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Hospital Sarah Kubitschek Salvador e CTRS (no alto) Fonte: Max Risselada (2010)

Hospital Sarah Salvador | CTRS

68. Hospital Sarah Kubitschek Salvador e CTRS (no alto) Fonte: Max Risselada (2010)

Lelé que já havia ensaiado a adoção de um sistema pré-fabricado misto em argamassa arma- da e perfis de aço na Sede da Prefeitura de Salva- dor (1986) e nas passarelas padronizadas da FAEC (1988), atinge, com o Hospital da Rede Sarah na capital baiana, um alto grau de maturidade técnica, construtiva e espacial. Dentre suas características mais significativas, destacam-se: a adoção de solu- ções estruturalmente mais leves, o aprimoramento dos componentes industrializados e uma integra- ção arte-arquitetura mais abrangente.

Localizado no topo de uma colina do bairro de alto padrão Caminho das Árvores, antiga fazenda da família Odebrecht, o Sarah Salvador é composto por cinco setores, distribuídos em três níveis distintos. O hospital se localiza na cota 39, junto aos setores de recreação e lazer, residência médica e o CAPC (Centro de Apoio à Criança com Paralisia Cerebral). Na cota 36, localizam-se os serviços gerais do hos- pital, como administração, raios X e almoxarifado. Na cota 33, estão concentrados os geradores, casas de máquina e reservatórios.

Todos os setores se comunicam através de duas circulações principais, distribuídas longitudinal- mente ao conjunto. No sentido transversal, no ní- vel dos serviços gerais e no sentido dos sheds da cobertura, localizam-se as galerias de instalações, descritas por Lelé da seguinte maneira:

As galerias são a espinha dorsal do edifício. Elas correspondem ao pavimento inferior, com pé-di- reito de 2,60 m, por onde passa toda a rede de instalações prediais que podem ser visitadas em função de eventuais reparos. Através deste siste- ma é possível introduzir novos pontos de acesso de tubulações em cada ambiente do hospital. No caso dos hospitais no Nordeste, as galerias funci- onam como grandes dutos orientados na direção dos ventos dominantes. As cornetas captam ar ex-

terno para dentro das galerias. O ar que atravessa as galerias é insuflado até os ambientes superiores através de grelhas localizadas nas paredes ou nos pilares. Ao mesmo tempo, essa galeria funciona como um sistema de fundação do hospital. Sobre uma viga principal se apoiam pilares metálicos tu- bulares que conduzem as águas pluviais para as tubulações de drenagem.58

Para os espaços internos, foram adotados os mesmos princípios de flexibilidade e extensibili- dade empregados na primeira unidade da Rede em Brasília, em 1979. A criação de ambientes amenos com jardins e obras de arte integradas aos espaços de espera ou em circulações tornam a política do

progressive care59 mais humanizada e, por que não

dizer, eficiente, considerando os benefícios que es- tes ambientes proporcionam aos pacientes em tra- tamento.

Como parte do contrato assinado entre a Fun- dação das Pioneiras Sociais e o Governo Federal, a partir de 1992 a Rede Sarah deveria projetar e

executar as obras destinadas à implantação da rede de hospitais, bem como projetar e executar equipa- mentos hospitalares convencionais, sempre que fos- se constatada vantagem econômica em relação aos oferecidos pelo mercado. Além disso, ficava expres- so a obrigatoriedade de executar a manutenção dos prédios, equipamentos e instalações de todas as unidades da rede. Assim, as oficinas provisórias que produziram as peças para o Hospital de Salvador

58 João Filgueiras Lima. Trecho extraído do video produzido pelo Setor de Foto e Imagem da Rede Sarah. Salvador-Ba, 1997. In: Ana Gabriella Lima Guimarães. Op. Cit., p. 177.

59 Criado pelo médico Aloysico Campos da Paz, o Progressive Care é um sistema de tratamento implantado na Rede Sarah de Hospitais do Aparelho Locomotor baseado no acompanhamento intensivo de cada paciente por uma equipe médica, e não por um único professional responsável. Toda evolução, diagnóstico e tratamento é definido pela equipe após análise conjunta de cada situação.

acabaram sendo incorporadas e, segundo o plano de expansão elaborado pelo próprio Lelé, passaram a configurar o novo Centro de Tecnologia da Rede Sarah, o CTRS.

A fábrica do CTRS ocupa 20.000 m2 e conta com as oficinas de metalurgia leve, metalurgia pesada, pré-moldados em argamassa armada e plásticos. Segundo descrição do arquiteto:

[...] o potencial médio de produção do CTRS equivale à execução de um hospital de 200 leitos, equipado no valor de US$ 35.000.000. O potencial máximo pode ultrapassar US$ 50.000.000 anuais, sem perda de qualidade ou de custos de produção. A produção mínima para manter o centro eco- nomicamente viável não pode ser inferior a US$ 20.000.000 anuais.60

60 Giancarlo Latorraca (org.). Op. Cit., 1999, p. 199.

Devido à limitação imposta pelo Tribunal de Contas da União em restringir a produção do CTRS apenas à ampliação e manutenção dos hospitais da rede, o Centro de Tecnologia da Rede Sarah não pôde expandir suas bases de produção e desenvol- vimento de tecnologia para outras atividades.

O Tribunal de Contas diz que fazemos competição com a iniciativa privada e nos proibiram de pro- duzir qualquer coisa para fora, temos de trabalhar exclusivamente para a rede Sarah. Prevíamos uma ampliação para essa fábrica, mas parou porque para fazer só os hospitais da rede Sarah não tem necessidade de aumentar.

Completa Lelé:

Nós fazemos as obras muito mais rapidamente e com custo baixo. E nosso tipo de construção é de qualidade.61

Ironicamente, o próprio Tribunal teve gran- de parte de suas sedes nos estados projetadas e construídas pelo CTRS: Bahia (1995), Rio Grande do Norte (1996), Sergipe (1997), Minas Gerais (1997), Alagoas (1997), Piauí (1997), Mato Grosso (1997) e Espírito Santo (1998).

Ao longo dos últimos 20 anos, desde o projeto para o Sarah Salvador, em 1991, o CTRS ampliou sua rede de hospitais para outros estados, contan- do atualmente com nove unidades espalhadas por todo território nacional: o primeiro hospital da rede inaugurado em Brasília (1980), o Sarah Salvador (1991), o Sarah Fortaleza (1992), o Sarah Belo Ho- rizonte (1992), o Sarah São Luís (1993), o Cen- tro Internacional de Neurociências e Reabilitação, mais conhecido como Sarah Lago Norte (1996), em Brasília, o Centro de Reabilitação Infantil do Rio de Janeiro (2001), o Posto Avançado da Rede Sarah

o princípio. AU, Especial João Filgueiras Lima, n. 175, outubro 2008, p. 58-59.

em Macapá (2001), o Centro Ambulatorial Infantil de Belém (2001) e por fim o Hospital do Rio de Janeiro (2001).

O hospital do Rio, inaugurado em 2009, tem um significado especial para Lelé. O momento em que foi construído coincide com a desarticulação do CTRS e o início de uma nova fase na carreira do arquiteto: o Instituto Brasileiro de Tecnologia do Habitat, o IBTH. Segundo Nobre:

Pode-se dizer que o Sarah-Rio representa o so- matório de todas as experiências profissionais de Lelé, em termos de erros e acertos, desde Brasília. Afinal, estão aí presentes, e refinadas, todas as di- retrizes projetuais fixadas pelo arquiteto ao longo dos últimos quarenta anos.62

62 Ana Luiza Nobre. João Filgueiras Lima: arquitetura no limite. Olhares: visões sobre a obra de João Filgueiras Lima. An- dré Aranha Corrêa do Lago [et al.]; Cláudia Estrela Porto (org). Brasília: EdUnB, 2010, p. 45.

70. Tribunal de Contas da União - Cuiabá, Mato Grosso | croqui.