• Nenhum resultado encontrado

4 INTERPRETAÇÃO DA REALIDADE

4.2 O HOSPITAL ERASTO GAERTNER

O Hospital Erasto Gaertner é uma instituição de saúde localizada em Curitiba com foco no tratamento clínico e cirúrgico de pacientes com câncer e doenças oncológicas . Que possui a Missão, a Visão e os Valores demonstrados na Figura 63.

Figura 63 - Missão Visão e Valores HEG. Fonte: (HEG, 2017, p.6)

87

Neste capítulo serão apresentados dados históricos do Hospital Erasto Gaertner, do seu surgimento até os dias atuais, a fim de entender seu funcionamento e propor um projeto que atue de maneira conjunta com os serviços e atividades fornecidas pela instituição.

4.2.1 O início

A história do Hospital Erasto Gaertner (HEG), está intimamente ligada à trajetória do seu principal fundador, que dá nome ao hospital, o médico Erasto Gaertner. Formado em Medicina em 1925 na Faculdade de Medicina do Paraná, hoje Universidade Federal do Paraná (UFPR), ele foi responsável por plantar a semente que depois se transformaria no principal centro de diagnóstico e tratamento de câncer no Paraná, em um período, onde a doença ainda se tratava de um enigma para a sociedade médica e um estigma para os pacientes.

Em conjunto com os alunos da turma de 1938 da Faculdade de Medicina do Paraná, o Dr. Erasto, constituíam a chamada "Turma dos Tigrões". Cujos membros formariam em 8 de março de 1947, a Liga Paranaense de Combate ao Câncer (LPCC).

E foi com a constatação que o número de pacientes com a doença, estava aumentado, que se viu que era necessário ampliar o atendimento e criar melhores condições para tratar o câncer. Logo, Dr. Erasto Gaertner, em seu mandato como prefeito de Curitiba, doou, em 2 de janeiro de 1952, um terreno de 62.500 m² à LPCC, designado à construção do que hoje é o Hospital Erasto Gaertner. Sua morte precoce, causada por um derrame, em 1953, não pôs fim ao sonho de curar o câncer. Sendo lançada a pedra fundamental, em 11 de junho de 1955, seguida de muitos esforços que modificaram o espaço até 1972.

4.2.2 Rede Feminina

A Rede Feminina de Combate ao Câncer (RFCC), foi fundada em um jantar no Clube Curitibano, em 18 de março de 1954. Anita Merhy Gaertner, Edite Pizzato e grupo de senhoras da sociedade curitibana fizeram parte do projeto que tinha como

88

intuito principal arrecadar recursos para a construção de um abrigo para pessoas com câncer. Com o êxito das campanhas iniciais efetuadas fomentou o lançamento de um projeto mais audacioso, que garantiriam aos pacientes assistência especializada e humanização no decorrer do tratamento.

A partir disso, as mulheres da RFCC iniciaram um trabalho de obtenção de materiais de construção e dinheiro, com apoio de empresários e políticos, promoção de bazares, feiras e festas beneficentes, entre outras ações. Com o objetivo de possibilitar a construção do Hospital, que se tornou possível com o apoio da imprensa e de nomes da televisão, teatro, cinema e rádio da época que mobilizaram a sociedade curitibana.

4.2.3 Inauguração e atividades realizadas

Antes mesmo da inauguração oficial, pacientes com câncer recebiam tratamento desde 1970 quando o então governador do Paraná, Paulo Pimentel, doou uma bomba de cobalto, que possibilita a realização de 47 sessões de radioterapia por dia. Só em 8 de dezembro de 1972, o Hospital Erasto Gaertner seria efetivamente inaugurado, por meio de esforços da comunidade e voluntariado, que possibilitaram reunir recursos para finalizar a construção (Figura 64).

Figura 64 - Inauguração HEG, em 1972.

89

A princípio o HEG fornecia atendimento clínico e cirúrgico, atendendo com uma sala de cirurgia, um aparelho de radioterapia e a bomba de cobalto. Não haviam muitos pacientes. Com o crescimento do número de pessoas atendidas, em 1973, ocorreu o credenciamento do Instituto Nacional de Previdência Social (INPS) - que posteriormente se desmembrava para o Sistema Único de Saúde (SUS). Entre os primeiros médicos estavam Sérgio Hatschbach, Benedito Valdecir de Oliveira, Massakazu Kato e Marcos Montenegro, que retornavam de especialização em São Paulo para dar início a missão do Erasto Gaertner. E mesmo sem banco de sangue ou tecnologias avançadas, em 16 de abril de 1973, os médicos Massakazu Kato, Sérgio Hatschbach, Benedito Valdecir de Oliveira e Eduardo Alves de Toledo fizeram a primeira cirurgia em uma paciente com câncer de colo de útero.

As primeiras aquisições de equipamento se deram em 1975, com a vinda do primeiro acelerador linear, e do computador científico em 1976, ambos para a Radioterapia. Em 1979 foi concebido o departamento de física médica e no ano de 1980 aconteceu a inauguração da UTI. O sistema de qualidade, seria dotado em 1975, com o programa Círculos de Controle de Qualidade, que foi destaque entre os hospitais. Não sendo diferente nos anos que se seguiram. Com a intenção de garantir a toda Instituição ferramentas de qualidade, em 1980 foi criada a Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH). A Qualidade engloba precisamente todos os setores do Hospital, o que já propiciou certificados como ISO, Acreditação Hospitalar e Boas Práticas de Fabricação, da Anvisa.

O desafio que a instituição teria que vencer seria acompanhar os avanços da medicina, com a compra de equipamentos, para garantir o que há de melhor no tratamento do câncer. Em 1987, por exemplo, virou precursor no sul do país com o tratamento do câncer de mama sem retirada total da mama e em cirurgias de tumores cerebrais. Nos anos 80, o Dr. Marcos Montenegro viajava até o Rio de Janeiro a cada dois meses com o objetivo de pegar quimioterápicos no Instituto Nacional do Câncer (INCA), que realizava a distribuição. Em 1984, o Dr. Nils Gunnar Skare começou a administrar os quimioterápicos aos pacientes. Em relação aos pacientes pediátricos que eram atendidos no Hospital desde 1973, somente em 1979, ganhou uma ala específica para esse público.

90

Com a Pediatria, o HEG passou a adotar o conceito multidisciplinar, e as crianças e adolescentes passaram a ter acompanhamento de professores para que não deixassem os estudos com o término do tratamento. Em 2006, com o apoio do Instituto Ronald McDonald (Figura 65) e demais parceiros e colaboradores, a área física foi reformada, recebendo decoração própria para a faixa etária, apartamentos para isolamento quando necessário, e com amplas enfermarias, onde há espaço adequado para a permanência de acompanhante, com banheiros diferenciados para as crianças e familiares. De acordo com HEG, atualmente, o serviço atende cerca de 300 novos casos por ano, sendo 20% provenientes de convênios e 80% do SUS.

Figura 65 - Inauguração da área física com apoio do Instituto Ronald McDonald. Fonte: https://erastogaertner.com.br/pagina/historico

Ainda em 1979, surgiu o Serviço de Prótese Bucomaxilofacial, liderado pelo médico Benedito Valdecir de Oliveira, e que em 1985 se transformaria no Instituto de Bioengenharia Erasto Gaertner (IBEG), com o intuito de possibilitar a reconstrução estética e desenvolver cateteres e materiais hospitalares para o Erasto Gaertner e outras instituições. Hoje em dia, o IBEG é o único fabricante nacional de cateter totalmente implantável, e conta neste momento com uma equipe de técnicos especializados nas áreas de usinagem, acabamento e montagem, todas elas voltadas à área médico-hospitalar. Devido ao grande fluxo de profissionais da área da saúde se aprimorando diariamente com geração de conteúdo sobre o câncer, houve a iniciativa de organizar os estudos em um setor.

Isso se deu, com a criação do Centro de Ensino e Pesquisa (Cepep), em 1985, que agrupou pesquisa, estudos científicos, residências, estágios, cursos e especializações e permitiu que em 2004 o Erasto se convertesse em hospital-ensino. Além disso, em 1989, foi fundado o Centro de Tomografia, que foi um avanço no

91

diagnóstico precoce da doença, que hoje denomina-se Serviço de Imagem, que faz uma média de 2.131 procedimentos por mês. Também existia uma atenção com as ações de prevenção, antes mesmo da inauguração do Hospital, como o Clube do Siri da Rede Feminina, nos anos 50. Ao longo da história da Instituição esse conceito foi se fortalecendo.

E comandada pelo cirurgião dentista Laurindo Moacir Sassi, surgiu no final dos anos 80 a Campanha do Câncer Bucal, que já alcançou cinco mil pessoas em 23 anos de campanha. Em 1992 foi concebida a Unidade Prevenção e Detecção Precoce (Predep). A unidade instruiu 11 mil professores sobre prevenção do sol, combate ao fumo, HPV e detecção precoce, e em 93 e 94 desenvolveu o Guia Prático de Prevenção do Câncer, em versões de revista e vídeo.

Com o objetivo de divulgar informações sobre prevenção, diagnóstico e tratamento do câncer, entre 2003 e 2008, o Hospital desenvolveu o programa de entrevistas para rádio Alô Doutor, que era direcionado a rádios AM/FM, alcançando municípios no Estado do Paraná e Santa Catarina, São Paulo e Paraguai, totalizando mais de dois milhões de ouvintes. Anualmente o Hospital também atua junto à sociedade com campanhas em datas preconizadas pelo Ministério da Saúde, como o Dia Mundial sem Tabaco, Dia Nacional de Combate ao Fumo e o Dia Nacional de Combate ao Câncer.

Em conjunto com a inovação tecnológica, apareciam novos serviços e áreas de apoio, como a Fisioterapia, em 1987, e o Grupo Interdisciplinar de Suporte Terapêutico Oncológico (Gisto), em 1994. A Fisioterapia em oncologia é uma especialidade que tem como intuito preservar, manter, desenvolver e restaurar a integridade cinético-funcional de órgãos e sistemas do paciente, assim como evitar os distúrbios provocados pelo tratamento oncológico. Rapidamente, se destacou na Instituição. Em outubro de 1994, foi fundado o Gisto, um grupo que pudesse cuidar de pacientes fora das possibilidades curativas. De grupo tornou-se o serviço de Cuidados Paliativos e Tratamento da Dor, que atende somente pacientes do SUS e possui uma equipe constituída por duas médicas, uma enfermeira, uma técnica de enfermagem, uma nutricionista e consultores na área da Psicologia e Serviço Social, além de treze voluntárias da Rede Feminina de Combate ao Câncer.

92

O Registro Hospitalar do Câncer iniciou suas atividades em 1990, preenchendo fichas de tumores de pacientes, dentro das diretrizes do Ministério da Saúde. A partir desse levantamento, os 43.196 casos registrados entre os anos de 1990 a 2009, dados epidemiológicos imprescindíveis para compreender o comportamento do câncer, foram compilados em um livro: “Duas décadas de Coleta de Dados”. Que reúne informações sobre a incidência da doença nos diversos grupos, os tumores mais frequentes e até a situação do paciente após a primeira fase do tratamento. No momento em que se percebeu que o número de pacientes vindos de outras cidades e estados era alto, fez-se necessário criar um espaço para essas pessoas ficarem acomodadas em hospedagem especializada durante o tratamento. Assim, em 1989, com a doação do terreno pela esposa do ex-governador Jayme Canet Júnior, foi inaugurada a Casa de Apoio Lourdes Canet, que até 2010 recebia pacientes e acompanhantes. Com a mudança de perfil dos pacientes atendidos, a CALC foi transformada em um Centro Administrativo, e hoje abriga departamentos internos da Instituição.

Na década de 90, com a inflação houve falta de recursos para investir, mantendo apenas a sobrevivência da instituição. Entidades filantrópicas tiveram verbas congeladas e não recebiam repasses. Devido à estagnação, o Hospital não pode investir em recursos tecnológicos nem estrutura. Com a contenção da inflação, através da criação do Plano Real e o apoio da sociedade e novas determinações do Ministério da Saúde, foi possível se restabelecer. Como consequência da regionalização do atendimento oncológico, em 1995, progressivamente o Hospital passou a atender principalmente Curitiba e Região Metropolitana.

O surgimento uma administração mais participativa, ágil e eficiente, ocorreu em 2003 com a implantação do o novo estatuto, juntamente com um novo Conselho de Administração e Fiscal. Que resultou em uma nova maneira de dirigir o Hospital, o foco era ser autossustentável, com o novo modelo de organograma matricial. No mesmo ano foi estabelecido o Plano Anual de Trabalho (PAT), um planejamento para máxima eficiência e menor custo. No início de 2008 um novo Centro Cirúrgico foi inaugurado, com sete salas para cirurgias simultâneas e com tecnologia em vídeo-cirurgia, para garantir segurança e conforto aos pacientes, além de somar em 20% a capacidade, alcançando até mil cirurgias mensais.

93

Desde o início o Serviço de Nutrição e Dietética representa o cuidado personalizado com cada paciente. Existem diversas dietas personalizadas conforme a indicação clínica de cada paciente, aqueles com ingestão alimentar reduzida devido ao tratamento oncológico, bem como os pacientes pediátricos. A Radioterapia, em 2006, passou por uma reformulação do espaço e aquisição de novos equipamentos, o que levou o HEG a ser um dos melhores parques tecnológicos da área.

Com o objetivo de aumentar a capacidade de atendimento e ampliar o espaço físico, em 2008 e 2009 a Quimioterapia SUS passou por uma reforma. Ainda em 2009, com a concepção da Central de Logística, foi possível aperfeiçoar tempo e materiais, com a centralização de recebimento, conferência, armazenamento, conservação, administração de estoque e distribuição para todo o Hospital. A Farmácia veiculou o I Guia Farmacoterapêutico do Hospital Erasto Gaertner em 2011, um instrumento de promoção do uso seguro e racional dos medicamentos.

A Instituição está aumentando suas instalações em uma obra de 3.500 metros quadrados, com valor estipulado de mais de R$12 milhões. O espaço contará com uma nova Unidade de Transplantes de Medula Óssea, 30 leitos de internação, 22 consultórios, um novo Pronto Atendimento com sete leitos, entradas setorizadas, entre outros benefícios, dobrando o número de atendimentos realizados atualmente. O HEG, ainda propõe, a construção do primeiro hospital oncopediátrico do Paraná, o Erastinho, que vem ao encontro de uma questão muito importante: a cura de centenas de crianças e adolescentes com câncer. A construção do Hospital Erastinho é voltada especialmente ao combate do câncer infantojuvenil. Essa nova estrutura proporcionará um espaço agradável e exclusivo para crianças, humanizando ainda mais o tratamento. Serão 4.800 m², com 39 leitos de internamento privativos e semi-privativos, consultórios e espaço recreativo com brinquedoteca, tudo voltado para o melhor tratamento de crianças e adolescentes.

Com 40 anos de existência, a cada momento surgem novos desafios: buscar novas parcerias, fechar o balanço financeiro sem dívidas, ampliar a estrutura, buscar novas tecnologias e serviços. No entanto a missão do Hospital, combater o câncer com humanismo, ciência e afeto, se mantém. Hoje sem o estigma de dor e morte, mas sim de esperança e cura.

94

Na sequência serão apresentados possíveis locais para implantação da Casa de Apoio proposta neste estudo, considerando terrenos próximos ao HEG. Facilitando a locomoção das crianças e adolescentes com câncer até o Hospital Erastinho que será implantado no mesmo terreno do HEG. Considerando também a infraestrutura do entorno e a facilidade de acesso ao transporte público. Propõe-se, a seguir, diretrizes de um projeto para a Casa de Apoio, observadas as necessidades do público alvo, e buscando espaços que garantam o conforto dos pacientes em tratamento, a partir da pesquisa bibliográfica e dos estudos de caso.

95

5 DIRETRIZES PROJETUAIS