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4.6 O JUS POSTULANDI DA JUSTIÇA DO TRABALHO E SEUS CONFLITOS

4.6.1 O jus postulandi e a viabilidade do acesso à justiça

Aqueles que defendem a manutenção do jus postulandi no processo do trabalho argumentam que é um meio de viabilizar o acesso do trabalhador à Justiça, principalmente para quem não possui condições financeiras de contrair despesas com advogado (SCHIAVI, 2015a). O princípio do acesso à justiça é resguardado pela Constituição Federal, artigo 5º, XXXV e dispõe que “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça o direito”.

Portanto, de acordo com a Constituição Federal, a lei não poderá excluir o direito de acesso ao Judiciário, ainda que de forma temporária, ao cidadão que sentir lesionado ou ameaçado a sofrer a lesão (ZANGRANDO, 2013).

É conhecido também como o princípio da inafastabilidade da jurisdição, que assegura o direito de ação consistente na possibilidade de a parte invocar a prestação da tutela jurisdicional. A tutela jurisdicional ao ser invocada pela parte interessada, não poderá ser recusada pelo Estado, que se encontra obrigado a prestá-la (TEIXEIRA FILHO, 2018).

Para Zangrando (2013) a palavra “justiça” é um conceito abstrato pois não tem expressão física, devendo ser entendida apenas como a partida do cidadão em busca do Poder Judiciário, que por fim realizará a justiça.

Atualmente, tem-se esse princípio como ponto de partida em relação aos demais princípios constitucionais do processo. Ainda que a parte não satisfaça os pressupostos processuais e as condições da ação, resultando na extinção do processo sem resolução de mérito, foi exercido seu direito de ação (SCHIAVI, 2012).

Assim, o acesso à justiça garante que o indivíduo tenha acesso à um ordenamento jurídico justo, composto por princípios e regras justas, que possibilitem que o autor ou réu, tenham acesso a um conjunto de regras processuais que propiciem o ingresso em juízo (SCHIAVI, 2012).

Para alguns doutrinadores o instituto do jus postulandi foi criado com o objetivo de efetivar a aplicação de tal princípio. Nesse sentido, assevera Pimenta (2005, p. 270 e 271):

É preciso observar, no entanto, que a possibilidade de atuar em Juízo pessoalmente tem sido tradicionalmente considerada como uma das mais importantes medidas de ampliação do acesso à justiça para os jurisdicionados em geral e uma das notas características positivas da própria Justiça Laboral, sendo no mínimo paradoxal que as pequenas causas de valor até 20 (vinte) salários mínimos, que nos Juizados Especiais Cíveis também não contam com o patrocínio obrigatório de advogados (art. 9º da Lei n. 9.099/95), passem a exigi-lo apenas porque passaram a competência material da Justiça do Trabalho. Ademais, não se pode ignorar que até antes da promulgação da Emenda Constitucional n. 45/2004, em todas as causas não decorrentes da relação de emprego que já tramitavam na Justiça do Trabalho por força de norma legal expressa, sempre foram pacificamente tidos por aplicáveis tanto o disposto no caput do art. 791 quanto o referido entendimento jurisprudencial sobre os honorários advocatícios, sendo de se questionar se haveria motivos suficientes para tão significativa alteração.

Em vista disso, o jus postulandi se revela uma medida de equidade ao permitir e, também facilitar o acesso ao Poder Judiciário pelo cidadão que se encontra ameaçado, colocando em risco sua liberdade ou sobrevivência (ZANGRANDO, 2013).

Entretanto, a presença do advogado no processo possibilita o maior êxito no processo, entendendo-se que assegura o cumprimento do acesso à justiça, bem como garante uma ordem jurídica justa. Dessa forma, não há porque defender a manutenção do jus postulandi na Justiça do Trabalho (SCHIAVI, 2015a).

Schiavi (2015a) também afirma que dificilmente haverá acordo em uma audiência em que ambas as partes estiverem sem advogado, pois de forma inevitável se transformará em uma discussão alheia ao processo entre reclamante e reclamado.

Seja a parte empregado ou empregador, ambos não possuem a capacidade técnica que lhe permitem demandar e se defender pessoalmente, pois é provável que nem se quer tenham o conhecimento de todos os dispositivos e recursos disponíveis (ZANGRANDO, 2013).

Para Russomano (1997 apud ZANGRANDO, 2013, p. 706):

[...]. O índice intelectual do empregado e do empregador não é, entre nós, suficientemente alto para que eles compreendam, sem certas dificuldades, as razões de ser da Justiça do Trabalho, as suas atribuições de aplicar aos fatos uma lei protecionista do trabalhador, mas interpretada com imparcialidade. Por outro lado, o Direito Processual do Trabalho está subordinado aos princípios e aos postulados medulares de toda a ciência jurídica, que fogem à compreensão dos leigos[...]. Não há por que fugirmos, no processo trabalhista, às linhas mestras da nossa formação jurídica. Devemos tornar obrigatória a presença do procurador legalmente constituído,

em todas as ações de competência da Justiça do Trabalho, quer para o empregado, quer para o empregador.

Portanto, o jus postulandi na Justiça do Trabalho, apesar de já ter sido considerado um meio eficaz para viabilizar o acesso, tanto do empregado quanto do empregador, à Justiça do Trabalho, atualmente é tratado como um fator prejudicial ao exercício da ampla defesa e ao contraditório, dificultando o devido processo legal (ZANGRANDO, 2013).

Zangrando (2013) reconhece que a contratação de um advogado gera grandes custos para o demandante, principalmente quando este se trata de empregado ou empregador de pequeno porte, e como não existe uma Defensoria Pública para o âmbito trabalhista, a obrigação de manutenção de um amplo acesso à justiça cabe aos sindicatos.

Os sindicatos possuem uma obrigação, tanto legal quanto moral, para com seus associados e representados. Por isto, é correto exigir dos sindicatos que prestem um serviço de qualidade, através da contratação de advogados bem preparados, aptos a enfrentar a complexidade das ações trabalhistas (ZANGRANDO, 2013).

Portanto, a capacidade postulatória prevista no artigo 791 da CLT é uma forma de garantir que a parte considerada hipossuficiente, ao se encontrar diante de um conflito trabalhista e pretender buscar seus direitos, tenha o justo acesso à justiça conforme assegurado pela Constituição Federal, em seu artigo 5º, inciso XXXV, sem ter que se preocupar com as despesas exigidas pela contratação do advogado. Entretanto, há quem entenda que para garantir um acesso justo ao judiciário sem que haja despesas para o empregado, deveria este receber o auxílio de seu sindicato, o qual ficaria responsável por contratar o advogado.