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As implicações da política de educação especial na perspectiva inclusiva no município de Natal/RN

Pautada na concepção de direitos humanos, foi elabora- da pelo Grupo de Trabalho nomeado pela Portaria Ministerial nº 555, de 5 de junho de 2007, prorrogada pela Portaria nº 948, de 09 de outubro de 2007, a Política Nacional de Educação Es- pecial na Perspectiva da Educação Inclusiva, objetivando cons- truir políticas públicas para a promoção de uma educação de qualidade para os alunos, público alvo da Educação Especial.

VeriÀ camos que a partir desse documento há uma de- À nição clara em relação aos alunos que deverão receber os serviços da Educação Especial, impulsionando uma ressigniÀ - cação frente às ações pedagógicas direcionadas a esse aluna- do, logo que a proposta é propiciar o acesso, a participação e a aprendizagem no ambiente escolar regular aos alunos que apresentam deÀ ciência, transtornos globais do desenvolvi- mento, altas habilidades/superdotação.

Ao destacar o propiciamento da aprendizagem de tais alunos, compreendemos um avanço no que se refere à supe- ração da visão de que a socialização para esses educandos já é suÀ ciente, ou, até mesmo, que é mais importante do que a aprendizagem dos saberes historicamente acumulados pela humanidade. Abre, portanto, espaço para que o acesso, a so- cialização e a aprendizagem caminhem juntos no processo de desenvolvimento dos alunos, uma vez que esse contexto

Luzia Guacira dos Santos Silva - Jeff erson Fernandes Alves (Org.)

[...] deve ter como base três elementos centrais: a) a presen-

ça, o que signiÀ ca estar na escola, superando o isolamento do

ambiente privado excludente e inserindo o aluno num espaço público de socialização e aprendizagem; b) a participação, que depende, no entanto, do oferecimento das condições necessá- rias para que o aluno realmente possa interagir e participar das atividades escolares; c) a construção de conhecimentos, fun- ção primordial da escola, sem a qual pouco adianta os outros dois itens anteriores. Em outras palavras, a inclusão escolar só acontece, de fato, se o aluno estiver inserido na escola, porém, participando, aprendendo e desenvolvendo-se com base na in- teração e nos conhecimentos ali construídos, o que vai muito além da concepção de inclusão que defende apenas as vanta- gens da socialização deste aluno no espaço escolar (AINSCOW e PLETSCH; PLETSCH e FONTES apud GLAT et al 2009, p. 4).

Nesse cenário, a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva visa orientar os siste- mas de ensino a superar as práticas discriminatórias e a criar alternativas para responder às especiÀ cidades de todos os alu- nos, garantindo:

- Transversalidade da educação especial desde a educação infantil até a educação superior;

- Atendimento educacional especializado;

- Continuidade da escolarização nos níveis mais elevados do ensino;

- Formação de professores para o atendimento educacional especializado e demais proÀ ssionais da educação para a in- clusão escolar;

Formação continuada em educação inclusiva: saberes, refl exões e práticas

- Acessibilidade urbanística, arquitetônica, nos mobiliários e equipamentos, nos transportes, na comunicação e informação; - Articulação intersetorial na implementação das políticas públicas (BRASIL, 2008, p. 8).

Com isso, a Política Nacional reaÀ rma a educação espe- cial como uma modalidade de ensino, que perpassa todos os níveis de ensino, da educação infantil até o ensino superior, oferecendo o atendimento educacional especializado, com proÀ ssionais qualiÀ cados para identiÀ car e intervir pedagogi- camente nas ações frente aos alunos, no intuito de promover a sua inclusão escolar.

Propõe também o investimento: na formação dos de- mais proÀ ssionais da educação, com base no respeito e valori- zação das diferenças do alunado; a valorização da participação da família no processo de ensino-aprendizagem; a reestrutu- ração da sociedade para prover a acessibilidade e o compro- metimento dos diversos setores da sociedade civil na constru- ção de políticas públicas que efetivem o direito à educação.

Nesse sentido, o novo documento pauta-se na defesa da escolarização e expressa o objetivo de reforçar os direitos já ga- rantidos, no Brasil, desde 1961, quando previa o atendimento das crianças com necessidades educacionais especiais na rede regular de ensino, embora não tenha sido assumido plena- mente pela educação brasileira (FREITAS; ALMEIDA, 2008).

Luzia Guacira dos Santos Silva - Jeff erson Fernandes Alves (Org.)

Trilhando caminhos para a oferta de uma educação de direito às pessoas com deÀ ciência, a educação Inclusiva no mu- nicípio de Natal/RN é difundida pelo Departamento de Ensino Fundamental – DEF através da Equipe de Educação Especial da Secretaria Municipal de Educação. A referida equipe existe des- de a década de 1990 e tem por objetivo promover e desenvolver ações de modo a possibilitar o processo educacional de alunos, público da educação especial na rede municipal de ensino.

A Equipe de Educação Especial é composta por asses- sores técnicos pedagógicos com formação complementar na área de Educação Especial e Inclusiva, com experiência no atendimento educacional de educandos com deÀ ciência.

A presença desses educandos na rede municipal de edu- cação de Natal/RN foi registrada no À nal da década de 1980, quando foram identiÀ cados alunos com lesões orgânicas, sen- soriais e com síndrome de Down matriculados em algumas das unidades de ensino do município. A iniciativa da Secretaria, na- quele momento, foi iniciar um trabalho de sensibilização junto aos professores da rede, através da promoção de seminários

para se discutir o processo educacional por meio do mode-

lo integrativo, movimento que ganhava forças nesse período (SILVA, 2011).

Na década de 1990, com discussões sobre o processo educacional inclusivo, representando um avanço em relação ao movimento anterior que buscava a integração escolar, a

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Secretaria Municipal de Educação, propondo uma reestrutu- ração do sistema educacional, passou a empreender os pri- meiros passos na readaptação das escolas, tendo em vista a necessidade de acessibilidade para atender os alunos com ne- cessidades especiais que ali se encontravam. Nesse sentido, a Secretaria Municipal de Educação passou a rever, “[...] suas ações enquanto órgão comprometido com a verdadeira demo- cratização do ensino, e sua consequente qualidade, de forma a possibilitar o alcance da educação por todos os que frequen- tam as escolas da rede” (NATAL, 2008, p.15).

ReÁ etindo as orientações no âmbito nacional, o municí- pio de Natal/RN, através da Secretaria Municipal de Educação, estrutura-se direcionando as ações a partir de uma política inclusiva no âmbito local. Passou a assumir os princípios da educação inclusiva como modelo educacional na rede muni- cipal de ensino, de modo que, atualmente, busca promover a inclusão desses educandos nas unidades de ensino – Escolas

Municipais1, Centros Municipais de Educação Infantil e Tri-

butos2 – orientado pela Política de Educação Especial da Rede

Municipal de Ensino do Natal (2009), e através da Resolução

1 Em 2013, o município de Natal/RN dispunha de 144 escolas com aten-

dimento a Educação Infantil, Ensino Fundamental I e II e Educação de Jovens e Adultos, recebendo 52.869 alunos matriculados, sendo que destes 1.119 apresentam algum tipo de deÀ ciência (Institu- to Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira – INEP/2013).

2 Tributos correspondem a Núcleos Educacionais de apoio à Criança e

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05/2009 do Conselho Municipal de Educação de Natal/RN (2010).

A Política de Educação Especial da Rede Municipal de Ensino do Natal/RN (2009, p. 16) tem como objetivo:

Promover e desenvolver ações que visem ao acesso, à perma- nência e à aprendizagem dos conhecimentos contemplados no currículo escolar, para as pessoas com deÀ ciência, trans- tornos globais do desenvolvimento, altas habilidades/super- dotação na escola, de modo a assegurar-lhes o processo de inclusão escolar.

As ações desenvolvidas pela Secretaria Municipal de Edu- cação se voltam para a efetivação do processo inclusivo de pes- soas com deÀ ciência, a partir da valorização das diferenças so- ciais, culturais, físicas e emocionais dos educandos. Entretanto, ressalta a necessidade de sensibilização das unidades de ensino da rede municipal, no sentido de que estas adotem posturas in- clusivas em relação aos alunos de modo a incluir a todos.

A Resolução nº 05/2009 do CME (NATAL, 2010) À xa nor- mas relativas à educação de pessoas com necessidades educa- cionais especiais no sistema municipal de ensino de Natal/RN, fundamentados na perspectiva inclusiva. EspeciÀ camente, o documento pontua que a educação inclusiva no município deve ser efetivada através da: matrícula antecipada; redução no número de educandos por sala; assessoramento técnico e pedagógico; oferta de atendimento educacional especializado – AEE, através das Salas de Recursos Multifuncionais – SRM;

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constituição de Escolas Bilíngues para alunos surdos; oferta de transporte escolar adaptado para educandos com diÀ culdade de locomoção; disponibilização de professor auxiliar; e forma- ção continuada para professores.

Em 2009, foi iniciado o projeto intitulado Matrícula An- tecipada, com o intuito de matricular educandos com algum tipo de deÀ ciência num período anterior a matrícula dos de- mais alunos, visando favorecer a organização do ambiente es- colar no que tange à formação das turmas, do quadro de pro- fessores e do Atendimento Educacional Especializado – AEE nas Salas de Recursos Multifuncionais - SRM, da acessibilida- de, adequações arquitetônicas, ambientais, e materiais peda- gógicos adequados.

Analisando as ações resultantes do referido projeto, ve- riÀ camos que embora o projeto vise a qualidade do processo inclusivo através da organização e estruturação antecipada das escolas quanto ao atendimento aos educandos que apre- sentam deÀ ciência, na prática, ainda constatamos a negati- va da vaga, principalmente em razão da escola não dispor de espaço físico que comporte o número de alunos que buscam matrícula e a falta de preparo dos proÀ ssionais que realizam a matrícula ao negar a vaga em razão da condição do aluno, bem como o agrupamento de alunos do mesmo nível de en- sino, numa única turma, desconsiderando a orientação acer- ca da quantidade de alunos por turma prevista na Resolução

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Quanto à redução no número de educandos com deÀ - ciência por sala de aula a Resolução 05/2009 – CME de Natal/ RN estabelece que a organização das turmas com educandos que apresentam deÀ ciência deve respeitar os níveis, as moda- lidades de ensino e os horários estabelecidos para os mesmos, conforme quadro 1:

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Quadro 1: Organização das turmas com educandos que