSTIÇA DO TRABALHO E SEUS CONFLITOS

4.7.1 Homologação de acordo extrajudicial

O advento da nova CLT (Lei n. 13.467/2017) trouxe grande influição no livre jus

postulandi da parte no processo do trabalho. A previsão legal de homologação de acordo

extrajudicial na Justiça do Trabalho era inexistente. A inclusão da alínea f ao artigo 652 da CLT atribuiu competência às Varas do Trabalho para “decidir quanto à homologação de acordo extrajudicial em matéria de competência da Justiça do Trabalho” (BRASIL, 2017).

Dentre o rol de competências da Justiça do Trabalho continha processar, conciliar e julgar os conflitos oriundos de relações de trabalho, podendo homologar o acordo realizado nos autos de um processo que já estaria tramitando. Ou seja, a Justiça do Trabalho até então não tinha competência para homologar acordos extrajudiciais entre empregado e empregador (LIMA et al, 2017).

Portanto, o acordo extrajudicial é novidade na Justiça do Trabalho, e integra Capítulo III-A DO Título X da Consolidação, por meio dos artigos 855-B, caput e §§ 1º e 2º, 855-C, 855-D e 855-E (DELGADO et al, 2017). Este capítulo institui assim, a jurisdição voluntária na Justiça do Trabalho, caracterizada por não possuir um conflito entre partes, mas sim um consenso entre interessados (SCHIAVI, 2017).

Em suma, a jurisdição possui duas subdivisões, quais sejam a contenciosa e a voluntária. A jurisdição contenciosa se opera por meio de um processo, que decorre da existência de uma lide, buscando solucionar o conflito e impor o cumprimento da obrigação imposta. A jurisdição voluntária caracteriza-se pela inexistência da lide, pois há um consenso entre os interessados (SCHIAVI, 2017).

Diante da jurisdição voluntária, os órgãos do Poder Judiciário validam o negócio jurídico entre os particulares, que precisam da chancela judicial para garantir a seriedade do ato. Entretanto, na Justiça do Trabalho não era comum o exercício da jurisdição voluntária,

destacando-se como um dos raros exemplos, o requerimento de alvarás para saque de FGTS (SCHIAVI, 2017).

Para Schiavi (2017) os artigos 855-B a 855-E contidos na CLT, que dispõem sobre a homologação de acordo extrajudicial caracterizam o procedimento de jurisdição voluntária, o qual sempre se mostrou muito raro na Justiça do Trabalho, pois não havia a existência de previsão legal.

O acordo que tratar sobre verbas rescisórias não afastará o prazo de 10 dias fixado pelo artigo 477 da CLT para o acerto rescisório, não afastando também a incidência de multa rescisória prevista no § 8º do mesmo artigo (DELGADO et al, 2017). Dessa forma, ainda que haja acordo extrajudicial entre empregado e empregador, o pagamento de verbas rescisórias não poderá ser realizado após a homologação do acordo, respeitando-se o prazo previsto no artigo 477 da CLT, devendo ser efetuado em um momento anterior ao da manifestação do juiz acerca do acordo extrajudicial, podendo ser, inclusive, realizado na data da assinatura do acordo (TEIXEIRA FILHO, 2018).

Importante ressaltar que o acordo extrajudicial não possui qualquer vínculo com o Magistrado e por este motivo, poderá haver a negativa da homologação (DELGADO et al, 2017). O Magistrado então analisará o acordo extrajudicial ora lhe apresentando e irá avaliar de acordo com o caso concreto sobre a conveniência da homologação no prazo de 15 dias, a contar da distribuição da petição (SCHIAVI, 2017).

Outro ponto característico do acordo extrajudicial é que suspende o prazo prescricional relativo a ação quanto aos direitos especificados no acordo enquanto a sentença que homologou o acordo não transitou em julgado, voltando a correr o prazo prescricional no dia útil seguinte ao trânsito em julgado da sentença que não homologar o acordo (DELGADO

et al, 2017). Ressalta-se que a suspensão é automática a partir do protocolo em juízo da petição

(TEIXEIRA FILHO, 2018).

Dito isso, é necessário mencionar que como a CLT não previa o acordo extrajudicial, deve-se observar para sua realização os artigos 840 a 850 do Código Civil para a sua validade e os artigos 122 e 422 do Código Civil que atende aos princípios de probidade e boa-fé (TEIXEIRA FILHO, 2018).

Por conseguinte, a CLT exige de forma expressa dois requisitos para que o acordo extrajudicial seja apreciado e homologado: a petição inicial proposta conjuntamente pelos interessados e a necessária representação por advogado (TEIXEIRA FILHO, 2018).

Em relação à representação por advogado, o § 1º do artigo 855-B dispõe que “as partes não poderão ser representadas por advogado comum”. Ou seja, as partes não poderão

estar representadas pelo mesmo advogado e a petição deverá, necessariamente, estar subscrita pelo advogado de cada parte (DELGADO et al, 2017).

O que chama a atenção para o presente trabalho é que ao exigir a representação por advogado, a CLT acabou por criar uma exceção ao artigo 791, que prevê a possibilidade de a parte reclamar pessoalmente em juízo.

Assim, deve-se considerar que há uma notável desarmonia sistemática uma vez que as partes possuem capacidade postulatória (jus postulandi) para propor uma ação, não sendo obrigatória estar representada por advogado (TEIXEIRA FILHO, 2018).

Para Oliveira (2017) a necessidade de representação por advogado foi uma exigência equivocada, pois o artigo 791 da CLT prevê isso como uma faculdade da parte. Assim, o advogado acaba se tornando oneroso tanto para o empregado quanto para a empresa.

Conforme discutido anteriormente, o jus postulandi facultado no artigo 791 da CLT, é visto como um facilitador do acesso à justiça para quem é considerado o hipossuficiente (em regra, o empregado) da relação processual, além de representar os princípios da informalidade e simplicidade específicos do processo do trabalho.

Ao exigir a representação por advogado para homologação do acordo extrajudicial, está exigindo que o trabalhador representado por advogado se responsabilize pelas despesas decorrentes da contratação desse advogado (TEIXEIRA FILHO, 2018).

Nota-se, portanto, uma grande mudança em relação ao jus postulandi da parte e sendo o advogado figura indispensável para a homologação do acordo extrajudicial, é oportuno dizer que o jus postulandi foi extinto ao menos para esta finalidade (LIMA et al, 2017).

Além de ser obrigatória a representação por advogado para o acordo, cada parte terá de ter o seu advogado uma vez que a previsão legal veda a representação por advogado comum. De acordo com Teixeira Filho (2018), a representação não poderá ser nem mesmo por advogados diversos que integram o mesmo escritório da advocacia, pois o objetivo é que os advogados tenham interesses conflitantes para melhor defender os interesses de seu cliente.

Oliveira (2017) não concorda com essa vedação na norma trabalhista, pois de acordo com o texto legal, se o advogado for comum entre as partes, gera a tipificação do crime de “Patrocínio Simultâneo ou de Tergiversação” previsto no artigo 355, parágrafo único do Código Penal.

De qualquer modo, a presença de advogado comum é motivo de recusa de homologação do acordo extrajudicial pelo juiz (TEIXEIRA FILHO, 2018).

Tratando-se de trabalhador, poderá ser representado pelo mesmo advogado do sindicato profissional (DELGADO et al, 2017). Teixeira Filho (2018) disciplina que quando na

localidade não houver advogados habilitados, ou havendo, haja negativa de representação pelos advogados ou até mesmo conflito de interesses entre advogados e seus clientes, as partes poderão assinar a petição conjunta embasando-se na aplicação analógica do artigo 791 da CLT. Desse modo, quando as partes optarem pela jurisdição voluntária e levarem ao judiciário um acordo extrajudicial para ser homologado pelo juiz, não poderão considerar a previsão do artigo 791 da CLT, devendo para tanto, estarem representadas por advogados distintos. Porém, apesar dessa nova previsão na CLT, a parte ainda possui a capacidade postulatória para demandar pessoalmente na Justiça do Trabalho nos casos em que houver a presença de um conflito, ou seja, diante de uma jurisdição contenciosa.