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I NSTRUÇÃO DO PROCESSO , ARTIGO 513 º

No documento Processo Civil Declarativo (páginas 147-158)

A instrução inicia-se com a apresentação das provas e pode desenrolar-se até à audiência de julgamento e tem por objecto os factos relevantes paro o exame e decisão da causa que devam considerar-se controvertidos ou necessitados de prova.

O direito probatório está sujeito ao princípio da tipicidade e pode ser entendido de duas formas:

1.

Direito probatório Formal : regras constantes no código de processo civil,

nos artigos 513 e seguintes.

2.

Direito probatório Material : regras constantes do código civil, nos artigos

Função das provas, artigo 341.º: As provas têm como função a

demonstração da realidade dos factos.

Ónus da prova, artigo 342.º: Àquele que invocar um direito cabe fazer prova

dos factos constitutivos do direito alegado  Regra

Mas a prova dos factos impeditivos, modificativos ou extintivos do direito invocado compete àquele contra quem a invocação é feita.

Havendo dúvida sobre os factos, os mesmos devem ser considerados constitutivos do direito.

Há casos especiais de ónus da prova, artigo 343.º

Nas acções de simples apreciação ou declaração negativa, compete ao

réu a prova dos factos constitutivos do direito de que se arroga.

Nas acções que devam ser propostas dentro de certo a contar da data em que o autor teve conhecimento de determinado facto, cabe ao réu a prova

de o prazo já ter decorrido, salvo nos casos em que a lei expressamente determine o contrário.

Sempre que esteja em causa por parte do autor um direito sujeito a condição suspensiva ou a termo inicial, cabe-lhe a prova de que a condição se

verificou ou o termo se venceu

Sempre que esteja em causa por parte do autor um direito sujeito a condição resolutiva ou a termo final, cabe ao réu a prova da verificação da

condição ou o vencimento do prazo.

Inversão do ónus da prova, artigo 344

As regras do ónus da prova constantes dos artigos 342 e 343 invertem-se sempre que haja presunção legal, dispensa ou liberação do ónus da prova, ou convenção válida nesse sentido, e, de um modo geral, sempre que a lei determine.

Há igualmente inversão do ónus da prova, quando a parte contrária tiver culposamente tornado impossível a prova ao onerado, sem prejuízo das sanções que a lei de processo mande especialmente aplicar à desobediência ou às falsas declarações.

É nula a convenção que inverta o ónus da prova, quando se trate de direito indisponível ou a inversão que torne excessivamente difícil a uma das partes o exercício do direito.

É nula a convenção que excluir algum meio legal de prova ou admitir um meio de prova diverso dos legais. Mas se as determinações legais quanto à prova tiverem por fundamento razoes de ordem pública, a convenção é nula em qualquer circunstâncias.

Artigo 346.º contraprova

À prova que for produzida pela parte sobre quem recaia ónus probatório pode a parte contrária opor contraprova a respeito dos mesmos factos, destinados a torná-los duvidosos; se o conseguir, é a questão decidida contra a parte onerada com a prova.

A contraprova funciona nestes moldes para todo o tipo de prova, o que significa que, se a parte contrária tornar duvidoso a prova apresentada pela parte onerada com o ónus, a decisão é a favor da segunda.

A única excepção prende-se com a prova legal plena, nos termos do artigo 347.º, pois esta só pode ser contrariada por meio de prova que mostre não ser verdadeiro o facto que dela for objecto, sem prejuízo de outras restrições especialmente determinadas na lei.

Estas regras de direito material têm repercussões no âmbito do direito processual, onde para cada um dos meios de prova apresentados em juízo é necessário percorrer um caminho para que a mesma se produza: proposição da prova, admissibilidade da mesma, apreciação da prova e decisão sobre a prova.

Factos que não carecem de alegação ou de prova, artigo 516.º

Não carecem de prova nem de alegação os factos notórios, devendo considerar-se como tais os factos que são do conhecimento geral, factos que toda a gente sabe e conhece.

Também não carecem de alegação os factos de que o tribunal tenha conhecimento oficiosamente em virtude do exercício das suas funções; quando o tribunal se socorra destes factos, deve fazer juntar ao processo documento que os comprove.

Provas atendíveis, artigo 515

O tribunal deve tomar em consideração todas as provas produzidas, tenham ou não emanado da parte que devia produzi-las, sem prejuízo das disposições que declarem irrelevante a alegação de um facto, quando não seja feita por certo interessado.

Isto significa que se uma parte quer provar xxxx mas com o facto invocado prova yyyy e isso beneficia a outra parte, o tribunal deve ter isso em consideração.

Princípio a observar em casos de dúvida, artigo 516

Havendo dúvida sobre a realidade de um facto e sobre a repartição do ónus da prova resolve-se contra a parte a quem o facto aproveita.

Princípio da audiência contraditória, artigo 517

Salvo disposição em contrário, as provas não serão admitidas nem produzidas sem audiência contraditória da parte a quem hajam de ser opostas. Assim, por exemplo se o autor em requerimento, pede ao tribunal o depoimento de parte do réu, este será ouvido antes do tribunal se pronunciar sobre a sua admissibilidade.

Provas constituendas: são aquelas que apenas se constituem no decurso da acção, como sucede por exemplo com o depoimento de parte ou a prova testemunhal.

Quanto a estas, a parte será notificada, quando não for revel, para todos os actos de preparação e produção da prova, e será admitida a intervir nesses actos nos termos da lei; ou seja no caso de audição de uma testemunha a contraparte é ouvida para poder interrogar etc.

Provas pré-constituídas: são provas que já existem antes da sua apresentação, como sucede com um documento que apenas vai ser apresentado porque a sua validade já existe, com a confissão extra-judicial que já existe documentada etc.. Quanto a estas deve facultar-se à parte a impugnação, tanto da respectiva admissão como da sua força probatória.

Nota: Como manifestação do princípio do inquisitório, nos termos do

artigo 265/3 pode o juiz determinar oficiosamente a produção de prova.

Dever de cooperação para a descoberta da verdade, artigo 519

Todas as pessoas, mesmo que não sejam partes na causa, têm o dever de prestar a sua colaboração para a descoberta da verdade, respondendo ao que lhes for perguntado, submetendo-se às inspecções necessárias, facultando o que for requisitado e praticando os actos que forem determinados.

Aqueles que recusem a colaboração devida (caso não sejam parte) serão condenados em multa, sem prejuízo dos meios coercitivos que forem possíveis;

Se o recusante for parte, o tribunal apreciará livremente o valor da recusa para efeitos probatórios, sem prejuízo da inversão do ónus da prova decorrente do preceituado no nº 2 do art. 344.º do Código Civil.

A recusa é, porém, legítima se a obediência importar: a) Violação da integridade física ou moral das pessoas;

b) Intromissão na vida privada ou familiar, no domicílio, na correspondência ou nas telecomunicações;

c) Violação do sigilo profissional ou de funcionários públicos, ou do segredo de Estado, sem prejuízo do disposto no nº 4.

Deduzida escusa com fundamento na alíena c) do número anterior, é aplicável, com as adaptações impostas pela natureza dos interesses em causa, o disposto no processo penal acerca da verificação da legitimidade da escusa e da dispensa do dever de sigilo invocado.

Produção antecipada de prova, artigo 520

Havendo justo receio de vir a tornar-se impossível ou muito difícil o depoimento de certas pessoas ou a verificação de certos factos por meio de arbitramento ou inspecção, pode o depoimento, o arbitramento ou a inspecção realizar-se antecipadamente e até antes de ser proposta a acção.

Para que isto se possa observar é necessário, que exista justo receio de vir a tornar-se impossível ou muito difícil o depoimento de certas pessoas, como acontecerá no caso de uma pessoa estar com doença fatal, etc.

Forma da antecipação da prova, artigo 521

No decorrer da acção: O requerente da prova antecipada justificará sumariamente a necessidade da antecipação, mencionará com precisão os factos sobre que há-de recair e identificará as pessoas que hão-de ser ouvidas, quando se trate de depoimento de parte ou de testemunhas.

Antes da mesma ser intentada: Quando se requeira a diligência antes de a acção ser proposta, há-de indicar-se sucintamente o pedido e os fundamentos da demanda e identificar-se a pessoa contra quem se pretende fazer uso da prova, a fim de ela ser notificada pessoalmente para os efeitos do artigo 517.º; se esta não puder ser notificada, será notificado o Ministério Público, quando se trate de incertos ou de ausentes, ou um advogado nomeado pelo juiz, quando se trate de ausentes em parte certa.

A prova por confissão, artigo 352.º do código civil:

A confissão só é eficaz quanto feita por pessoa com capacidade e poder para dispor do direito a que o facto confessado se refira.

A confissão feita por litisconsórcio é eficaz, se o litisconsórcio for voluntário, embora o seu efeito se restrinja ao interesse do confitente; mas não o é, se o litisconsórcio for necessário.

A confissão feita por um substituto processual não é eficaz contra o substituído.

Inadmissibilidade da confissão, artigo 354

A confissão não faz prova contra o confitente:

a. Se for declarada insuficiente por lei ou recair sobre facto cujo reconhecimento ou investigação a lei proíba.

b. Se recair sobre factos relativos a direitos indisponíveis.

c. Se o facto confessado for impossível ou notoriamente inexistente.

1. Judicial: feita em juízo, competente ou não, mesmo quando arbitral, e ainda que o processo seja de jurisdição voluntária.

A confissão feita num processo, só vale como jurisdicional nesse processo e feita em qualquer procedimento preliminar ou incidental só vale como confissão judicial na acção correspondente.

2. Extra judicial: feita por algum modo diferente da confissão judicial.

Formas da confissão judicial, artigo 356

Confissão judicial espontânea, pode ser feita nos articulados, segundo as prescrições da lei processual, ou em qualquer outro acto do processo, firmado pela parte pessoalmente ou por procurador especialmente autorizado.

A confissão judicial provocada pode ser feita em depoimento de parte ou em prestações de informações ou esclarecimentos em tribunal.

A confissão judicial para que seja plena deve ser escrita, por isso, é que por exemplo o depoimento de parte tem de ser reduzido a escrito, ainda que a audiência seja gravada, artigo 563.º

Declaração confessória, artigo 357

A declaração confessória deve ser inequívoca, salvo se a lei o dispensar.

Se for ordenado o depoimento de parte ou o comparecimento desta para prestação de informações ou esclarecimento, mas ela não comparecer ou se recusar a depor ou a prestar as informações ou esclarecimentos, sem provar justo impedimento, ou responder que não se recorda ou nada sabe, o tribunal apreciará livremente o valor da conduta da parte para efeitos probatórios.

Força probatória da confissão, artigo 358

A confissão judicial escrita tem força probatória plena contra o confitente.

A confissão extrajudicial, em documento autêntico ou particular, considera-se provada nos termos aplicáveis a estes documentos e, se for feita à parte contrária ou a quem a represente, tem força probatória plena. Ou seja, a força da confissão extrajudicial tem a força do documento onde ela constar

A confissão extrajudicial não constante de documento não pode ser provada por testemunhas nos casos em que não é admitida a prova testemunhal; quando esta seja admitida, a força probatória da confissão é livremente apreciada pelo tribunal.

A confissão judicial que não seja escrita e a confissão extrajudicial feita a terceiro ou contida em testamento são apreciadas livremente pelo tribunal.

Nulidade e anulabilidade da confissão, artigo 359

A confissão, judicial ou extrajudicial, pode ser declarada nula ou anulada, nos termos gerais, por falta ou vícios da vontade, mesmo depois do trânsito em julgado da decisão, se ainda não tiver caducado o direito de pedir a sua anulação.

O erro, desde que seja essencial, não tem de satisfazer aos requisitos exigidos para a anulação dos negócios jurídicos.

Indivisibilidade da confissão, artigo 360

Se a declaração confessória, judicial ou extrajudicial, for acompanhada da narração de outros factos ou circunstâncias tendentes a infirmar a eficácia do facto confessado ou a modificar ou extinguir os seus efeitos, a parte que dela quiser aproveitar-se como prova plena tem de aceitar também como verdadeiros os outros factos ou circunstâncias, salvo se provar a sua inexactidão.

Isto significa que se o réu confessar determinado facto, o juiz vai atender também a eventuais comentários que o mesmo tenha tecido sobre o facto que confessa, que podem não ser favoráveis à pretensão do autor. Pode por exemplo confessar que fez chamou nomes ao autor, mas porque foi insultado primeiro.

Valor do reconhecimento não confessório, artigo 361

O reconhecimento de factos desfavoráveis, que não possa valer como confissão, vale como elemento probatório que o tribunal apreciará livremente.

Este regime substantivo constante do código civil está adjectivado no código de processo civil da seguinte forma:

Depoimento de parte, artigo 552

O juiz pode, em qualquer estado do processo, determinar a comparência pessoal das partes para a prestação de depoimento sobre factos que interessem à decisão da causa.

Quando o depoimento seja requerido por alguma das partes, devem indicar-se logo, de forma discriminada, os factos sobre que há-de recair.

(existindo dois réus pode um pedir o depoimento de parte do outro)

De quem pode ser exigido, artigo 553

O depoimento de parte pode ser exigido de pessoas que tenham capacidade judiciária.

Pode requerer-se o depoimento de inabilitados, assim como de representantes de incapazes, pessoas colectivas ou sociedades; porém, o depoimento só tem valor de confissão nos precisos termos em que aqueles possam obrigar-se e estes possam obrigar os seus representados.

Cada uma das partes pode requerer não só o depoimento da parte contrária, mas também o dos seus compartes.

Factos sobre que pode recair, artigo 554

O depoimento só pode ter por objecto factos pessoais ou de que o depoente deva ter conhecimento.

Não é, porém, admissível o depoimento sobre factos criminosos ou torpes, de que a parte seja arguida.

Depoimento do assistente, artigo 555

O depoimento do interveniente acessório é apreciado livremente pelo tribunal, que considerará as circunstâncias e a posição na causa de quem o presta e de quem o requereu.

Momento e lugar do depoimento, artigo 556

O depoimento deve, em regra, ser prestado na audiência de discussão e julgamento, salvo se for urgente ou o depoente estiver impossibilitado de comparecer no tribunal. *

O regime de prestação de depoimentos através de teleconferência previsto no artigo 623.º é aplicável às partes residentes fora do círculo judicial, ou da respectiva ilha, no caso das Regiões Autónomas.

Pode ainda o depoimento ser prestado na audiência preliminar, aplicando-se, com as adaptações necessárias, o disposto no número anterior.

Impossibilidade de comparência no tribunal, artigo 557

Atestando-se que a parte está impossibilitada de comparecer no tribunal por motivo de doença, o juiz pode fazer verificar por médico de sua confiança a veracidade da alegação e, em caso afirmativo, a possibilidade de a parte depor.

Havendo impossibilidade de comparência, mas não de prestação de depoimento, este realizar-se-á no dia, hora e local que o juiz designar, ouvido o médico assistente, se for necessário, sempre que não seja possível a sua prestação ao abrigo do disposto nos artigos 639.º

Ordem dos depoimentos, artigo 558

Se ambas as partes tiverem de depor perante o tribunal da causa, depõe em primeiro lugar o réu e depois o autor.

Se tiverem de depor mais de um autor ou de um réu, não poderão assistir ao depoimento de qualquer deles os compartes que ainda não tenham deposto e, quando houverem de depor no mesmo dia, serão recolhidos a uma sala, donde saem segundo a ordem por que devem depor.

Prestação do juramento, artigo 559

Antes de começar o depoimento, o tribunal fará sentir ao depoente a importância moral do juramento que vai prestar e o dever de ser fiel à verdade, advertindo-o ainda das sanções aplicáveis às falsas declarações.

Em seguida, o tribunal exigirá que o depoente preste o seguinte juramento: «Juro pela minha honra que hei-de dizer toda a verdade e só a verdade».

A recusa a prestar o juramento equivale à recusa a depor.

Interrogatório, artigo 560

Depois do interrogatório preliminar destinado a identificar o depoente, o juiz interrogá-lo-á sobre cada um dos factos que devem ser objecto do depoimento. É o juiz que faz a inquirição das testemunhas pelo que se os advogados tiverem interesse em fazer perguntas não a podem fazer directamente, mas apenas pela via do juiz, sem prejuízo deste autorizar que as mesmas sejam feitas directamente.

Respostas do depoente, artigo 561

O depoente responderá, com precisão e clareza, às perguntas feitas, podendo a parte contrária requerer as instâncias necessárias para se esclarecerem ou completarem as respostas.

A parte não pode trazer o depoimento escrito, mas pode socorrer-se de documentos ou apontamentos de datas ou de factos para responder às perguntas.

Intervenção dos advogados, artigo 562

Os advogados das partes podem pedir esclarecimentos ao depoente.

Se algum dos advogados entender que a pergunta é inadmissível, pela forma ou pela substância, pode deduzir a sua oposição, que será logo julgada definitivamente.

Redução a escrito do depoimento de parte, artigo 563

O depoimento é sempre reduzido a escrito, mesmo que tenha sido gravado, na parte em que houver confissão do depoente, ou em que este narre factos ou circunstâncias que impliquem indivisibilidade da declaração confessória.

A redacção incumbe ao juiz, podendo as partes ou seus advogados fazer as reclamações que entendam.

rectificações necessárias.

Declaração de nulidade ou anulação da confissão, artigo 566

A acção de declaração de nulidade ou de anulação da confissão não impede o prosseguimento da causa em que a confissão se fez.

Irretractabilidade da confissão, artigo 567 A confissão é irretractável.

Porém, as confissões expressas de factos, feitas nos articulados, podem ser retiradas, enquanto a parte contrária as não tiver aceitado especificadamente.

Regras substantivas da prova documental

No documento Processo Civil Declarativo (páginas 147-158)