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MAPA 3.2 – Mapa da Violência Contra a Pessoa Idosa na Cidade de Aracaju/SE

4.1 A fala dos idosos

CASO 1: SEU CLÁUDIO, 61 ANOS

O contato inicial com Seu Cláudio foi bastante amistoso. Ele se colocou prontamente a conversar comigo e a me contar um pouco da sua história de vida e dos fatos que o trouxeram até o CAGV, não apresentando nenhum tipo de resistência ou de desconfiança em relação ao meu contato e às perguntas que ora eu lhe fazia. Seu Cláudio me contou que possuía sessenta e um anos de idade, que nascera em um município do estado de Alagoas, mas que, há muitos anos, já reside em Sergipe e que já era a terceira vez que estava comparecendo ao CAGV, para prestar depoimento às autoridades policiais, em relação a conflitos envolvendo seus filhos. Carpinteiro, ainda atuante, bastante religioso (evangélico), com alguns problemas de saúde (hipertensão e diabetes) e viúvo há pouco mais de dois anos, foi-se mostrando muito desenvolto com as palavras e com as lembranças. Fomos para a “cozinha” do Centro, onde o “jovem idoso” pôde falar-me mais sobre o que estava se passando e sobre o seu caso. Seu Cláudio, vindo de uma família numerosa de doze irmãos do primeiro casamento de seu pai e de mais cinco filhos que este tivera com uma segunda mulher, relatava que vinha de “outro tempo”, de uma época onde os mais velhos, em geral, eram bastante respeitados na comunidade e na sociedade, onde os pais eram mais severos em suas criações, mas, nem por isso, deixavam de ser amados por seus filhos, que lhes temiam, por conta das surras, mas que também os respeitavam com ternura e não os abandonavam, em hipótese alguma, no momento de suas velhices.

“Eram momentos difíceis. A gente mal tinha com o que comer. Meu pai pôs os filhos todos, homens e mulheres, pra trabalhar na roça, no cabo da enxada. Poucos foram os que estudaram. O que chegou a estudar fez muito, até o primário, que foi uma irmã minha. Aquela época ela era quase uma ‘dotora’. Estudou mais por causa de minha mãe, porque, se fosse por meu pai, tinha ficado na roça [...] Ele [o pai] ainda ouvia um pouco a véia [a mãe] e fez essa vontade [...] Mas a gente precisava trabalhar, senão morria de fome” (CLAUDIO, 61 ANOS).

Na fala do idoso há um retrato das dificuldades econômicas e privações diversas pelas quais passavam as famílias numerosas, de dez, quatorze, dezesseis filhos, tendo como recurso para superá-las ou, pelo menos, minimizá-las, a colocação de todos os membros da família para trabalhar, para conseguir o sustendo familiar. Poucas – para não dizer nenhuma – eram as políticas públicas à época, que pudessem ser acionadas para amparar estas famílias em situação de pobreza, com restrições alimentares severas. Os critérios de elegibilidade destas

pessoas também eram muito personalizados e bastante questionáveis, sendo realizados ao bel prazer das lideranças políticas locais, que tratavam o sofrimento dos pobres e de suas necessidades básicas como moedas de troca para a aquisição de votos e do controle político na região, fazendo da assistência aos pobres uma espécie de cabresto, visto, inclusive, por muitos dos “assistidos”, como uma “benesse”, uma caridade, exaltando-se, assim, a bondade dos “coronéis abençoados”.

“Não pude estudar e ter melhores oportunidades, mas, não culpo os meus pais, a vida era muito dura, a pesar que eu sinto falta [...] Era um tempo de muito respeito, sabe? A gente dava a bença às tia véia de lá, ...'a bença, minha tia', 'a bença minha madrinha', eu dizia. Ééééé, era assim mesmo, todo mundo..., eu, meus irmãos e o povo mais moço [...] e ai de quem não respeitasse... a reclamação chegava lá em casa, e 'o coro comia solto'! Meu pai batia de reio de cavalo. Minha mãe batia mais, mas, meu pai, quando pegava, era uma vez só [...] Mas, eles não fazia por mal, e nós nunca ficamos com raiva, com mágoa de nenhum deles” (CLAUDIO, 61 ANOS).

A fala do idoso relata as poucas oportunidades que teve no passado, por conta das condições sociais e econômicas, seja para o estudo, seja em suas implicações nas oportunidades futuras de trabalho. Contudo, o mais relevante para este estudo é a revelação de um tempo passado, no período de menino, de filho, onde as relações familiares eram estabelecidas com base no respeito aos pais (principalmente ao pai), no educar de forma bastante rígida, onde as “surras” eram presentes, e possuíam importância nas relações sociais dentro de casa, fazendo parte do cotidiano dos filhos e das relações familiares, mas, sem ter um caráter de violência, como Seu Cláudio destaca no fato de “não ser por maldade” que os pais os batiam. Provavelmente tenha sido esta a educação que tiveram de seus pais e era desta única forma que souberam educar os seus filhos.

O “respeito aos mais velhos” também é um registro marcante que aparece durante quase toda a transcrição desta narrativa, no trato com as “tias e às madrinhas velhas da comunidade”, mesmo que estas, muitas vezes, não fossem nem suas parentes, mas que, devido ao nível de respeito, consideração e confiança que possuíam à época, principalmente em comunidades pequenas, eram identificadas, desta forma, a partir de sentimentos que estavam fortemente fundamentados na idade e na experiência destas velhas senhoras, que possuíam papéis centrais na vida em comunidade e na organização da cultura, seja como

parteiras; como condutoras das rezas nas igrejas; no encomendar dos corpos, em funerais ou

no receitar de ervas medicinais. O respeito estava ai, fortemente centrado na “tradição” e na “cultura”, em municípios interioranos, com poucos recursos, onde ainda não se tinha a

presença de hospitais, para a realização dos partos; missas e cultos religiosos, transmitidos pela televisão ou pela internet, em tempo real; planos funerais, ou mesmo; as farmácias, para a aquisição de medicamentos fabricados em escala industrial. É evidente que a modernidade tem a ver com o poder e a importância que estas “velhas senhoras” tinham no passado e o que elas possuem nos dias atuais, o que, em muito, confirma-nos o depoimento de Seu Cláudio.

Ao falar sobre a família que constituiu, o idoso relatou que teve dez filhos, mas que hoje possui apenas oito, pois, dois já haviam falecido. Mencionou que nunca tivera antes problema com nenhum deles e que todos eram bastante unidos, que sempre o respeitaram, bem como à sua falecida esposa. Seu Cláudio informou que sempre fez questão de criar os filhos de outra forma, diferente da qual fora criado por seus pais, no que diz respeito às surras. Que nunca bateu em nenhum dos seus filhos e que, como um homem bastante religioso, temente a Deus, sempre fez questão, desde o início, de pô-los no caminho da Igreja.

Contou que a situação em relação a sua família começou a se alterar após alguns meses decorridos da morte de sua esposa. A família teria se afastado dele, os filhos não estariam mais lhe dando tanta atenção e que o mesmo teria até se questionado se os filhos só o visitavam porque a mãe deles [sua esposa] estava viva. Mas, com o tempo, a situação de conflitos, que existia por parte dos seus filhos, passou a ficar mais evidente, logo depois de Seu Cláudio ter conhecido uma outra mulher e passar a conviver com esta na casa em que também havia sido de sua ex-esposa, passando o idoso a ser xingado, ameaçado e perturbado de várias formas, cotidianamente. A partir destes fatos, o idoso relata ter passado a compreender melhor o que estava se passando.

“Eu não sei se foi por ciúmes, né? De achar que a mãe morreu, e tava com pouco tempo, que eu devia passar mais [tempo sem ter outra mulher], e aquele negócio todo... Na verdade, não teve essa conversa não. O problema deles [filhos] era o problema de cada um que quer a sua parte [herança da casa], essa é que é a verdade [...] Inclusive, descobrimos [idoso, delegada e

advogada] que o problema todinho é a casa mesmo” (CLAUDIO, 61 ANOS).

Seu Cláudio relatava lamentar muito que tudo isto estivesse acontecendo por conta de interesses materiais, que as desavenças em sua família tivessem como pano de fundo uma propriedade, uma herança que estava sendo reivindicada sem que ele sequer tivesse falecido. A violência começava a sair então do âmbito das ofensas morais para acusações mais sérias. Além de ser xingado várias vezes, por suas filhas, de “velho safado”, “velho sem vergonha”, Seu Cláudio passou a ser acusado de ter cometido um estupro contra uma de suas netas. Para ele este foi um dos piores momentos de sua vida, não tanto pelo medo da “justiça dos

homens”, de ser preso, processado ou de ser mal visto pela sociedade, pela vizinhança e pelos demais familiares, mas, principalmente, por saber que estava sendo acusado, por suas próprias filhas, de cometer um crime tão hediondo quanto o de estupro e, mais ainda, contra uma de suas netas, uma das que ele mais gostava.

“Meu amigo, eu fiquei arrasado, arrasadíssimo! Não sou mais o que eu era, nem hoje e nem

nunca. Eu, como cristão, vou lhe dizer, se Deus dissesse assim: ‘Oi, Cláudio, você vai morrer

e só vai ser salvo através do perdão’. Ai eu perdoava, com certeza. Mas só nessa situação. Mas, caso contrário, ... pelo que eles me fizeram, e pelo que eu já fiz por eles? [...] Meu amigo, olhe, eu não quero nem tá falando em determinadas coisas,... se eu pudesse até dizer que não era minha filha, eu dizia, ‘não é, nenhuma, nem minha filha nem meu filho’, porque eu não esperava isso, sinceramente” (CLAUDIO, 61 ANOS; grifos meus).

O idoso comentava a situação que estava passando, àquela altura, com lágrimas nos olhos, tentando disfarçar os vários sentimentos de emoção, tristeza, dor, revolta, humilhação, decepção etc. os quais estavam sendo vivenciados por ele. Seu Cláudio também menciona ter sofrido agressão física por um dos seus filhos que, segundo ele “teria ido nas águas das irmãs”, ou seja, teria sido influenciado por elas, persuadido a fazer o que fez...

“[...] Quando eu entrei na minha casa, sem ver ele [o filho], assim, do nada [...] ai, quando eu fui vendo, já fui recebendo um murro, do meu filho, esse que era meu amigo. Ai, pronto, cai. Quando eu cai, desmaiei, e ai já não sei contar mais nada [...] Me levaram para o hospital, para a Delegacia [...] Ai, no outro dia, eu já tava mais ou menos né? Todo machucado, me levaram pra fazer corpo de delito, e agora tá tudo ai [CAGV]” (CLAUDIO, 61 ANOS; grifos meus).

Seu Cláudio contava ainda que, no CAGV, após a agressão que havia sofrido de seu filho, ouvira de um senhor de meia idade, com problemas semelhantes aos seus, a seguinte afirmação: “Se o senhor tivesse feito o que eu fiz com o meu filho [o esmurrou], o seu não

tinha ido em cima do senhor”. Foi a primeira vez que o idoso passara a repensar a criação que

dera aos seus filhos, admitira, mas que, logo após, descartara tal possibilidade. Seu Cláudio se mostrava ressentido, magoado, decepcionado com o comportamento de seus filhos para com ele e, principalmente, diante de toda aquela situação vexatória a que estava sendo submetido, revelando-se, em alguns momentos, inclusive, um tanto quanto cético para com as relações familiares atuais, não só as suas próprias, mas também, para com as relações familiares na sociedade.

“Eu tenho certeza que eles, se tivessem amor ao pai... e é por isso que eu sou um pouco meio “desdeixado” [desinteressado, desligado] de televisão, porque, quando eu vejo 'Ah! É porque o meu filho fez isso...”, e se abraçando na televisão, aquele 'amor de hipócrita', eu não acredito!... Se eles tivessem Deus, eles não faziam isso comigo, por mais velho que eu fosse,

eles me abraçariam, como me abraçavam há tempos atrás” (CLAUDIO, 61 ANOS; grifos meus).

“Meu amigo, às vezes eu me pergunto: 'por que aconteceu isso?', 'por que tá acontecendo isso?'. Então, eu concluo que é coisa que só Deus pode colocar na nossa cabeça [...] Violência? Eu sei que vai acontecer, com certeza, porque isso é bíblico, todo mundo sabe. Porque o que tá acontecendo é filho contra pai, pai contra filho, nação contra nação [...] não vai passar porque podem passar todas as coisas, mas a palavra de Deus não passa, não haverá de passar” (CLAUDIO, 61 ANOS).

A religião e a fé que possui o idoso também são alguns dos elementos que o ajudam a superar este difícil momento de sua vida, ao refugiar-se, às vezes de forma resignada, em palavras que já eram professadas, há séculos, e que já explicariam, segundo os seus valores, os atuais acontecimentos em sua família. Ao ser perguntado, no final de nossa conversa, sobre como ele veria a importância e o papel do idoso na sociedade e na família de hoje, Seu Cláudio não poupou esforços para tecer críticas ao destino dos mais velhos no “hoje”, comparando-os aos idosos do “ontem”, a partir, inclusive, de suas experiências particulares.

“O idoso, hoje em dia, tá desamparado pela família, que não devia acontecer isso, não devia acontecer. [...] Devia ter amor, 'o meu pai tá velho? Eu vou cuidar dele!'. Mas, só uma coisa: 'cuidar sem interesse!'. Infelizmente, hoje em dia o que nós vê é o jovem cuidar de um avô, cuidar de um pai, por interesse, e isso não é legal. O legal é eu dizer que cuidei do meu pai até a morte, com oitenta anos, dividi tudo, nunca precisei de nada dele [...] Infelizmente, não foi acontecido assim comigo, e os idosos, hoje em dia, estão sendo “escravejados” através da família, sendo amparados por outros [asilos] que não têm nada a ver. Porque o bom princípio começa na família. A família tá desmoronada e tá deixando todos os idosos e seus pais ai, ao léu” (CLAUDIO, 61 ANOS; grifos meus).

Assim, as violências moral e física são um retrato do que tem ocorrido com parte dos idosos, em contextos modernos, sendo que, no caso de Seu Cláudio, sua história de vida, de vivência pessoal de violência, passa a ser emblemática neste estudo, tendo em vista que o seu perfil (homem; jovem idoso, dentro do recorte de idade da primeira faixa-etária adotada por esta dissertação; viúvo, mas, recentemente, em convivência marital; com baixo nível

educacional; vítima de violência por parte dos filhos; etc) passa a configurar os dois tipos de

violência que ressaltei e analisei no capítulo anterior, como sendo mais frequentes aos homens

CASO 2: DONA HELENA, 80 ANOS

O contato com Dona Helena foi um pouco mais complicado. Por conta dos seus oitenta anos de idade e de alguns problemas crônicos de saúde – a exemplo do diabetes que, como consequência, afetou a sua visão, além de um histórico de acidente vascular cerebral (AVC), diminuindo ainda mais a sua capacidade funcional e de locomoção – a idosa apresentava estar muito debilitada. Contudo, mesmo um pouco assustada e confusa, apresentou um bom estado de lucidez, o que possibilitou que conversássemos sobre sua situação, em particular. Fomos para uma sala que fica próxima a uma espécie de pátio do CAGV. Não foi fácil conversar com Dona Helena naquele ambiente, pois, havia um trânsito frequente de policiais a trabalho e que, além da presença, também conversavam entre si, o que, por vezes, retirava um pouco a nossa (minha e de Dona Helena) atenção. A “cozinha” do CAGV, com todos os seus problemas de privacidade, talvez se apresentasse como um local melhor para conversarmos, o que não pôde ser possível devido às condições de mobilidade da idosa, sendo sua acessibilidade dificultada para tal lugar.

Ao conversarmos, Dona Helena me contou, com uma voz bem cansada, de tão baixa, que havia nascido em uma cidade do interior sergipano, próxima à capital, que era viúva há quase duas décadas e que havia tido onze filhos, mas um já havia falecido, restando-lhe ainda dez filhos. A idosa mencionou nunca ter trabalhado, por conta do marido, mais velho que ela quinze anos e que, quando foram morar juntos, ela tinha quinze anos de idade. Seu esposo nunca a deixara desenvolver atividade profissional alguma fora de casa, sendo o “provedor material” do lar. Estava no CAGV por indicação de um policial civil, que a conhecia e sabia de seu sofrimento, levando-a até a instituição para prestar uma queixa. Dona Helena reclamava do “abandono” dos seus filhos, que não a estariam ligando mais, principalmente depois do seu derrame, acerca de seis anos. Que passariam de quinze dias a um mês para vê- la, visitá-la, mesmo morando tão próximos e tendo ela tantos problemas de saúde, como informava Dona Helena.

“Meu filho, veja a situação tão grande que eu me assujeitei, que eu não guento mais [...] Meus filhos tão muito... me deixando de lado, não tão ligando pra mim... Eu tive um derrame... que tô sozinha e não posso fazer nada. Às vezes, quando me sento assim, às vezes me levanto e as pernas caem, e eu caio no meio da casa. Às vezes vou no quintal, caio, escorrego, uma vez caí no quintal e abri a cabeça, tive até que ir pro hospital... perdi muito sangue... e ainda não botam uma pessoa pra ficar comigo, meu filho!, dentro de casa, pra fazer as coisas pra mim. Eu já não enxergo nada, por causa da diabetes... eu não vejo mais, não assino mais nada [...] tenho duas bíblias, lia e hoje em dia não abro uma bíblia mais pra ler” (HELENA, 80 ANOS).

A idosa ressalta todas as suas limitações e reafirma a necessidade de hoje, na velhice, mais do que nunca, necessitar dos cuidados de uma pessoa, que, ao seu ver, deveria ser os seus filhos, mas, na impossibilidade destes, que uma pessoa pudesse tomar conta dela, pois, não estaria mais em condições para fazer as suas coisas, as atividades domésticas, seu próprio alimento. A presença de uma pessoa por perto também se justifica em relação ao medo que a idosa possui de ter um problema de saúde, passar mal, sofrer um acidente, e não contar com ninguém para socorrê-la, a exemplo das “quedas”, que têm sido um dos principais motivos de morbidade entre as pessoas idosas, principalmente entre os idosos com idade mais avançada, onde se constata que as quedas foram responsáveis por cerca de 8,9% das mortes de pessoas idosas, ocupando a segunda posição entre as principais causas de morbidade no Brasil, no ano 2000, sendo que as principais vítimas foram mulheres, acima de 80 anos. Para estas últimas o índice é quase quatro vezes maior, com 33,6% de ocorrência (MINAYO, 2004, p. 22), caso de Dona Helena. A idosa me informava ainda que, por várias vezes, reclamava com seus filhos sobre a falta de atenção, de carinho para com ela, e que não estava pedindo muito, que não era nenhum absurdo o que ela queria e que só precisava de atenção.

Dona Helena também se mostra indignada com seus filhos, devido à situação a que chegou, de estar “mendigando atenção e cuidados”, como ela mesma ressaltou.

“Eu tive derrame tá com seis anos, e desses seis anos pra cá que eu preciso de uma pessoa pra me cuidar, e eles não querem botar, eles podem pagar uma pessoa pra mim [...] até o povo de lá [vizinhança] tudo reclama, porque eu vivo sozinha e eles, podendo pagar uma pessoa, e não querem pagar...o que? R$400,00, oi que dinheiro, meu fio! Eu disse: 'Minha gente!, quatrocentos reais é nada pra vocês? Vocês trabalham, tudo empregado... eu intero de meu salário, que tô ganhando quatrocentos e sessenta, eu intero, eu dô cem reais!'. Sabe o resultado? Ficaram tudo reclamando e saem, vão embora” (HELENA, 80 ANOS).

Os apelos feitos pela idosa, inclusive, oferecendo-se para custear parte dos gastos com uma cuidadora2, mesmo com o pouco que ganha de sua aposentadoria, não se mostraram suficientes para convencer e sensibilizar os seus filhos em relação a suas necessidades de cuidados, o que, visivelmente em seu relato, deixava a idosa muito triste, magoada com toda essa situação, mas, principalmente, em ver o quanto é fácil para seus filhos apenas discordar

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Sobre a importância do cuidador de idosos, tratei disso em trabalho anterior (JESUS, 2006), onde pude analisar a emergencial importância destes profissionais nas atuais sociedades modernas, tendo em vista o crescente número de idosos na atualidade, bem como as múltiplas demandas que têm sido colocadas por este segmento populacional, o que exige que Estado, universidades, entidades de controle e sociedade estejam, de forma