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A IMPORTÂNCIA DA CONSERVAÇÃO DO CINTURÃO VERDE QUE ENVOLVE A MANCHA URBANA

CAPÍTULO 2: ÁREA URBANA E NATURAL (IS): COMPONENTES DE UMA ORGANIZAÇÃO ESPACIAL NA REGIÃO METROPOLITANA DE SÃO PAULO

2.2 A IMPORTÂNCIA DA CONSERVAÇÃO DO CINTURÃO VERDE QUE ENVOLVE A MANCHA URBANA

Explicitado o caráter natural do cinturão verde que envolve a mancha da Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), deve-se esclarecer a importância de sua conservação para a garantia de melhor qualidade de vida para os habitantes da metrópole como um todo, clarificando uma das premissas particulares citadas anteriormente, de que o cinturão verde fornece serviços ambientais à metrópole e por isso pode ser considerado como representante do natural neste trabalho.

“As Reservas da Biosfera são categorias de áreas protegidas instituídas pela UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura) [...]” (SILVA, 2004, p. 104). Objetivam a proteção dos diversos biomas do globo, com funções de conservação, desenvolvimento sustentado e de apoio à pesquisa, comunicação e educação ambiental (SILVA, 2004). Essas parcelas do território subdividem-se em Zona Núcleo, que é significativa de ecossistemas específicos; Zona Tampão, que é subjacente ao núcleo, em que o uso deve ser compatível com a conservação do mesmo e a Zona de Transição, que é externa à Tampão e permite um uso do solo mais intenso, porém não degradante de recursos ambientais (SILVA, 2004).

A Reserva da Biosfera do Cinturão Verde (RBCV), que representa a Reserva da Biosfera da Mata Atlântica (RBMA) na RMSP, foi criada em 1994, abrange o município de São Paulo e outros 72 municípios, incorporando trechos dos ecossistemas de Mata Atlântica e do Cerrado e unidades de conservação (SILVA, 2004). Segundo o Instituto Florestal de São Paulo14 (2004b apud SILVA, 2004, p. 105), objetiva a

[...] promoção de ações e políticas visando à conservação e à recuperação ambiental, sobretudo no que diz respeito à conservação dos recursos hídricos, amenização climática, contenção de encostas, prevenção de enchentes, recuperação da qualidade do ar, entre outros.

A importância da RBCV se dá pelo fato da RMSP ser um dos maiores aglomerados urbanos do mundo e possuir baixo índice de área verde por habitante, ajuda a proteger mananciais e regular o clima, impedindo os malefícios da ilha de calor dos centros urbanos de se expandir para as porções periféricas, além disso, filtra o ar, contribui para evitar enchentes e dá suporte à produção hortifrutigranjeira que abastece a urbe (SILVA, 2004).

Em Rocha e Costa (1998), os mapas e croquis da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica no Estado de São Paulo mostram que o núcleo Cinturão Verde na RMSP, a Reserva da Biosfera do Cinturão Verde, basicamente, corresponde a todo o verde que envolve o grande corpo central da mancha urbana relativa à metrópole

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SÃO PAULO (Estado). Instituto Florestal (IF). A Reserva da Biosfera do Cinturão Verde da Cidade de São Paulo. São Paulo: IF, 2004b. Disponível em: <HTTP://www.iflorestsp.br/rbcv/arbcv.htm>.

paulista, sendo constituído pelas três zonas típicas das Reservas da Biosfera, ou seja, as Zonas Núcleo, de Amortecimento e de Transição.

Os diversos tipos de vegetação que compõem os remanescentes de paisagens naturais deste cinturão verde, em um todo, têm papel muito importante para a Sustentação e Apoio ao Desenvolvimento Metropolitano15 e para o Equilíbrio Ambiental16 da metrópole.

A vegetação oferece diversos benefícios, tendo importância ecológica e socioambiental, como na estabilização do relevo; no controle de risco ambiental e de enchentes e estabilização de áreas degradadas; na garantia e proteção da qualidade e quantidade de água potável; na filtragem do ar através da manutenção de níveis satisfatórios de evapotranspiração e umidade, diminuindo o material particulado do ar e conseqüentemente contribuindo para sua melhor qualidade; no melhoramento das condições de saúde e de conforto ambiental; na serventia como fonte de alimento e também como corredor de fauna e suporte à vida silvestre; na constituição de obstáculo contra ventos; nos efeitos benéficos sobre a temperatura do ar; na proteção à biodiversidade e no melhoramento da qualidade ambiental e da estética da paisagem (FURLAN, 2004).

A vegetação do cinturão verde também contribui para a

[...] amenização das temperaturas do micro ou meso clima e melhoria da qualidade do ar, filtrando materiais particulados; produção de água em qualidade e quantidade para o abastecimento dos munícipes; oferecimento de espaços para o lazer e recreação dos habitantes da metrópole; e oferta de produtos naturais, como madeira, plantas ornamentais e medicinais. (RAIMUNDO, 2006, p. 27, grifo do autor).

As seguintes afirmações encerram a explicitação de tais serviços ambientais: O cinturão verde é fonte de boa parte da alimentação in natura que a cidade consome, além da água potável que abastece a mesma (CRUZ, 2005, grifo nosso). A manutenção da paisagem natural no entorno dos reservatórios é importante para a melhoria da qualidade de suas águas para uso humano (RAIMUNDO, 2006).

15 Termo utilizado por SÃO PAULO (Estado). Diretoria de Desenvolvimento Urbano da EMPLASA. Políticas e

diretrizes para o ordenamento do uso e da ocupação do solo na Região Metropolitana de São Paulo. Revista do SPAM, São Paulo, v. lll, n. 14, jun. 1985c, p. 19-27.

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Apesar de toda sua importância ambiental, o cinturão verde que envolve a mancha urbana da RMSP vem sendo, ao longo do tempo, continuamente devastado.

Os setores mais desmatados do município de São Paulo, por exemplo, se concentram nos distritos das Zonas Norte e Sul, comprometendo mananciais e reservas de recursos hídricos da cidade, são nesses distritos onde a população mais cresceu e onde se concentra a maior parte da vegetação remanescente do município (FURLAN, 2004). Na porção situada entre a Serra da Cantareira e o Rio Tietê, na transição de suas matas com a mancha urbana “[...] o crescimento populacional está intimamente relacionado com a expansão da mancha urbana e com o processo de supressão de remanescentes vegetais na Zona de Fronteira. [entre trechos ocupados e vegetados]” (SILVA, 2004, p. 120).

Veja-se um exemplo local dos efeitos negativos que a degradação de trechos do cinturão verde, no caso serras florestadas que envolvem a mancha urbana da RMSP, pode acarretar:

Problemas ambientais locais se refletem em escala regional, no caso da Serra da Cantareira, os problemas ocorridos na bacia do Alto Cabuçu de Baixo estão extremamente relacionados e se refletem nos córregos a jusante da bacia do Alto Tietê (SILVA, 2004). Resumem-se no desmatamento intensivo, que desencadeia processos erosivos, desestabiliza encostas, no assoreamento e impermeabilização dos canais fluviais, aumentando a velocidade de escoamento das águas superficiais, diminuindo a capacidade dos leitos, aumentando a vazão dos rios e comprometendo a qualidade das águas (SILVA, 2004). As conseqüências são a elevação da temperatura urbana, o aumento da ocorrência de escorregamentos e desabamentos, da proliferação de doenças e do agravamento das enchentes (SILVA, 2004).

Para frear esse processo, em uma perspectiva regional, para toda a RMSP, é importante levar em conta algumas considerações.

Barreiras naturais dos arredores da mancha urbana devem ser conservadas como banco genético e componentes fundamentais da Reserva da Biosfera (AB‟SÁBER, 2004b). As barreiras naturais da RMSP, ou seja, as serras e morros florestados, são a causa da coalescência urbana não ter atingido Jundiaí, Campinas e o Vale do Paraíba (AB‟SÁBER, 2004b). Ao que parece, tais barreiras,

naturalmente já oferecem resistência à ocupação urbana, tendo proteção mais facilitada pelo poder público, a Serra da Cantareira é protegida pelo Parque Estadual da Cantareira, por exemplo.

Mas o cinturão verde distribui-se por todo o entorno da mancha urbana da RMSP, já foi esclarecido que boa parte dos terrenos cristalinos circunjacentes a tal mancha possuem algum nível de aplainamento que em teoria favorece de alguma forma o assentamento urbano, não consistindo assim em barreiras naturais. Dessa forma, ao que parece, o cinturão verde também é constituído de setores vegetados que possuem potencial de serem ocupados e que devem ser protegidos. Resta saber se estes setores são protegidos e como se poderia sugerir um nível de proteção aos mesmos comparados com os demais setores da RMSP, esse trabalho propõe fazer essas sugestões, aí se fundamenta a justificativa social desta pesquisa. Esclarecida as premissas e a hipótese que fundamentam, resta saber como aplicá-las na realidade, para que possam ser testadas. Sabendo-se que indicam a ocorrência de uma forma espacial, a mancha urbana envolvida por uma área própria, a área urbana, sendo que as demais podem ser entendidas como áreas naturais, é lógico partir do raciocínio de que é analisando-se de forma bem detalhada a diferenciação espacial de ambientes urbanos caracterizados por tal mancha urbana e aqueles não urbanos, caracterizados pela menor presença da mesma e maior do cinturão verde, em determinadas unidades amostrais bem representativas do todo a serem comparadas, que se conseguirá encontrar um meio de associar tal diferenciação de ambientes a um parâmetro que em escala regional permita a configuração espacial da área urbana e da (s) natural (is). Como as análises em escala local devem ser bem detalhadas, o ambiente não urbano será associado ao natural, aquele caracterizado pelo cinturão verde, já o de transição entre o urbano e o natural será reconhecido como aquele nem essencialmente urbano nem essencialmente natural, intermediário entre características associadas à mancha urbana e ao cinturão verde que a envolve. O ambiente urbano será considerado aquele caracterizado pela mancha urbana.

Tal procedimento de organização do raciocínio será desenvolvido no capítulo seguinte.

CAPÍTULO 3: A OBTENÇÃO DA CONFIGURAÇÃO DA ÁREA URBANA E DAS

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