No presente Relatório Ambiental, e tal como já foi referido, procedeu-se a uma reavaliação do trabalho desenvolvido na fase de Relatório de Âmbito no que à definição dos Factores Críticos/Objectivos da AAE diz respeito, própria de uma fase de maior detalhe, e de integração de contributos variados.
Da análise dos principais aspectos da situação actual, dos diferentes documentos que compõem o QRE do PERH e suas temáticas e das orientações estratégicas do PERH, resultou a identificação de uma lista de questões relevantes, designadas por Temas de
Sustentabilidade, que traduzem as principais preocupações da equipa da AAE no que se
refere à intersecção dos objectivos e orientações estratégicas do PERH para o sector dos resíduos hospitalares com as problemáticas de natureza ambiental, no seu sentido mais lato, que a gestão dos resíduos hospitalares levanta.
Este temas de sustentabilidade foram, posteriormente, agrupados nas grandes áreas temáticas de análise - os Factores Críticos – sendo que, deste conjunto de temas retiveram-se os aspectos mais relevantes que foram definidos como os Objectivos da AAE. Trata-se da determinação dos elementos que interagem com o Plano (afectados ou afectantes) de forma significativa, face à realidade territorial e ambiental, aos objectivos de sustentabilidade e aos objectivos do próprio Plano.
Os Factores Críticos (e os Objectivos da AAE), por sua vez, encontram-se relacionados, directa e/ou indirectamente, com os aspectos ambientais referenciados no Decreto-Lei n.º 232/2007, de 15 de Junho, apresentando-se no Quadro 19 a respectiva correspondência. Cabe aqui realçar que as questões relacionadas com a gestão dos resíduos, pela sua transversalidade, acabam por ter efeitos, directos e/ou indirectos, em quase todas as componentes ou factores ambientais, tal como se pode observar neste quadro, o que reflecte o carácter integrado destas questões e a necessidade de abordagens igualmente integradas para a resolução dos problemas.
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Quadro 19 – Factores Críticos e Objectivos da AAE e Relação com as Questões
Ambientais constantes no Decreto-Lei n.º 232/2007, de 15 de Junho
FACTORES
CRÍTICOS OBJECTIVOS DA AAE
QUESTÕES AMBIENTAIS CONSTANTES DA LEGISLAÇÃO NACIONAL GESTÃO DE RESÍDUOS
OAAE 1- Reduzir a produção de resíduos hospitalares
Água, Solo, População, Saúde Humana, Bens Materiais, Atmosfera, Biodiversidade, Fauna, Flora OAAE 2 - Aumentar a quantidade de resíduos
encaminhados para reutilização, reciclagem e outras formas de valorização
Assegurar que à utilização de um bem sucede uma nova utilização ou que se procede à sua reutilização ou ainda a outras formas de valorização. Neste Objectivo estão incluídos aspectos como a promoção da separação dos resíduos na fonte e da recolha selectiva.
OAAE 3 – Reduzir a perigosidade dos resíduos hospitalares
OAAE 4 – Promover a lógica do ciclo de vida dos materiais
Associado a este objectivo está implícito o princípio da responsabilidade pela gestão – a gestão do resíduo constitui parte integrante do seu ciclo de vida, sendo da responsabilidade do respectivo produtor.
OAAE 5 - Promover a auto-suficiência (devendo os resíduos hospitalares serem tratados preferencialmente em território nacional) e o princípio da proximidade
As operações de gestão de resíduos devem decorrer preferencialmente em território nacional e devem ser reduzidos ao mínimo possível os movimentos transfronteiriços de resíduos.
OAAE 6 – Assegurar um tratamento e destino final adequado para os resíduos hospitalares
POPULAÇÃO E SAÚDE
OAAE 7- Promover a protecção da saúde humana
População, Saúde Humana, Bens
Materiais OAAE 8 - Promover a cidadania e o princípio da
responsabilidade do cidadão no processo de gestão de resíduos
Promover a adopção de comportamentos de carácter preventivo em matéria de produção de resíduos, bem como práticas que facilitem a respectiva reutilização e valorização, através da divulgação/sensibilização junto do público geral.
VALORES NATURAIS E CULTURAIS E SUSTENTABILIDADE
TERRITORIAL
OAAE 9 - Proteger a biodiversidade, paisagem e património Biodiversidade, Fauna, Flora, Paisagem e Património, População OAAE 10 – Assegurar a compatibilização com as
orientações de gestão territorial
QUALIDADE AMBIENTAL
OAAE 11- Proteger a degradação da qualidade ambiental (qualidade do ar e da água, solo e ruído)
Neste objectivo está implícita a protecção da degradação da qualidade do ar, a protecção do bom estado químico e ecológico das massas de água, a qualidade dos solos e minimizar as emissões de ruído)
Água, Solo, Atmosfera, População, Saúde Humana, Factores Climáticos e Bens Materiais OAAE 12- Promover a redução das emissões de gases
FACTORES
CRÍTICOS OBJECTIVOS DA AAE
QUESTÕES AMBIENTAIS CONSTANTES DA LEGISLAÇÃO NACIONAL OAAE 13 – Minimizar os impactes associados ao
transporte de resíduos hospitalares
OAAE 14 – Assegurar o bom desempenho ambiental das unidades de tratamento de resíduos hospitalares
INOVAÇÃO, CONHECIMENTO E
FORMAÇÃO
OAAE 15 - Aumentar a informação sobre resíduos
hospitalares e assegurar a sua fiabilidade.
População, Saúde Humana
e Bens Materiais OAAE 16 - Promover o conhecimento, a formação e a
inovação/investigação na gestão dos resíduos
hospitalares
OAAE 17- Potenciar o uso das Melhores Técnicas
Disponíveis (MTD) no tratamento dos resíduos
hospitalares
GOVERNANÇA
OAAE 18 - Actualizar e adequar o quadro legislativo em matéria de gestão dos resíduos hospitalares e melhorar a
sua aplicação
População, Saúde Humana
e Bens Materiais OAAE 19 - Promover mecanismos adequados de controlo
e fiscalização da gestão dos resíduos hospitalares
Descrevem-se seguidamente os fundamentos para a consideração dos Factores Críticos:
Gestão de Resíduos
O Factor Crítico “Gestão de Resíduos” reflecte, essencialmente, os aspectos relacionados com a necessidade de gerir os resíduos hospitalares de forma sustentável, nomeadamente no que se refere à redução das quantidades produzidas e do seu nível de perigosidade, ao aumento da valorização e reciclagem desses resíduos e à garantia de um tratamento e destino final adequado.
A prevenção ou redução da produção de resíduos hospitalares é um dos pilares base em que assenta a presente estratégia do PERH, em alinhamento com o preconizado no regime jurídico de gestão de resíduos, que estabelece a prevenção como um objectivo prioritário da política de gestão de resíduos (artigo 6.º do Decreto-Lei n.º 178/2006, de 5 de Setembro).
Do ponto de vista ambiental a prevenção da produção dos resíduos hospitalares tem impactes positivos, directos nalguns casos e indirectos noutros, já que implica um menor consumo de recursos, uma menor necessidade de transporte de resíduos e, consequentemente, menores impactes sobre o ambiente associados a esse transporte. Implica, ainda, uma menor utilização de aterros, menores emissões de gases de efeito de estufa e menores emissões e descargas de efluentes.
População e Saúde
O Factor Crítico “População e Saúde” traduz a necessidade da gestão de resíduos hospitalares ter em conta as populações de duas formas: enquanto garante da
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salvaguarda da saúde pública dessas populações, e numa perspectiva de envolvimento dessas mesmas populações no processo.
A protecção da saúde humana é um princípio basilar da sociedade e, como tal, deve ser encarado como um aspecto a assegurar em qualquer processo de planeamento. Numa época em que cada vez mais o envolvimento do cidadão é assumido como essencial para a prossecução de um desenvolvimento sustentável, torna-se imprescindível que este faça parte integrante do modelo de gestão de resíduos. Torna-se, assim, de extrema importância o desenvolvimento de mecanismos de divulgação de informação, de promoção da educação e formação ambiental, de consulta e participação nas tomadas de decisão ou de outras formas de responsabilização ambiental. Com efeito, o cidadão pode contribuir de forma determinante no processo de gestão dos resíduos hospitalares ao adoptar comportamentos de carácter preventivo em matéria de produção de resíduos bem como práticas que facilitem a respectiva reutilização e valorização.
Valores Naturais e Culturais e Sustentabilidade Territorial
A introdução do Factor Crítico “Valores Naturais e Culturais e Sustentabilidade Territorial” reflecte a necessidade de a gestão de resíduos hospitalares assegurar a minimização de interferências com zonas de interesse natural e cultural, quer de interesse ecológico, quer a nível de paisagem e dos elementos patrimoniais e, simultaneamente, assegurar que as interacções com o território se fazem em respeito às orientações constantes nas políticas de ordenamento do território.
Qualidade Ambiental
No Factor Crítico “Qualidade Ambiental” foram incluídos os aspectos mais directamente relacionados com o ambiente, no seu sentido lato. Está, assim, em causa a necessidade de proteger a qualidade do ar e o bom estado das massas de água, bem como os aspectos relacionados com o ruído e com os solos. Consideraram-se, ainda, as questões relacionadas com as alterações climáticas, traduzidas na necessidade e compromisso, a nível nacional de redução da emissão de gases de efeito de estufa. A garantia de um bom desempenho ambiental das unidades de tratamento e de resíduos e a minimização dos impactes associados ao transporte dos resíduos hospitalares são questões tidas em conta na presente análise.
Conhecimento, Inovação e Formação
O Factor Crítico “Conhecimento, Inovação e Formação” conhecimento e inovação em matéria de resíduos hospitalares são factores determinantes para a sua gestão, nomeadamente no que respeita à aplicação das Melhores Técnicas Disponíveis (MTD). A formação do pessoal especializado é determinante para o sucesso da estratégia a seguir.
Governança
O Factor Crítico “Governança” sustenta as preocupações da adaptação e harmonização do enquadramento legal em matéria de resíduos hospitalares e sua adequação ao conhecimento tecnológico e inovação, da concertação das competências das entidades que superintendem esta área e da prossecução da responsabilidade pela gestão por parte dos produtores, entre outros aspectos.