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Energia sénior : um projeto de animação

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Academic year: 2020

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outubro de 2014

Sofia Silva Azeredo

UMinho|20 14 Sof ia Silva Azer edo

Universidade do Minho

Instituto de Educação

Energia Sénior: um projeto de animação

Energia Sénior

: um proje

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Relatório de Estágio

Mestrado em Educação

Área de Especialização em Educação de

Adultos e Intervenção Comunitária

Trabalho realizado sob a orientação do

Doutor Manuel Gonçalves Barbosa

Universidade do Minho

Instituto de Educação

outubro de 2014

Sofia Silva Azeredo

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Agradecimentos

Finalizada esta etapa tão importante no meu percurso académico, importa agradecer e referir todos aqueles que estiveram presentes e que de alguma maneira contribuíram para o presente relatório:

Ao Prof. Doutor Manuel Barbosa pela disponibilidade e orientação prestada, pelo apoio, pelos ensinamentos dados, e por fazer ver que as adversidades podem ser sempre ultrapassadas.

À Dr.ª Catarina Oliveira (acompanhante de estágio), à Dr.ª Sónia Diz (acompanhante de estágio substituta) e às colaboradoras do SAD, o meu agradecimento profundo, pela simpatia, carinho e oportunidade de aprendizagem pessoal e profissional que me proporcionaram.

Aos verdadeiros protagonistas do projeto, os idosos, que me possibilitaram crescer e desenvolver as atividades propostas para o projeto. Levo as histórias de cada um e os ensinamentos que me deram. Fica aqui o meu reconhecimento e saudade.

À minha família que sempre me incentivou e ajudou desde o início do mestrado.

À Sandra Vaz e ao Ruben Amorim pela ajuda que me deram na construção e no enriquecimento do presente relatório.

E por fim, mas não menos importante, a todos os meus amigos que nunca deixaram de acreditar que iria finalizar esta etapa, e que sempre me incentivaram e estimularam a continuar.

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Energia Sénior: um projeto de animação

Sofia Silva Azeredo

Relatório de Estágio

Mestrado em Educação -Área de Especialização em Educação de Adultos e Intervenção Comunitária

Universidade do Minho 2014

Resumo

O presente relatório apresenta um projeto de estágio no âmbito do Mestrado em Educação, área de especialização Educação de Adultos e Intervenção Comunitária. O projeto foi desenvolvido na valência do Serviço de Apoio Domiciliário da Cruz Vermelha Portuguesa da delegação de Braga, tendo como destinatários alguns dos seus utentes, as pessoas idosas.

A sua finalidade passou pela promoção do envelhecimento ativo dos participantes, colocando ao dispor atividades que os tornassem mais dinâmicos e ativos.

A escolha do nome do projeto recaiu no facto de se pretender conferir mais vitalidade, dinamismo e sentido à vida desta população. Como tal, utilizou-se como metodologias a Investigação-Ação Participativa e a Animação Sociocultural. A primeira, permite conhecer, estudar e investigar o contexto, por forma a delinear uma intervenção mais adequada ao público-alvo. A segunda, pressupõe a implicação e o envolvimento do público-alvo em todas as fases do processo de intervenção, sendo o seu foco as pessoas, pois são elas as protagonistas dos projetos. Foram delineadas, planeadas e implementadas atividades que fossem de encontro aos interesses, motivações e expectativas dos idosos. As atividades passaram pela animação cognitiva/mental, pela animação através de expressão plástica, pela animação promotora do desenvolvimento pessoal e social, pela animação lúdica e por atividades de formação.

No presente relatório concluiu-se que os participantes se sentiram satisfeitos com a participação no projeto. Partindo dos depoimentos dos próprios, constatou-se que, através das atividades, descobriram capacidades e habilidades que desconheciam ter, tiveram acesso a novas experiências que, inclusivamente, contribuíram para o seu bem-estar. Os resultados foram obtidos através da análise do inquérito por questionário passado aos idosos no final do projeto.

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Senior Energy: an animation project

Sofia Silva Azeredo

Professional Practice Report

Master in Education – Adult Education and Community Intervention University of Minho

2014

Abstract

The present report is a presentation of the internship project referent to a Master's degree in Education, with a specialization in Education of Adults and Communitarian Intervention. The project was developed at the Home Support Service of the Portuguese Red Cross, Braga delegation, having as a target group some of its users, the senior citizens.

The objective was the promotion of an active ageing process in the participants, by making available activities that help them become more dynamic and active.

The choice of the project title has to do with the intention of giving this population a life with more vitality, dynamism and purpose. Therefore, the methodologies used were Participative Investigation-Action and Sociocultural Animation. The first allows to know, to study and to research the context which permits to design an intervention more suitable to the population. The second entails the implication and involvement of the target population in every stage of the intervention process, being that the people are its focus because they are the project protagonists. The activities were design, planned and implemented to meet the interests, motivation and expectations of the elderly. The activities implemented were based on cognitive/mental animation, animation through art, animation which promoted social and personal development, playful animation and educational activities.

In the present report it was concluded that the participants were satisfied with their participation in the project. Taking in account the participants own report, through the activities they realized abilities and skills unknown to them, they had new experiences that contributed to their wellbeing. The results were obtained by analyzing the questionnaire filled by the participants at the end of the project.

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ix Índice

1.Introdução ... 1

2.Enquadramento Contextual do Estágio ... 3

2.1 Descrição do contexto de estágio ... 3

2.1.1 Breve história da CVP – Delegação de Braga ... 3

2.1.2. Serviço de Apoio Domiciliário da Delegação de Braga da Cruz Vermelha ... 5

2.2. Integração na instituição ... 6

2.3. Caracterização do público-alvo ... 8

2.3.1 Diagnóstico de necessidades, motivações e expectativas ... 9

2.4. Área de intervenção e problemática ... 12

3. Enquadramento Teórico da Problemática do Estágio ... 15

3.1. Investigações e Intervenções na área e na problemática do estágio ... 15

3.2. Referentes teóricos ... 20

3.3.Identificação de contributos teóricos no âmbito da intervenção ... 41

4 - Enquadramento metodológico do estágio ... 45

4.1. Objetivos de investigação / intervenção ... 45

4.2. Apresentação e fundamentação metodológica ... 46

4.2.1. Paradigmas de investigação/intervenção ... 46

4.2.2. Seleção dos métodos de investigação/ intervenção ... 48

4.2.3. Seleção de técnicas de investigação/intervenção ... 51

4.3. Recursos mobilizados e limitações do processo ... 59

5. Descrição, Discussão e Avaliação das Atividades de estágio ... 61

5.1. Descrição das atividades de estágio ... 61

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6. Considerações Finais ... 89

6.1. Os resultados numa perspetiva crítica ... 89

6.2. Implicações do estágio a nível pessoal, institucional e a nível de conhecimentos para a área de educação de adultos e intervenção comunitária ... 92

7.Bibliografia ... 95

7.1.Bibliografia e Webgrafia citadas ... 95

7.2.Bibliografia e Webgrafia consultadas ... 102

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Índice de gráficos

Gráfico 1 – Atividades que os utentes gostariam de realizar ... 11 Gráfico 2 – Atividades de expressão plástica que os idosos mais gostaram de fazer (selecionar máximo 3) ... 81 Gráfico 3 - Atividades físicas/motoras que os idosos mais gostaram de fazer (selecionar máximo 3 ... 82 Gráfico 4 - Atividades cognitivas/ mentais que os idosos mais gostaram de fazer (selecionar máximo 3) ... 83

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Índice de tabelas

Tabela 1 – Objetivos gerais e específicos do projeto “Energia Sénior: um projeto de animação”. ... 46

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Índice de Anexos

Anexo I – Declaração de Autorização ... 103

Anexo II – Prospeto da Cruz Vermelha Portuguesa – delegação de Braga ... 104

Anexo III – Prospeto Serviço de Apoio Domiciliário – delegação de Braga... 105

Anexo IV – Inquérito por questionário inicial ... 106

Anexo V – Grelha de registo/ observação/ avaliação das atividades ... 108

Anexo VI – Grelha de autoavaliação das atividades ... 109

Anexo VII – Inquérito por questionário final passado aos idosos ... 110

Anexo VIII – Inquérito por questionário final passado às colaboradoras ... 119

Anexo IX – Transcrição da entrevista semiestruturada à acompanhante de estágio ... 122

Anexo X – Trabalhos finais das atividades desenvolvidas ao longo do projeto ... 127

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xiv Siglas SAD – Serviço de Apoio Domiciliário

CVP – Cruz Vermelha Portuguesa IAP – Investigação Ação- Participativa ASC – Animação Sociocultural EA – Educação de Adultos

INE – Instituto Nacional de Estatística ONU – Organização das Nações Unidas OMS – Organização Mundial de Saúde CE – Comissão Europeia

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1 1.Introdução

O presente relatório de estágio profissionalizante enquadra-se no âmbito do segundo ciclo de estudos (mestrado) em Educação, sendo a área de especialização a Educação de Adultos e Intervenção Comunitária. O estágio profissionalizante decorreu na valência do Serviço de Apoio Domiciliário (SAD) da Cruz Vermelha Portuguesa (CVP) da delegação de Braga1 e teve

como destinatários alguns dos utentes do mesmo, beneficiando da orientação do Prof. Doutor Manuel Barbosa.

A escolha desta instituição deveu-se à curiosidade da estagiária em relação ao trabalho de um serviço desta natureza. A esta razão acresce o facto de este serviço ser dos raros que funciona autonomamente, ou seja, a grande maioria encontra-se agregado a um centro paroquial ou a uma dada instituição, o que não se constata neste caso. O facto do mesmo proporcionar atividades para pessoas idosas foi outro ponto a favor, uma vez que o serviço não abarca, apenas, a satisfação das necessidades básicas (alimentação e higiene), mas sim todas as esferas que compõem um indivíduo no que à sua intervenção diz respeito.

O envelhecimento da população é um fenómeno que se tem generalizado em muitos países e Portugal não é exceção. A baixa taxa de natalidade a par com o aumento da esperança média de vida contribuem para o aumento do número de idosos no nosso país. Atualmente, assiste-se a um duplo envelhecimento, quer do topo, quer da base da pirâmide (Rosa, 2012).

O conceito de envelhecimento ativo surgiu, assim, para conferir mais qualidade de vida às pessoas idosas. Porém, este discurso tem sido utilizado, indevidamente. pelos agentes políticos e pelas organizações, no sentido de valorizarem cada vez mais a vertente económica. Não obstante, neste projeto, o conceito pretende tornar as pessoas idosas em agentes mais ativos na sociedade em que se inserem. É importante que os idosos percebam as suas potencialidades e capacidades e que, por sua vez, as mantenham ativas. Através de atividades significativas e com interesse para os idosos é possível promover o envelhecimento ativo. Estas atividades acabam por se assumir como um modo de ocupar o tempo livre que as pessoas idosas têm disponível de uma forma útil, prazerosa e com sentido. É importante que os mais velhos saibam aproveitar o tempo livre que dispõe. Caso contrário, o período da aposentação pode ser visto e vivenciado como um período de estagnação, de tristeza, de perda de sentido da

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vida, levando, por vezes, a estados de depressão. A promoção do envelhecimento ativo é também uma forma de combater a discriminação de que, frequentemente, são alvos os idosos – etarismo ou idadismo.

A principal finalidade deste projeto passou, então, por contribuir para o envelhecimento ativo das pessoas idosas participantes, dando acesso a atividades que os tornassem mais ativos e mais dinâmicos. Por meio da animação foi possível estimular os participantes a nível cognitivo, físico, pessoal e valorizar a educação/formação ao longo da vida. O presente relatório intitula-se de “Energia Sénior: um projeto de animação”, tendo em conta esta finalidade e a própria opinião dos participantes relativamente ao nome do projeto. O termo energia surgiu no sentido de o projeto conferir vitalidade, vida e dinamismo a esta etapa que, muitas vezes, fica desprovida de sentido.

Em termos metodológicos recorreu-se à Investigação-Ação Participativa (IAP) e a Animação Sociocultural (ASC) surgiu como metodologia de intervenção neste processo contínuo de investigação. Com efeito, recorreu-se a várias técnicas de investigação e de intervenção.

De maneira a compreender todo o trabalho desenvolvido ao longo dos 9 meses, este relatório encontra-se organizado em secções. A secção do enquadramento contextual do estágio diz respeito à descrição do contexto de estágio, à forma como decorreu a integração da estagiária, à caracterização do público-alvo (necessidades, motivações e expectativas) e à apresentação da área de intervenção e problemática. Na secção do enquadramento teórico da problemática do estágio são apresentadas investigações/intervenções na área e na problemática de estágio, mas também são apresentados os referentes teóricos que serviram de base ao mesmo, sendo feita uma identificação dos contributos teóricos no âmbito da intervenção. No que diz respeito à secção do enquadramento metodológico do estágio, apresenta os objetivos de investigação/intervenção, os paradigmas de investigação/intervenção, os métodos e as técnicas de investigação/intervenção, bem como são apresentados os recursos mobilizados e as limitações do processo. A secção da descrição, discussão e avaliação das atividades de estágio descreve as atividades de estágio e é feita a discussão e avaliação dos resultados obtidos. Posteriormente, na secção das considerações finais são analisados os resultados numa perspetiva crítica a par da análise do impacto do estágio a nível pessoal, institucional e a nível de conhecimentos para a área de especialização de educação de adultos e intervenção comunitária. As secções finais dizem respeito à bibliografia, à webgrafia e aos anexos.

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2.Enquadramento Contextual do Estágio

Na presente secção é apresentado o contexto onde decorreu o projeto “Energia Sénior: um projeto de animação”, bem como a integração da estagiária na instituição. Esta secção contempla ainda a caracterização do público-alvo, o diagnóstico de necessidades, motivações e expectativas que levaram à delineação do projeto. Por último, é apresentada a área de intervenção e problemática.

2.1 Descrição do contexto de estágio

O presente estágio decorreu na valência do SAD da CVP da delegação de Braga. Porém, antes de iniciar a descrição do contexto de estágio, será apresentada uma breve contextualização histórica sobre a CVP e, consequentemente, sobre a sua delegação em Braga.

2.1.1 Breve história da CVP – Delegação de Braga

A CVP foi fundada por José António Marques a 11 de fevereiro de 1865, com a denominação de “Comissão provisória para socorros e feridos e doentes em Tempo de Guerra”. É uma instituição humanitária, não governamental e de utilidade pública. Atua a nível nacional e internacional, em cenários emergentes de conflitos armados, desastres ou catástrofes naturais.

A CVP presta apoio a grupos mais vulneráveis como idosos, dependentes, crianças, vítimas de violência doméstica, pobres, imigrantes, sem abrigo, toxicodependentes, reclusos, pessoas portadoras de deficiência, entre outros públicos, prestando, assim, uma assistência humanitária e social.

Atualmente, existem 175 Estruturas Locais, abrangendo as Delegações Locais e os Centros Humanitários. A sede nacional localiza-se em Lisboa, no Palácio do Conde d’Óbidos.

As suas atividades incidem na prestação de serviços e desenvolvimento de áreas como a saúde, a prevenção e a preparação para a emergência. Concomitantemente a CVP atua nas áreas da formação e empreendedorismo, ensino profissional, ensino superior da saúde, ensino de socorrismo, educação para a saúde, cooperação internacional e difusão do direito internacional humanitário.

Os objetivos da CVP passam por proteger a vida das pessoas, a sua saúde e dignidade, bem como preparar a comunidade, em geral, para responder a situações de origem natural ou humana.

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A delegação de Braga foi fundada a 30 de outubro de 1870 pelo Conde de Bertiandos. Rege-se pelos estatutos da CVP e age de acordo com as normas do Direito Internacional Humanitário, respeitando, impreterivelmente, a dignidade das pessoas, favorecendo a paz, minimizando os conflitos e os seus efeitos nefastos e protegendo a vida e a saúde das comunidades.

A delegação de Braga da CVP tem como visão ampliar a intervenção por forma a otimizar e responder às necessidades da comunidade, tendo a perspetiva do cliente, da sociedade, da inovação e da aprendizagem contínua.

Já a sua missão está focada em “prestar a assistência humanitária e social em especial aos mais vulneráveis, prevenindo e reparando o sofrimento, e contribuindo para a defesa da vida, da saúde e da dignidade humana”.2

Tal como todas as outras delegações, a de Braga, age em conformidade com os princípios fundamentais da CVP em prol da proteção humanitária, proclamados em Viena, no ano de 1965, unindo os órgãos do movimento internacional. Os princípios são os seguintes: humanidade, neutralidade, independência, voluntariado, unidade, universalidade e imparcialidade. Os valores por que se rege são as pessoas, a integridade, a diversidade, a liderança e a inovação.

A delegação de Braga da CVP orienta-se por auxiliar as pessoas respeitando os seus valores, em conformidade com a sua visão e missão. Esta assegura e mobiliza uma intervenção congruente entre os colaboradores e a comunidade.

Pretende – se que todos os colaboradores e os próprios voluntários se envolvam e se comprometam com a instituição e com as suas ações, sendo deveras importante estimular o trabalho em equipa. A própria delegação procura promover a articulação da sua intervenção com as comunidades, favorecendo sempre o trabalho em parceria.

A Delegação de Braga da CVP intervém em cinco áreas: I – área social; II – área de emergência; III – área de transporte de refeições; IV – área da formação; e V – área da saúde.

A área social contempla o Apoio aos Sem-Abrigo e Toxicodependentes (Equipa de Rua; Equipa de Intervenção Social Direta; Centro de Alojamento Temporário); Centro Local de Apoio à Integração de Imigrantes; Lar de Idosos; Serviço de Apoio Domiciliário; Creche; Centro Comunitário; Atendimento e Acompanhamento Social; Projetos Escolhas; Projeto + Atitude;

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Projeto Anti-Corpos; Projeto Gotas (Hortas Solidárias); Voluntariado; Juventude CVP; Loja Social Ponto Vermelho; Cantina Social; Centro de Lavagem automóvel.

A área de emergência está ligada à estrutura operacional de emergência (Equipa de Socorro e Transportes).

No que respeita à área de transporte de refeições, a mesma, encontra-se ligada à empresa de inserção “Sabores do Cávado”.

No caso da área de formação esta associa-se à escola de socorrismo e, por fim, a área da saúde liga-se ao posto de enfermagem e ao posto de ginástica respiratória.

2.1.2. Serviço de Apoio Domiciliário da Delegação de Braga da Cruz Vermelha

O SAD é uma das valências da Delegação de Braga da CVP e faz parte da área social. Esta valência surgiu em 1988 e inicialmente o único meio de transporte que tinha era uma “4L”. Contava com 3 colaboradoras e prestava apoio nos serviços de alimentação e higiene pessoal, contudo como a área de abrangência era enorme, poucas eram as pessoas que tinham apoio ao nível da higiene.

A sua missão define-se por “proporcionar aos idosos e a pessoas em perda de autonomia, a prestação de cuidados que assegurem temporária ou permanentemente a satisfação das suas necessidades básicas e atividades da vida diária, evitando ou retardando a sua institucionalização”. 3

Os seus objetivos primam-se por contribuir para a melhoria da qualidade de vida dos indivíduos e suas famílias; assegurar especificamente aos indivíduos e suas famílias a satisfação das suas necessidades básicas e atividades da vida diária; combater situações de isolamento e falta de apoio (social e familiar) em que muitas pessoas vivem, e promover a manutenção do idoso no seu ambiente familiar retardando a sua institucionalização.

O SAD disponibiliza aos seus utentes a confeção/transporte/distribuição de refeições; confeção de pequenas refeições no domicílio; apoio durante as refeições; cuidados de higiene pessoal; cuidados de higiene habitacional; tratamento de roupas; acompanhamento ao exterior; realização de atividades de animação; teleassistência; apoio psicossocial e apoio de voluntários do SAD.

3 Informação retirada do prospeto do SAD da Delegação de Braga da CVP, é de salientar que este se encontra em

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Este serviço é orientado pela direção da CVP – Delegação de Braga e o seu funcionamento é assegurado por uma equipa constituída por um(a) diretor(a) técnico (a) e por auxiliares de ação direta. As auxiliares de ação direta têm formação na área do apoio domiciliário, no apoio à família e comunidade e na geriatria. Atualmente, a equipa é constituída por uma diretora técnica, oito auxiliares de ação direta, uma auxiliar de serviços gerais, uma cozinheira, uma ajudante de cozinha, um motorista e pelos voluntários do SAD. O SAD dá assistência a 47 utentes. A nível de recursos materiais o serviço possui duas viaturas, 94 cestas/sacos e 94 marmitas.

O serviço encontra-se em funcionamento de Segunda a Domingo, das 08:45h às 12:30h e das 14:00h às 17:30h. O serviço de refeições é feito das 11:00h às13:00h.4

A partir de janeiro de 2013 o SAD apostou no desenvolvimento semanal de atividades ocupacionais para os seniores. Para esse efeito, em maio do mesmo ano, foi solicitada e cedida uma sala nas instalações da sede da Delegação de Braga da CVP para a dinamização das atividades ocupacionais. A particularidade deste serviço é, precisamente, permitir aos seniores que se possam ausentar das suas casas, promovendo o convívio e a ocupação dos seus tempos livres.

2.2. Integração na instituição

O primeiro contacto com o contexto de estágio aconteceu no momento do pedido para a sua realização.

Nas primeiras reuniões foi explicado à estagiária em que consistia o serviço e como é que o estágio poderia contribuir e assumir-se como uma mais-valia para o mesmo. Desde o início, a estagiária foi bem recebida pela equipa técnica do serviço, sendo a primeira impressão extremamente favorável, prevendo-se que a sua integração na instituição iria decorrer de modo bastante positivo.

A primeira fase do projeto “Energia Sénior: um projeto de animação” designada de Sensibilização contemplou a integração no contexto de estágio. Esta integração teve como objetivo geral conhecer a instituição, bem como criar empatia e laços com os utentes e equipa técnica. Para alcançar esse objetivo foram utilizadas diferentes técnicas para a recolha de informações sobre o contexto de estágio com o propósito de compreender a organização, o

4 De acordo com o Artigo 9.º – Funcionamento; do Regulamento Interno do SAD. Este regulamente encontra-se em

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funcionamento, a dinâmica, os objetivos e os recursos que possuía. Com efeito, esta recolha começou pela consulta e análise de documentos – análise documental - entre os quais o organograma da instituição, o do serviço, o regulamento interno e outros documentos pertinentes.

De modo a complementar a informação recolhida, por meio da técnica anteriormente referida, foram aplicadas conversas informais, permitindo melhorar, significativamente, a perceção inerente ao funcionamento, rotinas e dinâmicas do serviço e, ainda, aprofundar o conhecimento dos utentes, colaboradoras e diretora técnica. Outras técnicas surgiram como complemento: a observação não participante, a observação participante e o diário de bordo. A observação não participante permitiu observar as atividades desenvolvidas e os comportamentos dos utentes e das próprias colaboradoras. Em contrapartida, com a observação participante foi possível interagir nas atividades desenvolvidas e, inicialmente, a estagiária integrou o polo correspondente à entrega das refeições aos utentes. O diário de bordo serviu como auxiliar às várias técnicas, uma vez que este foi utilizado para sinalizar e anotar situações, comportamentos ou informações relevantes para o projeto.

Paralelamente à excelente receção por parte da equipa do serviço, a estagiária também procurou fazer o seu trabalho com o máximo de empenho e dedicação. Sempre que foi solicitado a mesma colaborou nas iniciativas e nas atividades desenvolvidas pelo serviço, mostrando-se disponível e proativa.

Ao longo do estágio o apoio, a ajuda e a cooperação foram recíprocos tanto do lado da estagiária como do lado da instituição. No serviço, neste caso, a diretora técnica (acompanhante de estágio) sempre se mostrou disponível para esclarecer dúvidas, fornecer documentos pertinentes para o estágio, dar sugestões para o desenvolvimento do projeto, supervisionar e dar apoio ao longo do estágio. Mesmo tendo de alterar de acompanhante a meio do estágio, é de valorizar e realçar a continuidade que a acompanhante substituta teve no supervisionamento e no apoio à estagiária ao longo do percurso. De realçar, igualmente, o apoio que as colaboradoras deram durante as atividades, bem como algumas sugestões, ideias e abordagens para interagir com alguns utentes.

De modo geral, o estágio proporciona a integração no mercado de trabalho e permite perceber o funcionamento de uma determinada instituição. Este permite perceber o que cada profissional, na sua respetiva área de formação, pode fazer e que cargos e tarefas podem

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exercer. Porém, este momento de aprendizagem só é possível quando as instituições “abrem” as suas portas aos estagiários, como aconteceu com a instituição que acolheu o presente estágio.

2.3. Caracterização do público-alvo

O projeto “Energia Sénior: um projeto de animação” teve como público-alvo 14 utentes5

do SAD da CVP da Delegação de Braga. Os utentes e o seu número a participar no projeto foram selecionados após reuniões entre a acompanhante de estágio e a estagiária.

Para fazer a caraterização dos utentes foi construído pela estagiária um inquérito por questionário semiestruturado constituído por perguntas fechadas relativas a dados biográficos dos utentes e ainda por algumas questões abertas que visavam obter o conhecimento sobre as suas motivações e interesses (ver anexo IV, p.106). Foi passado, individualmente, por forma a aprofundar o conhecimento dos utentes. A participação nas atividades e consequente contacto direto com utentes permitiu que estes respondessem abertamente ao questionário, percebendo inequivocamente, que as suas respostas eram importantes para a delineação do projeto.

Dos 14 utentes, 11 eram do sexo feminino e 3 do sexo masculino, com idades compreendidas entre os 53 e os 90 anos, centrando-se a média das idades nos 80 anos.

A viuvez era a situação que mais abrangia os/as utentes e a habilitação literária predominante era a 4.ªclasse. Contudo, é de ressalvar o caso de dois utentes: um possui uma licenciatura em educação física e outra possui um curso na escola do magistério primário. As profissões destes utentes passaram pela indústria têxtil (costura, tricot), pelo ensino, pela agricultura, padaria, distribuição do jornal, restauração, lides domésticas e pelo trabalho como eletricista. Uma das utentes referiu que ao longo da sua vida trabalhou em tudo o que havia para fazer, desde agricultura, ser feirante, ser chapeira entre outros trabalhos que teve.

Relativamente à situação familiar, dos 14 utentes, 9 viviam sós, 11 tinham filhos, 10 tinham netos e 5 já tinham bisnetos.

No que toca à autonomia dos utentes para as atividades da vida diária a maioria ainda conseguia tomar banho, controlar os esfíncteres, vestir-se e alimentar-se. A nível da alimentação estes utentes recebiam do SAD a refeição do almoço. Não obstante, se fosse preciso ainda conseguiam preparar algumas refeições. A nível da mobilidade a maioria já necessitava de

5 Este número sofreu alterações ao longo da intervenção devido ao falecimento de uma utente e ao agravamento do

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ajudas técnicas (bengalas, muletas, cadeira de rodas) para se movimentar. No que respeita à visão os utentes já sentiam algumas dificuldades, sendo que alguns já utilizavam óculos e já tinham sido submetidos a intervenções cirúrgicas. Relativamente à audição a maioria afirmou que ainda ouvia bem. Porém, uma das utentes só conseguia ouvir com o aparelho auditivo, e mesmo assim, tinha dificuldades em ouvir.

2.3.1 Diagnóstico de necessidades, motivações e expectativas

Quando se pensa num projeto de intervenção, pensa-se numa motivação, num desejo de querer mudar alguma situação, respondendo às necessidades que se constatarem no contexto. O pressuposto é sempre garantir “(...) o máximo de bem-estar para o máximo de pessoas” (Guerra, 2002, p.129).

Numa primeira fase do projeto afigura-se necessário proceder a um levantamento das necessidades, interesses e expectativas procedendo-se, assim, ao respetivo diagnóstico.

Segundo Guerra (2002, p.132) o diagnóstico “(…) é sempre definido como a identificação dos níveis de não correspondência entre o que está (a situação presente) e o que “deveria estar” (a situação desejada)”. Essa identificação só pode ser feita junto do público-alvo, perceber junto dele quais são as suas necessidades, quais são os seus interesses e as suas expectativas. É necessário enveredar por uma escuta ativa, sabendo escutar e ouvir, verdadeiramente, o que as pessoas pensam e querem para se delinear e implementar um projeto. A tendência é de se pensar que se sabe o que é melhor para aquela pessoa sem a ouvir primeiro.

O conhecimento sobre a realidade é fulcral para o posterior desenvolvimento das fases de programação da intervenção (Capdevila, 2011). Só assim, é possível construir um diagnóstico eficiente e eficaz.

Um diagnóstico completo é aquele que ajusta as respostas criadas às necessidades encontradas, garantindo, assim, a eficácia de qualquer projeto de intervenção.

É importante não esquecer que o diagnóstico, para além de se focar nas vulnerabilidades de um determinado contexto e realidade, foca-se, também nas potencialidades que este tem, como por exemplo os seus recursos.

O diagnóstico é considerado como “(…) um instrumento de pesquisa e um instrumento de participação de todos os que detêm elementos de conhecimento sobre a realidade.” (Guerra,

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2002, p.132). Desde o início que se “(…) pretende uma activa participação dos actores” (Guerra, 2002, p.145), por forma a estes contribuírem para o desenvolvimento do projeto. O diagnóstico torna-se, assim, num instrumento prévio a qualquer tipo de projeto.

O diagnóstico de necessidades permitiu perceber quais os problemas, interesses, motivações e expectativas dos utentes. Com efeito, foram utilizadas algumas técnicas de investigação, que serão apresentadas de seguida.

A observação não participante foi uma técnica privilegiada na fase de diagnóstico, mas também foi utilizada ao longo de todo o estágio. Esta técnica permitiu observar o convívio entre os utentes, entre os utentes e as colaboradoras e entre os utentes e a diretora técnica nas atividades desenvolvidas pelo serviço. Foi possível observar, de igual modo, os comportamentos e as atitudes que os utentes manifestavam. O diário de bordo tornou-se importante nesta fase e nas posteriores para registar comportamentos, situações, observações e comentários pertinentes para o projeto.

A observação participante permitiu uma maior aproximação da estagiária aos utentes e às próprias colaboradoras. Esta participação foi uma vantagem pois os utentes começaram a sentir-se mais “à vontade” com a estagiária, permitindo assim perceber quais eram os seus gostos e os seus interesses.

A observação (participante e não participante) foi fulcral para perceber o que os utentes gostavam de fazer nas atividades. Estes manifestaram interesse na realização de atividades ao ar livre, em conhecer novos locais ou visitar espaços que já não frequentavam há muito tempo, em conviver com outras pessoas, em jogar às cartas e ao dominó, em contar adivinhas e anedotas, e alguns gostavam de cantar as músicas das suas juventudes.

As conversas informais foram desenvolvidas com os utentes, tal como a observação, foram importantes ao longo de todo o estágio. Uma vez mais, estas contribuíram para perceber os gostos dos utentes. As conversas desenvolvidas com as colaboradoras e com a diretora técnica também ajudaram a perceber quais as atividades favoritas e que poderiam ir ao encontro dos gostos, interesses e expetativas dos utentes e que, consequentemente, contribuíssem para a sua satisfação. O contacto direto foi essencial para ouvir, organizar as ideias e, por fim, delinear o projeto.

O inquérito por questionário (ver anexo IV, p.106) utilizado para fazer a caracterização do público-alvo (ponto 2.3.), foi utilizado para perceber quais as atividades que os utentes gostariam

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de realizar e que não realizavam, bem como as suas expectativas em relação ao projeto. No questionário, também lhes foi perguntado se gostariam de aprender ou saber algo mais.

Gráfico 1 – Atividades que os utentes gostariam de realizar

Partindo do gráfico 1, constata-se que as atividades que os utentes mais gostariam de realizar eram: passear, realizar visitas culturais, participar em tertúlias, visualizar filmes antigos portugueses, fazer jardinagem, participar em sessões de esclarecimento/informação e realizar jogos de mesa. Não menos interessantes segundo eles, mas com um número inferior de respostas, surgiram os trabalhos manuais, as atividades físicas, o teatro, a dança, a leitura e a comemoração de dias festivos.

Os utentes não assinalaram nada quando questionados acerca de quererem aprender ou saber mais sobre algum tema ou assunto.

Relativamente às expectativas em relação ao trabalho da estagiária e do projeto as respostas foram unânimes, todos os utentes esperavam que fosse um bom trabalho e que corresse pelo melhor. De seguida são apresentadas algumas respostas dadas pelos utentes “que traga alegria e boa disposição” (U5), “que traga coisas para nos avivar, para nos ajudar a

Teatro;

7 Dança; 8 Ler (Leitura); 3

Visitas Culturais; 13 Ouvir música; 11 Tertúlia; 13 Participar em sessões de esclarecimento/inform ação; 11 Jogos de mesa; 10 Atividades físicas; 9 Trabalhos manuais; 7 Jardinagem; 11 Passear; 14 Comemorar dias festivos; 4 Visualização de filmes antigos portugueses; 12

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viver melhor” (U4), “que seja realizado conforme quer e que seja do nosso agrado” (U12), “ que faça coisas boas para nós” (U8), “Que traga coisas boas para nós, principalmente para a minha cabeça. Que sejam coisas bem dispostas.” (U10). 6

Tendo em conta as necessidades, os interesses, as motivações e as expectativas dos utentes, definiram-se os objetivos para o presente projeto.

2.4. Área de intervenção e problemática

Atualmente, o aumento exponencial do número de pessoas mais velhas tem vindo a caraterizar o nosso país, mas não só, tornando-se, assim, num fenómeno universal. Todavia, este fenómeno “(…) tende a ser encarado muito mais como uma ameaça do que, propriamente, como um desafio” (Simões, 2006, p.11). Por tudo isso é necessário começar a “partir pedra” no sentido em que os mais velhos devem ser encarados como pessoas com potencial para o desenvolvimento da sociedade, bem como devem ter oportunidades para continuarem a aprender e a formarem-se.

A educação deve ser encarada como um processo permanente, ocorrendo ao longo da vida e que diz respeito a todos os cidadãos, sem exceção. Esta acontece em diferentes contextos que podem não ser escolares, por isso Rocha (2009, p.49) afirma que a sabedoria dos idosos foi “(…) conquistada por meio dos tempos e que não se limita, simplesmente, ao desenvolvimento de tarefas de trabalho”. Segundo Silvestre (2011, p.96) é necessário“(…) assegurar o direito de toda a população, incluindo a adulta e a idosa, à educação/formação”. Simões (2006, p.155) defende que a educação é “(…) necessária e útil, em todos os períodos da vida, mas não menos importante nesta fase terminal da existência”.

A educação de adultos (EA) destina-se às pessoas mais velhas (Unesco, 1976). Falar em intervenção com idosos sob o ponto de vista da EA, relaciona-se com a possibilidade de “ajudar estas pessoas a encontrar ocupações adaptadas aos tempos livres, a melhorar a saúde, e a dar um maior sentido à vida” (Unesco, 1976, p.20). Mas também possibilitar a preservação das faculdades físicas e mentais, bem como a sua participação ativa na sociedade. A estas atividades ainda se acrescenta “(…) o acesso a campos de conhecimento ou a tipos de actividades que não estavam ao seu alcance durante a sua vida de trabalho” (Unesco, 1976,

6Respostas dadas pelos utentes, no inquérito por questionário, que foram classificadas com a letra U e o respetivo

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p.20). O pressuposto central é sempre o desenvolvimento integral do indivíduo numa perspetiva de autonomização (Unesco, 1976).

A interação sujeito-ambiente encontra-se por detrás do âmbito da educação de adultos e intervenção comunitária, sendo que todo o processo de aprendizagem deve ser contextualizado. Este projeto segue o mesmo intuito do que a intervenção comunitária, pois todas as situações podem ser melhoradas bem como os seus objetivos: alcançar o bem-estar e o desenvolvimento dos indivíduos (Marchioni, 2001).

Trabalhar numa perspetiva comunitária pressupõe que se siga uma metodologia própria, também utilizada neste projeto. Sustenta-se numa intervenção sistematizada e planificada que prevê um conhecimento da realidade e dos problemas existentes na comunidade. É necessário elaborar um diagnóstico, devendo ser feito em parceria com a população e numa intervenção baseada na participação da comunidade, sendo fulcral para que a intervenção produza resultados. Sem participação não há projetos com sucesso. Para que os agentes sociais participem eles devem ser informados sobre o que vão fazer no projeto. A comunidade é o sujeito e o objeto do desenvolvimento. Trabalha-se com e para as pessoas e não por elas, assim sendo, devem-se valorizar os saberes da comunidade, utilizando os mesmos para potenciar mais saber (Garcia & Sánchez, 1997).

O trabalho com idosos deve ter como pressuposto que estes “(…) têm direito ao desenvolvimento das suas aptidões, capacidades e competências por meio da educação” por forma a “(…) alargar o seu potencial humano” (Rocha, 2009, p.49). Porém, nunca deve ser esquecido que um idoso tal como outra pessoa é “(…) um ser que faz a história e, por isso, um ser que pensa, reflecte, critica, participa, (trans)forma, (re)cria e (re)inventa de forma consciente e livre” (Antunes, 2008, p.76). Ou seja, toda a história de vida, os conhecimentos e saberes que os mais velhos possuem devem ser tidos em conta na hora da intervenção, mas também as suas necessidade, interesses e características. A bagagem que cada idoso traz consigo faz dele um educando mas também um educador.

Por tudo o que foi acima referido, a área de intervenção do projeto focou-se no desenvolvimento de atividades de animação com o intuito de promover o envelhecimento ativo dos utentes do serviço. As atividades criadas foram uma forma de ocupar da melhor maneira o tempo livre dos utentes, indo ao encontro dos seus interesses e motivações. Tentou-se passar a ideia de que devem continuar ativos realizando atividades que lhes deem prazer e satisfação

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pois, só assim, se vão sentir úteis e ativos. Deve ser dada a oportunidade aos idosos de se sentirem úteis e de encontrarem um sentido para a sua vida. O projeto teve em conta que os mais velhos são “(…) cidadãos de pleno direito ao descanso, à educação lúdica e artística, à sua manutenção física e psicológica, às suas formas de lazer” (Rocha, 2009, p.50). As atividades criadas tentaram sempre promover o crescimento e desenvolvimento pessoal, mas também social dos idosos. A animação permitiu, assim, criar atividades que estimulassem o desenvolvimento físico, intelectual e social dos idosos bem como o convívio e a criação de relações. Durante o planeamento das atividades, teve-se sempre em consideração os saberes e os conhecimentos que os idosos detinham. Este tipo de intervenção é importante, uma vez que, como afirma Simões (2006, p.156), “(…) o mundo de hoje já não é dos jovens, mas dos adultos, e cada vez mais dos adultos mais velhos – dos idosos”.

Esta intervenção tornou-se pertinente no âmbito da área de especialização da Educação de Adultos e Intervenção Comunitária, isto porque, com base nos ensinamentos adquiridos academicamente foi possível traçar uma intervenção capaz de ter sucesso. Por outras palavras, pretende-se afirmar que com um bom quadro teórico-conceptual e metodológico é possível levar a “bom porto” uma intervenção, neste caso, um projeto. E mesmo que algumas adversidades possam surgir pelo caminho é sempre possível encontrar outras soluções. O que foi aprendido durante o primeiro ano de mestrado revelou-se agora importante para o estágio e, consequentemente, para o projeto.

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3. Enquadramento Teórico da Problemática do Estágio

Esta secção apresenta o enquadramento teórico da problemática referente ao estágio, nela são apresentadas algumas investigações e intervenções na área e na problemática do mesmo. Contempla, ainda, os referentes teóricos que estiveram na base do projeto bem como são apresentados os contributos teóricos no âmbito da investigação/intervenção.

3.1. Investigações e Intervenções na área e na problemática do estágio

Ao longo dos tempos tem-se vindo a assistir a uma alteração demográfica a nível mundial e Portugal não escapa a essa mudança. Esta alteração deve-se, fundamentalmente, ao aumento da esperança média de vida, ao número de nascimentos ser inferior ao número de óbitos e às diversas oscilações no saldo migratório, o que se repercute no aumento do número das pessoas idosas, e atualmente das pessoas muito idosas (Rosa & Chitas, 2010).

O envelhecimento é um processo inerente ao ciclo de vida e ao qual a entrada na reforma se associa. Esta entrada na reforma leva a que as pessoas fiquem com mais tempo livre. Nesta fase é, então, importante prevenir e retardar o mais possível as consequências do envelhecimento, aproveitando da melhor maneira o tempo livre disponível. É necessário promover a qualidade de vida e promover um envelhecimento mais saudável e ativo. Assim, nesta linha de pensamento muitos são os trabalhos, quer a nível de investigação, quer de intervenção, que surgem com o pressuposto de promover o envelhecimento ativo, alertando para a sua importância na vida dos mais velhos.

Ao nível de investigações destacam-se os trabalhos de Silva (2009)7, Ferreira (2012)8,

Barros (2013)9, Fonseca (2005)10, um estudo levado a cabo por Cabral, Ferreira, Silva, Jerónimo

e Marques (2013)11 e um estudo de Cabral e Ferreira (2014)12.

7 SILVA, Patrícia (2009).Adaptação à Reforma e Satisfação com a vida: a importância da actividade e dos papéis

sociais na realidade europeia. Trabalho de projeto de mestrado em Psicologia Social e das Organizações. Lisboa: ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa, Departamento de Psicologia Social e das Organizações.

8 FERREIRA, Maria (2012). Perceções do envelhecimento e bem-estar psicológico na população idosa. Dissertação

de Mestrado integrado em Psicologia (área de especialização Psicologia Clínica). Braga: Universidade do Minho, Escola de Psicologia

9 BARROS, Daniela (2013). Promoção do Envelhecimento Ativo: Contributo das práticas educativas de uma

Universidade da Terceira Idade. Dissertação de Mestrado em Ciências da Educação (área de especialização Educação de Adultos). Braga: Universidade do Minho, Instituto de Educação.

10 FONSECA, António. (2005). Aspectos psicológicos da «Passagem à reforma». In C. Paúl & A. Fonseca(Coord.),

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Silva (2009, p.9), levou a cabo uma investigação para perceber a “(…) relação existente entre o ajustamento à reforma e a satisfação com a vida”. Das conclusões a que chegou a autora salienta-se a de que “(…) os indivíduos, que na reforma se envolvem com actividades que preconizam envolvimento e responsabilidade, encontram-se mais satisfeitos com a sua vida, quando comparados com sujeitos envolvidos em menos actividades” (Silva, 2009, p.61). Esta investigação veio reforçar, uma vez mais, a ideia de que se devem criar “(…) programas sociais destinados ao desenvolvimento de competências sociais em adultos idosos” (Silva, 2009, p.64). A autora afirma que se deve “(…) apostar na promoção de condições que promovam a satisfação com a vida “ (Silva, 2009, p.65). Reforça, ainda, que as atividades devem produzir no sujeito sentimentos de autovalorização e realização pessoal, por forma a aumentar a satisfação com a vida (Silva, 2009). Pretende-se que o idoso tenha um “(…) papel activo na construção das suas próprias vidas” (Silva, 2009, p.67). A autora afirma que são os interesses e os gostos dos idosos que influenciam a forma como estes ocupam o seu tempo livre.

Ferreira (2012, p.IV), na sua investigação, concluiu que os idosos “(…) que avaliam positivamente o seu envelhecimento e a sua saúde, conseguem criar níveis satisfatórios de bem-estar”. Para que se alcance um envelhecimento saudável e um bem-estar psicológico “(…) é necessário que haja o envolvimento do próprio indivíduo” (Ferreira, 2012, p.3). Concluiu, também, que a prática de exercício físico interfere no bem-estar psicológico dos idosos e que aqueles que têm perceções positivas sobre o envelhecimento têm uma maior autoestima e bem-estar psicológico (Ferreira, 2012). Uma ideia importante a reter desta investigação é que “(…) cada adulto idoso vivencia esta fase da vida de uma forma particular , atendendo a todo um conjunto de fatores cada vez mais idiossincráticos: podemos encontrar, assim, diferentes formas de envelhecer ou de percecionar o envelhecimento” (Ferreira, 2012, p.35).

Na sua investigação Barros (2013) procurou perceber quais os benefícios que uma universidade para a terceira idade trazia para os frequentadores da mesma. Os participantes afirmaram que obtiveram melhorias ao nível social (na interação com outras pessoas), físico, cognitivo, emocional e ao nível das relações, neste caso, as familiares (Barros, 2013). Com a

11CABRAL, Manuel, FERREIRA, Pedro, SILVA, Pedro, JERÓNIMO, Paula, MARQUES, Tatiana (2013). Processos de

envelhecimento em Portugal – Uso do tempo, redes sociais e condições de vida. Lisboa: FFMS.

12 CABRAL, Manuel, FERREIRA, Pedro (2014). Envelhecimento Activo em Portugal – Trabalho, reforma, lazer e redes

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frequência na universidade sénior alcançaram um “(…) maior bem-estar físico, social e psicológico” (Barros, 2013, p.V). A autora concluiu que “(…) para atingir a qualidade de vida é importante que os adultos consigam manter os seus projetos, as suas atividades de vida diária e, ainda, desenvolver atividades cognitivas, culturais, sociais e físicas” (Barros, 2013, p.134). Salienta que existem três aspetos que devem ser tidos em conta para se atingir um envelhecimento com qualidade, sendo eles: a saúde, a autonomia e a educação ao longo da vida (Barros, 2013). É possível, assim, ocupar o tempo livre de uma “(…) forma educativa, lúdica, ativa e saudável” (Barros, 2013, p.135), contribuindo para o envelhecimento ativo.

No ano passado, 2013, Cabral, juntamente com Ferreira, Silva, Jerónimo e Marques desenvolveram um estudo acerca do uso do tempo e das redes sociais pela população sénior na perspetiva do envelhecimento ativo. Os autores constataram que os seniores são marcados pela sua história de vida e pela própria condição social. Uma das conclusões mais interessantes a que chegaram é que as pessoas entre os 50-64 anos de idade apresentavam taxas mais elevadas de adesão às práticas de envelhecimento ativo do que as pessoas com 75 anos ou mais. Esta conclusão serve para pensar nos futuros idosos e para a forma como o envelhecimento vai ser encarado.

O estudo levado a cabo por Cabral e Ferreira (2014) vem reforçar a ideia de que é importante a manutenção da atividade motora e cognitiva, principalmente na fase da reforma. Estes autores afirmam que os bons hábitos de saúde, aliados aos estilos de vida saudáveis, são fulcrais para se enveredar num envelhecimento ativo (Cabral & Ferreira, 2014). Tal como no estudo anterior, estes autores afirmam que existe gradualmente uma maior adesão às práticas do envelhecimento ativo, muito embora exista ainda uma falta de motivação e envolvimento das pessoas mais velhas (Cabral & Ferreira, 2014).

Fonseca (2005) levou a cabo um estudo com reformados que permitiu perceber que os idosos só se envolvem em atividades que lhes permitam estar ocupados e sentirem-se úteis. É extremamente importante continuar a manter os contactos sociais ou então criar novos contactos, estabelecendo assim relações próximas com os outros. As atividades que os idosos mais gostam são as que lhes dão “(…) satisfação, prazer, sentido de utilidade” (Fonseca, 2005, p.66), e que contribuem para uma maior autoestima e bem-estar a nível social e pessoal. É importante que os idosos continuem envolvidos na sua vida, ocupando de forma útil o seu tempo livre e apostando em atividades gratificantes.

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As intervenções apresentadas seguem a mesma linha das investigações, a destacar: Sequeira (2013)13, Valente (2010)14, Rodrigo (2013) e Ribeiro (2013)15.

Sequeira (2013) levou a cabo uma intervenção em que aplicou um programa de intervenção em animação sociocultural (PIAS) em 5 centros de dia de Castelo Branco. Este programa adaptava-se sempre às características de cada grupo de idosos. Passou por atividades de animação físico-motora e sensorial, animação artística, animação cognitiva, animação desenvolvimento pessoal e social, animação cultural e social. A autora concluiu que “(…) a qualidade de vida dos idosos daqueles centros de dia aumentou à medida que realizaram com prazer e satisfação, as tarefas e atividades socioculturais estabelecidas” (Sequeira, 2013, p.5). É importante que as atividades “(…) não só constituam uma ocupação útil, como também estimulem todas as capacidades inerentes aos idosos utentes” (Sequeira, 2013, p.87). O envolvimento dos utentes nas atividades é essencial, pois promove “(…) uma maior autonomia pessoal, participação ativa, retardando o processo de dependência” (Sequeira, 2013, p.87). Neste projeto a autora defende que a animação “(…) promove momentos de satisfação, participação e contribui para a sua qualidade de vida no processo de envelhecimento” (Sequeira, 2013, p.134). Os participantes neste projeto afirmaram que gostaram muito das atividades, que aprenderam em grupo, conviveram e que fizeram bem à sua saúde (Sequeira, 2013). Ainda acrescentaram que “(…) passaram bons momentos de diversão e felicidade” (Sequeira, 2013, p.132). Como concluiu a autora “(…) a qualidade de vida nos idosos está relacionada (…) com a participação em tarefas/atividades que ocupem o seu quotidiano e que gostam de fazer, com autonomia de fazerem, por si mesmo” (Sequeira, 2013, p.7). Concomitantemente é importante respeitar as capacidades e as limitações de cada idoso e, mais uma vez, Sequeira (2013) reforça a ideia de que se deve dar aos idosos o poder de escolherem o que querem fazer e de que se devem dar incentivos, pois deste modo, eles sentem-se mais confiantes. Assim, o projeto

13 SEQUEIRA, Sofia (2013). ‘Animar para melhor envelhecer com satisfação’ (Animação Sociocultural em idosos de

centros de dia do concelho de Castelo Branco. Dissertação de Mestrado em Gerontologia Social. Castelo Branco:

Instituto Politécnico de Castelo Branco-Escola Superior de Educação.

14 VALENTE, Cláudia (2010). Participação através da animação sociocultural: intervenção com idosos. Projeto de

intervenção comunitária apresentado no âmbito do mestrado em Ciências de Educação. Aveiro: Universidade de Aveiro-Departamento de Ciências da Educação.

15 RIBEIRO, Susana (2013). Regenerando Vidas: um projeto de promoção do envelhecimento ativo. Relatório de

estágio de mestrado em Educação (área de especialização Educação de Adultos e Intervenção Comunitária). Braga:

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“(…) fê-los sentir-se úteis e felizes. O projeto influenciou-os positivamente ao nível do bem-estar físico, psíquico e, consecutivamente, o aumento do sentido de confiança, empatia e de felicidade” (Sequeira, 2013, p.132).

Valente (2010, p.2) desenvolveu um projeto de intervenção comunitária com 8 idosos tendo como objetivo “(…) promover a participação activa do idoso institucionalizado, tendo em vista o seu desenvolvimento pessoal e social”, através da animação sociocultural. As atividades consistiram na criação de uma oficina de pintura e na dramatização de três histórias para serem apresentadas às gerações mais novas e aos idosos da instituição. A animação é, assim, vista por Valente (2010, p.52) “(…) de uma forma abrangente, não tendo como função somente ocupar o tempo livre de forma aleatória. Ela assume propósitos mais profundos e importantes como a integração e a inclusão social”. Com as atividades desenvolvidas, os idosos sentiram-se valorizados, contribuindo, assim, para o aumento da sua autoestima e da sua valorização pessoal. Os participantes consideraram o projeto útil e interessante, “(…) contrariando os sentimentos de inutilidade que na primeira abordagem ao projeto manifestavam” (Valente, 2010, p.66). O projeto foi importante para “(…) promover o convívio social e a interação entre diferentes gerações, promovendo as relações inter-geracionais” (Valente, 2010, p.66) e, igualmente, para promover momentos de lazer “(…) favorecendo a comunicação e a expressão durante os momentos de convívio” (Valente, 2010, p.66). Valente (2010, p.72) reforça, uma vez mais, que se devem ter em conta as capacidades dos idosos e são necessárias atividades que “(…) estimulem os idosos à participação e que os façam acreditar que ainda são capazes de defender os seus interesses”.

Rodrigo (2013) levou a cabo um projeto com 23 idosos que abrangeu 5 áreas/dimensões socioculturais: + Memória, +Lazer, Mexer+, Histórias cheias de vida e Receitas d’Avó. Construiu, ainda, um jornal intitulado de Jornal Viver+. Todas as atividades foram pensadas com o intuito de promover o bem-estar e a felicidade dos idosos, mas sempre “(…) maximizando as suas competências e aumentando capacidades” (Rodrigo, 2013, p.54). O que a autora concluiu foi que, com as atividades os idosos tornaram-se “(…) mais enérgicos e mais assumidos como parte integrante de uma instituição” (Rodrigo, 2013, p.58). Não obstante, contribuíram para melhorar o bem-estar e a autoestima dos idosos. Segundo a autora, a animação passa por um “(…) conjunto de passos que procura facilitar a vida do idoso, tornando-o mais ativtornando-o” (Rtornando-odrigtornando-o, 2013, p.75).

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Ribeiro (2013, p.15) desenvolveu um projeto com a finalidade da “(…) promoção do bem-estar global do idoso, proporcionando-lhes momentos de lazer, de ludicidade e de desenvolvimento pessoal e social”. Como meios indispensáveis para alcançar esta finalidade utilizou a educação ao longo da vida e a animação (Ribeiro, 2013). As 5 grandes categorias privilegiadas no projeto foram a formação, difusão, artística, lúdica e social (Ribeiro, 2013). No final, os participantes afirmaram que “As atividades desenvolvidas foram importantes para o enriquecimento do seu quotidiano e preenchimento do seu tempo livre” (Ribeiro, 2013, p.89). Todos, sem exceção, reconheceram os benefícios das atividades, dizendo que lhes deu prazer, que foram importantes para aumentar o seu bem-estar e para ocuparem o tempo livre de forma proveitosa (Ribeiro, 2013). Todos se sentiram bem, motivados e integrados no grupo. A autora refere que “(…) conseguimos a árdua tarefa de fomentar um envelhecimento mais ativo” (Ribeiro, 2013 ,p.92) e, ainda, que “Através da animação, conseguimos estimula-los e favorecer o seu bem-estar e qualidade de vida” (Ribeiro, 2013, p.92).

As investigações e as intervenções apresentadas, tal como o presente projeto, refletem a necessidade de se promover o envelhecimento ativo junto dos idosos. É necessário retardar os efeitos inerentes ao processo de envelhecimento e a ASC pode ser uma ferramenta importante para minimizar esses efeitos, através das atividades que esta pode proporcionar. É importante promover a qualidade e satisfação de vida bem como o bem-estar dos idosos.

3.2. Referentes teóricos

Como se sabe o processo de envelhecimento é inevitável, mais cedo ou mais tarde todos acabam por passar por esta fase do desenvolvimento. Porém, hoje assiste-se a um boom de pessoas idosas, estas aumentaram exponencialmente devido à baixa taxa de natalidade e ao aumento da esperança média de vida (Rosa, 2012; Rosa & Chitas, 2010). O aumento do número de pessoas idosas tem sido registado em vários países europeus e Portugal não escapa a esta tendência.

Com este aumento de pessoas idosas surge um novo paradigma - o envelhecimento ativo – que tem sido utilizado no sentido de dar mais qualidade de vida aos anos que vão passando. Todavia, este paradigma não tem sido potenciado pelos agentes políticos e pelas organizações conforme os propósitos com que, inicialmente, foi criado (Ribeiro, 2012). Hoje em dia o importante é que as pessoas continuem por mais tempo nas suas vidas profissionais, a

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visão economicista é a que se encontra em vigor (Ribeiro, 2012). Esta utilização indevida do paradigma levou à criação de um novo fenómeno, chamado de idadismo ou etarismo (Marques, 2011; Fonseca, 2006).

A entrada na reforma é um acontecimento que se encontra intimamente ligado ao processo de envelhecimento. Ao entrarem na reforma muitos veem o tempo livre como um aspeto negativo, uma vez que ficam sem objetivos de vida, não sabendo o que fazer para ocupá-lo da melhor maneira (Fonseca, 2005). Frequentemente, o sentimento de desânimo e de frustração apoderam-se dos indivíduos, o que leva, por vezes, a estados depressivos (Cunha, 2009; Zimerman, 2000). Em contrapartida outros aproveitam o tempo livre para fazer atividades que realmente lhes interessam e que vão de encontro aos seus objetivos (Fonseca, 2005). Estes aproveitam para reforçar as suas relações familiares, bem como sentem que têm autonomia para “comandar” e controlar a sua vida (Fonseca, 2005).

Para o bom aproveitamento do tempo livre a ASC surge como uma metodologia de intervenção, que visa proporcionar atividades que contribuam para o desenvolvimento dos idosos, bem como momentos de bem-estar (Barbosa, 2006; Cunha, 2009).

O presente texto pretende apresentar, brevemente, o enquadramento teórico e correspondentes referenciais teóricos que estiveram na base do estágio. Foi dada uma sequência lógica entre os vários referenciais, contribuindo para a coerência das ideias e do próprio texto. Os referenciais teóricos abordados passaram pelo envelhecimento, o envelhecimento em Portugal, o envelhecimento ativo na perspetiva da atualidade (empowerment, promoção para a autonomia), o idadismo e, por último, a ASC como forma de ocupação dos tempos livres.

O envelhecimento é um processo bastante complexo e dinâmico, este ocorre ao longo de toda a vida e de forma gradual, a partir do momento em que nascemos já estamos a envelhecer Zimerman (2000). Este “(…) faz parte do processo de desenvolvimento do ser humano” (Rosa, 2012, p.19). Falar em envelhecimento remete para dois conceitos ou duas perspetivas: o envelhecimento individual e o envelhecimento coletivo.

O envelhecimento individual pode ser distinguido no envelhecimento cronológico e no envelhecimento biopsicológico. O envelhecimento cronológico diz respeito à idade, sendo este “(…) um processo universal, progressivo, inevitável” (Rosa, 2012, p.19).

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Tal como Carvalho (2013) defende, “O envelhecimento não é um estado, mas um processo que integra uma série de fenómenos que se sucedem numa determinada ordem e durante um certo período de tempo – o ciclo de vida” (Carvalho, 2013, p.5). Isayama (2008, p.229) refere que “(…) o envelhecimento é um processo dinâmico que caracteriza toda a vida e envolve continuidade e mudança”.

Relativamente ao envelhecimento biopsicológico, este é considerado um “(…) reflexo do envelhecimento cronológico, é diferente deste, menos linear, não fixo em termos de idade, porque vivido por cada indivíduo de forma diferente” (Rosa, 2012, p.20).

Ao processo de envelhecimento encontra-se associada a velhice, período que ninguém sabe quando se inicia. A este propósito Rosa (2012) afirma que a velhice assume diferentes valores, tudo depende das pessoas e das próprias sociedades.

Antigamente, a velhice era bastante valorizada uma vez que eram escassas as pessoas que chegavam até idades avançadas. Esta era associada à experiência e à sabedoria dos mais velhos (Rosa, 2012). Porém, em alguns casos a velhice e os velhos eram considerados como fardos.

Atualmente a velhice ainda é perspetivada de duas maneiras, por um lado, esta é encarada e vista de uma forma negativa, em que se associa o fim da vida e a que estão associados sentimentos como o desalento, a frustração e a infelicidade (Rosa, 2012). Encara-se a velhice “(…) apenas como uma forma negativa de existir” (Faleiros, 2013, p.39). Esta é encarada como um período de perdas e inúmeros problemas de saúde (Isayama, 2008). A forma mais positiva de encarar a velhice tem a ver com o facto de ser associada ao privilégio de se poder viver durante mais anos e com mais qualidade de vida (Faleiros, 2013). Segundo Zimerman (2000, p.22) a velhice diz respeito a “(…) uma fase na qual o ser humano fica mais susceptível a doenças.”, mas “(…) não é doença” (Zimerman, 2000, p.32). Rosa (2012) afirma, que esta etapa pode ser a oportunidade para pôr em prática alguns sonhos que ficaram por fazer durante a atividade profissional. A velhice “(…) pode ser uma fase positiva e enriquecedora, constituída principalmente de ganhos – decorrentes da maturidade e do conhecimento adquiridos ao longo da vida” (Isayama, 2008, p.229).

Ressalta a ideia de que a idade é algo incontestável, que não se pode mudar, todavia a velhice já não partilha desta ideia. A velhice é, assim, encarada como “(…) um estado difuso,

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vivido, sentido e percepcionado de forma diversa, desde o seu enaltecimento até ao repúdio” (Rosa, 2012, p.22).

A psicóloga e gerontóloga Levet (1995, p.25) afirma que “(…) a velhice é um mundo em si, com os seus valores, as suas alegrias e os seus sofrimentos”, cabe a cada um vivê-la da melhor forma possível.

O conceito de envelhecimento individual encontra-se ligado à heterogeneidade do processo de envelhecimento. Cada pessoa envelhece de forma individual e singular, sendo influenciada por diversos fatores ou condicionantes, desde os genéticos passando, pelos ambientais. Esta diversidade entre os indivíduos mais velhos tende a aumentar com o passar dos anos (Moura, 2006). Como Pinto (2013, p.49) afirma embora estejam “(…) agregados em termos de idade cronológica, os idosos podem apresentar diferenças entre si muito grandes”. Nesta linha de pensamento Zimerman (2000, p.32) infere que “Cada pessoa é única e traz consigo sua herança genética, psicológica, social e existencial”. Dentro desta linha de pensamento Pinto (2013, p.49) afirma que “(…) o envelhecimento espelha os variadíssimos percursos de vida de cada idoso”. Os percursos de vida de cada idoso são influenciados pelos seus papéis ao longo da vida, pela sua experiência de vida, pelas suas expectativas, bem como pelos contextos social e cultural (Carvalho, 2013).

A questão da heterogeneidade encontra-se, também, ligada ao facto de o envelhecimento ser explicado, segundo Carvalho (2013), tendo em conta: a idade cronológica, a idade biológica ou fisiológica, a idade psicológica e a idade cultural e social. A idade cronológica resulta da organização dos acontecimentos de vida de cada pessoa em consonância com a idade (Carvalho, 2013). A idade biológica ou fisiológica está relacionada com a maturidade e com a morte dos organismos vivos existentes em cada pessoa. Esta idade está relacionada com a degradação da capacidade funcional com o passar dos anos (Carvalho, 2013). Relativamente à idade psicológica esta encontra-se associada às competências comportamentais que os indivíduos podem utilizar para fazer frente ao ambiente e ao contexto (Carvalho, 2013). Esta remete para os processos mentais, cognitivos e motivacionais (Carvalho, 2013). Finalmente, a idade cultural e social “(…) remete para os papéis que se espera que os sujeitos na velhice adotem e influenciam o autoconceito do que é ser velho” (Carvalho, 2013, p.4). A utilização desta conceção potencia a discriminação das pessoas mais velhas – idadismo.

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Gráfico 1 – Atividades que os utentes gostariam de realizar
Tabela 1 – Objetivos gerais e específicos do projeto “Energia Sénior: um projeto de animação”
Gráfico 2 – Atividades de expressão plástica que os idosos mais gostaram de fazer (selecionar  máximo 3)
Gráfico 3 - Atividades físicas/motoras que os idosos mais gostaram de fazer (selecionar máximo  3)
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Referências

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