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Diante das características que individualizam o processo do trabalho em relação ao demais ramos do direito, tem-se os princípios aplicáveis exclusivamente ao sistema trabalhista. Conforme já foi dito no presente trabalho, atualmente o Direito Processual Civil é muito próximo do Direito Processual do Trabalho, entretanto, este possui princípios que o individualizam (ZANGRANDO, 2013).

Para Teixeira Filho (2018, p. 91), “o que varia, entre um processo e outro, como dissemos antes, é a intensidade com que tais princípios são aplicados. Essa variação deriva, fundamentalmente, do escopo ideológico de cada processo [...].”

Ressalta-se que os princípios específicos do processo do trabalho não excluem os demais princípios relativos ao direito processual. Ademais, é necessário que haja uma verdadeira integração entre o aplicador e o intérprete da lei, buscando adaptar os princípios processuais ordinários ao processo do trabalho para que este, não perca sua natureza e autonomia (ZANGRANDO, 2013).

Adiante, serão explanados alguns dos princípios característicos do processo do trabalho que são considerados relevantes acerca do tema estudado no presente trabalho monográfico.

3.4.1 Princípio da celeridade

Até mesmo quando inexistia um órgão jurisdicional especializado, o princípio da celeridade sempre foi base do procedimento do Direito Processual do Trabalho, quando a composição das lides trabalhistas era realizada por órgãos de natureza arbitral ou executiva (ZANGRANDO, 2013).

De fato, todo conflito interpessoal gera prejuízos, e sua proliferação pode gerar ainda mais prejudicialidade. Mas quando se trata de conflitos trabalhistas, entende-se que o prejuízo, quando causado, é ainda maior (ZANGRANDO, 2013).

O princípio da celeridade não é exclusivo do Direito Processual do Trabalho, porém a importância na urgência de atingir uma solução jurisdicional de conflitos trabalhistas é porque, geralmente, implica em questões salariais que compreendem crédito de caráter alimentar. Portanto, houve uma regulamentação especial acerca destes conflitos que busca, acima de tudo, a celeridade do processo (SCHIAVI, 2015a; ZANGRANDO, 2013).

3.4.2 Princípio da proteção

O processo do trabalho tem por característica o protecionismo quanto ao trabalhador, que é considerado o mais fraco da relação jurídica processual. Assim, são lhe assegurados alguns benefícios em razão de sua hipossuficiência econômica, que visam compensar eventuais problemas ao ingressar na Justiça do Trabalho (SCHIAVI, 2015a).

O princípio da proteção visa nivelar a situação de desigualdade que há entre empregado e empregador. Desse modo, considera-se todo o contexto que reflete a realidade das lides trabalhistas, como a desigualdade econômica, a dificuldade para obter as provas necessárias, o desemprego e a diferença cultural (LEITE, 2005).

É um dos mais importantes princípios no processo do trabalho e o diferencia do processo civil, pois se liga diretamente com o objetivo de proteger o empregado. Para Leite (2005, p. 70) “deriva da própria razão de ser do Direito do Trabalho, pois esta disciplina foi criada para compensar a desigualdade real existente entre empregado e empregador [...].”

Ensina Schiavi (2015a), que se defende o princípio da proteção porque quando o trabalhador vai à Justiça do Trabalho para postular um direito que lhe é devido, se encontra em posição de desiquilíbrio econômico em face da empresa, já que não tem conhecimento das regras processuais. Nesse sentido é que se leva em consideração a questão do in dubio pro

misero, a qual disciplina que no caso de dúvida, o juiz deverá decidir em favor do empregado

(TEIXEIRA FILHO, 2018).

Porém, o dever do juiz é agir com imparcialidade durante todo o processo, buscando a resolução do conflito por meio de uma solução justa para todos. Entretanto, também deve tratar os iguais como iguais e os desiguais como desiguais. Assim, ao analisar o caso concreto, o juiz verificará os princípios constitucionais e infraconstitucionais que norteiam o processo do trabalho que asseguram o equilíbrio entre as partes (SCHIAVI, 2015a).

O processo do trabalho observa o desequilíbrio econômico existente entre as partes do processo laboral e por considerar a hipossuficiência da parte na relação processual, assegura sua proteção legalmente na norma trabalhista e busca ao máximo tornar o processo menos oneroso para o trabalhador.

3.4.3 Princípio da informalidade

Este princípio diferencia o sistema processual trabalhista do comum, pois o torna menos burocrático, com uma linguagem mais simples ao cidadão, que muitas vezes não é capaz de compreender a linguagem do direito em si, além de tornar os atos processuais mais simples e objetivos, permitindo a maior participação das partes no processo e a sua celeridade (SCHIAVI, 2012).

Para Teixeira Filho (2009, p. 80) “[...]o princípio legal é de que os atos não estão sujeitos à forma preestabelecida. Para que o elemento formal seja condicionante da validade do ato, é indispensável, que a lei, por exceção, a exija de maneira expressa.”

Entretanto, é possível incidir o princípio da instrumentalidade, de modo que se a norma legal determinar uma forma para o ato, sem cominar nulidade a eventual inobservância desta forma, o ato terá validade se alcançar sua finalidade (TEIXEIRA FILHO, 2009).

O princípio da informalidade tem sido conveniente no processo do trabalho, servindo também como paradigma para o processo comum. Como exemplos característicos do princípio da informalidade no processo do trabalho são: a) petição inicial e contestação verbais; b) recurso por simples petição; c) jus postulandi; d) linguagem simplificada no processo do trabalho (SCHIAVI, 2012).

3.4.4 Princípio da conciliação

Segundo Zangrando (2013, p. 723) a “conciliação (do latim conciliatione) significa a harmonização de vontades em conflito”. A doutrina diferencia conciliação da transação, pois apesar de serem semelhantes, a conciliação apresenta algumas peculiaridades (SCHIAVI, 2012).

Para Schiavi (2012) a transação é um negócio jurídico realizado entre as partes, através de concessões recíprocas que buscam evitar um litígio. A transação pode ser judicial ou extrajudicial, da qual não participa um conciliador ou magistrado e depende, exclusivamente, do acordo entre as partes.

A conciliação por outro lado, é obtida em juízo, e conta com a participação de um conciliador ou magistrado que, inclusive, faz propostas para a solução do conflito (SCHIAVI, 2012). Assim como na transação, as partes colocam um fim ao conflito realizando concessões recíprocas (ZANGRANDO, 2013).

A Justiça do Trabalho é considerada a justiça da conciliação, a qual é considerada o melhor modo de resolver um conflito trabalhista, pois há um consenso entre as próprias partes que põe fim ao conflito (SCHIAVI, 2012).

Segundo Zangrando (2013, p. 724), os juízes do processo do trabalho devem sempre buscar uma solução conciliatória dos conflitos:

A Justiça do Trabalho prestigia a conciliação como forma primordial de solução do conflito trabalhista [...], a ponto de obrigar o juiz a propor a conciliação em diversos estágios do processo, quais sejam: quando aberta a audiência, antes da apresentação da contestação [...] e após as razões finais das partes [...].

O objetivo da conciliação é conseguir a pacificação dos conflitos, e é frequente que nos termos de homologação de conciliação, o empregado quite todos os direitos decorrentes da extinção do contrato para não mais reclamar. Uma vez homologada a conciliação na esfera trabalhista, o processo será extinto com resolução de mérito (SCHIAVI, 2012).

Entretanto, ressalta-se que a conciliação não consiste em um direito das partes, mas sim um ato jurisdicional resultante do livre convencimento motivado do juiz, que não possui a obrigação de homologar a conciliação (SCHIAVI, 2012).

3.4.5 Princípio do jus postulandi

O jus postulandi na Justiça do Trabalho diz respeito à capacidade postulatória de a parte postular pessoalmente em juízo e está diretamente ligado com os princípios da informalidade e simplicidade.

De acordo com Teixeira Filho (2018, p. 100) “o sistema legal outorgou aos próprios litigantes a faculdade de defender, em juízo, os seus direitos e interesses pessoalmente, ou seja, sem a constituição de advogado, o processo e o procedimento trabalhista deveriam ser simples [...]”. Sendo assim, não são necessárias a formalidade e a aptidão técnica para ingressar com uma demanda trabalhista, o que facilita o acesso ao Poder Judiciário (ZANGRANDO, 2013).

Diante da informalidade facultada no processo do trabalho que permite reclamações redigidas a termo, o jus postulandi está previsto na CLT como meio de facilitar o acesso ao Poder Judiciário no âmbito trabalhista. Entretanto, o jus postulandi da parte no processo do

trabalho é objeto do presente trabalho monográfico e será tratado de forma primordial no próximo capítulo.

Ainda, em razão das particularidades existentes no processo do trabalho ora apresentadas no presente capítulo, estudar-se-á também acerca deste ramo do direito.

4 A CAPACIDADE POSTULATÓRIA DA PARTE NO PROCESSO DO TRABALHO: MUDANÇAS APÓS A REFORMA TRABALHISTA

O presente capítulo se concentrará no jus postulandi do processo do trabalho e as mudanças trazidas após a reforma trabalhista. Para tanto, estudar-se-á a base histórica do Direito Processual do Trabalho, seu conceito, como se forma a relação processual trabalhista, bem como os pressupostos processuais, em especial a capacidade postulatória.

Ademais, comparar-se-á o jus postulandi exercido no processo civil e no processo do trabalho, para, enfim, trabalhar acerca do jus postulandi no processo do trabalho, suas características, oposições e as mudanças trazidas pela reforma trabalhista.