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Identificação de contributos teóricos no âmbito da intervenção

No documento Energia sénior : um projeto de animação (páginas 56-60)

3. Enquadramento Teórico da Problemática do Estágio

3.3. Identificação de contributos teóricos no âmbito da intervenção

Num projeto de intervenção a teoria e a prática não devem ser desligadas uma da outra, ambas são indispensáveis para o sucesso do mesmo. O objetivo é sempre enriquecer e fundamentar uma intervenção ou investigação que se quer colocar em prática.

Todo o trabalho de intervenção foi fundamentado e enquadrado tendo em conta os referentes teóricos que permitiram alargar o conhecimento acerca do envelhecimento, permitindo fazer uma reflexão e olhar de uma maneira diferente para este fenómeno. As próprias

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investigações e intervenções, apresentadas na secção 3.1., permitiram sustentar as atividades criadas para o projeto.

A revisão da literatura consubstanciada nas investigações e nos referentes teóricos apontaram para a necessidade de se trabalhar com os idosos o conceito de envelhecimento ativo, utilizando como metodologia de intervenção a ASC. É necessário trabalhar com os idosos no sentido de os fazer ver que esta nova fase em que se encontram não precisa de ser vivida negativamente. Os projetos devem potenciar a valorização da pessoa idosa e ter como princípios o respeito e a autonomia dos idosos.

O envelhecimento é um processo pelo qual todos vão passar um dia. Apesar das limitações, das perdas e das fragilidades que fazem parte deste processo, há sempre ganhos como é a sabedoria e a maturidade (Oliveira, 2008). Encarar o envelhecimento significa ter em conta a parte biológica, mas também é necessário ter em conta variáveis psicológicas, e sociais (Paúl, 2005b). Por isso é que Fonseca (2006) fala num sistema biopsicológico relativo ao indivíduo, e num outro sócio-económico-político relativo o ambiente em que o indivíduo se insere. Estes mesmos sistemas influenciam de uma forma positiva ou negativa o modo como cada indivíduo envelhece (Paúl, 2005b).

A velhice é encarada por alguns de uma forma negativa, em que a esta se associa a inutilidade e a inatividade, porém outras a encaram como uma oportunidade para realizarem aquilo que não puderam fazer em idade ativa (Rosa, 2012).

O momento que os idosos encaram como o marco da velhice é o da entrada na reforma. A entrada na reforma é encarada de formas diferentes pelas pessoas, muitos pensam que o seu estatuto na sociedade mudou, uma vez que deixaram de ser trabalhadores e de contribuírem para a sociedade (Cabrillo & Cachafeiro, 1990). Os idosos sentem-se inúteis e frustrados, consideram esta etapa como um período de estagnação (Simões, 2006). Estes sentem que foram descartados da sociedade para a qual sempre trabalharam (Zimerman, 2000).

A perceção que os idosos têm sobre si e sobre a velhice vem dos valores culturais que cada sociedade tem, estes vão “absorvendo” os ideais e os preconceitos que cada cultura tem (Marques, 2011). Estes preconceitos e ideias discriminatórias levam ao fenómeno designado de idadismo ou etarismo. Torna-se urgente desmitificar os mitos e preconceitos existentes acerca dos idosos e da velhice para se construir uma sociedade mais inclusiva, em que todas as idades tenham o seu lugar (Cabral, et. al., 2013; Pereira, 2012).

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Porém, existem idosos que encaram a entrada na reforma como um processo inerente ao ciclo de vida, e consideram-na como uma possibilidade para realizar outras atividades que sejam do seu agrado, libertando-se das obrigações profissionais (Fonseca, 2005). Os idosos sentem que têm autonomia para decidirem e controlarem a sua vida, bem como muitos apontam que as relações familiares ficam favorecidas neste período (Fonseca, 2005).

O excesso de tempo livre provocado pela entrada na reforma ainda não é encarado de uma maneira satisfatória, uma vez que durante muito tempo o trabalho é que organizava a vida das pessoas (Simões, 2006). O trabalho era um fator que estruturava, norteava a rotina e o quotidiano das pessoas (Neto, 2010). E entrando na reforma as pessoas veem-se sem objetivos de vida, perdem o sentido da vida, deixam de ter uma rede social (Fonseca, 2005). Assim, surge a ASC como meio privilegiado para converter o tempo livre num tempo de aprendizagem, levando a um melhor aproveitamento deste tempo (Cunha, 2009; Barbosa, 2006).

A ASC surge, ainda, para potenciar a visão positiva que se deve ter da velhice, bem como para potenciar o conceito do envelhecimento ativo. Através dela é possível tornar o idoso agente ativo do seu processo de envelhecimento, por forma a que ele perceba o seu potencial, melhorando, assim, o seu bem-estar físico, social e mental (Jacob, 2013).

O envelhecimento ativo é encarado como uma experiência positiva, em que devem ser asseguradas oportunidades de saúde, envolvimento social e segurança aos indivíduos (Ribeiro, 2012). Contudo, atualmente os propósitos seguidos não têm sido estes, o conceito tem sido reduzido apenas a uma dimensão económica (Ribeiro, 2012). Esta redução a este tipo de questão leva mais uma vez a atitudes idadistas, discriminatórias, no sentido, em que penaliza aqueles que já não são produtivos economicamente.

O objetivo do envelhecimento ativo passa por contribuir para o aumento da qualidade de vida e da esperança de uma vida saudável dos idosos (Jacob, 2013). Jacob (2013, p.17) afirma, que este conceito “(…) significa ter ainda objetivos de vida e permanecer interessado na vida, nas questões sociais, no estreitar de relações e em cuidar da saúde física e mental”.

O conceito de empowerment surge associado ao conceito de envelhecimento ativo, uma vez que se pretende que o indivíduo perceba o “poder” que tem e faça uso dele para traçar o seu destino (Pinto, 2013). Este implica um trabalho tanto da parte do indivíduo, como da sociedade, no sentido em que é necessário desmitificar mitos e preconceitos enraizados na sociedade (Pinto, 2013).

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Tal como Elizasu (2001, p.13), refere no campo da terceira idade e da velhice a ASC “(…) surge em resposta a uma ausência ou diminuição da sua actividade e das suas relações sociais”. Esta baseia-se numa pedagogia participativa em que é necessário a participação e o envolvimento efetivo dos participantes, estes são os protagonistas do seu processo de desenvolvimento (Ander-Egg, 2011; Gillet, 2006; Barbosa, 2006). Pretende-se promover o desenvolvimento pessoal e social do indivíduo, novos interesses e novas atividades (Barbosa, 2006; Lopes, 2006). Com as atividades que a animação providencia pretende-se a manutenção das capacidades físicas e mentais, bem como proporcionar momentos de bem-estar (Lopes, 2006; Cunha, 2009).

A ocupação do tempo livre não deve ser feita de uma maneira descomprometida, ou seja, apenas para passar o tempo, deve sim estimular o idoso cognitivamente e fisicamente, e deve ir de encontro às necessidades de cada um, contribuindo para o seu desenvolvimento (Rocha, 2009; Fonseca, 2005).

É importante que o idoso aprenda a utilizar em seu benefício o seu tempo livre, uma vez que se o viver de uma forma satisfatória, provavelmente vai viver melhor a nova fase em que se encontra – a reforma (Neto, 2010). Como afirma Jacob (2013, p.18), “(…) se a pessoa foi ativa e otimista em jovem vai ser ativo e otimista em velho”. Cabeza (1999) acrescenta que os idosos que participam em atividades ligadas ao lazer e ao ócio têm menos riscos de contrair doenças e de travar conflitos.

Tornarem-se ativos faz com que os idosos aumentem os seus níveis de satisfação, dando ânimo à sua vida, melhorem a sua saúde e, consequentemente, as suas expectativas em relação à vida aumentam também (Sousa, 2010). Paúl (1996) afirma, que para se envelhecer de uma forma positiva e ótima é essencial que o idoso se encontre e permaneça ativo, só assim, vai voltar a ganhar um sentido para a sua vida.

Sendo que o propósito deste projeto passou por contribuir para o envelhecimento ativo, a ASC surgiu como estratégia para operacionalizar este conceito junto dos idosos. A revisão da literatura tornou-se fulcral para perceber as vantagens da ASC na vida dos idosos. É importante que existam projetos de intervenção que passem pela utilização desta metodologia, encarando o idoso como agente ativo e protagonista dos mesmos. Porém, é necessário ter-se em conta que a nova geração de idosos, vai ter novos interesses e necessidades diferentes da atual geração (Simões, 2006).

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4 - Enquadramento metodológico do estágio

A secção 4 diz respeito à parte metodológica do projeto, esta inicia-se com a apresentação dos objetivos de investigação/intervenção delineados para o mesmo. Posteriormente, passa-se para a apresentação e fundamentação metodológica em que se expõem os paradigmas de investigação/intervenção, os métodos e as técnicas de investigação/intervenção. Por fim, são apresentados os recursos mobilizados e as limitações encontradas ao longo do processo.

No documento Energia sénior : um projeto de animação (páginas 56-60)