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Seleção de técnicas de investigação/intervenção

No documento Energia sénior : um projeto de animação (páginas 66-74)

3. Enquadramento Teórico da Problemática do Estágio

4.2. Apresentação e fundamentação metodológica

4.2.3. Seleção de técnicas de investigação/intervenção

Durante todo o projeto foram sendo utilizadas várias técnicas que sustentaram o trabalho desenvolvido. Neste ponto serão apresentadas e fundamentadas as técnicas utilizadas para a fase de planeamento, implementação e avaliação do projeto.

Em todos os projetos a fase da avaliação é essencial, mas, frequentemente, esta apenas é feita no final dos mesmos, o que de nada serve para o desenvolvimento de novas práticas, sendo encarada como uma formalidade imposta pela maioria dos projetos. No presente projeto a avaliação não é encarada dessa maneira, permitindo que toda a ação seja analisada, tornando possível (re)orientar a ação e a prática sempre que for necessário. Deve servir para melhorar um

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projeto, um programa ou mesmo atividades, introduzindo modificações e correções que sejam necessárias (Ander-Egg, 2011; Martínez, 2011).

A avaliação é encarada como um processo contínuo e complexo e, tal como na metodologia da IAP, tudo o que é planeado e executado é avaliado, por forma a melhorar ações futuras. No projeto desenvolvido a avaliação foi incluída em três momentos: na fase de planeamento, por meio da avaliação diagnóstica que pretendeu conhecer e caracterizar o contexto e o público-alvo, de modo a serem criadas atividades ajustadas aos idosos; na fase de implementação através da avaliação contínua ou on going, desenvolvida pelas grelhas de avaliação/registo/observação das atividades (ver anexo V, p.108) e das grelhas de autoavaliação das atividades (ver anexo VI, p.109); na fase final, com a respetiva avaliação final, que permitiu perceber se os objetivos foram ou não cumpridos, analisando os resultados obtidos através dos inquéritos por questionários passados aos idosos (ver anexo VII, p.110) e às colaboradoras (ver anexo VIII, p.119). A acrescentar aos inquéritos também foi feita uma entrevista à acompanhante de estágio (ver anexo IX, p.122)

Na fase de planeamento foram utilizadas as seguintes técnicas: a análise documental, a pesquisa bibliográfica, as conversas informais, o inquérito por questionário (ver anexo IV, p.106), a observação participante e não participante, o diário de bordo, e, finalmente, a análise de conteúdo.

Na fase de implementação foram utilizadas, como técnicas de investigação, a observação participante e não participante, as conversas informais, o diário de bordo, as grelhas de registo/avaliação/observação das atividades (ver anexo V, p.108) e as grelhas de autoavaliação das atividades (ver anexo VI, p.109). Os registos fotográficos foram utilizados apenas para registar os trabalhos finais das atividades.

Na fase de avaliação final as técnicas utilizadas foram a entrevista semiestruturada à acompanhante de estágio (ver anexo IX, p.122), o inquérito por questionário aos idosos (ver anexo VII, p.110) e às colaboradoras (ver anexo VIII, p.119) e a análise de conteúdo.

A pesquisa bibliográfica é fulcral no processo de investigação, segundo Cunha (2009, p.41) esta é “(…) importante para uma melhor definição e enquadramento do referencial teórico da investigação”. Esta técnica permitiu compreender e aprofundar o tema que é abordado e tratado bem como orientar o rumo para os trabalhos futuros, inclusivamente, as atividades propostas. A intervenção só é eficaz se tiver por base uma boa investigação, como referem Quivy

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e Campenhoudt (1998, p.50), há a necessidade de “(...) explorar as teorias, de ler e reler as investigações exemplares” mas, também “(…) de adquirir o hábito de reflectir antes de se precipitarem sobre o terreno ou sobre os dados”. Tal como Cunha (2009, p.90) afirma “(…) a teoria tem como papel orientar o processo, assinalar os factos significativos e restringir a amplitude daqueles que não o são”. Torna-se imprescindível “(…) tomar conhecimento de um mínimo de trabalhos de referência sobre o mesmo tema ou, de modo mais geral, sobre problemáticas que lhe estão ligadas” (Quivy e Campenhoudt, 1998, p.51).

A análise documental é uma técnica que permite cruzar informações e, muitas vezes, servir de complemento às restantes. Esta técnica foi privilegiada na primeira fase do projeto, a fase de planeamento, em que permitiu ter acesso a alguns documentos que possibilitaram a caraterização do público-alvo e da própria instituição.

A observação não participante foi utilizada, inicialmente, para conhecer o público-alvo, de maneira a perceber como os idosos se relacionavam uns com os outros e com os elementos do serviço. Permitiu perceber algumas das suas rotinas e dos seus hábitos. Nesta técnica “(…) o pesquisador assume exclusivamente o papel de observador e não participa no objeto de observação” (Costa, 2012, p.148).

Na observação participante o investigador envolve-se “(…) na interação ou situação que constitui objecto de observação” (Costa, 2012, p.148). Esta possibilita ao investigador “(…) integrar na situação, participar na vida do grupo e estabelecer com os seus membros uma relação, sem contudo perturbar o curso normal dos acontecimentos” (Cunha, 2009, p.115). Observam-se e conhecem-se os fenómenos, ou os comportamentos por dentro e a partir de dentro, o que permite “(…) alcançar uma qualidade e profundidade de informação” (Cunha, 2009, p.115). Possibilitou a criação de uma relação de confiança e de amizade com os idosos e com a própria equipa do serviço. Ao longo das atividades permitiu obter o feedback dos idosos em tempo real.

As vantagens de se utilizar a observação (participante e não participante) é esta “(…) permitir captar o agir de forma espontânea; requerer menos colaboração/participação por parte da pessoa ou grupo e com ela se conseguir informação que seria inacessível de outra forma” (Cunha, 2009, p.116). Os dois tipos de observação foram utilizados durante a implementação das atividades para observar a reação dos idosos ao que estavam a fazer, estando assim a fazer uma avaliação dos comportamentos dos mesmos.

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As conversas informais foram desenvolvidas com os idosos, com a diretora técnica e com as colaboradoras. Estas foram fundamentais para caracterizar o público-alvo e para planear a intervenção. As conversas permitiram perceber os interesses, as motivações, as expectativas, as inquietações e as próprias potencialidades dos idosos. Tornaram-se uma vantagem porque não foi necessário perturbar os idosos com nenhum tipo de instrumento, ou mesmo com gravações. Estas conversas foram uma constante ao longo do projeto, por forma a perceber se as atividades iam de encontro às expectativas dos idosos.

O diário de bordo foi uma técnica mais utilizada no início do projeto, contudo foi transversal ao longo do mesmo. Este permite “(…) o relato escrito daquilo que o investigador ouve, vê, experiencia e pensa no decurso da recolha” (Bogdan & Biklen, 1994, p.150).

O inquérito por questionário foi outra técnica utilizada, uma vez que permite obter “(…) informações directamente provenientes dos sujeitos que depois se convertem em dados susceptíveis de serem analisados” (Cunha, 2009, p.117). Esta técnica foi utilizada na fase de planeamento para fazer a caracterização do público-alvo bem como o desenvolvimento do diagnóstico de necessidades. O inquérito por questionário inicial (ver anexo IV, p.106) era semiestruturado e constituído por perguntas fechadas relativas a dados biográficos dos idosos e ainda por algumas questões abertas que visavam obter o conhecimento sobre motivações e interesses dos mesmos. Foi passado, individualmente, por forma a conhecer um pouco melhor os idosos.

Na fase final, passaram-se dois inquéritos por questionário, um aos idosos (ver anexo VII, p.110) e outro às colaboradoras (ver anexo VIII, p.119). Os dois tinham como objetivo avaliar a implementação do projeto “Energia Sénior: um projeto de animação”. O inquérito por questionário criado para os idosos foi construído com base na metodologia de questões de escolha múltipla, a que a estagiária ainda recorreu à pergunta aberta para a justificação das respostas selecionadas pelos idosos. Desta forma com as justificações apontadas pelos idosos foi possível fazer uma leitura mais qualitativa dos resultados do questionário, conseguindo uma compreensão mais aprofundada das razões que estão na base da avaliação efetuada. Este foi passado, individualmente, a cada idoso. Relativamente ao inquérito por questionário, passado às colaboradoras, este seguiu a mesma metodologia que o anterior com questões de escolha múltipla. A diferença é que neste caso, a pergunta aberta foi criada para esclarecimento da pontuação selecionada pelas colaboradoras. Em conformidade com as justificações apontadas

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pelas colaboradoras deu para perceber as perspetivas delas sobre o projeto e sobre a prestação da estagiária.

A entrevista foi outra técnica privilegiada no projeto. Pode ser usada como instrumento complementar ou como instrumento principal (Costa, 2012). Independentemente da finalidade que possa ter “(…) a entrevista é utilizada para recolher dados descritivos na linguagem do próprio sujeito” (Bogdan & Biklen, 1994, p.134). Esta corresponde “(…) a um processo de interacção face-a-face entre uma ou mais pessoas” (Costa, 2012, p.149). Ao interrogar-se uma pessoa é possível ter em conta os comportamentos verbais e não-verbais desta (Costa, 2012). Esta técnica foi aplicada à acompanhante de estágio (ver anexo IX, p.122) na fase de avaliação final, por forma a perceber qual era a sua opinião acerca do projeto e as repercussões que este teve no serviço e nos idosos. O tipo de entrevista privilegiada foi a semiestruturada, uma vez que esta “(…) não é inteiramente aberta nem encaminhada por um grande número de perguntas precisas” (Quivy & Campenhoudt, 1998, p.192). Neste tipo de entrevista “(…) predominam perguntas que estimulam o entrevistado a apresentar o seu ponto de vista, exprimir a sua opinião ou e justificar o seu comportamento” (Costa, 2012, p.151). A qualquer momento o entrevistador pode “(…) acrescentar outras perguntas que julgue necessárias, com finalidades de esclarecimento” (Cunha, 2009, p.133), e deve permitir que “(…) o discurso do entrevistado vá fluindo livremente” (Cunha, 2009, p.133).

A análise de conteúdo “(...) oferece a possibilidade de tratar de forma metódica informações e testemunhos” (Quivy & Campenhoudt, 1998, p.227). Esta permitiu a análise dos dados e é usada como “(…) forma de viabilizar a descrição do conteúdo da comunicação, que se pode apresentar sob a forma escrita (…) ou sob formas não escritas” (Cunha, 2009, p.104). A finalidade desta técnica “(…) é a análise de ideias e não das palavras através das quais elas são expressas” (Cunha, 2009, p.108). Após a aplicação dos inquéritos e da entrevista foi necessário recorrer a esta técnica para tratá-los. Depois de passar o primeiro inquérito, esta técnica permitiu perceber quais eram as necessidades, as motivações os interesses e as expectativas dos idosos. De acordo com os segundos inquéritos e com a entrevista pretendeu-se compreender o discurso dos diferentes intervenientes do projeto de uma forma global. Permitiu, ainda, perceber como estes avaliaram o projeto e o desempenho da estagiária.

Na fase de implementação foram utilizadas as grelhas de registo/avaliação/observação das atividades (ver anexo V, p.108) e as respetivas grelhas de autoavaliação (ver anexo VI,

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p.109). Ambas foram construídas pela estagiária, sendo que a primeira era preenchida pela própria e a segunda pelos idosos no final de cada atividade. A grelha de registo tinha, na primeira parte, indicadores de avaliação: a participação, a motivação e a satisfação do idoso na atividade. Estes indicadores foram avaliados numa escala de 1 a 5, em que 1 significava nada e 5 muito bom. Ainda permitiu anotar observações relevantes, o número de participantes, bem como os recursos necessários para cada atividade. A grelha de autoavaliação foi utilizada no sentido de obter o feedback em tempo real dos idosos em relação à atividade. Nessa grelha os idosos tinham três “smiles” que correspondiam a “Gostei Muito”, “Gostei Pouco” e Não gostei”, com um “X” os idosos tinham que fazer a sua apreciação em relação à atividade. Os idosos ainda tinham espaço para deixar comentários.

Durante a fase de implementação foram utilizadas técnicas de intervenção que passaram pela animação física ou motora, cognitiva/mental, animação através expressão plástica, promotora do desenvolvimento pessoal e social, e lúdica (Jacob, 2008). De referir que acresceram, a esta panóplia de iniciativas, atividades de formação apresentadas por Ander-Egg (2011). Todas as atividades realizadas, em cada tipo de animação, serão descritas em pormenor no ponto 5 do presente relatório.

Animação física ou motora

As atividades físicas/motoras tiveram como intuito recuperar a confiança e o domínio do corpo, promovendo a consciência da utilidade e dos próprios benefícios que o exercício físico possibilita.

A atividade física pode ser um ótimo recurso para a adaptação dos idosos a todas as mudanças que vão ocorrendo, sendo elas intrínsecas ou extrínsecas (Geis & Rubi, 2003).

Estas atividades surgiram para diminuir a deterioração física e para fortalecer os músculos e os ossos. Jacob (2013) defende que a prática de exercício físico pode aumentar a força muscular, a resistência muscular, a flexibilidade, melhorar a coordenação e o equilíbrio bem como promover o próprio convívio e o diálogo.

Para além dos benefícios físicos o exercício físico traz benefícios psíquicos, ao melhorar as “(…) capacidades cognitivas, perceptivas e de coordenação” (Araújo, 2011, p.14), e benefícios sociais “(…) ao implicar a manutenção ou melhoria das capacidades comunicativas consigo mesmo, com os outros que o rodeiam e com o ambiente” (Araújo, 2011, p.14) .

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Tal como Cunha (2009, p.103) afirma “O corpo, como já referimos, tal como uma máquina precisa de manutenção para não enferrujar ou emperrar”. Estas atividades serviram para isso mesmo, mas também para contrariar o sedentarismo através de ações simples.

Como refere Araújo (2011, p.13) “Não se trata de rejuvenescer mas sim de envelhecer da melhor maneira possível”.

Animação Cognitiva/Mental

É natural que, com o tempo, existam capacidades a nível cognitivo que se vão deteriorando, contudo, os efeitos dessa deterioração “(…) podem ser bastante atenuados se o idoso mantiver uma boa atividade cognitiva e contactos sociais regulares” (Jacob, 2013, p.67). Com simples exercícios pode – se “(…) aumentar a atividade cerebral, retardar os efeitos da perda de memória e da acuidade e velocidade perceptiva e prevenir o surgimento de doenças degenerativas” (Jacob, 2013, p.67). Se é preciso combater o sedentarismo físico, também o sedentarismo mental não deve ser esquecido, uma vez que “Para conservar as suas capacidades, é necessário que o idoso se mantenha intelectualmente activo” (Simões, 2006, p.72). Todos os jogos idealizados foram de encontro aos interesses e gostos dos seniores. Permitiram estimular a mente, o raciocínio, a memória, a concentração mas também promoveu- se a interação social. Em alguns deles foi possível valorizar a sabedoria popular.

Segundo Jacob (2013) neste tipo de animação surge a animação sensorial que foi utilizada no projeto. Este tipo de atividades é delineado com o objetivo de desenvolver os sentidos (Jacob, 2013), no caso do projeto, o olfato e o paladar. Este tipo de animação possibilitou novas experiências e descobertas aos idosos.

Animação através de expressão plástica

Este tipo de animação possibilitou aos idosos “dar asas” à sua criatividade e imaginação. Para além disso este tipo de animação permitiu desenvolver “(…) a motricidade fina, a precisão manual e a coordenação psicomotora” (Jacob, 2013, p.85) dos idosos. Neste tipo de atividades considerou-se uma vertente lúdica (ocupação dos tempos livres) e uma vertente educativa (proporcionar novas experiências).

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Animação promotora do desenvolvimento pessoal e social

Tal como Jacob (2013, p.93) afirma as atividades deste género têm como “(…) objetivo desenvolver as competências pessoais e sociais da pessoa e da pessoa como elemento de um grupo”. Araújo e Melo (2011, p.142) defendem que “(…) a capacidade de interagir socialmente é fundamental para o idoso conquistar e manter as redes de apoio social e garantir uma maior satisfação com a sua vida”. Com este tipo de atividades pretendeu-se estimular a comunicação, a amizade e as relações interpessoais entre os idosos. Fizeram-se atividades que permitiram a partilha de experiências, de histórias, saberes e tradições. A perspetiva foi sempre a de valorizar o conhecimento e as experiências que cada idoso possuía.

Animação lúdica

O principal intuito da animação lúdica é “(…) divertir as pessoas e o grupo, ocupar o tempo, promover o convívio e divulgar os conhecimentos“ (Jacob, 2013, p.102). O convívio é importante para se conhecer novas pessoas ou para se conviver com quem já se conhece, o que permite o aumento das relações sociais (Araújo & Melo, 2011). A ideia principal da animação lúdica é o lazer (Jacob, 2013). As atividades lúdicas permitem melhorar a autoestima e faz com que as pessoas se sintam mais participativas e incluídas na sociedade (Araújo & Melo, 2011). No projeto, estas permitiram desfrutar da natureza e do meio ambiente bem como proporcionar experiências a nível cultural.

Atividades de formação

Segundo Ander-Egg (2011, p.341) as atividades de formação “(…) deben ser modos de problematización para formar un sujeto crítico capaz de ser protagonista, al menos de su propia historia”. Atualmente exige-se às pessoas estar informadas devido às mudanças que acontecem repentinamente na sociedade. (Ander-Egg, 2011). Como refere Ander-Egg (2011, p.343) os temas destas atividades devem ser “(…) de interés a nivel personal, grupal o institucional y que afecte a algunos aspectos de la vida de determinados grupos, sectores o personas, o al conjunto de la comunidad”. Mais do que formar estas atividades tiveram como propósito a conscientização dos idosos para determinados temas quer eram do seu interesse. Estas foram criadas para fornecer aos idosos informações e conhecimentos, servindo para que estes desenvolvessem o seu espírito crítico relativamente à realidade em que vivem (Ander-Egg, 2011).

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Como refere Ander-Egg (2011), estas atividades devem proporcionar momentos de reflexão e diálogo, promovendo, assim, a tomada de consciência.

No documento Energia sénior : um projeto de animação (páginas 66-74)