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6 Resultados

6.1 Categorização das entrevistas e do desenho-estória

6.1.3 Imagem de si, ideais e projeções

6.1.3.1 Imagem de si

Nesta subcategoria apresentam-se as avaliações subjetivas das mulheres sobre a imagem que elas têm de si mesmas, e como elas se percebem no relacionamento íntimo amoroso.

Primavera: confusa com os meus desejos e os desejos do casal [...] Ao mesmo tempo em que eu me sentia amada, eu me sentia insegura [...] não me submeteria [...] nem permitiria [...] crescimento em uma forma de me perceber [...] em uma relação [...] as minhas vontades e os meus desejos, elas têm que serem legitimadas [...] podem até não serem o que o outro quer. Lefey: insaciada [...] tudo aquilo guardado dentro de mim e eu já não podia dividir [...] Mas eu corria atrás [...] era [...] um ponto forte dele [...] canal [...] válvula de escape [...] me coloquei a prova

[...] de saber o que eu posso sentir por alguém, até que ponto eu posso ir [...] lidar com orgulho. [...] me ensinou a dar valor a mim mesma como mulher [...] que pensa [...] que sente [...] mas que ao mesmo tempo racionaliza [...] acaba jogando primeiro o racional e depois o sentimento,

meio que nessa coisa de desequilíbrio [...] me ensinou a dosar melhor os sentimentos [...] [e] a

racionalidade [...] [para] pensar melhor sobre os valores [...] não mendigar sentimentos.

Desenho 2, O teste drive (Anexo E): Ela se aventurava em provar o melhor de cada lugar.

Lanlan: me percebi desejada [...] me senti cuidada [...] não estou pronta ainda para [uma relação séria] [...] preciso evoluir [...] curar [...] para [...] me entregar [...] não só uma pessoa que me abro.

Desenho 2, Cumplicidade (Anexo F): A mulher do desenho está triste.

Ale: carinhosa [...] procuro me doar [...] cuidar [...] estava pronta para ajudar [...] [pegar e aprimorar

meus] pontos positivos e os negativos [...] madura [...] Tem briga [...] [mas] consigo me controlar

[...] mais confiança [...] me enxergo como mais mulher [...] conhecer o meu corpo [...] o medo [...] de me entregar [...] [de] mostrar sentimento [...] ficava [...] no meu mundo [...] uma autodefesa

[...] com medo de sofrer [...] me fechava [...] sou muito cabeça dura, eu gosto das coisas do meu

jeito [...] [preciso aprender] a ceder [...] achava que a culpa era minha, tipo, de não conseguir [...] que desse certo [essa relação] [...] [que era] estranha [...] surtada, que homem nenhum me queria.

Desenho 1, Amar e ser amado (Anexo G): Eu sou muito carente, comigo vai ter muito para falar.

Pollyana: sempre namorei muito, eu nunca fui de ficar [...] me envolvo muito rápido [...] não sei se é carência [...] não consigo ficar só, quer dizer agora eu estou conseguindo, mas eu mudei [...] São Paulo me mudou [...] está me fazendo ficar, não ficar carente [...] consigo viver sem estar namorando [...] [Sou] ciumenta [...] ciúme é insegurança [...] já me traíram, então não confio

[...] Às vezes eu acho que até é coisa da minha cabeça, que eu crio [...] até brinco, que eu namoraria comigo, porque eu sou fiel [...] carinhosa [...] pode ser que, tipo, eu tenha medo de ficar sozinha [...] Mas todos [os relacionamentos] foi eu quem decidi terminar [...] sou amiga

[...] às vezes eu sou até boba, porque eu faço tudo [...] para agradar [...] aceito [...] perdoei traição [...] honesta [...] tranquila [...] não tenho preconceito.

Taty: não soube lidar com a limitação dele [...] a partir do momento que o homem me deixa insegura [...] começo a ter medo. Mas eu sempre começo um relacionamento tranquila [...] converso,

sempre buscando alguma coisa nova, sempre conquistando [...] cuidando [...] Mas a partir do

momento que ele deixa uma lacuna de dúvida, ou de desrespeito, ou de mentira, aí eu já mudo

completamente [...] começo a ter ciúme, todas essas feridas mortais [...] sou muito compreensiva

[...] carinhosa [...] cumplice, amiga [...] sincera [...] mesmo que a pessoa não goste.

Alfa: dentro de um relacionamento sou uma parte. Fora dele, eu sou inteira [...] se eu não preservo [...]

a minha parte, umas certas questões da minha intimidade [...] perco aquilo que eu sou.

Michele Almeida: as mulheres estão muito fáceis [...] mulher é super fácil demostrar que está gostando [...] é mais coração [...] deve demostrar sentimento, independente de [...] se a pessoa gosta de você ou não [...] só não chorar [...] tem umas mulheres [...] grude.

[...] meus namoros, eles nunca duraram e não por mim, porque eu respeitava [...]

me sentia frustrada [...] nunca questionei [...] aceitava [...] ansiosa [...] querendo

ver a pessoa [...] com raiva [...] parecia que eu estava incomodando [...] apegada

[...] extrovertida, gosto de [...] animar [...] faço de tudo, tipo, para agradar.

Desenho 1, O amor de uma mulher (Anexo K): carinhosa, amável [...] Todos gostavam [...] alegria [...] ficou perdidamente apaixonada e não sabia como dizer.

Desenho 2, Uma moça sonhadora (Anexo K): se encontrou sozinha [...] triste na

chuva, com medo [...] depressão [...] fugiu [...] ninguém podia encontra-la.

Desenho 3, E de repente sem nada (Anexo K): amava trabalhar [...] segura de si [...]

um rapaz a para e diz que é um assalto [...] desesperada [...] sem chão.

Desenho 4, Tem sempre uma primeira vez para tudo: encontra esse lindo rapaz com

R: atrai homens que só gostam de sexo.

Sophie: era o porto seguro dele. [...] “contigo eu posso poso contar sempre, você e meu abrigo”.

Desenho 3, Família (Anexo M): para [...] [as] mulheres quase sempre uma criança é benvinda. Desenho 5, Traição (Anexo M): A mulher só trai se for traída, se falta algo em casa [...] se não

se sente mais amada.

Rhaiane: sou mais autoritária [...] o macho alfa [...] ele faz a coisas que eu quero, e eu não faço muitas vezes as coisas que ele quer [...] rigorosa [...] não fico sempre junto.

Desenho 2, A felicidade entre opostos (Anexo N): vergonha de ser olhada por preconceito de ser gorda [...] nunca estamos satisfeitos, sempre nos preocupamos com nosso corpo.

Pio: quando a gente mora longe da família a gente fica um pouco carente, fica mais dependente, enfim, quer se agarrar a algo para ter mais força [...] não converso muito [...] sofri com a xenofobia [...]

ignorantes que não sabiam da minha cultura [...] que desprezam a pessoas do nordeste [...] Não tenho uma vida amorosa muito antiga, ela foi ativada há pouco tempo, porque eu estudei em colégio

interno, só de meninas [...] a dificuldade é essa [...] o primeiro contato [...] se eu percebo esse respeito, esse carinho, aí é fácil, eu me abro.

Lanlan, Ale, Pollyana e Taty descrevem como algumas de suas dificuldades estavam relacionadas com feridas ocasionadas por relacionamentos afetivos passados, criando medos, inseguranças, ciúme e autodefesas. Pollyana, Ale e Pio falam das suas carências e de como elas motivam seus relacionamentos. Alfa destaca a importância de reconhecer-se como parte de um relacionamento, mas como um ser inteiro que mantem alguns aspectos íntimos para não perder o que ela é. Rhaiane aceita o fato de não precisar ficar sempre junto do parceiro, mas às vezes se percebe como autoritária e rigorosa porque o companheiro sempre fazia o que ela quer, enquanto ela não fazia muitas coisas que ele queria. Lefey e Sophie sentem que também proveram segurança para seus parceiros. R pensa que é uma mulher que atrai homens que gostam de sexo. Lefey descreve-se como uma mulher que se aventura, pensa e sente, embora algumas vezes racionalize demais.

Muitas entrevistadas percebem que a relação favorece seu crescimento, permitindo uma avaliação da própria personalidade em seus aspectos positivos e negativos. Em alguns casos, essas avaliações implicaram acrescentar valores que facilitam o relacionamento e definem a percepção de si mesmas, e também o fato de descobrir que a autoestima não pode depender da opinião do parceiro ou do sucesso da relação. Por exemplo, o amor e o cuidado experimentado permitiram a Primavera, Lanlan, Ale e Sophie se sentirem mais confiantes e seguras, descobrindo elementos significativos de seu corpo e de seu valor como mulheres. Lefey, Ale, Lanlan e Pollyana identificaram alguns conflitos e atitudes que precisam trabalhar para não repetir experiências negativas. Primavera e Lefey reconhecem que a avalição de si mesmas e dos desejos não pode depender da relação.

Nos desenhos de Lanlan (Desenho 2: Cumplicidade, Anexo F), Michele (Desenho 2: uma moca sonhadora, Desenho 3: E de repente sem nada, Desenho 4: Tem sempre uma primeira vez para tudo; Anexo K) e Sophie (Desenho 5: Traição, Anexo M) encontram-se algumas avaliações sobre as mulheres em geral. Quando nas cenas aparecem mulheres com olhos esvaziados, chorando ou sozinha, destacam-se as influencias negativas das experiências de desamparo, de traição, e de frustração para a autoestima. Nesses momentos, elas acreditam precisar do apoio, amor e cuidado que estaria representado na relação ou no parceiro. Os modelos sociais sobre a estética e a beleza do corpo também influenciam de forma significativa as avaliação subjetivas e os vínculos. Por exemplo, Rhaiane (Desenho 2: A felicidade entre opostos, Anexo N) explica que tinha vergonha de ser olhada pelo companheiro porque sofria pelo preconceito de ser gorda.

Nas cenas de traição, o corpo da figura feminina também é utilizado para representar a avaliação pessoal. No caso de Michele, a figura da “outra” aparece com o corpo mais destacado, enquanto no desenho de Sophie é a figura da mulher traída a que apresenta alguns reforçados. Quando Michele destaca a tristeza gerada pela experiência, mostra uma desvalorização de si mesma que é reforçada no contraste entre a figura infantil da mulher traída e os destaques do corpo da outra. Para Sophie a traição sempre acontece, seja no principio ou no final do relacionamento, acreditando que quase sempre é o homem quem trai. Sophie também sente dor nessa experiência, mas essa dor não se reflete na imagem de si mesma, e sim na união entre os parceiros que se representa pelas mãos que vão enfraquecendo cada vez mais em cada desenho, acontecendo no último a traição.

Diversas descrições parecem associar a imagem de si à persona ou com o ideal de como deveria ser a mulher, qualificando-a como: “mais coração”, carinhosa, sincera, cumplice, honesta, compreensiva, fiel, respeitosa, dedicada, atenciosa, valoriza e expressa os sentimentos, doar-se, entregar-se, aceitar e conquistar o parceiro e cuidar os filhos. A importância de expressar os sentimentos apareceu como um papel fundamental da mulher na relação amorosa ou como um aprendizado que se obteve nela, destacando suas tentativas para agradar o companheiro. Quando esses papéis não são cumpridos e a mulher não consegue manter a relação, aparecem sentimentos negativos como culpa, tristeza e frustração. Por outro lado, as imagens descritas por Michele, como uma mulher “grude, ansiosa, apegada”, ou aquela “liberal e fácil” que é valorizada pelo corpo e não pelos sentimentos, podem ser associadas com a sombra e com os conflitos identificados.

As avaliações positivas da imagem de si mesmas também são coerentes com algumas transformações identificadas na subcategoria ganhos e mudanças. Na autoanálise derivada dessas transformações, as mulheres mostram que se sentem responsáveis pela resolução dos conflitos pessoais, reconhecendo a importância de expressar as emoções ou de aprender a entregar-se afetivamente na relação. No entanto, seria importante pergunta-se por que elas se sentem as únicas responsáveis pela resolução dos conflitos do parceiro e pela manutenção da relação. Esse questionamento é fundamental para compreender alguns conflitos e sentimentos negativos que afetam a autoestima, porque eles surgem quando a mulheres não cumprem com os papéis atribuídos a sua persona feminina.