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A violência contra o “homem idoso”: a negação do “homem” por trás da

MAPA 3.2 – Mapa da Violência Contra a Pessoa Idosa na Cidade de Aracaju/SE

3.3 Análises dos números e dados institucionais acerca dos casos de violência praticada

3.3.2 A violência contra o “homem idoso”: a negação do “homem” por trás da

Vale ainda ressaltar e analisar uma importante configuração que o gráfico 3.1 nos possibilita discutir: a da violência cometida contra o homem idoso.

Conforme aparece nos dados indicados pelo gráfico 3.1, o número de homens idosos que foram vítimas de violência ainda é menor que o número de mulheres idosas. Contudo, à medida que se avança na variável idade, onde se tem o campo por faixa-etária, identifica-se que os homens idosos vão aparecendo com maior volume e visibilidade nos registros de casos de violência, sendo que, na última faixa-etária registrada (90 anos ou +), os homens idosos

possuem o mesmo percentual de chance que as mulheres, em relação à possibilidade de sofrerem algum tipo de violência. Por esta informação, é possível entender que, quanto mais

velho, quanto mais elevada for a idade do homem, maior é a possibilidade de que ele venha a se tornar vítima de violência.

Nos homens idosos mais jovens, observa-se que aparece um maior número de casos que envolvem a violência em seu aspecto físico e moral. Não foi possível precisar o número exato de casos onde os homens, de faixas-etárias diferenciadas, figuram como vítimas de um determinado tipo de violência, devido às dificuldades encontradas na coleta dos dados não sistematizados pela instituição pesquisada e que já foi alvo de meus esclarecimentos. Contudo, nos dados qualitativos, na observação e leitura de cada documento oficial produzido pelo CAGV, era notória a informação de que homens idosos, situados nas duas primeiras

faixas-etárias (principalmente na primeira), estavam sendo vítimas, mais frequentemente, de

casos de agressão física, de injúria, de perturbação da paz. A violência moral era registrada com altos índices de frequência e, não raras vezes, vinham sucedidas de práticas de violência

física, conforme relatos a seguir:

“Relata o noticiante que [...] estava na casa de um cliente, consertando um carro, quando foi agredido verbalmente pelo senhor V. e seu filho A., os quais lhes chamaram de ‘fuleiro’, ‘filho

de uma égua’; que o Sr. V. lhe ameaçou dizendo que iria arrancar o seu pescoço. Informa o

noticiante que o ocorrido foi pelo fato do senhor V. ter colocado seu carro na garagem da casa do noticiante, sem a sua autorização” (RPO – 2008/000349; grifos meus).

“Declara a noticiante que o seu genitor, o Sr. M.J.S., de setenta e sete (77) anos, é proprietário de um estabelecimento comercial, situado na [...]. Acontece que, no dia de hoje [...] o Sr. Conhecido por G., chegou embriagado e começou a fazer baderna, momento em que o seu genitor pediu que se retirasse do seu estabelecimento comercial, o qual, não gostando de ser repreendido, passou a agredir a vítima, o Sr. M., chamando-o de ‘marico velho’ e, em seguida, o empurrou violentamente contra o balcão. Que a sua genitora, a Srª. T.M.C.S., de setenta e seis (76) anos de idade, ao ver o seu genitor sendo agredido, dirigiu-se até o Sr. G. a fim de acalmá-lo, tendo este faltado com respeito para com a genitora e também a empurrado, a qual veio a desmaiar. Que, a sua genitora é portadora de problemas cardíacos e, por este motivo, encontra-se internada no Hospital” (RPO – 2008/000108; grifos meus)

Nos dois depoimentos relatados acima, dentre os vários registros encontrados no CAGV, é flagrante a tentativa dos agressores em intimidar os idosos do sexo masculino, buscando rebaixá-los, desafiá-los, humilhá-los em sua condição de homem. De fato, o que tem sido buscado neste tipo de conduta é a possibilidade de retirar do idoso a sua condição de posição masculina, a qual possui no vigor, na autodefesa, na possibilidade de reação e na honra, alguns dos principais símbolos da masculinidade. Para Bourdieu (2005) – um dos estudiosos que melhor conseguiu traduzir esta busca pela afronta à masculinidade dos homens – a estratégia aqui aplicada é a de “comparar o homem à mulher”, colocando-o na “condição

de mulher” e dando-lhe, desta forma, todas as características, atributos e valores que são atribuídos às mulheres, dentro de uma lógica que se traduz na passividade, fragilidade e

delicadeza. Assim, como afirma Bourdieu,

Compreende-se que, sob esse ponto de vista, que liga sexualidade a poder, a

pior humilhação, para um homem, consiste em ser transformado em mulher.

E poderíamos lembrar aqui os testemunhos de homens a quem torturas foram deliberadamente infringidas no sentido de feminilizá-los, sobretudo pela humilhação sexual, com deboches a respeito de sua virilidade, acusações de

homossexualidade ou, simplesmente, a necessidade de se conduzir com eles como se fossem mulheres [...] (BOURDIEU, 2005, p. 32; grifos meus e do

autor)

Ainda segundo Bourdieu, os homens passariam toda a sua vida buscando afirmar e reafirmar, cotidianamente, a sua condição de masculinidade, defendendo-a, honrando-a, em relação à sociedade, mas, principalmente, em relação aos outros homens.

Como a honra – ou a vergonha, seu reverso, que, como sabemos, à diferença da culpa, é experimentada diante dos outros –, a virilidade tem que ser validada pelos outros homens, em sua verdade de violência real ou potencial, e atestada pelo reconhecimento de fazer parte de um grupo de “verdadeiros homens” (BOURDIEU, 2005, p. 65; grifos do autor).

Neste sentido, os homens idosos também não estariam livres de tal tarefa. A velhice, assim observada, passa a contribuir para que a imagem da decrepitude, da senilidade e fragilidade, venha a submeter os homens idosos a situações que os distanciam do “mundo dos homens”, dos “verdadeiros homens”, como analisa Bourdieu (2005), do ideário de vitalidade e virilidade que se inscreve no mundo social, como um habitus socialmente construído e inculcado, como uma lei social incorporada (BOURDIEU, 2005), passando estes idosos – em alguns momentos de conflitos e em relação a agressores mais jovens que eles –, a serem constantemente provocados a se defender, a resistir, revidar, testar sua coragem, sendo sua condição de homem, seu Estatuto de “macho”, inferiorizado e desacreditado pelos demais. A condição masculina – que, em sociedades onde a questão de gênero ainda se coloca como um fator bastante desfavorável para as mulheres – também possui o seu lado negativo, sua

desvantagem, pois, para além dos ganhos que o fato de ser homem possa vir a trazer, nestas

estruturas sociais, é relevante ressaltar que “O privilégio masculino é também uma cilada e encontra sua contrapartida na tensão e contensão permanentes, levadas por vezes ao absurdo, que impõe a todo homem o dever de afirmar, em toda e qualquer circunstância, sua virilidade” (BOURDIEU, 2005, p. 65; grifos meus).

Não se encara mais o “velho” como um “homem”. Sua velhice – e tudo aquilo que se acredita ser próprio desta e dos que dela padecem – o rebaixa, retirando-lhe a virilidade, a força, a coragem, “adocicando-o” e o aproximando muito mais da imagem de mulher do que propriamente de homem. A virilidade, para os homens idosos, torna-se uma carga ainda maior de ser carregada. Sofrem e martirizam-se mais os velhos homens, pois, não só não possuem mais a mesma condição física de defenderem os seus, mas, principalmente, devido ao fato de nem a si próprios poderem defender. Sendo assim, tanto a violência moral – materializada em termos depreciativos como “marico velho”, “fuleiro”, “filho de uma égua” – quanto a

violência psicológica – “ameaçou dizendo que iria arrancar o seu pescoço” – representam,

nestes casos, uma ruptura, não só em relação ao Estatuto de homem, mas também, ao Estatuto de Idoso e de Ser Humano.

A disposição presente no gráfico seguinte também nos traz algumas informações relevantes em relação à violência praticada contra os idosos aracajuanos:

GRÁFICO 3.2 – Horário de maior incidência da violência praticada contra os idosos

Fonte: Pesquisa “Violência Contra Idosos em Aracaju”/Dados do CAGV (2008).

Os dados indicam que 78% das violências praticadas contra estes idosos e registradas no CAGV aconteceram durante o período do dia (entre às 06:00h e às 18:00h). Esta constatação revela que a violência praticada contra os idosos não é feita “na calada da noite”, às escondidas, longe dos olhos e do conhecimento público. A violência que acomete os idosos

é praticada à luz do dia, sem constrangimentos, sem restrições. Poucos foram os casos de

violência que ocorreram durante a noite e, mais raro ainda, foram os registros que diziam respeito a ocorrências durante a madrugada (em sua maioria, perturbação da paz).

Sobre os “denunciantes”, o gráfico 3.3 traz alguns dados relevantes para esse estudo: GRÁFICO 3.3 – Principais denunciantes da violência cometida contra idosos

Fonte: Pesquisa “Violência Contra Idosos em Aracaju”/Dados do CAGV (2008).

Os números trazidos pelo gráfico acima fornecem elementos importantes para a análise do contexto da prática de denúncias: do universo de casos de violência, em 72% deles

os próprios idosos foram os “agentes ativos” da denúncia. Esta informação refuta as idéias

iniciais, trazidas por alguns estudos sobre uma provável “vitimização absoluta”, uma vulnerabilidade extrema dos idosos, a qual se basearia no fato de que os velhos, em sendo vítimas de algum tipo de violência, não teriam a mínima condição para denunciá-la, não buscando, dessa forma, os seus direitos nem tendo como se defender contra a violência sofrida, reforçando assim, ainda mais, as tradicionais análises sobre a incapacidade dos velhos e a necessidade de tutelá-los permanentemente, subestimando seus potenciais e autonomias. Neste sentido, faz-se importante ressaltar a defesa de Britto da Motta sobre o perfil dos idosos na atual sociedade brasileira,

Não iria ignorar que existem os velhos abandonados ou desgarrados nas ruas, nos asilos e nos hospitais. Mas, também não vejo porque considerá-los, estatisticamente, maioria, e decalcar uma imagem social apenas dessa fonte negativa. Há, então, admitamos, uma variedade simultânea de velhices, mas,

a velhice ativa é a que parece, agora, predominar. (BRITTO DA MOTTA,

1999, p. 263; grifos meus).

Essa maior disposição dos idosos, em denunciar as violências sofridas por eles mesmos, tem demonstrado que eles, bem como a própria sociedade – através das pessoas e entidades que passam a auxiliá-los, neste tipo de situação, com orientações de “como e onde

denunciar” – têm estado mais informados, atentos e mais conscientes de que a violência cometida contra os idosos, passa a ser um crime, assim como a violência cometida contra a mulher (discutida com a Lei Maria da Penha), contra a criança e o adolescente (a partir do ECA), etc. Nestes casos, os idosos passam a não mais tolerar as agressões sofridas, resolvendo revelar a face da violência, formalizando a denúncia no CAGV.

Em outros casos e situações, a disposição do idoso para denunciar é dificultada por outros fatores (físicos, materiais, emocionais, psicológicos, etc.), passando a necessitar da ação de outras pessoas. Neste caso, os filhos – que também aparecem como os principais agressores – ocupam a segunda posição entre as pessoas que mais formalizam a denúncia de violência cometida contra os seus pais idosos, com 22% de frequência. Na maioria dos casos, estes filhos não residem com o idoso e com o agressor, mas, conhecem, sabem da existência da violência, das agressões, dos maus tratos. Os relatos também dão conta de que os filhos denunciantes tentam incentivar os idosos a denunciarem a violência, ou ainda, tentam buscar meios para conversar e convencer os agressores a cessarem a ação de violência, o que, por vezes, não tem surtido o efeito esperado, voltando às situações de violência a acontecerem, até que está seja finalmente denunciada no CAGV, ou em outras instituições.

Com menor frequência, no grupo de denunciantes, aparecem em seguida também os

netos (2%), demais conhecidos (2%) e outros parentes (1%).

Considerando-se que a maior representatividade numérica dos denunciantes é a dos próprios idosos que foram vítimas de violência, cabem aqui algumas análises pertinentes, com base nos dados apresentados na tabela a seguir:

TABELA 3.2

Faixa-etária dos idosos vítimas de violência e que “denunciaram pessoalmente” as agressões sofridas

HOMEM MULHER TOTAL

FAIXA-ETÁRIA n. % n. % n. % 60-69 anos 39 63 88 72 127 69 70-79 anos 13 21 32 26 45 24 80-89 anos 09 15 03 02 12 06 90 anos ou + 01 01 00 00 01 01 TOTAL 62 100 123 100 185 100

Um dado que chama a atenção diz respeito à relação estabelecida entre as variáveis

idade x denúncia. Conforme indicado na tabela, à medida que se amplia a faixa-etária do

idoso, pelo tempo de vida deste, percebe-se que, proporcionalmente, as suas disponibilidades e condições de realizar a denúncia vão caindo consideravelmente. Os idosos mais jovens, situados nas duas primeiras faixas-etárias (60-69 anos e 70-79 anos) são os que apresentaram uma maior quantidade de denunciantes da violência, dentre as próprias vítimas. Isto pode ser explicado devido à maior facilidade de mobilidade e melhor condição física, em relação aos idosos mais velhos, os quais compõem as duas últimas faixas-etárias (80-89 anos e 90 anos

ou +), onde os idosos mais velhos apresentaram maiores restrições de mobilidade e de saúde

para formalizar a denúncia, o que passa a interferir significativamente na disposição deste segmento etário a prestar uma denúncia de violência sofrida.

Dessa forma, a possibilidade de um idoso entre os 60 e 69 anos realizar uma denúncia

em que ele próprio foi vítima de violência é 69 vezes maior do que a de um idoso que chega à faixa-etária dos 90 anos de idade, por exemplo. Além disso, a própria “educação cidadã”,

orientada pelo conhecimento, pelo acesso a informações e a conscientização sobre direitos e deveres, por uma maior parcela da população, bem como na participação em eventos e na discussão de temas importantes para a sociedade e para os próprios idosos, geralmente, tem estado de forma mais presente e intensa ao lado dos idosos mais jovens, servindo a variável

idade como um elemento facilitador ou dificultador para a prática da denúncia.

Sobre a relação encontrada nas variáveis gênero x denúncia, observa-se que não há

uma diferença considerável entre homens e mulheres em suas disponibilidades para a denúncia. Ambos apresentam números muito próximos, onde, a questão mais relevante

continua sendo a categoria “idade”, em uma proporção inversa, onde se percebe que, quanto maior a idade do idoso, maior é a dificuldade que ele encontra para denunciar a prática de violência sofrida por ambos, tanto para as mulheres quanto para os homens idosos. Sendo assim, passo a observar os dados referentes à tabela a seguir:

Entre os idosos que tiveram as práticas de violência denunciadas por outras pessoas, observa-se que, quanto maior eram suas idades, maior era o percentual dos que necessitaram

da ajuda de uma terceira pessoa – a figura do “denunciante” – para realizar a denúncia.

Neste caso, 57% do total de idosos estavam situados na faixa-etária entre os 80 e 89 anos de idade, sendo esta a faixa etária com maior incidência das variáveis violência, velhice e

dependência por denunciante. Se considerarmos estes números a partir dos 80 anos em diante, este percentual se eleva para 81%. Em relação à variável gênero, observa-se que algo

muito semelhante ocorre em relação ao fator idade, tendo percentuais semelhantes para homens (60%) e mulheres (57%) na faixa-etária dos 80 aos 89 anos de idade. Para homens e mulheres idosos, a partir dos 80 anos de idade, os percentuais chegam a alcançar os 88% e 79% de prevalência, respectivamente, em relação à necessidade que possuem de que outras pessoas (denunciantes) formalizem a denúncia no CAGV.

Assim, identifico que a violência cometida contra a pessoa idosa apresenta agravantes com o avanço da idade, o que eleva também a dependência que estes idosos passam a ter em função de outras pessoas, não só para a questão dos cuidados diários, mas também, nos casos de violência, onde estes enfrentam múltiplas limitações, inclusive para realizar eles próprios a denúncia. Homens e mulheres idosos, a partir dos 80 anos de idade, podem encontrar algumas barreiras e limitações físicas, mentais ou emocionais consideráveis, o que aumentaria as suas condições de vulnerabilidade, em relação aos agressores e em comparação aos idosos mais jovens (60-69 anos).

A questão da violência contra a pessoa idosa, com idades mais avançadas, também passa a contar com outro elemento de análise a ser considerado. Quando o idoso convive somente com o agressor ou em famílias pequenas, onde inexista um controle maior de outros

TABELA 3.3

Faixa-etária dos idosos vítimas de violência, com denuncias feitas por terceiros

HOMEM MULHER TOTAL

FAIXA-ETÁRIA n. % n. % n. % 60-69 anos 00 00 03 05 03 04 70-79 anos 03 12 09 16 12 15 80-89 anos 15 60 31 57 46 57 90 anos ou + 07 28 12 22 19 24 TOTAL 25 100 55 100 80 100

familiares, ou ainda, quando este controle é bastante diminuto, não inibindo assim o tratamento violento do agressor para com o idoso, há uma maior probabilidade de se existir violência neste espaço familiar, onde poucos têm acesso ao cotidiano das relações sociais travadas no espaço privado. Esta afirmação passa a ser confirmada a partir da análise da maior parte dos relatos feitos pelas vítimas e demais denunciantes, onde é possível observar que existe uma presença diminuta de familiares convivendo com o idoso. Nesta identificação, ajudaria consideravelmente à compreensão da dinâmica familiar (quantos e quem são) se os RPO e B.O. passassem a contemplar um espaço onde se definisse da quantidade de pessoas que convivem com os idosos. Isto facilitaria, inclusive, a visualização da presença ou não de outros agressores; de alguém que daria suporte ao idoso, vítima de violência ou; se existia ou não a conivência e omissão por parte de outros parentes, em relação à violência familiar.

Contudo, a presença de outros membros no grupo familiar, de um número mais numeroso de pessoas, de parentes residindo sob o mesmo teto, também não se constitui em um fator de garantia de inexistência de violência contra o idoso, como pode ser observado nos registros a seguir:

“Informa o noticiante que o seu pai F. F. V., idoso de 98 anos, vem sendo perturbado por uma sobrinha constantemente, M. V. M., a qual é dependente de drogas e álcool. Informa que a referida não tem onde morar e vive tirando o sossego de toda família, inclusive do pai do

noticiante. Agora a suposta autora se alojou dentro da casa e não quer ir embora, fato muito constrangedor para todos, porque ela ingere bebidas e outras drogas para tirar a paz da família” (RPO – 2008/000253).

“Informa a comunicante que tem uma irmã M. J. S., idosa de 86 anos que vem sendo vítima de agressões e perturbações por parte de uma filha M. G. S. J., a qual tem problema com alcoolismo; informa a comunicante que até já levou essa sobrinha para morar na sua casa, porém, com esse problema de alcoolismo, não teve condição de ficar com ela, devolvendo-a para o filho, J. M. S., de 20 anos de idade, que também se nega a ficar com ela, porque a sua companheira não aceita a mesma, com isso, a suposta vítima foi levada para a casa da mãe. Ressalta que no dia 19 de abril do ano em curso, por volta das 11:00 horas, a comunicante esteve na residência de sua irmã e lá presenciou tais fatos, como agressões sendo praticadas pela filha de sua irmã e que se encontrava alcoolizada, muito agressiva e que ainda partiu para agredi-la” (RPO – 2008/000251).

Os depoimentos acima reafirmam a necessidade que estes idosos, de idades avançadas, possuem em relação à existência de outras pessoas – principalmente outros familiares, que possuem acesso e conhecimento da realidade que se processa dentro do espaço da casa – para que possam ser materializadas nas instituições de justiça e fiscalização, as denúncias de abusos, agressões e demais formas de violência praticada contra idosos.

Sobre a variável Estado Civil dos idosos, alguns elementos relevantes passaram a chamar a atenção: desconsiderando-se os casos em que o espaço do B.O. ou do RPO, referente ao Estado Civil das vítimas, encontrava-se em branco – ou seja, Não-Especificado – e, considerando-se, apenas, o valor do “Percentual Válido” desta informação, observa-se que a maior parte dos idosos era formada por viúvos (41%), sendo os casados (35%) aqueles que constituía a segunda maior frequência entre as vítimas, seguidos pelos solteiros (14%) e pelos

separados (10%). Também observo que a categoria gênero possui alguns elementos

relevantes, em relação à violência associada ao Estado Civil dos idosos. Em relação aos homens, os números indicam que a maioria das vítimas era composta por casados (45%), seguidos pelos viúvos (29%). Entre as mulheres observa-se uma inversão proporcional dos valores obtidos com os homens, tendo em vista que a maioria das vítimas do sexo feminino era composta por viúvas (47%), sendo logo em seguida composta pelas casadas (29%).

O número menor de viúvos do que de viúvas, entre as vítimas, pode ser explicado devido ao fato de que os homens, ao enviuvarem, tornam a contrair novos matrimônios, de forma mais fácil do que as mulheres. Para a mulher voltar a se casar, após um período de viuvez, não é tão comum quanto o é em relação aos homens, representando, inclusive, uma espécie de tabu para elas. As mulheres enfrentam algumas barreiras pessoais, emocionais e culturais consideráveis, o que interfere em sua opção de continuar ou não com seu estado de

viuvez. Desta forma, aparecem em maior destaque, os homens idosos casados, como

principais vítimas de violência, entre o sexo masculino e, do outro lado, as mulheres idosas