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Figura 4 Casa de Apoio e Sede Administrativa.

2.5 IMPORTÂNCIA DA CASA DE APOIO NA RECUPERAÇÃO DA SAÚDE

Para Bachelard (1989, p. 25), a casa simboliza o primeiro canto do mundo, o primeiro universo do homem. Pode-se admitir que seu papel primordial é de abrigo, abrigando seus indivíduos contra todos os males físicos. Entretanto, a prática de habitar da casa condiz com um significado mais profundo, onde representa cada ser que nela reside, por meio de lembranças, sonhos e pensamentos, definindo para cada morador uma ligação diferente com a edificação. Fornecer moradias que acolham e possuam conforto, é trazer proteção física e mental, gerando pensamentos saudáveis através de um maior contato com a família e amigos, de forma a provocar alegrias, auxiliando na recuperação da saúde. Diante disso torna-se necessário conhecer soluções arquitetônicas que não apontem aos hospitais frios e insalubres, mas sim a um lar autêntico, que seja caloroso e receptivo, onde os pacientes possam se sentir realmente “como se estivessem em casa”.

No processo de concepção do espaço físico é preciso obter conhecimento acerca de como o homem percebe o meio físico no qual se insere, bem como, dos conceitos relacionados em diferentes áreas para entender o processo como um todo (FRESTEIRO, 2001; HALL, 2005; LAKI; LIPAI, 2007; KASPER, 2009). Considerando aspectos individuais e culturais variáveis, os ambientes são compreendidos, observados e julgados de modos diferenciados (HALL, 2005), proporcionando distinção significativa do ambiente construído por “categorias de agentes do processo decisório de produção e uso desse mesmo ambiente” (RIBEIRO, 2008, p.

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02). No caso dos edifícios hospitalares, a arquitetura pode ser tratada como um instrumento terapêutico se contribuir para o bem-estar físico dos pacientes, com a criação de espaços que, além de acompanharem os avanços da tecnologia, permitem condições de permanência e convívio adequadas.

A humanização, surge então, com o intuito de transformar um determinado ambiente mais humano, independente da área em que se encontra, ao considerar e adaptar as condições para os usuários, e deve ser adotada para esse modelo de edificação. Além disso, deve-se prezar pelos aspectos emocionais associados aos espaços físicos. A humanização associada a área da saúde é um modo significativo para se conseguir uma melhoria na saúde das pessoas, impulsionando ações e métodos que priorizem a recuperação dos pacientes, com o intuito de viabilizar um ambiente confortável e saudável. (BURSZTYN; SANTOS,2004).

Ao discutir a arquitetura hospitalar, não podemos deixar de citar o talento do arquiteto João Filgueiras Lima, o Lelé, para lutar por uma instituição de caráter abrangente envolvida também com os problemas sociais, econômicos e culturais do país. Nos hospitais da rede Sarah Kubitschek a integração entre as práticas e os espaços devolvem ao edifício a capacidade de contribuir para o processo da cura, o que muitas vezes é esquecido por grande parte dos arquitetos contemporâneos.

“Ao projetar hospitais feitos para curar, Lelé devolve ao edifício hospitalar a capacidade de contribuir para o processo da cura. Ao projetá-los com essa finalidade resgata um objetivo que surge no final no século XVIII e que não vem sendo enfatizada por boa parte da arquitetura hospitalar contemporânea.” (SANTOS, M,; BURSZTYN, I., 2004).

A partir do exposto, o arquiteto torna-se responsável pela promoção de espaços que traduzem sentimentos de segurança, familiaridade e conforto aos usuários. Assim sendo, o conjunto de aspectos necessários para esse resultado de acolhimento, deve iniciar da estrutura física. Logo, algumas premissas importantes que podem ser aplicados na edificação, são: eliminar fatores ambientais estressantes (altos ruídos, iluminação exagerada), trazer o contato do paciente com a natureza, inserir elementos arquitetônicos com água, buscar espaços que possam trazer privacidade e outros que oportunizem atividades de entretenimento. Além desses elementos, as cores e a luz também interferem no comportamento humano, favorecendo diferentes sensações aos usuários do espaço. Ao trazer ao paciente a

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noção de temporalidade, que permite que ele possa orientar-se e ter a impressão de liberdade, a iluminação natural ganha grande relevância, sendo responsável também por realizar a integração com a natureza (COSTI, 2002). O impacto das cores na arquitetura pode encontrar-se na mobília, paredes, piso, teto, objetos, que proporciona um ambiente mais amplo ou pequeno, alterando a percepção do peso ou volume, ainda modificam as noções de tempo, temperatura e som.

As cores são estimulantes que atuam sobre as pessoas causando-lhes sensações de bem-estar ou apatia, atividade ou passividade. As cores em ambientes de empresas, escritórios e escolas podem impulsionar a produtividade assim como prejudicá-la; em hospitais é capaz de auxiliar a recuperação de pacientes. (NEUFERT, 2013, p.53).

No Quadro 01, adaptado de Carvalho (2017, p.148), o autor sintetiza os resultados de seu artigo “O edifício doente e o edifício saudável”, que resultou da análise de referências que estudam as condições físicas que induzem ao bem-estar e a recuperação de pacientes em edificações de saúde. No quadro consta um resumo das características mais relevantes levantadas pelo autor, para uma edificação saudável, indicando um caminho para a análise e confecção de projetos arquitetônicos indutores de bem-estar físico e mental.

As características apresentadas foram divididas em três setores: higiene, conforto e sustentabilidade. Quanto à higiene, salientou-se a localização estratégica de lavatórios, o que contribui para as condições de controle de infecção; a aplicação de materiais de acabamento que permitam fácil limpeza e manutenção e a oferta de infraestrutura que garanta a segregação, guarda, coleta e tratamento de resíduos sólidos. Já sobre o conforto, destaca-se o uso de meios naturais de controle de temperatura, umidade, ventilação e iluminação; a disponibilidade de áreas verdes, a adoção da acessibilidade universal e o controle do ruído. A sustentabilidade em edificações para a saúde recebe ênfase quanto ao estabelecimento de condições de suprimento ininterrupto de energia e água, com a utilização de formas limpas de geração e aproveitamento. Conclui-se pela adequação dos estudos ambientais em estabelecimentos de saúde como parâmetros para a definição das condições físicas de uma Edificação Saudável.

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Quadro 1 - Características do Edifício Saudável.

Fonte: CARVALHO, 2017, p. 148.

As características de Higiene, Conforto e Sustentabilidade podem ser consideradas os pilares de uma edificação que, além de não provocar danos ao ambiente, permita o restabelecimento da saúde de pessoas que eventualmente estejam debilitadas – e isso é particularmente importante na atualidade, quando se experimenta um aumento acelerado da expectativa de vida, o que implica na maior quantidade de pessoas idosas e com problemas de saúde.

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