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Identidade, missão, objetivos e estratégias da RMAAD

CAPÍTULO 5. “VOZES” Red de mujeres afrolatinoamericanas, afrocaribeñas y de la diaspora:

5.1. O nascimento da RMAAD: Quem são essas mulheres?

5.1.1. Identidade, missão, objetivos e estratégias da RMAAD

pela RMAAD em nível nacional, regional e internacional, melhorar o aproveitamento de talentos humanos e propiciar o intercâmbio de experiências, assim como a democratização das decisões.

Para a coleta dos dados foram organizados dois questionários (ver: anexos 1 e 2), um para as organizações, e outro para as mulheres que atuam de maneira individual130. Essas informações serão de uso exclusivo da RMAAD.

5.1.1. Identidade, missão, objetivos e estratégias da RMAAD

De acordo com a coordenadora geral da Rede, Dorotea Wilson, a RMAAD se apresenta como um espaço de articulação e empoderamento das mulheres afrolatinoamericanas, afrocaribenhas e da diáspora para a construção e reconhecimento de sociedades democráticas, equitativas, justas, multiculturais, livres de racismo, discriminação racial, sexismo, exclusão e promoção da interculturalidade.

Para o cumprimento dessa missão, a RMAAD apresentou em 2007 seu Plano Estratégico, pontuando como objetivo principal, fortalecer a Rede como espaço de desenvolvimento para a articulação, participação e incidência política e social das mulheres da região na luta contra o racismo, a discriminação racial, o sexismo e a pobreza131.

Entre os objetivos da rede estão:

 Impulsionar a construção e a consolidação de um movimento amplo de mulheres afrocaribenhas, afrolatinoamericanas e da diáspora que incorpore as perspectivas étnicas, raciais e de gênero do continente;

 dar visibilidade a realidade de discriminação e violação dos direitos humanos que vivem as mulheres afrodescendentes nos âmbitos socioeconômico, político e culturais;

 incidir nas instâncias governamentais e intergovernamentais para a formulação e implementação de políticas públicas que afirmem modelos de desenvolvimento

130 Mais informações sobre o projeto estão disponíveis na página eletrônica da RMAAD.

131 Na sua declaração à XI Conferência de Brasília, a RMAAD chama a atenção que para o alcance da eficiência de planos para o desenvolvimento, deve-se levar em conta também a Declaração de Paris (2005) e o Programa de Ação de Accra (2008). A partir delas, seria possível atingir a canalização de recursos de cooperação internacional dando ênfase e atenção especial às mulheres, às meninas, adolescentes e às jovens afrodescendentes.

139 sustentado no recomnhecimento e respeito das identificações enticas, raciais e de gênero, assim como nas problemáticas comuns a toda a região, entre as quais se destacam a pobreza, a migração, a violência e AIDS;

 lutar em favor do cumprimento de convênios e acordos internacionais que afirmem os direitos das mulheres afrocaribenhas, afrolatinoamericanas e da diáspora;

 gerar um processo de mobilização em nível local, nacional e internacional para lutar pela erradicação do racismo, do sexismo, da xenofobia e formas conexas de intolerância, aprofundando a relação existente entre racismo e sexismo construído sobre os corpos das mulheres;

 consolidar um espaço de articulação de mulheres jovens afrocaribenhas, afrolatinoamericanas e da diáspora integrantes da Rede, para o fortalecimento de suas potencialidades, promovendo formação, reflexão e debates. Um espaço que transversalize a tematica das juventudes nas políticas e estratégias garantindo a representação das jovens nas diferentes instâncias da Rede;

 construir e fortalecer alianças com diversos movimentos sociais para potencializar esforços;

 dar seguimento e fazer pressão nos Estados Nacionais por meio de redes regionais e mundiais para a realização de avaliações consistentes, assim como para a adoção imediata dos compromissos assumidos pela Conferência Mundial de 2009;

 criar as bases materiais necessárias para que a população afrodescendente seja reconhecida como parte da diversidade de nossas sociedades, assim como em seu direito a igualdade, equidade e uma vida sem violência, a justiça social, racial e de gênero, a igualdade de oportunidades e participação (enfatiza-se aqui o direito a educação e a saúde, incluindo o reconhecimento dos direitos sexuais e reprodutivos);

 demarcar e regularizar todas as terras dos povos indígenas, acompanhadas de políticas de sustentabilidade, por meio da proteção de sua integridade física, cultural e da biodiversidade; assim como políticas de saúde e educação de qualidade, específicas e diferenciadas, para os povos indígenas;

 promover abordagens multidiciplinares da orientação sexual com base nos princípios estabelecidos por uma comissão de especialistas convocados pelo Comitê de Direitos Humanos da ONU em 2006, que reconheceu a necessidade

140 de proteção específica aos direitos humanos de homossexuais, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais.

Com relação ao desenvolvimento organizacional da Rede é dado foco para a construção de um sistema de planificação, monitoramento e avaliação; para a formação e fortalecimento de lideranças; para a gestão de recursos financeiros; para a incidência e alianças estratégicas; para a comunicação horizontal, ou seja, para um tipo de comunicação que construa uma visão multi e intercultural, assim com enfoque na visibilidade à população afrodescendente e, em particular, para as mulheres, em sua história e situação atual; para a valorização, recuperação e fortalecimento do patrimônio e herança cultural, materiais e imateriais, que expressam a afrodescendência, incluindo o respeito às identidades que se baseiam na espiritualidade de origem africana, concebida como parte da diversidade cultural do continente.

Além disso, são bastante reforçadas pela RMAAD as ações que as membras da rede devem desenvolver em cada um de seus países, a saber: capacitar mulheres afrodescendentes para promover sua participação em postos de eleição popular em seus respectivos países; criar emissoras e programas de rádio para divulgar e promover os direitos das mulheres afrodescendentes; promover ações de educação étnica para afirmar o conhecimento da cultura ancestral africana, além de realizar ações de recuperação da história não contada dirigida a jovens, meninos e meninas com vistas a preservação da memória histórica; criar o centro de fomento humanístico para intercâmbio da diversidade da cultura afrodescendente (Colômbia); desenvolver ações de sensibilização entre os homens afrodescendentes em torno dos direitos das mulheres; e incluir como atividade a incidência na próxima rodada de censos da população132.

Essas estratégias e objetivos estabelecidos pela RMAAD evidenciaram a busca pela articulação entre as reinvidicações políticas construídas nas redes transnacionais de movimentos sociais e sua legitimação nas esferas públicas nacionais, levando em

132 Sobre o Censo é interessante destacar a importância da inclusão de variáveis referentes aos afrodescendentes como uma demanda fundamental da Rede. Vejam uma das declarações sobre essa questão na primeira assembléia geral da RMAAD: “Algunas preocupaciones expresadas por las participantes giraron en torno a los censos poblacionales que no incluyen variables que permitan conocer la situación real de la población afrodescendiente en cada uno de nuestros países em términos cuantitativos y cualitativos, la participación de las mujeres jóvenes afrodescendientes en la toma de decisiones, la generación de empleo para jóvenes afrodescendientes, y la necesidad de profundizar los esfuerzos que realización las Agencias del Sistema de Naciones Unidas, para avanzar en el efectivo reconocimiento de los derechos de la población afrodescendientes por parte de los Estados de la región” . (Declaración de la red de mujeres afrolatinoamericanas, afrocaribeñas y de la diáspora, 2010, p. 15). Este tema será apresentado no capítulo 6.

141 consideração as especificidades das ações coletivas dos movimentos políticos negros numa dinâmica global e local.

É na definição dos objetivos e estratégias da Rede que vimos se disseminar, por meio dos ativistas, das organizações locais e dos meios de comunicação, as reinvidicações por justiça social, as negociações e as rearticulações das diferenças, desenraizadas dos contextos culturais concretos que emergem e, ao mesmo tempo, estão “ancoradas junto às formas de vida específicas das regiões” (COSTA, 2006, p. 129-30). Essas demandas e princípios estão dando um sentido movimentalista de diáspora às ações dessa rede.

Isso de certo modo explica porque as reinvidicações por políticas de combate ao racismo estejam se capilarizado sobremaneira na América Latina e Caribe, não como um movimento de cópia de uma realidade exterior, mas sim como resultado de uma pressão para que tais experiências regionais bem sucedidas “sejam reproduzidas nas demais regiões, sobretudo quando essas experiências foram vividas naquelas regiões mais ricas e de maior influência dentro dos contextos transnacionais de ação” (Ibid., p. 130).