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CAPITULO II – A Escola como Organização: a Autonomia e a Burocracia na Avaliação Institucional

1. Traços identitários do agrupamento π

1.2 Imagem social do agrupamento

Tratando-se de um agrupamento recente a sua imagem está muito associada à imagem da escola sede. Tratando-se de um agrupamento que se situa no meio urbano, a escola sede, e o agrupamento, gozam de crédito na comunidade educativa, sendo um agrupamento procurado pelos alunos.

Esta imagem é assegurada desde sempre, na medida em que,

“esta escola tem muitos anos, foi criada em 1884, portanto, tem muitos anos e tem uma longuíssima tradição de ter, no seu corpo docente e na sua direção, pessoas que foram sempre atores importantes no meio social de [nome da cidade], pessoas de relevo. Houve sempre, desde sempre, um caráter de responsabilidade que fazia com que a escola fosse vista, muitas vezes, como modelo […] isto tem décadas, não é de agora” (E8CG, p. 1).

Segundo a maioria dos nossos entrevistados o agrupamento π continua a ter uma imagem muito positiva na comunidade educativa. Apesar desse facto as opiniões diferem, entrando mesmo em contradição, quanto à necessidade e à prática corrente do AE em transmitir para o exterior uma imagem positiva e daí tirar os respetivos dividendos (captação de alunos e maximização da imagem positiva do AE).

A diretora do agrupamento π considera que os docentes não se preocupam em transmitir aspetos positivos para a comunidade na medida em que pressupõem que o mesmo goza de capital de confiança na sociedade. Nesse sentido,

“a grande maioria dos meus colegas preocupa-se mesmo com os resultados e com a exigência na sala de aula. Às vezes até um bocado de exagero porque eles não se importam muito com a reputação externa. Se nós somos considerados uma escola que dá fracas notas: ‘ai eles têm que vir para cá, eles têm que estudar e é assim mesmo’. Portanto, ainda não perceberam a gestão política que temos que fazer dessa situação” (E3D, p. 10).

No mesmo sentido, defendendo que a valorização da imagem do agrupamento não é uma prática corrente, outro entrevistado refere que,

“não há muito a preocupação com a imagem transmitida para o exterior. Não há. Ao contrário daquilo que eu vejo noutras escolas, que fazem grandes campanhas para apanhar alunos, prometem coisas, aqui isso não existe, pelo menos não existe a esse nível. Porquê? Porque esta escola tem uma boa imagem. Quem tem boa imagem, ou quem acha que tem boa imagem, e tem autoestima, se é que isso se pode falar em relação a um corpo tão complexo como uma escola, em boa verdade, não há essa preocupação” (E8CG, p. 21).

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Num extremo oposto, reconhecendo a necessidade de transmitir uma imagem positiva para o exterior, um dos entrevistados refere que “estão muito preocupados com a imagem, como tudo agora na vida. A imagem é muito importante e aqui aquilo que conta” (E7CP, p. 11).

Numa posição mais central neste eixo de opostos, entre a preocupação com a projeção de uma imagem positiva e a inexistência dessa preocupação, um dos interlocutores refere que,

“estamos a entrar numa fase de equilíbrio. Aqui há uns anos esta escola não queria saber da imagem, mesmo. Depois entramos numa segunda fase em que houve um crescendo de preocupação até que chegou a um ponto em que eu achava que já estava exagerado. […] Não estavam esquecidos, mas havia uma preocupação excessiva porque havia departamentos a trabalharem, não chamar-lhe-ia demasiado fogo-de-artifício, mas agora acho que estamos a entrar num equilíbrio, a perceber o que vale a pena fazer” (E4CP, p. 8).

Em termos práticos verificamos que o AE tem o cuidado de divulgar na comunidade as atividades que realiza e, especialmente, os prémios que os seus alunos vão alcançando. Para tal utiliza uma página da rede social Facebook, onde são publicados, diariamente, diversos posts dando conta das atividades realizadas no agrupamento, assim como participa em exposições e mostras de projetos inovadores, conforme refere um dos entrevistados:

“de facto, depois, nós temos aí a organização da promoção, temos que a ter, porque os tempos são outros e é assim que se passa. Temo-lo feito bastante bem, ainda há pouco estivemos na feira, com um projeto qualquer da escola básica, que tinha a ver com robótica e história, a história contada pelos robots. Foi um projeto engraçado, estava lá o senhor ministro da educação, e o senhor presidente, aquelas coisas foram engraçadas. Portanto, ou seja, a escola tenta também projetar-se para o exterior, é óbvio, mas o principal objetivo são os alunos e o seu sucesso, e esta escola tem tido bons alunos com muito sucesso” (E6P, p.7).

Com o mesmo objetivo o AE participa em diversas mostras formativas, que se realizam nas escolas da área de influência, no sentido de divulgar os seus cursos e as suas potencialidades. Para tal tem uma “organização da promoção” (E6P, p.7), com mostradores, panfletos e ofertas para divulgar

convenientemente a sua oferta formativa. Esta estrutura é reconhecida pela IGEC, no seu relatório de avaliação externa do agrupamento, “sendo disso exemplo as exposições de trabalhos, a participação em concursos e/ou eventos, o Dia do Diploma” (Relatório de avaliação Externa, p. 5). Estes aspetos são, igualmente, realçados por um dos docentes do agrupamento que refere que:

“esta escola, em termos do que é a escolha dos alunos que vêm para o décimo ano, como sabe nós agora temos que andar quase a fazer sorteio de automóveis, ‘se vieres para aqui vamos sortear um carro’, esta escola tem uma coisa que ninguém lhe poderá tirar. Além de eu achar que tem um bom projeto educativo, além de eu achar que tem um bom corpo docente, porque infelizmente, infelizmente digo isto, são todos professores muito velhos.

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[…] Nós apresentamos o nosso projeto educativo, apresentamos os nossos cursos, é assim que fazemos nas básicas, quando vamos. Não vamos dizer que temos música nos intervalos, nem nada disso, porque os alunos aqui se quiserem ter música também têm, se tiverem uma associação de estudantes que lute por isso também têm, mas as associações de estudantes são acarinhadas, são protegidas e a escola dá-lhes tudo o que pode, nós não vamos por aí” (E6P, p.6).

Aspeto importante é a divulgação dos prémios de mérito e excelência, que se realizam em cerimónia solene, como forma de publicitar os resultados académicos alcançados pelos alunos. Esta divulgação faz-se através dos dois jornais escolares que o agrupamento desenvolve.

Em suma, podemos referir que, apesar de não ser consensual entre todos os intervenientes, é evidente que o agrupamento se preocupa com a imagem que é projetada para o exterior, numa lógica de competição com os outros agrupamentos. Esta competição por alunos reflete, em parte, um dos princípios defendidos por David Osborne e Ted Gaebler (1993) no seu livro intitulado “Reinventing government – how the entrepreneurial spirit is transforming the public sector”. Assim, em termos sintéticos podemos identificar dois dos princípios propostos que assentam na competição entre os prestadores de serviços públicos e transferência do controle das atividades para a comunidade, algo que também é uma marca do Estado Avaliador (Afonso, 2013, p. 272), na medida em que promove competição, escolha parental e no limite mercado educacional. Este aspeto é claramente assumido por um dos elementos da EAA do agrupamento π, quando refere:

“quando fazemos propaganda fazemos daquilo que é bom, obviamente. Agora, as pessoas enquanto estão dentro da escola têm que, como costumamos dizer, ‘agarrar o boi pelos cornos’ e mostrar o que não está mal e dizer: ‘aqui não está mal’ e divulgar claramente. Isso faz-se. Obviamente, quando estamos a falar de escola lá fora, nós não vamos dizer isso” (E2MEAA, p. 11).