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Hospital do Aparelho Locomotor Sarah Kubitschek

Brasília, 1976-1980

O contato de Lelé com projetos hospitalares se inicia antes mesmo de 1967, data em que realiza o Hospital de Taguatinga. Quatro anos antes, o arqui- teto já havia trabalhado como consultor da então Fundação Hospitalar do Distrito Federal. A partir daí, o convívio com os médicos se intensificou, so- bretudo após conhecer o Dr. Aloysio Campos da Paz, responsável pela implantação de novas práticas de tratamento e acompanhamento médico.

O Aloysio foi quem propiciou toda essa revolução que a gente fez. Eu acho que o Sarah de Brasília foi uma revolução no tratamento médico, desde a forma dos médicos atenderem, pois ainda hoje

muitos são acostumados a ficar no seu consultório à espera do paciente. No entanto, o Sarah apre- senta uma forma diferente e dinâmica do médico atuar junto com o paciente, onde se observa o envolvimento de três ou quatro médicos em uma só equipe para atender o mesmo paciente. É uma coisa completamente nova, principalmente para a época. Então isso foi fruto dessa vivência.35

Deste contato com o Dr. Campos da Paz surge o primeiro trabalho de Lelé para a então Associação das Pioneiras Sociais: o Sarah Brasília. Em meados dos anos 1970, a APS, hoje Fundação, decidiu fa- zer uma grande ampliação do conjunto, ocupando quase toda a quadra no Setor Médico-Hospitalar Sul (SMHS), Centro de Brasília. A primeira preocupação de Lelé foi adequar todo o programa no terreno sem agredir o singelo e delicado Centro de Reabilitação Sarah Kubitschek projetado pelo arquiteto Glauco

35 Entrevista realizada por Ana Gabriella Lima Guimarães com o arquiteto Lelé em 08/04/2003, Salvador-BA, in: Ana Gabriella Lima Guimarães. Op. Cit., p. 162.

30. Hospital Sarah Kubitschek - Brasília (Centro) Fonte: Cláudia Estrela Porto (2010)

Campello em 1959. Trata-se de um pequeno con- junto formado por dois blocos, um térreo e outro elevado por pilotis, conectados por um jardim in- terno de onde se percebe a estrutura em concreto bem marcada na fachada, bem como o tratamento especial dado aos materiais empregados na obra.

Em entrevista dada recentemente à revista Pro- jeto, em razão do cinquentenário de Brasília, Glau- co Campello comenta a intervenção de Lelé em seu projeto e faz referencias históricas sobre a nova configuração do conjunto:

Lelé trabalhou de maneira muito cuidadosa e en- volveu meu prédio, hoje chamado de ‘Sarinha’, que, no final, com toda a quadra ocupada, ficou no meio de um pátio. Eu disse ao Lelé que não estava chateado com o resultado. Primeiro, pelo carinho com que tratou meu projeto; depois, porque este acabou como o Tempietto, de Bra- mante, em Roma, uma das principais obras do Re- nascimento. Não pela importância histórica, claro, mas porque ambos estão em um pátio, envoltos por outros edifícios.36

O novo prédio é resultado da interpretação de Lelé de algumas diretrizes que o arquiteto já havia considerado quando da elaboração do projeto do HRT. Nesse sentido, pode-se destacar, por exemplo, a flexibilidade e extensibilidade da construção, a criação de espaços verdes, a flexibilidade das ins- talações, iluminação natural e conforto térmico dos ambientes e a padronização dos elementos da construção.

Diante de um programa amplo e complexo, envolvendo questões relacionadas a doenças con- gênitas e cerebrais, e não apenas se limitando ao tratamento de sequelas provenientes de traumatis- mos, Lelé setorizou o Hospital da seguinte manei- ra: centro cirúrgico, serviços gerais, laboratórios, biblioteca e auditório no subsolo; ambulatório, recepção e administração no térreo e o bloco de internação, distribuído verticalmente em seis pavi- mentos superpostos.

Exceto pelo bloco de internação, os demais se- tores foram todos construídos com o uso da tecno- logia dos pré-moldados, resultado das pesquisas de Lelé desde os tempos da UnB. Cabe ressaltar que o bloco de internação também foi projetado para ser executado com uso da pré-fabricação em concreto.

36 Brasília 50 anos – Parte 2 de 5. Revista Projeto, ArcoWeb. Disponível em: http://www.arcoweb.com.br/especiais/brasilia- 50-anos-parte-2de5-30-06-2010.html Acesso 11/04/2011.

32. Hospital Sarah Kubitschek - Brasília | vista aérea do conjunto.

Fonte: Joana França (2011)

31. Hospital Sarah Kubitschek - Brasília | vista aérea do conjunto.

Contudo, por uma série de razões de natureza es- truturais e econômicas, acabou moldado in loco.

Atento para questões como economicidade e padronização de componentes construtivos, Lelé desenvolve um elemento pré-fabricado em “V” com 60cm de altura por 1,15m de largura, o qual, além de vencer vãos e se comportar como laje dos pavi- mentos, servia como calhas nas coberturas, apoio para os sheds de concreto e ainda permitiam a cria- ção de terraços-jardins e a passagem de tubulações de ar condicionado e demais instalações.

Perguntado a respeito do uso da imensa viga vierendeel na fachada do bloco de internação do Sarah Brasília, vencendo vãos de 20 metros e 10 em balanço, Lelé responde: A viga vierendeel do hospi-

tal de Brasília foi usada em decorrência do partido. Como este tipo de estrutura era muito mais cara, um engenheiro sugeriu até que se estudasse uma alternativa com pilares, no entanto demonstrei ser

uma solução inviável que causaria imenso prejuízo ao projeto. A solução buscada pelo arquiteto visa- va dotar as enfermarias intercaladas de uma área mais amena com sol e jardins, de forma a contribuir para a desejada manutenção do equilíbrio psicoló- gico dos pacientes. Nesse sentido, os octógonos da fachada funcionam como janelas para o exterior. Ainda sobre o uso da viga, Lelé conclui:

Na residência do Minsitro usei-a de maneira for- tuita, apenas para obter vãos maiores que dispen- sassem um grande número de apoios, favorecendo assim a implantação da piscina no nível térreo. No caso do Sarah, a viga vierendeel assume um papel determinante.37

37 Entrevista realizada por Ana Gabriella Lima Guimarães com o arquiteto Lelé em 08/04/2003, Salvador-BA, in: Ana Gabriella Lima Guimarães. Op. Cit., p. 171.

33. Hospital Sarak Kubitschek - Brasília (Centro) | croquis. Fonte: Giancarlo Latorraca (1999)

Companhia de Renovação Urbana