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Foi constatado no item anterior que somente o fator abaixo de 800 m, acima de 19,3°C é que se associa ao tipo urbano para a Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) e que ambos os fatores também estão estritamente relacionados entre si, pois pertencem aos únicos componentes da paisagem cujos espécimes possuem relação inversa perfeita em todas as unidades espaciais de análise de todas as amostras.

Esta estreita relação entre altitude e temperatura do ar também é constatada na literatura para o Estado de São Paulo.

“[...] as temperaturas médias variam em função, principalmente, da altitude e da latitude do lugar. [...] variam bastante no território paulista, em função, especialmente, da variação da altitude. [...]” (SÃO PAULO, 1974b, p. 59, 60).

Ao que parece, na RMSP a latitude parece ter menos influencia sobre a temperatura que a altitude, possivelmente porque esta possui uma influencia mais regional sobre o clima, enquanto aquela uma influencia macro-regional ou continental, veja-se nas afirmações abaixo:

O Relatório de Clima de São Paulo (2002, p. Vl) diz que

A Metrópole Paulistana está localizada a uma latitude aproximada de 23°21‟ e longitude de 46° 44‟, junto ao Trópico de Capricórnio, e implica em uma realidade climática de transição, entre os Climas Tropicais Úmidos de Altitude, com período seco definido, e aqueles subtropicais, permanentemente úmidos do Brasil meridional.

Em tal Relatório, segundo Tarifa19 (1993 apud SÃO PAULO, 2002, p. 13), também se afirma que

[...] a área metropolitana encontra-se entre as Unidades Climáticas VII (tropical de altitude do Vale do Tietê e afluentes) e VI (tropical de altitude das serras e morros do além Tietê e Juqueri). O principal fator ou controle climático que diferencia estas unidades é o relevo. [...]

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TARIFA, J. R. Unidades Climáticas da Região Metropolitana de São Paulo. São Paulo: Laboratório de Climatologia. Departamento de Geografia da Universidade de São Paulo, 1993.

Sabendo-se que a escala da RMSP é regional, constata-se que a divisão climática quanto ao relevo é mais compatível com a mesma, pois se dá na mesma escala. Os dois tipos de clima quanto ao relevo, um associado a vales e terrenos adjacentes e outro a morros e serras, parecem estar associados respectivamente às terras baixas e altas da RMSP. O que se apreende disso é que a relação entre temperatura e altitude se dá na distinção entre terras baixas de temperatura mais elevada e terras altas de temperatura mais baixa. Enfim, o relevo parece sintetizar esta relação na realidade.

Como se sabe que para toda a RMSP ocorre um padrão regional que setores abaixo de 800 m se associam a temperaturas do ar acima de 19,3°C, se reconhecer- se um automaticamente se reconhece o outro, se reconhece-se um setor abaixo de 800 m, automaticamente se reconhece que nele a temperatura média do ar predominante é acima de 19,3°C, e vice versa. Setzer (1949) diz que as curvas de nível de mapas topográficos podem ser utilizadas para inferir a identificação de unidades de temperatura, pois a altitude influi poderosamente nas temperaturas. Dessa forma, escolheu-se inferir os setores acima de 19,3°C a partir da análise da curva de nível 800 m, reconhecendo aquele setor cujas altitudes predominantes estão abaixo desta cota.

Assim, entende-se que o fator abaixo de 800 m é que deve ser associado ao parâmetro a ser espacializado e que defina a configuração da área urbana, e por conseqüência, das naturais. Entretanto, deve-se considerar que tal altitude está associada a determinada média de temperatura do ar e que a relação de ambas é sintetizada pelo relevo, este se dá na dicotomia planalto mais baixo ao centro e mais altos nas periferias. Resumindo, pode-se então afirmar que reconhecer, através de análise espacial automática desenvolvida por software de geoprocessamento, todos os trechos abaixo de 800 m não consiste em procedimento útil nesta pesquisa. Isso porque tal procedimento não reflete a associação da altitude com a temperatura média do ar e a síntese de tal relação refletida no relevo.

Analisando o mapa Hidrografia e Relevo de São Paulo (1978) (Figura 9), constata-se que nos extremos Norte, Leste e Oeste da RMSP ocorrem grandes blocos de terras altas, acima de 800 m, entremeados por terras mais baixas, abaixo de 800 m, associadas a planícies aluviais. Também ocorrem trechos menores de

terras altas, acima de 800 m, que se dão em meio a uma dominante extensão de terras baixas da RMSP.

Para demonstrar espacialmente o reflexo do relevo na relação entre os fatores abaixo de 800 m e acima de 19,3°C, se utilizará a cota 800 m, reconhecendo os grandes blocos maciços de terras altas acima da mesma, coligando todas as suas extremidades (pequenos espigões e interflúvios contíguos a uma parte do bloco). Dessa forma, se reconhece as terras abaixo dos 800 m a partir da identificação das situadas acima dessa cota. Por conseqüência, ao se coligar as extremidades das porções de terras altas delimitadas por esta cota, também se abrangerá trechos de terras abaixo dos 800 m em menor extensão. Da mesma forma, na área de terras baixas, ocorrerão trechos de terras altas menos extensos e descolados, não contíguos a tais grandes blocos, correspondem a exceções, trechos serranos (possivelmente divisores de água, morros altos e serras) em meio ao grande contínuo de setor não serrano situado ao centro da RMSP e suas circunjacencias.

O que importa é a predominância, na área urbana predomina as terras baixas, mas também ocorrem terras altas em escala local, o contrário também é valido, nas áreas naturais predominam terras altas, mas também ocorrem terras baixas em menor quantidade.

Reconhecida as terras baixas, se infere que nas mesmas predomina a temperatura média do ar acima de 19,3°C, correspondendo assim ao tipo urbano, à área do grande corpo central mancha urbana da RMSP. As restantes, ou seja, as terras altas, serão entendidas como as áreas naturais, em que predomina o cinturão verde que envolve tal mancha urbana.

Este procedimento foi realizado identificando-se na Carta da Região Metropolitana da Grande São Paulo (SÃO PAULO, 1982a), as extremidades de tais grandes blocos maciços de terras altas, já que ao mesmo tempo em que representa toda a RMSP, demonstra em detalhes sua topografia. Posteriormente reconheceram-se as coordenadas de tais pontos e coligou-se os mesmos em meio digital, no software Google Earth.

A configuração de tais áreas só foi validada ao se reconhecer que as terras altas correspondem a zonas geormofológicas, ou seja, planaltos regionais de morros

altos e ou serras, que se destacam no mapeamento do relevo de toda a RMSP, sendo possível entender assim, por exclusão, a terra baixa como aquela em que predomina planalto mais baixo, onde ocorrem morros baixos e grande parte das colinas e extensas planícies regionais que abrigam.

A Figura 41 demonstra a área urbana ao centro e as naturais nas periferias Norte, Leste e Oeste. Foi verificado no mapa Principais Compartimentos Geomorfológicos de São Paulo (1994b) que as áreas naturais a Norte e Oeste estão associadas respectivamente, principalmente no setor de terras mais altas que as caracteriza ao se analisar a Carta da Região Metropolitana da Grande São Paulo (SÃO PAULO, 1982a), às zonas geomorfológicas de terras altas: Zona Cristalina do Norte e Planalto de Ibiúna. Já no mapa Zonas Morfológicas de Ab‟Sáber e Bernardes (1958), constata-se que a área natural a Leste se dá sobre as terras altas da zona morfológica individualizada denominada Alto Tietê. Por conseqüência, a área urbana se dá na maior parte, do já explicitado em capítulo anterior, Planalto Paulistano de Almeida (1974). Este, abriga as terras mais baixas da RMSP embasadas pelo grande corpo de seus terrenos sedimentares e pelos terrenos cristalinos mais baixos, nivelados, em grande parte, ao topo dos terrenos sedimentares mais altos.

A área urbana e as naturais obtidas para a RMSP podem ser visualizadas na Figura 41 exposta logo abaixo. Constata-se que a área urbana abrange grande parte da mancha urbana, seu corpo principal, e contem porção significativa do cinturão verde que a envolve, enquanto nas demais, as áreas naturais, predominam porções de tal cinturão verde. Tal constatação corrobora o estabelecido na hipótese de trabalho, quanto às características espaciais da divisão regional vislumbrada.

Os nomes dados tanto para a área urbana quanto para as naturais serão discutidos nos capítulos posteriores.

Figura 41 – Área urbana e áreas naturais identificadas para a RMSP. Fonte: Software Google Earth, Carta da Região Metropolitana da Grande São Paulo (SÃO PAULO, 1982a), bases cartográficas digitais utilizadas no Plano de Manejo dos Parques Naturais localizados ao longo do trecho Sul do Rodoanel Metropolitano de São Paulo Mário Covas e base digital da mancha urbana (2002) obtida no Centro de Coleta, Sistematização, Armazenamento e Fornecimento de Dados da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (CESAD-FAU-USP). Elaboração: Eduardo Silva Bueno – 2013

Demonstrou-se assim que a relação entre o tipo urbano e o fator abaixo de 800 m, acima de 19,3°C se reflete espacialmente em área que engloba o grande corpo da mancha urbana da RMSP e que nas demais áreas predomina a ocorrência do cinturão verde que envolve tal mancha. Dessa forma, estas últimas, conforme as premissas desta pesquisa, podem ser entendidas como as naturais, mesmo não se verificando nelas associação entre o tipo natural e determinado fator espacial. A associação entre tipo e fator espacial foi útil para se obter o delineamento da área urbana e consequentemente das naturais, mas não está associada ao caráter urbano da área urbana e natural das áreas naturais.

4.7 A COTA 800 METROS E A DISTRIBUIÇÃO DA MANCHA URBANA COMO

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