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Investigações e Intervenções na área e na problemática do estágio

No documento Energia sénior : um projeto de animação (páginas 30-35)

3. Enquadramento Teórico da Problemática do Estágio

3.1. Investigações e Intervenções na área e na problemática do estágio

Ao longo dos tempos tem-se vindo a assistir a uma alteração demográfica a nível mundial e Portugal não escapa a essa mudança. Esta alteração deve-se, fundamentalmente, ao aumento da esperança média de vida, ao número de nascimentos ser inferior ao número de óbitos e às diversas oscilações no saldo migratório, o que se repercute no aumento do número das pessoas idosas, e atualmente das pessoas muito idosas (Rosa & Chitas, 2010).

O envelhecimento é um processo inerente ao ciclo de vida e ao qual a entrada na reforma se associa. Esta entrada na reforma leva a que as pessoas fiquem com mais tempo livre. Nesta fase é, então, importante prevenir e retardar o mais possível as consequências do envelhecimento, aproveitando da melhor maneira o tempo livre disponível. É necessário promover a qualidade de vida e promover um envelhecimento mais saudável e ativo. Assim, nesta linha de pensamento muitos são os trabalhos, quer a nível de investigação, quer de intervenção, que surgem com o pressuposto de promover o envelhecimento ativo, alertando para a sua importância na vida dos mais velhos.

Ao nível de investigações destacam-se os trabalhos de Silva (2009)7, Ferreira (2012)8,

Barros (2013)9, Fonseca (2005)10, um estudo levado a cabo por Cabral, Ferreira, Silva, Jerónimo

e Marques (2013)11 e um estudo de Cabral e Ferreira (2014)12.

7 SILVA, Patrícia (2009).Adaptação à Reforma e Satisfação com a vida: a importância da actividade e dos papéis

sociais na realidade europeia. Trabalho de projeto de mestrado em Psicologia Social e das Organizações. Lisboa: ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa, Departamento de Psicologia Social e das Organizações.

8 FERREIRA, Maria (2012). Perceções do envelhecimento e bem-estar psicológico na população idosa. Dissertação

de Mestrado integrado em Psicologia (área de especialização Psicologia Clínica). Braga: Universidade do Minho, Escola de Psicologia

9 BARROS, Daniela (2013). Promoção do Envelhecimento Ativo: Contributo das práticas educativas de uma

Universidade da Terceira Idade. Dissertação de Mestrado em Ciências da Educação (área de especialização Educação de Adultos). Braga: Universidade do Minho, Instituto de Educação.

10 FONSECA, António. (2005). Aspectos psicológicos da «Passagem à reforma». In C. Paúl & A. Fonseca(Coord.),

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Silva (2009, p.9), levou a cabo uma investigação para perceber a “(…) relação existente entre o ajustamento à reforma e a satisfação com a vida”. Das conclusões a que chegou a autora salienta-se a de que “(…) os indivíduos, que na reforma se envolvem com actividades que preconizam envolvimento e responsabilidade, encontram-se mais satisfeitos com a sua vida, quando comparados com sujeitos envolvidos em menos actividades” (Silva, 2009, p.61). Esta investigação veio reforçar, uma vez mais, a ideia de que se devem criar “(…) programas sociais destinados ao desenvolvimento de competências sociais em adultos idosos” (Silva, 2009, p.64). A autora afirma que se deve “(…) apostar na promoção de condições que promovam a satisfação com a vida “ (Silva, 2009, p.65). Reforça, ainda, que as atividades devem produzir no sujeito sentimentos de autovalorização e realização pessoal, por forma a aumentar a satisfação com a vida (Silva, 2009). Pretende-se que o idoso tenha um “(…) papel activo na construção das suas próprias vidas” (Silva, 2009, p.67). A autora afirma que são os interesses e os gostos dos idosos que influenciam a forma como estes ocupam o seu tempo livre.

Ferreira (2012, p.IV), na sua investigação, concluiu que os idosos “(…) que avaliam positivamente o seu envelhecimento e a sua saúde, conseguem criar níveis satisfatórios de bem- estar”. Para que se alcance um envelhecimento saudável e um bem-estar psicológico “(…) é necessário que haja o envolvimento do próprio indivíduo” (Ferreira, 2012, p.3). Concluiu, também, que a prática de exercício físico interfere no bem-estar psicológico dos idosos e que aqueles que têm perceções positivas sobre o envelhecimento têm uma maior autoestima e bem- estar psicológico (Ferreira, 2012). Uma ideia importante a reter desta investigação é que “(…) cada adulto idoso vivencia esta fase da vida de uma forma particular , atendendo a todo um conjunto de fatores cada vez mais idiossincráticos: podemos encontrar, assim, diferentes formas de envelhecer ou de percecionar o envelhecimento” (Ferreira, 2012, p.35).

Na sua investigação Barros (2013) procurou perceber quais os benefícios que uma universidade para a terceira idade trazia para os frequentadores da mesma. Os participantes afirmaram que obtiveram melhorias ao nível social (na interação com outras pessoas), físico, cognitivo, emocional e ao nível das relações, neste caso, as familiares (Barros, 2013). Com a

11CABRAL, Manuel, FERREIRA, Pedro, SILVA, Pedro, JERÓNIMO, Paula, MARQUES, Tatiana (2013). Processos de

envelhecimento em Portugal – Uso do tempo, redes sociais e condições de vida. Lisboa: FFMS.

12 CABRAL, Manuel, FERREIRA, Pedro (2014). Envelhecimento Activo em Portugal – Trabalho, reforma, lazer e redes

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frequência na universidade sénior alcançaram um “(…) maior bem-estar físico, social e psicológico” (Barros, 2013, p.V). A autora concluiu que “(…) para atingir a qualidade de vida é importante que os adultos consigam manter os seus projetos, as suas atividades de vida diária e, ainda, desenvolver atividades cognitivas, culturais, sociais e físicas” (Barros, 2013, p.134). Salienta que existem três aspetos que devem ser tidos em conta para se atingir um envelhecimento com qualidade, sendo eles: a saúde, a autonomia e a educação ao longo da vida (Barros, 2013). É possível, assim, ocupar o tempo livre de uma “(…) forma educativa, lúdica, ativa e saudável” (Barros, 2013, p.135), contribuindo para o envelhecimento ativo.

No ano passado, 2013, Cabral, juntamente com Ferreira, Silva, Jerónimo e Marques desenvolveram um estudo acerca do uso do tempo e das redes sociais pela população sénior na perspetiva do envelhecimento ativo. Os autores constataram que os seniores são marcados pela sua história de vida e pela própria condição social. Uma das conclusões mais interessantes a que chegaram é que as pessoas entre os 50-64 anos de idade apresentavam taxas mais elevadas de adesão às práticas de envelhecimento ativo do que as pessoas com 75 anos ou mais. Esta conclusão serve para pensar nos futuros idosos e para a forma como o envelhecimento vai ser encarado.

O estudo levado a cabo por Cabral e Ferreira (2014) vem reforçar a ideia de que é importante a manutenção da atividade motora e cognitiva, principalmente na fase da reforma. Estes autores afirmam que os bons hábitos de saúde, aliados aos estilos de vida saudáveis, são fulcrais para se enveredar num envelhecimento ativo (Cabral & Ferreira, 2014). Tal como no estudo anterior, estes autores afirmam que existe gradualmente uma maior adesão às práticas do envelhecimento ativo, muito embora exista ainda uma falta de motivação e envolvimento das pessoas mais velhas (Cabral & Ferreira, 2014).

Fonseca (2005) levou a cabo um estudo com reformados que permitiu perceber que os idosos só se envolvem em atividades que lhes permitam estar ocupados e sentirem-se úteis. É extremamente importante continuar a manter os contactos sociais ou então criar novos contactos, estabelecendo assim relações próximas com os outros. As atividades que os idosos mais gostam são as que lhes dão “(…) satisfação, prazer, sentido de utilidade” (Fonseca, 2005, p.66), e que contribuem para uma maior autoestima e bem-estar a nível social e pessoal. É importante que os idosos continuem envolvidos na sua vida, ocupando de forma útil o seu tempo livre e apostando em atividades gratificantes.

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As intervenções apresentadas seguem a mesma linha das investigações, a destacar: Sequeira (2013)13, Valente (2010)14, Rodrigo (2013) e Ribeiro (2013)15.

Sequeira (2013) levou a cabo uma intervenção em que aplicou um programa de intervenção em animação sociocultural (PIAS) em 5 centros de dia de Castelo Branco. Este programa adaptava-se sempre às características de cada grupo de idosos. Passou por atividades de animação físico-motora e sensorial, animação artística, animação cognitiva, animação desenvolvimento pessoal e social, animação cultural e social. A autora concluiu que “(…) a qualidade de vida dos idosos daqueles centros de dia aumentou à medida que realizaram com prazer e satisfação, as tarefas e atividades socioculturais estabelecidas” (Sequeira, 2013, p.5). É importante que as atividades “(…) não só constituam uma ocupação útil, como também estimulem todas as capacidades inerentes aos idosos utentes” (Sequeira, 2013, p.87). O envolvimento dos utentes nas atividades é essencial, pois promove “(…) uma maior autonomia pessoal, participação ativa, retardando o processo de dependência” (Sequeira, 2013, p.87). Neste projeto a autora defende que a animação “(…) promove momentos de satisfação, participação e contribui para a sua qualidade de vida no processo de envelhecimento” (Sequeira, 2013, p.134). Os participantes neste projeto afirmaram que gostaram muito das atividades, que aprenderam em grupo, conviveram e que fizeram bem à sua saúde (Sequeira, 2013). Ainda acrescentaram que “(…) passaram bons momentos de diversão e felicidade” (Sequeira, 2013, p.132). Como concluiu a autora “(…) a qualidade de vida nos idosos está relacionada (…) com a participação em tarefas/atividades que ocupem o seu quotidiano e que gostam de fazer, com autonomia de fazerem, por si mesmo” (Sequeira, 2013, p.7). Concomitantemente é importante respeitar as capacidades e as limitações de cada idoso e, mais uma vez, Sequeira (2013) reforça a ideia de que se deve dar aos idosos o poder de escolherem o que querem fazer e de que se devem dar incentivos, pois deste modo, eles sentem-se mais confiantes. Assim, o projeto

13 SEQUEIRA, Sofia (2013). ‘Animar para melhor envelhecer com satisfação’ (Animação Sociocultural em idosos de

centros de dia do concelho de Castelo Branco. Dissertação de Mestrado em Gerontologia Social. Castelo Branco:

Instituto Politécnico de Castelo Branco-Escola Superior de Educação.

14 VALENTE, Cláudia (2010). Participação através da animação sociocultural: intervenção com idosos. Projeto de

intervenção comunitária apresentado no âmbito do mestrado em Ciências de Educação. Aveiro: Universidade de Aveiro-Departamento de Ciências da Educação.

15 RIBEIRO, Susana (2013). Regenerando Vidas: um projeto de promoção do envelhecimento ativo. Relatório de

estágio de mestrado em Educação (área de especialização Educação de Adultos e Intervenção Comunitária). Braga:

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“(…) fê-los sentir-se úteis e felizes. O projeto influenciou-os positivamente ao nível do bem-estar físico, psíquico e, consecutivamente, o aumento do sentido de confiança, empatia e de felicidade” (Sequeira, 2013, p.132).

Valente (2010, p.2) desenvolveu um projeto de intervenção comunitária com 8 idosos tendo como objetivo “(…) promover a participação activa do idoso institucionalizado, tendo em vista o seu desenvolvimento pessoal e social”, através da animação sociocultural. As atividades consistiram na criação de uma oficina de pintura e na dramatização de três histórias para serem apresentadas às gerações mais novas e aos idosos da instituição. A animação é, assim, vista por Valente (2010, p.52) “(…) de uma forma abrangente, não tendo como função somente ocupar o tempo livre de forma aleatória. Ela assume propósitos mais profundos e importantes como a integração e a inclusão social”. Com as atividades desenvolvidas, os idosos sentiram-se valorizados, contribuindo, assim, para o aumento da sua autoestima e da sua valorização pessoal. Os participantes consideraram o projeto útil e interessante, “(…) contrariando os sentimentos de inutilidade que na primeira abordagem ao projeto manifestavam” (Valente, 2010, p.66). O projeto foi importante para “(…) promover o convívio social e a interação entre diferentes gerações, promovendo as relações inter-geracionais” (Valente, 2010, p.66) e, igualmente, para promover momentos de lazer “(…) favorecendo a comunicação e a expressão durante os momentos de convívio” (Valente, 2010, p.66). Valente (2010, p.72) reforça, uma vez mais, que se devem ter em conta as capacidades dos idosos e são necessárias atividades que “(…) estimulem os idosos à participação e que os façam acreditar que ainda são capazes de defender os seus interesses”.

Rodrigo (2013) levou a cabo um projeto com 23 idosos que abrangeu 5 áreas/dimensões socioculturais: + Memória, +Lazer, Mexer+, Histórias cheias de vida e Receitas d’Avó. Construiu, ainda, um jornal intitulado de Jornal Viver+. Todas as atividades foram pensadas com o intuito de promover o bem-estar e a felicidade dos idosos, mas sempre “(…) maximizando as suas competências e aumentando capacidades” (Rodrigo, 2013, p.54). O que a autora concluiu foi que, com as atividades os idosos tornaram-se “(…) mais enérgicos e mais assumidos como parte integrante de uma instituição” (Rodrigo, 2013, p.58). Não obstante, contribuíram para melhorar o bem-estar e a autoestima dos idosos. Segundo a autora, a animação passa por um “(…) conjunto de passos que procura facilitar a vida do idoso, tornando- o mais ativo” (Rodrigo, 2013, p.75).

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Ribeiro (2013, p.15) desenvolveu um projeto com a finalidade da “(…) promoção do bem-estar global do idoso, proporcionando-lhes momentos de lazer, de ludicidade e de desenvolvimento pessoal e social”. Como meios indispensáveis para alcançar esta finalidade utilizou a educação ao longo da vida e a animação (Ribeiro, 2013). As 5 grandes categorias privilegiadas no projeto foram a formação, difusão, artística, lúdica e social (Ribeiro, 2013). No final, os participantes afirmaram que “As atividades desenvolvidas foram importantes para o enriquecimento do seu quotidiano e preenchimento do seu tempo livre” (Ribeiro, 2013, p.89). Todos, sem exceção, reconheceram os benefícios das atividades, dizendo que lhes deu prazer, que foram importantes para aumentar o seu bem-estar e para ocuparem o tempo livre de forma proveitosa (Ribeiro, 2013). Todos se sentiram bem, motivados e integrados no grupo. A autora refere que “(…) conseguimos a árdua tarefa de fomentar um envelhecimento mais ativo” (Ribeiro, 2013 ,p.92) e, ainda, que “Através da animação, conseguimos estimula-los e favorecer o seu bem-estar e qualidade de vida” (Ribeiro, 2013, p.92).

As investigações e as intervenções apresentadas, tal como o presente projeto, refletem a necessidade de se promover o envelhecimento ativo junto dos idosos. É necessário retardar os efeitos inerentes ao processo de envelhecimento e a ASC pode ser uma ferramenta importante para minimizar esses efeitos, através das atividades que esta pode proporcionar. É importante promover a qualidade e satisfação de vida bem como o bem-estar dos idosos.

No documento Energia sénior : um projeto de animação (páginas 30-35)