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Referentes teóricos

No documento Energia sénior : um projeto de animação (páginas 35-56)

3. Enquadramento Teórico da Problemática do Estágio

3.2. Referentes teóricos

Como se sabe o processo de envelhecimento é inevitável, mais cedo ou mais tarde todos acabam por passar por esta fase do desenvolvimento. Porém, hoje assiste-se a um boom de pessoas idosas, estas aumentaram exponencialmente devido à baixa taxa de natalidade e ao aumento da esperança média de vida (Rosa, 2012; Rosa & Chitas, 2010). O aumento do número de pessoas idosas tem sido registado em vários países europeus e Portugal não escapa a esta tendência.

Com este aumento de pessoas idosas surge um novo paradigma - o envelhecimento ativo – que tem sido utilizado no sentido de dar mais qualidade de vida aos anos que vão passando. Todavia, este paradigma não tem sido potenciado pelos agentes políticos e pelas organizações conforme os propósitos com que, inicialmente, foi criado (Ribeiro, 2012). Hoje em dia o importante é que as pessoas continuem por mais tempo nas suas vidas profissionais, a

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visão economicista é a que se encontra em vigor (Ribeiro, 2012). Esta utilização indevida do paradigma levou à criação de um novo fenómeno, chamado de idadismo ou etarismo (Marques, 2011; Fonseca, 2006).

A entrada na reforma é um acontecimento que se encontra intimamente ligado ao processo de envelhecimento. Ao entrarem na reforma muitos veem o tempo livre como um aspeto negativo, uma vez que ficam sem objetivos de vida, não sabendo o que fazer para ocupá- lo da melhor maneira (Fonseca, 2005). Frequentemente, o sentimento de desânimo e de frustração apoderam-se dos indivíduos, o que leva, por vezes, a estados depressivos (Cunha, 2009; Zimerman, 2000). Em contrapartida outros aproveitam o tempo livre para fazer atividades que realmente lhes interessam e que vão de encontro aos seus objetivos (Fonseca, 2005). Estes aproveitam para reforçar as suas relações familiares, bem como sentem que têm autonomia para “comandar” e controlar a sua vida (Fonseca, 2005).

Para o bom aproveitamento do tempo livre a ASC surge como uma metodologia de intervenção, que visa proporcionar atividades que contribuam para o desenvolvimento dos idosos, bem como momentos de bem-estar (Barbosa, 2006; Cunha, 2009).

O presente texto pretende apresentar, brevemente, o enquadramento teórico e correspondentes referenciais teóricos que estiveram na base do estágio. Foi dada uma sequência lógica entre os vários referenciais, contribuindo para a coerência das ideias e do próprio texto. Os referenciais teóricos abordados passaram pelo envelhecimento, o envelhecimento em Portugal, o envelhecimento ativo na perspetiva da atualidade (empowerment, promoção para a autonomia), o idadismo e, por último, a ASC como forma de ocupação dos tempos livres.

O envelhecimento é um processo bastante complexo e dinâmico, este ocorre ao longo de toda a vida e de forma gradual, a partir do momento em que nascemos já estamos a envelhecer Zimerman (2000). Este “(…) faz parte do processo de desenvolvimento do ser humano” (Rosa, 2012, p.19). Falar em envelhecimento remete para dois conceitos ou duas perspetivas: o envelhecimento individual e o envelhecimento coletivo.

O envelhecimento individual pode ser distinguido no envelhecimento cronológico e no envelhecimento biopsicológico. O envelhecimento cronológico diz respeito à idade, sendo este “(…) um processo universal, progressivo, inevitável” (Rosa, 2012, p.19).

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Tal como Carvalho (2013) defende, “O envelhecimento não é um estado, mas um processo que integra uma série de fenómenos que se sucedem numa determinada ordem e durante um certo período de tempo – o ciclo de vida” (Carvalho, 2013, p.5). Isayama (2008, p.229) refere que “(…) o envelhecimento é um processo dinâmico que caracteriza toda a vida e envolve continuidade e mudança”.

Relativamente ao envelhecimento biopsicológico, este é considerado um “(…) reflexo do envelhecimento cronológico, é diferente deste, menos linear, não fixo em termos de idade, porque vivido por cada indivíduo de forma diferente” (Rosa, 2012, p.20).

Ao processo de envelhecimento encontra-se associada a velhice, período que ninguém sabe quando se inicia. A este propósito Rosa (2012) afirma que a velhice assume diferentes valores, tudo depende das pessoas e das próprias sociedades.

Antigamente, a velhice era bastante valorizada uma vez que eram escassas as pessoas que chegavam até idades avançadas. Esta era associada à experiência e à sabedoria dos mais velhos (Rosa, 2012). Porém, em alguns casos a velhice e os velhos eram considerados como fardos.

Atualmente a velhice ainda é perspetivada de duas maneiras, por um lado, esta é encarada e vista de uma forma negativa, em que se associa o fim da vida e a que estão associados sentimentos como o desalento, a frustração e a infelicidade (Rosa, 2012). Encara-se a velhice “(…) apenas como uma forma negativa de existir” (Faleiros, 2013, p.39). Esta é encarada como um período de perdas e inúmeros problemas de saúde (Isayama, 2008). A forma mais positiva de encarar a velhice tem a ver com o facto de ser associada ao privilégio de se poder viver durante mais anos e com mais qualidade de vida (Faleiros, 2013). Segundo Zimerman (2000, p.22) a velhice diz respeito a “(…) uma fase na qual o ser humano fica mais susceptível a doenças.”, mas “(…) não é doença” (Zimerman, 2000, p.32). Rosa (2012) afirma, que esta etapa pode ser a oportunidade para pôr em prática alguns sonhos que ficaram por fazer durante a atividade profissional. A velhice “(…) pode ser uma fase positiva e enriquecedora, constituída principalmente de ganhos – decorrentes da maturidade e do conhecimento adquiridos ao longo da vida” (Isayama, 2008, p.229).

Ressalta a ideia de que a idade é algo incontestável, que não se pode mudar, todavia a velhice já não partilha desta ideia. A velhice é, assim, encarada como “(…) um estado difuso,

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vivido, sentido e percepcionado de forma diversa, desde o seu enaltecimento até ao repúdio” (Rosa, 2012, p.22).

A psicóloga e gerontóloga Levet (1995, p.25) afirma que “(…) a velhice é um mundo em si, com os seus valores, as suas alegrias e os seus sofrimentos”, cabe a cada um vivê-la da melhor forma possível.

O conceito de envelhecimento individual encontra-se ligado à heterogeneidade do processo de envelhecimento. Cada pessoa envelhece de forma individual e singular, sendo influenciada por diversos fatores ou condicionantes, desde os genéticos passando, pelos ambientais. Esta diversidade entre os indivíduos mais velhos tende a aumentar com o passar dos anos (Moura, 2006). Como Pinto (2013, p.49) afirma embora estejam “(…) agregados em termos de idade cronológica, os idosos podem apresentar diferenças entre si muito grandes”. Nesta linha de pensamento Zimerman (2000, p.32) infere que “Cada pessoa é única e traz consigo sua herança genética, psicológica, social e existencial”. Dentro desta linha de pensamento Pinto (2013, p.49) afirma que “(…) o envelhecimento espelha os variadíssimos percursos de vida de cada idoso”. Os percursos de vida de cada idoso são influenciados pelos seus papéis ao longo da vida, pela sua experiência de vida, pelas suas expectativas, bem como pelos contextos social e cultural (Carvalho, 2013).

A questão da heterogeneidade encontra-se, também, ligada ao facto de o envelhecimento ser explicado, segundo Carvalho (2013), tendo em conta: a idade cronológica, a idade biológica ou fisiológica, a idade psicológica e a idade cultural e social. A idade cronológica resulta da organização dos acontecimentos de vida de cada pessoa em consonância com a idade (Carvalho, 2013). A idade biológica ou fisiológica está relacionada com a maturidade e com a morte dos organismos vivos existentes em cada pessoa. Esta idade está relacionada com a degradação da capacidade funcional com o passar dos anos (Carvalho, 2013). Relativamente à idade psicológica esta encontra-se associada às competências comportamentais que os indivíduos podem utilizar para fazer frente ao ambiente e ao contexto (Carvalho, 2013). Esta remete para os processos mentais, cognitivos e motivacionais (Carvalho, 2013). Finalmente, a idade cultural e social “(…) remete para os papéis que se espera que os sujeitos na velhice adotem e influenciam o autoconceito do que é ser velho” (Carvalho, 2013, p.4). A utilização desta conceção potencia a discriminação das pessoas mais velhas – idadismo.

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Ser idoso não pode ser visto, apenas, tendo em conta a idade cronológica, a idade por si só não determina se uma pessoa é idosa ou não, já que esta interage com outros fatores. Por isso, Lima (2004, p.9), afirma que a idade é “(…) apenas a passagem do tempo e que outros determinantes como as variáveis sociodemográficas e a história de vida têm mais impacto naquilo em que nos tornamos”.

É preciso pensar no envelhecimento apenas como o “(...) passar para uma nova etapa da vida, que deve ser vivida da maneira mais positiva, saudável e feliz possível” (Zimerman, 2000, p.28).

O envelhecimento coletivo inclui duas conceções: a do envelhecimento demográfico e a do envelhecimento societal (Rosa, 2012). O envelhecimento demográfico tem a ver com o aumento exponencial do número de idosos (Rosa, 2012). Este aumento repercute-se no envelhecimento no topo e na base da pirâmide etária, o que leva à diminuição do número de jovens. Segundo Rosa (2012), o envelhecimento coloca entraves no que toca à economia do país, uma vez que a fragiliza, provoca a diminuição do ritmo de inovação, bem como aumenta as despesas com os cuidados de saúde e tem implicações nos custos do trabalho. O que acontece, hoje em dia, é que a idade constitui um prejuízo para o indivíduo e para a sociedade (Rosa, 2012).

O envelhecimento societal articula-se com o envelhecimento demográfico, uma vez que o primeiro parece resultar do segundo (Rosa, 2012). Não obstante, isto não é totalmente verdadeiro, já que a população pode estar a envelhecer enquanto a sociedade não. A sociedade pode fazer frente às alterações que o processo de envelhecimento acarreta, uma vez que esta pode orientar, promover e mesmo influenciar os modos de envelhecer. Atualmente, este envelhecimento está relacionado com a estagnação de alguns pressupostos que organizam a nossa sociedade (Rosa, 2012), e que levam à discriminação de uma das franjas mais vulneráveis da sociedade, os mais velhos.

O envelhecimento demográfico tornou-se um desafio para as sociedades e para os indivíduos (António, 2013). Para as sociedades no sentido em que a ele são associados os aumentos dos custos, que devem ser suportados pelos mais novos, porém estes são cada vez menos (António, 2013). Relativamente aos indivíduos, o envelhecimento torna-se um desafio no sentido em que estes se devem adaptar às alterações decorrentes do processo de envelhecimento, sejam elas biológicas, psicológicas ou sociais (António, 2013).

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Relativamente ao envelhecimento em Portugal, a partir da análise efetuada por Rosa e Chitas (2010) e partindo da base de dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), no nosso país observa-se, em traços gerais, o seguinte: a) em termos populacionais o país ronda os 10 milhões de habitantes, b) as mães são cada vez menos jovens e têm menos filhos; c) a mortalidade reduziu drasticamente; d) esperança média de vida aumentou; e e) o país está cada vez mais dependente da imigração/entrada de pessoas para evoluir.

Esta alteração ao nível do peso dos idosos tornou-se mais notória a partir de 2001. Nesse ano (Censos 2001) os idosos representavam 16,4% e os jovens 16,0%. Segundo os Censos 2011, atualmente, os idosos representam cerca de 19% e os jovens cerca de 15%. O que se constata é que, no período entre 2001-2011, houve um acréscimo da população idosa de cerca de 17% e um decréscimo da população mais jovem (cerca de 5%).

O fosso entre os mais jovens e os idosos agravou-se. É percetível o aumento para idades superiores a 69 anos de idade, já entre os 0-29 anos há uma diminuição. Se em 2001, a população com 70 e mais anos representava cerca de 11%, em 2011 passou a representar 14%. Assim, a estrutura etária em 2011 veio realçar os desequilíbrios que já tinham sido comprovados nos anos anteriores. Hoje em dia, assiste-se a um duplo envelhecimento, por um lado na base traduzido pela redução da fecundidade e, por outro, a um envelhecimento no topo associado ao aumento da esperança média de vida. A tendência para o envelhecimento no topo e na base prevê-se que se acentue. Em 2050 espera-se 35,72% de pessoas com 65 ou mais anos e 14,4% de crianças e jovens.

A relação estatística entre o grupo em idade ativa e os respetivos grupos de jovens e idosos alterou-se. Presentemente existem cerca de três pessoas em idade ativa por cada idoso e mais de quatro em idade ativa por cada jovem (Rosa, 2012). Esta propensão tende a aumentar o peso estatístico dos idosos e a diminuir o dos mais jovens.

O envelhecimento está, intimamente, ligado às quebras nos níveis de fecundidade, bem como como ao aumento da esperança média de vida. De acordo com os Censos 2011, a esperança média de vida à nascença é de 79,8 anos, sendo que, para os homens é de 76,7 anos e para as mulheres é de 82,6 anos. Contudo, hoje em dia, também se pode falar no aumento da esperança média de vida em idades superiores. Ao longo dos anos a esperança

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média de vida aos 65 anos aumentou, em 1970 esta era de 13,5 anos e em 2012 esta passou para os 19,0 anos. 16

Como já foi referido a quebra nos níveis de fecundidade explica o fenómeno do envelhecimento. Hoje em dia, a média de filhos por mulher é inferior a 1,4 filhos, valor que já não assegura a substituição de gerações (Rosa, 2012). Para que se assegurasse as gerações as mulheres deveriam ter em média 2,1 filhos, ou seja, mais de dois filhos (Rosa, 2012).

Para além do aumento das pessoas com 65, ou mais anos, assiste-se a um aumento das pessoas com 80 anos ou mais, o chamado “envelhecimento dos envelhecidos”. Para 2025, a previsão é de que existam 1800 pessoas com 100 anos ou mais e, para 2050, a previsão passa para 6400 pessoas.17

O índice de envelhecimento18 em Portugal, segundo os Censos 2011, é de 129, ou seja,

por cada 100 jovens existem 129 idosos, em 2050 prevê-se que este seja de 395, ou seja, por cada 100 jovens existirão 395 idosos. Partindo dos Censos 2011 é possível perceber que o envelhecimento deixou de ser um fenómeno meramente localizado no interior do país. As regiões do Alentejo e do Centro são as mais envelhecidas.

O índice de longevidade19, em 2001, era de 41 e em 2011 passou para 48. 20 Este

indicador relaciona-se com o aumento da esperança média de vida.

A população portuguesa, em 2060, poderá rondar os dez milhões de pessoas, mas estas serão cada vez mais velhas. O número de pessoas com 65 ou mais anos deverá ser quase o triplo do número de jovens; um em cada três residentes poderá ter 65 ou mais anos; o número de pessoas com mais de 80 anos rondará os 1,4 milhões de pessoas, representando assim cerca de 13% da população residente e o número de indivíduos em idades ativas superiores aumentará a par da diminuição do número de indivíduos em idade ativa com menos de 40 anos (Rosa, 2012).

As alterações na composição familiar tiveram um impacto significativo no campo do envelhecimento, pois contribuíram para o aumento considerável do número de pessoas com 65 anos ou mais anos a viverem sozinhas. As situações de viuvez também contribuíram para este

16 Dados provenientes da PORDATA (Base de dados Portugal Contemporâneo): http://www.pordata.pt/

17 Programa de Ação do AEEASG’2012 P.4

18 O índice de envelhecimento é a relação entre o número de pessoas idosas (65 e mais anos) e o número de jovens

(0-14 anos) por cada 100 indivíduos (População com 65 e + anos/População dos 0 -14 anos * 100).

19 Relaciona a população com 75 anos ou mais com o total da população idosa.

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aumento. Partindo dos Censos 2011, mais de 1 milhão e 200 mil idosos vivem sós ou em companhia de outros idosos. Atualmente, 400 mil idosos vivem sós e 804 mil em companhia exclusiva de pessoas também idosas.

Hoje em dia, a nossa sociedade é apelidada de sociedade “4-2-1”, que corresponde, respetivamente, a quatro avós, dois pais e um filho (Rosa, 2012). E esta tendência perdurará ao longo dos tempos, tal como Carvalho (2013, p.XIX) afirma, “Nos próximos anos seremos uma sociedade onde os adultos e os adultos idosos predominam”.

Falar no envelhecimento levanta uma questão que se “(…) revela um dos grandes paradoxos da pós-modernidade – a ativação dos sujeitos, através da promoção da autonomia versus o aumento crescente da dependência dos idosos” (Carvalho, 2013, p.XIX). Para se resolver essa questão surge um conceito – envelhecimento ativo - que se tem disseminado na atualidade.

O envelhecimento ativo encontra-se mencionado na agenda internacional das várias organizações, desde a Organização das Nações Unidas (ONU), por meio da Organização Mundial de Saúde (OMS), até à Comissão Europeia (CE), passando pela própria Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE). Porém, a abordagem que cada uma das organizações faz é diferente, uma vez que cada uma se orienta por determinados objetivos e âmbitos. Estas organizações apresentam diferentes definições, por um lado, uma mais ligada à participação dos mais velhos no mercado de trabalho (uma visão mais laboral e económica), defendida pela OCDE e pelo Banco Mundial, por outro lado, uma associada à participação social, à saúde e ao bem-estar dos idosos, defendida pela OMS (Lopes & Gonçalves, 2012).

A definição da OCDE aponta para a capacidade que os idosos têm para levarem uma vida mais produtiva na sociedade e na própria economia. São os idosos que devem escolher como devem repartir o seu tempo, entre o trabalho e o lazer, são eles os protagonistas da sua história (Cabral, Ferreira, Silva, Jerónimo, Marques, 2013). Trata-se, então, de uma experiência individual, em que o indivíduo pode optar por ter uma atividade remunerada ou não.

A definição da OMS dá ênfase a outros aspetos. De acordo com esta organização, o envelhecimento ativo define-se pelo processo de “optimização das possibilidades de saúde, de participação e de segurança, a fim de aumentar a qualidade de vida durante a velhice” (OMS, 2002, p.12).

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No modelo apresentado pela OMS fala-se no envelhecimento como um “(…) processo que se estende ao longo de toda a vida” (Ribeiro & Paúl, 2011, p.2) e em que a história de cada um se vai construindo, resultando em diferentes trajetórias. Este depende de um conjunto de fatores, que se designam de determinantes, que são de ordem pessoal, comportamental, económica, do meio físico, social, e dos serviços de saúde e sociais (Ribeiro & Paúl, 2011). Em todo o processo existem dois fatores que surgem como pano de fundo, e que são transversais a todo o processo, sendo eles a cultura e o género. O envelhecimento, assim sendo, “(…) depende da interação de uma multiplicidade de determinantes, tanto individuais como ambientais” (Almeida, 2007, p.22).

Segundo Carvalho (2013, p.11), a perspetiva do envelhecimento ativo “(…) não nega o aspeto negativo do envelhecimento mas concebe-o como algo a prevenir e a atuar, no sentido da capacitação individual”. Esta abordagem remete, igualmente, para a proteção dos direitos humanos dos idosos, bem como dos “(…) princípios de independência, participação, dignidade, assistência e auto-realização” (Ribeiro & Paúl, 2011, p.3).

A grande abrangência do modelo da OMS pode ser um entrave, pois o conceito é muitas vezes circunscrito a determinados temas como o exercício físico, a funcionalidade e, atualmente, o prolongamento da carreira ativa (Ribeiro, 2012).

Este modelo apresentado pela OMS remete para uma “(…) autorresponsabilização individual no atingir de níveis de funcionamento mais elevado” (Ribeiro, 2012, p.38), deixando de lado os decisores políticos que têm a responsabilidade de criarem soluções para os indivíduos. Cabe ao indivíduo “(…) tirar partido das oportunidades que são disponibilizadas às pessoas para se manterem ativas” (Ribeiro, 2012, p.47). Hoje em dia, a sociedade caminha para uma conjuntura que responsabiliza e exige às pessoas serem autónomas, tornando-as responsáveis por tudo o que lhes acontece, tendo ou não recursos ou condições (Barbosa, 2008). Assim, o Estado passa a, tendencialmente, não se responsabilizar pelos cidadãos.

A autorresponsabilização defendida pelo envelhecimento ativo vai de encontro a um novo conceito designado de empowermt ou empoderamento em português. A política do envelhecimento ativo remete para o próprio empowermt dos mais velhos, por forma a torná-los o mais autónomos possível (Pinto, 2013). Segundo Fonseca (2011) trata-se de passar o poder que um indivíduo tem para capacitar um outro indivíduo. Através deste processo é possível que os indivíduos ganhem um maior controlo sobre a sua vida, sendo capazes de mobilizar e criar

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recursos (Fonseca, 2011; Pinto, 1998). Este conceito implica que haja um trabalho quer do ponto de vista dos indivíduos, quer da própria sociedade (Pinto, 2013). Isto porque para que haja empowerment é necessário que a sociedade mude a sua mentalidade, é necessário “(…) que se desconstruam os mitos negativos da velhice e se quebrem as amarras opressivas da discriminação dos idosos” (Pinto, 2013, p.54).

O empowerment deve ser articulado, então, com uma pedagogia para a autonomia e participação, em que “(…) a ênfase é colocada não no aprender, mas no aprender a aprender” (Barbosa, 2008, p.462). Essa pedagogia deve ser articulada com reforço dos poderes pessoais das pessoas e deve estar voltada para as suas escolhas e interesses, as pessoas devem ser os protagonistas, os gestores e os avaliadores dos projetos cujo propósito é a promoção da autonomia e da participação (Barbosa, 2008).

O empowerment pressupõe que se tenha em conta que cada indivíduo é único e que é influenciado por diversos fatores, que encara e vive o envelhecimento de determinada maneira (Pinto, 2013). Deve-se saber aceitar as incapacidades, os défices e as próprias dificuldades que o envelhecimento acarreta (Pinto, 2013).

Atualmente, os princípios do envelhecimento ativo têm sido utilizados de forma abusiva pelos agentes políticos, servindo para justificar o adiar da idade da reforma, uma vez que a preocupação eminente é a sustentabilidade da Segurança Social. Assim, o discurso do envelhecimento ativo tem sido utlizado, somente, como um instrumento de participação económica (Ribeiro, 2012). Tem havido um aproveitamento instrumental deste discurso por parte dos agentes políticos, pois torna-se uma maneira da Segurança Social não ter que esgotar os recursos que tem para disponibilizar. Assim, as estratégias levadas a cabo pelos agentes políticos responsabilizam o indivíduo por atingir, ou não, o envelhecimento ativo. Outra questão que se levanta com o prolongamento da vida ativa, ou seja, com o retardar da idade da reforma,

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