• Nenhum resultado encontrado

2.5 A AÇÃO

2.8.2 As partes

2.8.2.1 Pressupostos processuais referentes às partes

Os pressupostos processuais referentes às partes são: “a) capacidade de ser parte;

b) capacidade de estar em juízo; c) capacidade postulatória” (SANTOS, M. A. 1988, p. 355).

2.8.2.1.1 Capacidade de ser parte

É a capacidade jurídica ou de gozo regulada pelo direito civil (SANTOS, M. A. 1988). Caracteriza-se como uma capacidade genérica de figurar como parte de um processo (SANTOS, E. F. 2006). Para Greco Filho (2006) “é capaz de ser parte quem tem capacidade direitos e obrigações nos termos da lei civil.”

As partes podem ser as pessoas naturais e as pessoas jurídicas, desde que regularmente constituídas de direito público ou privado (THEODORO JÚNIOR, 2015). A regra é que as partes devem ser pessoa natural ou jurídica, porém, a lei atribui capacidade de ser parte para certas entidades sem personalidade jurídica, como a massa falida, espólio, herança vacante ou jacente, etc (GRECO FILHO, 2006).

Ressalta-se que a lei também assegura os direitos desde a concepção, logo, o nascituro também tem a capacidade de ser parte, sendo representado por seu curador em juízo, quando necessário (SANTOS, E. F. 2006).

Portanto, qualquer pessoa detém capacidade de ser parte e poderá figurar em uma relação processual, desde que titular do direito objeto da pretensão.

2.8.2.1.2 Capacidade de estar em juízo

Não basta ser pessoa, é preciso que haja o exercício de seus direitos (SANTOS, E. F. 2006). A capacidade processual ou capacidade de estar em juízo, consiste na capacidade de agir e exercer os direitos e deveres processuais, praticando validamente os atos processuais (SANTOS, M. A. 1988).

Possuem a capacidade de estar em juízo, de acordo com o direito civil, somente quem pode exercer pessoalmente seus direitos (SANTOS, M. A. 1988). Dessa forma, quem não dispõe de aptidão civil para praticar os atos da vida civil, carece de capacidade processual, como os menores e os alienados mentais (THEODORO JÚNIOR, 2015).

A incapacidade processual é suprida através da figura da representação (THEODORO JÚNIOR, 2015). De acordo com o artigo 3º do Código de Processo Civil de

2015, “são absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil os menores de 16 (dezesseis) anos”.

Tratando-se de incapacidade absoluta, a representação é exercida pelos representantes legais, pais, tutores ou curadores (SANTOS, M. A. 1988). Enquanto isso, o artigo 4º do Código de Processo Civil elenca as pessoas consideradas relativamente incapazes:

Art. 4o São incapazes, relativamente a certos atos ou à maneira de os exercer: I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos;

II - os ébrios habituais e os viciados em tóxico;

III - aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade;

IV - os pródigos (BRASIL, 2015).

As pessoas elencadas acima, podem propor ações ou defender-se naquelas que lhe foram propostas, exercendo atividades processuais, uma vez que estiverem sendo assistidas. Não são representadas, porém sua capacidade processual é limitada (SANTOS, M. A. 1988).

Por ser um pressuposto processual, Theodoro Júnior (2015) sustenta que a ausência de capacidade de estar em juízo impede a formação válida da relação processual. Dessa forma, em qualquer tempo, sendo por requerimento da parte ou de ofício, o juiz deve reconhecer a falta de capacidade ou de autorização especial e a ilegitimidade do representante, estabelecendo prazo razoável para regularizar as representações (SANTOS, M. A. 1988).

2.8.2.1.3 Capacidade postulatória

As partes devem estar representadas no processo por pessoa habilitada de postular em juízo (jus postulandi), sendo esta representação, obrigatória para quem tem a capacidade processual plena e para os representantes legais das partes (SANTOS, M. A. 1988). Desse modo, a parte precisa estar representada por advogado devidamente habilitado, seja para propor a ação ou contestá-la (GRECO FILHO, 2006).

A capacidade postulatória não se confunde com a capacidade processual, pois enquanto a capacidade processual diz a respeito à aptidão para estar em juízo, a capacidade postulatória se trata da aptidão para realizar os atos no processo de forma eficaz. Em regra, a capacidade postulatória em nosso ordenamento compete, de forma exclusiva, ao advogado regularmente inscrito na Ordem dos Advogados do Brasil (THEODORO JÚNIOR, 2015).

É permitido postular em causa própria, praticando todos os atos necessários, quando a própria parte for advogado com habilitação legal. Além disso, o Ministério Público também tem capacidade postulatória em razão da investidura de suas funções (GRECO GILHO, 2006).

Sendo um dos pressupostos de existência e validade da relação processual, a parte deve, em regra, estar devidamente representada por um advogado, considerado o mais legítimo titular do jus postulandi. Ainda, é necessário que a representação ocorra a partir do ingresso em juízo, sendo autor ou réu. Dessa maneira, sem que o autor esteja representado por pessoa legalmente habilitada, não haverá a instauração do processo (SANTOS, M. A. 1988).

Apresentada as características do processo civil, no próximo capítulo trabalhar-se- á sua aplicação de forma subsidiária ao processo do trabalho, bem como os pontos comuns que ambos os ramos possuem.

3 SUBSIDIARIEDADE DO PROCESSO CIVIL APLICADA AO PROCESSO DO TRABALHO

Diante do capítulo anterior, foi possível verificar as características do Direito Processual Civil. Por conseguinte, o presente capítulo trabalhar-se-á a subsidiariedade do processo civil ao processo do trabalho.

A subsidiariedade consiste nas possibilidades de aplicar as normas do Direito Processual Comum ao processo do trabalho para suprir as lacunas e melhorar a efetividade do processo do trabalhista. Pode-se dizer que não se trata de um princípio próprio do processo do trabalho, mas sim de uma técnica de integração que suprem lacunas na legislação processual trabalhista (SCHIAVI, 2015a).

A Constituição Federal dispõe a seguinte redação em seu artigo 112: “a lei criará varas da Justiça do Trabalho, podendo, nas comarcas não abrangidas por sua jurisdição, atribuí- la aos juízes de direito, com recurso para o respectivo Tribunal Regional do Trabalho” (BRASIL, 1988), ou seja, os juízes da justiça comum poderão julgar processos trabalhistas na falta de Varas de Trabalhistas.

O referido artigo permanece sendo observado, pois no Brasil, antes da existência do processo do trabalho, a competência para dirimir os conflitos trabalhistas era atribuída aos juízes da justiça comum (SCHIAVI, 2012).

Conforme Schiavi (2015a, p. 151), “o Código de Processo Civil é a lei fundamental que rege os processos de natureza civil, aplicando-se às demandas de natureza não penal”. Em suma, o Direito Processual do Trabalho passou a fazer parte da ciência processual, devendo seguir os princípios e institutos desta ciência, em especial, do processo civil de quem é mais próximo (SCHIAVI, 2012).

Na fase de conhecimento, o artigo 769 da Consolidação das Leis de Trabalho (CLT) assegura que: “nos casos omissos, o direito processual comum será fonte subsidiária do direito processual do trabalho, exceto naquilo em que for incompatível com as normas deste Título” (BRASIL, 1943). Assim, o Direito Processual Comum é considerado fonte formal do Direito Processual do Trabalho (SCHIAVI, 2015a).

Já na fase de execução o artigo 889 da CLT dispõe que “nos casos omissos, deverá ser aplicada ao Processo do Trabalho a Lei de Execução Fiscal (Lei n. 6.830/80 e posteriormente, o Código de Processo Civil” (SCHIAVI, 2015a).

Assim, dentre as fontes do Direito Processual do Trabalho existem as fontes formais de forma direta. Esta fonte formal direta é a lei, que não engloba apenas a Constituição Federal,

mas também a lei infraconstitucional, como a Lei nº 13.105, de 16-03-2015, que institui o Código de Processo Civil, aplicável ao Processo do Trabalho em razão do artigo 769, da CLT (TEIXEIRA FILHO, 2018).

No entanto, houve um momento na doutrina que o Direito Processual Civil e o Direito Processual do Trabalho eram considerados incompatíveis, uma vez que o Direito Processual Civil de 1973 foi elaborado com base no individualismo liberal e na prevalência da vontade privada, ficando o Estado limitado à fiscalização do cumprimento de formalidades processuais (COUTURE, 1941).

O processo do trabalho surgiu com o objetivo de garantir a eficiência da legislação trabalhista e social, solucionando os conflitos trabalhistas, tanto individuais quanto coletivos, com justiça (SCHIAVI, 2012).

Porém, o Código de Processo Civil de 2002 (Lei n. 10.406/02) se aproximou do Direito Processual do Trabalho ao trazer novos conceitos sociais que suprimiram a normatividade caracterizada pelo individualismo, não mais se encontrando infectado pelo liberalismo do século XIX (ZANGRANDO, 2013).

Desde então, a incompatibilidade existente entre o processo do trabalho e o processo civil mostrou-se consideravelmente reduzida. Além disso, a renovação do processo civil ao adotar instrumentos e métodos específicos, que o tornou mais célere, simplificado e efetivo, acabou por deixar o processo do trabalho ultrapassado em termos de modernidade (ZANGRANDO, 2013).

Ademais, o novo Código de Processo Civil de 2015 se aplica de forma subsidiária e supletiva ao Processo do Trabalho. Atualmente, o artigo 15 do CPC dispõe que: “na ausência de normas que regulem processos eleitorais, trabalhistas ou administrativos, as disposições deste Código lhes serão aplicadas supletiva e subsidiariamente” (SCHIAVI, 2015a).

Antes disso, o processo comum era considerado fonte subsidiária apenas por força do artigo 769 da CLT. Porém, com o dispositivo legal trazido pelo CPC de 2015, ficou possível aplicar o processo comum de forma supletiva e subsidiária (MEIRELES, 2015).

Entretanto, este dispositivo se refere ao processo comum e não necessariamente ao processo civil, porém as regras do processo comum encontram-se integradas ao processo civil Logo, para a possibilidade de aplicação dos dispositivos do novo CPC de 2015 em relação às omissões da lei processual do trabalho ou incompletude de suas disposições, é necessário que estes dispositivos sejam compatíveis com o sistema trabalhista e que proporcionem melhores resultados no âmbito da jurisdição trabalhista (SCHIAVI, 2015a).

a) normativas: quando a lei não contém previsão para o caso concreto. Vale dizer:

não há regulamentação da lei sobre determinado instituto processual;

b) ontológicas: quando a norma não mais está compatível com os fatos sociais, ou

seja, está desatualizada. Aqui, a norma regulamenta determinado instituto processual, mas ela não encontra mais ressonância na realidade, não há efetividade da norma processual existente;

c) axiológicas: quando as normas processuais levam a uma solução injusta ou

insatisfatória. Existe a norma, mas sua aplicação conduz a uma solução incompatível com os valores de justiça e equidade exigíveis para a eficácia da norma processual.

Assim, a doutrina considera três tipos de lacunas que servem para fins de subsidiariedade do processo comum ao processo do trabalho.

Além disso, o artigo 15 do CPC de 2015 foi trazido para ser harmonizado com os artigos 769 e 889 da CLT e não para contrariá-los, de modo que, o CPC só será aplicado ao processo do trabalho de forma supletiva e subsidiária quando existir omissões na legislação processual trabalhista e se mostrar compatível com os princípios e singularidades do processo do trabalho (SCHIAVI, 2015a).

Portanto, para a aplicação forma supletiva e subsidiária do processo comum ao processo do trabalho, não basta que o sistema trabalhista seja omisso em relação a determinado instituto, exigindo-se também que o processo comum não se mostre incompatível com as normas trabalhistas.

A utilização supletiva e subsidiária das normas do processo civil se mostra crescente e justificável a partir do momento em que a Justiça do Trabalho teve sua competência ampliada para julgar as lides civil decorrentes da relação de trabalho (TEIXEIRA FILHO, 2009).

Quanto à aplicação da norma do processo civil ao processo do trabalho, é necessário entender quando acerca da norma supletiva e subsidiária.