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Implicações para o âmbito da educação escolarizada

São muitas as implicações da criatividade das crianças atreladas à cultura da mídia e do consumo para a educação escolarizada. Ocupamo-nos, neste estudo, em apontar apenas algumas implicações, e muitas outras são possíveis. Uma dessas implicações diz respeito ao fato de que a atividade criadora depende da diversidade e da riqueza das experiências anterio- res (VIGOTSKY, 2009). Se as crianças demonstram que possuem

matéria-prima para criar a partir de suas experiências com a mídia e o consumo, experiências marcadas pela emoção, cabe a nós, educadores, perguntarmo-nos: estamos fornecendo matéria-prima para que as crianças possam criar em relação às aprendizagens escolares?

Outra implicação é pensar sobre qual o lugar da emoção nos contextos escolares. A cultura da mídia e do consumo é regida pelo deleite, pelo prazer, pela fruição, e promove expe- riências emocionais marcantes para muitas crianças. Tais experiências movem-nas a sentir, a criar e a imaginar. Nesse processo, a escola tem promovido experiências emocionais que permitam que as crianças sintam, imaginem e criem?

Uma terceira implicação, entre outras, refere-se ao fato de que são as grandes criações, entre outros fatores, que movem e modificam o mundo (basta pensarmos nas invenções tecno- lógicas, por exemplo, ou nas mudanças no mundo descritas no início deste texto). No entanto, as grandes criações são feitas por pessoas que um dia também foram crianças, frutos do seu tempo, de sua época, dos processos vividos pela humanidade ao longo de sua história. Então, cabe a nós perguntar: que tipo de criatividade estamos promovendo na escola e que tipo de indivíduo está se formando. Se a criatividade pode ser enten- dida como a expressão da subjetividade, ela deveria tornar-se foco de investimento educacional, uma vez que, ao promover-se a criatividade, também se está atuando sobre os indivíduos,

contribuindo para que sejam sujeitos5 da sua aprendizagem e de

seu desenvolvimento. Se a educação escolarizada abre mão da criatividade, de algum modo, ela permite que as crianças conti- nuem sendo sujeitos apenas do consumo e da cultura midiática.

5 Compreendemos sujeito em sua indissociabilidade da própria noção de subjetividade, de acordo com González Rey (2011c). Dito de outro modo, para o autor, a pessoa não é um produto ou resultado de práti- cas sociais, ela tem capacidade geradora diante do vivido e se torna sujeito quando é capaz de gerar alternativas de sentidos subjetivos diante de sistemas hegemônicos.

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A BRINCADEIRA SOB A