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4.6 O JUS POSTULANDI DA JUSTIÇA DO TRABALHO E SEUS CONFLITOS

4.7.2 Impulso à execução

Primeiramente, a execução ocorre quando a sentença não é cumprida de forma voluntária, e motiva uma nova atividade jurisdicional que busca satisfazer a obrigação contida em um título decorrente da sentença (SCHIAVI, 2015a).

Assim como o processo de conhecimento, o processo de execução também deve ser iniciado pela parte legítima e interessada. Porém, diferentemente do que ocorre na execução civil, essa atividade jurisdicional na Justiça do Trabalho pode ser iniciada pelo próprio juiz de ofício.

De acordo com Schiavi ( 2015a), a execução trabalhista é norteada pelo princípio do impulso oficial, o qual disciplina que o juiz poderá instaurar a execução de ofício em razão da relevância social que se obtém com a satisfação trabalhista, da hipossuficiência do trabalhador e pela existência do jus postulandi no processo do trabalho.

Ocorre que o artigo 878 da CLT, antes da reforma trabalhista previa a possibilidade da instauração da execução trabalhista por qualquer interessado e também pelo juiz de ofício ou presidente ou tribunal competente. Entretanto, este artigo foi alterado pela Lei nº 13.467/2017 e atualmente tem a seguinte redação: “a execução será promovida pelas partes, permitida a execução de ofício pelo juiz ou pelo Presidente do Tribunal apenas nos casos em que as partes não estiverem representadas por advogado”.

Logo, essa alteração veda instauração de oficio pelo juiz ou tribunal nos casos em que as partes estiverem sendo representadas por advogado. Ou seja, quando houver ausência de advogado e a parte estiver exercendo o jus postulandi, o juiz ou tribunal ainda poderão tomar iniciativa da execução. Ademais, vale ressaltar que não foi vedada a possibilidade de o juiz

promover a execução de ofício também nos casos de contribuições previdenciárias (LIMA et

al, 2017).

A alteração do artigo 878 da CLT rompeu a faculdade atribuída ao juiz de promover de ofício, a execução trabalhista de título judicial que lhe é de sua competência nos casos em que a parte estiver representada por um advogado (TEIXEIRA FILHO, 2018). Como essa nova redação impede que o juiz promova a execução de ofício, acaba contraditando de forma significativa o princípio do impulso oficial considerado no âmbito trabalhista, o qual já estava sólido na Justiça do Trabalho e possuía resultados bastante convenientes (SCHIAVI, 2017).

Levando-se em consideração o texto constitucional previsto no artigo 5º, inciso LXXXVIII que garante um processo com duração razoável, bem como a utilização de meios que melhor facilitem a sua celeridade, deve-se observar que o impulso de ofício na execução trabalhista não poderia ser impedido, uma vez que um processo sem eficiência não atende ao comando constitucional (DELGADO et al, 2017).

Além disso, a própria CLT determina em seu artigo 765 que o magistrado deve agir com rapidez em busca de um resultado final eficiente: “Os Juízos e Tribunais do Trabalho terão ampla liberdade na direção do processo e velarão pelo andamento rápido das causas, podendo determinar qualquer diligência necessária ao esclarecimento delas” (DELGADO et al, 2017).

Da mesma forma, o CPC, que tem aplicação subsidiária e supletiva ao processo do trabalho, prevê em seus artigos 2º e 139, inciso IV a necessária observância do princípio do impulso oficial para garantir que haja o devido cumprimento da ordem judicial que foi imposta. Portanto, não há dúvidas que compete ao magistrado garantir a efetividade da sentença imposta na primeira fase do processo, por força das previsões legais que o impõem tomar as medidas necessárias para materializar aquilo que é objeto do título jurídico exequendo (DELGADO et

al, 2017).

Já aqueles que defendem essa alteração, afirmam que o Judiciário Trabalhista não deve promover os atos executivos de ofício quando no processo houver a presença de advogado, pois se trata de comodismo aplicado ao exequente e que inclusive, acaba ferindo o princípio de imparcialidade do juiz (SCHIAVI, 2017).

Assim, como na Justiça do Trabalho não há obrigatoriedade da presença do advogado, o princípio do impulso oficial era aplicado em todos os casos, até mesmo quando a parte estava representada por advogado. Porém, o advogado detém aptidões técnicas das quais o tornam capaz e também responsável para praticar todos atos processuais em benefício de seu cliente. Entretanto, há doutrinadores que não concordam com esse impedimento trazido pela

reforma, já que diversos dispositivos legais preveem a importância de o juiz promover a execução de ofício, independentemente da presença de advogado.

Por fim, atualmente a CLT impede que o juiz promova a execução trabalhista de ofício apenas quando a parte se fazer representar por advogado. Assim, quando a parte se utilizar do jus postulandi que lhe é facultado pelo artigo 791 da CLT, a regra do impulso oficial permanece e o juiz poderá iniciar de ofício o processo de execução na Justiça do Trabalho.

5 CONCLUSÃO

Após o estudo realizado neste trabalho, afirma-se que o processo é um hábil instrumento para se obter a pacificação social ante os conflitos existentes na sociedade, e será iniciado por meio da iniciativa da parte interessada, que através de seu direito de ação irá provocar o Estado a prestar-lhe a tutela jurisdicional.

A prestação da tutela jurisdicional é dever do juiz, mas apesar de ser um direito da parte, alguns requisitos devem ser observados pelo juiz antes que este exerça seu dever. Portanto, diante da relevância do processo em busca da resolução de um conflito, é necessário o cumprimento dos requisitos exigidos para o seu regular andamento, até que seja proferida a sentença de mérito.

Além dos requisitos pertinentes à ação, o juiz deve verificar o cumprimento dos pressupostos processuais, os quais dão validade à relação jurídica processual e permitem o trâmite regular do processo até a sentença.

Em decorrência da subsidiariedade do processo civil ao processo do trabalho, é adequado dizer que os pressupostos processuais são igualmente observados em ambos, caracterizando-se no presente trabalho àqueles referentes as partes. Assim, no que diz respeito às partes, serão verificadas sua capacidade de ser parte, de estar em juízo e por fim, sua capacidade postulatória.

A capacidade postulatória, que é objeto do presente trabalho, está relacionada com a aptidão para postular em juízo. Assevera-se que no processo civil somente o advogado habilitado tem capacidade para postular em juízo, representando os interesses da parte interessada. Porém, a CLT confere à própria parte o jus postulandi, e permite que o interessado postule em juízo para defender seus interesses, sem a necessidade de representação por advogado.

É considerável mencionar que o instituto do jus postulandi faz parte do processo do trabalho para melhor atender a parte hipossuficiente, pois mesmo que seja carente de condições financeiras, poderá demandar em busca de seus direitos sem a necessidade de arcar com as despesas que a contratação de um advogado exige. Assim, diversas posições defendem o jus

postulandi, por considerarem que facilita o acesso da parte ao Poder Judiciário.

Por outro lado, entende-se que o cidadão não detém a mesma destreza que o advogado e por isso, este será capaz de melhor defender os direitos da parte interessada. Além disso, as demandas trabalhistas possuem grande complexidade por se tratarem de verba de caráter alimentar e logo, haverá momentos em que o próprio processo vai exigir que se tenha

aptidão técnica para o êxito em seu trâmite. Portanto, nota-se que o jus postulandi ao mesmo tempo em que facilita o acesso à justiça, também pode prejudicar àquele que dele se utiliza, sobretudo pelo desequilíbrio existente em uma demanda em que a parte contrária se encontra representada por advogado.

Observa-se através do presente estudo que apesar das divergências que norteiam o

jus postulandi do processo do trabalho previsto no artigo 791 da CLT, nunca houve o risco de

ser revogado. Porém, a reforma trabalhista atribuiu uma nova competência para as Varas do Trabalho que refletiu na livre capacidade postulatória atribuída à parte.

Antes da reforma trabalhista, não havia previsão legal para homologação de acordo extrajudicial, e o juiz somente poderia homologar um acordo caso este, sobreviesse durante um processo que já estava em andamento. Ou seja, mesmo que houvesse acordo entre as partes, era necessária a existência de uma demanda.

Atualmente, a Lei nº 13.467/2017 conferiu a competência para as Varas do Trabalho homologarem os acordos extrajudiciais. Nesse caso, empregado e empregador poderão ir à Justiça do Trabalho com um acordo pré-definido, e se após a apreciação do juiz for considerado conveniente às partes, será homologado e não haverá a necessidade de iniciar um processo.

Entretanto, os requisitos para que o acordo extrajudicial seja apreciado pelo juiz são a petição conjunta e a representação por advogado. Percebe-se que para esta situação, a CLT exigiu que empregado e empregador se façam representar por advogado, o qual não poderá ser comum.

Além disso, a reforma trabalhista também trouxe alteração quanto ao processo de execução, limitando a faculdade atribuída ao juiz de promover a execução de ofício. A regra, atualmente, é que nos processos em que a parte se fazer representar por advogado, caberá à esse advogado promover a execução.

Com base no princípio do impulso oficial, antes da reforma era possível que o juiz iniciasse a execução ex officio em todos os casos, independentemente da presença do advogado, posto que com base no artigo 791 da CLT, a figura do advogado não é obrigatória na Justiça do Trabalho.

Porém, apesar deste princípio característico e muito observado pela Justiça do Trabalho, a reforma trabalhista limitou o juiz a promover a execução de ofício somente nos casos em que a parte se utilizar do jus postulandi, impedindo-o de iniciá-la quando houver representação por advogado

Conclui-se que o jus postulandi previsto no artigo 791 da CLT permanece em vigor no processo do trabalho, facultando-se às partes a possibilidade de se defenderem pessoalmente em juízo, bem como recorrer em segunda instância. Por esse motivo, a reforma trabalhista manteve a regra da execução ex officio quando a parte não estiver representada por advogado. Por outro lado, a CLT passou a exigir que as partes estejam devidamente representadas por advogado quando buscarem a homologação de acordo extrajudicial, extinguindo de forma tácita o jus postulandi nesses casos.

Salienta-se que o presente trabalho não possui por escopo finalizar o estudo quanto ao tema, que poderá ser trabalhado de forma mais aprofundada.

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