• Nenhum resultado encontrado

R EQUISITOS DOS PROCEDIMENTOS CAUTELARES

No documento Processo Civil Declarativo (páginas 101-109)

1. Fundado receio de lesão de um direito adquirido ou a constituir: temos de alegar os factos que justificam os direitos do requerente, embora a prova dos mesmos se faça de modo sumário.

2. Difícil reparação do mesmo: alegar que a demora em causa, agravará ainda mais o dano que ou já se verifica ou se vai verificar.

Exemplo:

- “A” foi expropriada, sendo-lhe atribuído alguns lotes com capacidade construtiva que funcionou como indemnização. Todavia, como a CM nunca mais desbloqueava os terrenos “A” ficou quezilenta com aquela.

Perante isto, quando foi marcado o festival da TMN de 24 horas, “A” resolveu intentar uma providência cautelar contra a CM para parar o espectáculo porque como a sociedade protectora dos animais era ali perto e o barulho iria prejudicá-los.

Perante esta pretensão de proteger os animais o juiz indeferiu liminarmente o procedimento por falta de fundamento porque estavam em causa animais e não pessoas.

Assim, tem que haver uma razão para se intentar um procedimento cautelar, pois o fundamento que se pretende tem que ser alvo de tutela jurídica.

Existem dois tipos de procedimentos:

a) Típicos: são aqueles que estão tipificados na lei; b) Comuns ou não especificados.

“Âmbito das providencias cautelares não especificadas” – art. 381º:

Fundado receio do requerente de que venha a acontecer um dano: ora, o

fundado receio pode ter uma interpretação de prova um pouco subjectiva.

Dano de difícil reparação: o receio tem que ver com a pessoa que vai ser alvo

de uma providência cautelar poder ter um comportamento que cause uma lesão grave ou de difícil reparação.

Num procedimento cautelar temos sumariamente referir e provar as seguintes coisas:

1- Que é razoável termos aquele direito: por exemplo, se deduzimos um embargo de obra temos que provar que o terreno ou o prédio afectado é nosso ou possa vir a ser nosso;

2- A ameaça desse direito; 3- Receio da lesão;

4- Qual é o nosso dano.

As providências cautelares podem ser: a) Conservatórias;

b) Antecipatórias.

“Urgência do procedimento cautelar” – art. 382º:

É um processo urgente pelo que o prazo também corre durante as férias.

“Processamento” – art. 384º:

Este procedimento tem regras próprias, aplicando-se subsidiariamente a parte geral dos incidentes de instância – n.º3. Assim, por exemplo, apresenta-se logo a prova.

Regra geral, o tribunal ouve a parte requerida antes de decretar a providência, ao contrário do que acontece com o arresto. Assim, quando é intentado um procedimento cautelar é dado conhecimento ao requerido que tem 10 dias para se opor.

Então, no caso de o procedimento cautelar ser anterior à acção principal dá-se uma citação do requerido. Mas se o procedimento for posterior à acção o requerido já não é citado mas notificado (isto é importante para as regras das contagens dos prazos).

Nos termos do n.º3, quando haja lugar a dilações nos termos do art. 252º A, esta nunca pode exceder a duração de 10 dias.

Ora, é vulgar nos exames aparecer alguém, num procedimento cautelar, que tenha que ser citado ou notificado no estrangeiro que tem uma dilação de 30 dias. Assim, temos sempre que ter em atenção este n.º3 que reza que a dilação, num procedimento cautelar, nunca pode ser superior a 10 dias. Então se a dilação fosse de 5 dias não varia qualquer problema, mas se fosse de 15 dias reduzia-se para 10 dias.

Nos termos do art. 304º, que se aplica aqui, o limite máximo de testemunhas é 3 para cada facto com o máximo de 8.

Nos casos em que o requerido não seja previamente ouvido os depoimentos são gravados para que depois possa exercer oposição.

Normalmente, à excepção do arresto, o tribunal houve o requerido a não ser que a audição prejudique a providencia. Mas, o juiz, nos procedimentos cautelares normais pode entender razoáveis as alegações do autor para não ouvir previamente a parte contrária e decretar a providência sem ouvir o requerido, tendo, posteriormente, possibilidade de oposição.

“Audiência final” – art.386º:

A audiência de um procedimento cautelar para inquirição de testemunhas só pode ser adiada uma só vez, tendo que se marcar nova audiência no prazo de 5 dias – n.º2.

“Caducidade da providencia” – art.389º:

Quando uma providência cautelar é decretada não dura “ad interno”, pois está dependente do processo principal.

Todavia, há um caso em não há dependência do processo principal:

- Suponhamos que há um arresto. Neste caso, se a divida for paga antes da acção principal, fica inútil intentar-se a acção principal. Assim, apenas tem que se extinguir o arresto mas já não está dependente da acção principal.

O procedimento cautelar extingue-se e, quando decretada a providencia, caduca:

a)

Se o requerente não propuser a acção da qual a providencia depende dentro de 30 dias, contados da data que lhe tiver sido notificada a decisão que a tenha ordenado, sem prejuízo do disposto no n.º2: O

caso previsto no n.º2 é o seguinte:

Dia 2 Dia 12 Dia 13 Dia 16 Dia 19 Dia 29

Intentamo s a acção Decisão de decretamento da providencia sem prévia audição do requerido Cita-se o requerido, por carta registada, para se opor Notifica-se o autor, por carta regista, a dizer que já foi citado o requerido Presume-se feita a notificação ao requerente a dizer que o requerido já foi citado Para até ao qual temos que intentar a acção (10 dias)

Isto é assim porque, no fundo, o requerente já tomou conhecimento daquela decisão no dia 12, pelo que faz tudo o sentido que o prazo que se começa a contar a partir de dia 19 seja mais curto – 10 dias.

Perante isto, o prazo é diferente e conta-se de forma diferente consoante se houve ou não prévia audição.

Note-se que no caso do arresto isto passa-se de forma diferente porque se há uma sentença que condene existe outro prazo. Pois, no neste caso temos um título executivo tendo que se converter o arresto em penhora. Mas se depois de termos a sentença não a executamos o arresto caduca no prazo de 2 meses.

b)

Se, proposta a acção, o processo estiver parado mais de 30 dias por negligencia do requerente: Por exemplo: morre o requerente e não se

requer a habilitação de herdeiros.

c)

Se a acção vier a ser julgada improcedente por decisão transitada em julgado: Note-se que só se fala em improcedência com o transito em julgado.

d)

Se o réu for absolvido da instância e o requerente não propuser nova

acção em tempo de aproveitar os efeitos da proposição anterior: é que

a absolvição da instância apenas faz caso julgado formal. Neste caso, o requerente pode propor outra acção no prazo de 30 dias a contar da sentença da absolvição da instância – 289º. Isto implica que a providência cautelar ou o procedimento só não caduca ou se mantém se nos 30 dias a seguir intente uma nova acção.

e)

Se o direito que o requerente pretende acautelar se tiver extinguido:

Aqui extingue-se por inutilidade.

Quando há um procedimento cautelar intentado no decurso de uma acção é sempre por apenso.

Mas se o procedimento for prévio à acção principal tem que se fazer um pedido de apensação do procedimento cautelar a essa acção. Assim, a acção principal vai ser distribuída e depois o juiz determina a apensação.

Quem não cumprir a providencia cautelar incorre na prática que um crime de desobediência qualificada.

Exemplo:

- Suponhamos que há um dano, intenta-se um procedimento cautelar com base nisso mas não se argumenta que o dano se vai agravar. Se, por exemplo, o dano era a construção de uma garagem no terreno de A.

Ora, neste caso, não há agravamento do dano. Assim, se o dano já está consumado não faz sentido intentar uma providência cautelar. Nestes casos, apenas se intenta a acção principal.

“Deferimento e substituição da providencia” – art. 387º:

Exemplo:

- Suponhamos que uma acida do vizinho B está a estragar a plantação de batatas de A. Mas, se esta água ácida se deve á construção de um prédio de muitos milhares de contos, é possível que o juiz não decreta a providência cautelar.

Assim, apesar de haver dano irreparável o juiz tem a possibilidade de, segundo um juízo de razoabilidade pessoal, não decretar a providência cautelar.

Quando a prova não é segura, o juiz pode determinar a prestação de caução. Também há a possibilidade de, depois de ouvido o requerido, ser o próprio a propor que seja prestada caução, tendo que se ouvir o requerente acerca disto.

Se for indeferida a providência cautelar ou se caducar, o requerente não pode intentar outra providência idêntica na mesma causa, nem que agora já tenha prova suficiente.

Exemplo:

- Intentamos um arresto que não é decretado. Todavia, no caso do arresto o requerido, como nunca vai ter conhecimento que houve um arresto contra ele, se o requerente intentar novo arresto aquele não se consegue opor.

Se o procedimento cautelar ou a providência se extinguir ou caducar o requerente pode vir a ser responsabilidade.

Por exemplo:

- A embargou uma obra e depois não intentou a acção principal. Neste caso, poderia ser responsabilizado pelos danos que causou ao dono da obra com a sua paralisação, pois entende-se que abusou.

Assim, exige-se que se tenha a normal prudência.

Note-se, no entanto, que há uma excepção que ultrapassa a normal prudência que é o caso dos alimentos provisórios, que se for infundada, só haverá direito de indemnização do requerido se o requerente tiver recebido os alimentos provisoriamente de má fé.

Por outro lado, há ainda que dizer que podemos intentar um procedimento cautelar especificado, não sendo o juiz obrigado a aceitar a nossa especificação, podendo alterá-la.

Numa providência cautelar é perfeitamente possível haver coligação pois se, mais tarde, vai haver coligação na acção principal faz todo o sentido que assim seja.

“Recurso” – art. 387º A: Nunca há recurso para o STJ.

“Contraditório subsequente ao decremento da providencia” – art. 388º:

Se for decretada uma providência cautelar e o requerido não tiver sido ouvido pode:

a)

Deduzir oposição se pretender alegar factos que demonstrem o contrário do que está demonstrado; ou

b) Recorrer do despacho que decreta a providência por entender que não existem fundamentos para o seu decretamento pois os elementos que estão nos autos não são suficientes.

Procedimentos cautelares especificados:

1- Restituição provisória da posse – arts. 393º e ss:

“Em que casos tem lugar a restituição provisória da posse” – art. 393º:

Antes de mais, tem que haver um esbulho violento podendo o possuidor requerer que lhe seja restituída a sua posse. Assim temos que alegar factos relativos:

a) Ao esbulho; b) À violência; c) À posse.

Nos casos em que não existam violência, podemos requerer um procedimento cautelar comum

Caso:

“A” tem um jardim na sua casa sem vedações. Um ano vai de férias durante 15 dias e quando volta encontra o vizinho B no seu jardim, tendo montado nele um parque infantil para os seus netos. Podemos aqui intentar uma restituição provisória da posse?

Aqui temos: a) Dano;

b) Justo receio de que B se venha a apropriar do jardim;

c) Um bem susceptível de tutela que é o direito de propriedade.

Assim, temos os requisitos para o decretamento de uma providencia comum, mas não para uma restituição provisória da posso porque não houve esbulho violento. B não teve que violentar nada porque o jardim nem tinha vedações.

Caso:

Suponhamos agora que A tinha um muro que funcionava como vedação e B tinha-o deitado abaixo para ocupar o seu terreno. Neste caso tínhamos um procedimento comum ou uma restituição provisória da posse?

Agora já há esbulho violento pois foi danificado algo para se ter acesso ao terreno. Assim, intentava-se, neste caso, uma restituição provisória da posse. A vantagem desta em relação à comum é a possibilidade de se ordenar a restituição da posse sem audiência prévia do esbulhador – art. 394º “in fine”.

Mas se não houvesse esbulho mas apenas a perturbação da posse já íamos para um procedimento comum.

“Termos em que a restituição é ordenada” – art. 394º:

Quando se verifica o esbulho violento a providência pode ser decretada sem prévia audiência do requerido.

Caso:

A, trabalhador, tem como regalia laboral um carro para utilizar nas horas de trabalho. Sucede que, conheceu uma namorada e foi passar 15 dias de férias com ela, levando o carro.

Entretanto, o trabalhador foi visto na posse do carro durante os dias em que faltava ao trabalho.

Perante isto, o patrão da empresa pode intentar um procedimento cautelar?

Ora, como a posse ficou no trabalhador e não do proprietário podia. Mas neste caso, como ele tinha acesso às chaves não há violência, pelo que apenas podíamos intentar um procedimento cautelar comum.

Tribunal …. Processo n.º...

Excelentíssimo Senhor Juiz de Direito:

A, casado, residente ___________, (profissão), intenta procedimento cautelar comum, nos termos do artigo 393º CPC,

Contra

B, (estado civil), (morada), (profissão),

nos termos e com os seguintes fundamentos:

No documento Processo Civil Declarativo (páginas 101-109)