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SEÇÃO 1 – ASPECTOS GERAIS

2.2 BACIA HIDROGRÁFICA E SUA GESTÃO

2.2.2 Importância da Preservação e Manejo do Ambiente Ciliar

As florestas no Brasil, como em outras partes do planeta, vêm sofrendo uma agressiva exploração predatória, onde diversas espécies estão combalindo ante ao ritmo frenético e desajustado da extração madeireira ao longo dos anos. O tema da exploração irracional da floresta sempre foi objeto de constantes indagações por parte dos estudiosos, as quais buscam alternativas para a utilização de formas sustentáveis de uso das florestas (ARGUELLES, 2001).

Na bacia hidrográfica, as zonas ripárias apresentam-se essenciais para conservação, tanto do ponto de vista estético, como ecológico, em termos de biodiversidade, e principalmente hidrológico. São áreas situadas às margens dos cursos d’água e reservatórios e nascentes dos rios, onde se instalam as matas ciliares, também chamadas de florestas de galeria, veredas e matas de várzea (MANTOVANI et al, 1989).

Devido às oscilações na umidade e no encharcamento do solo, em decorrência dos períodos de chuva e estiagem, a vegetação, que ocupa as zonas ripárias, apresenta elevada variação em termos de estrutura, composição e distribuição espacial (RODRIGUES; SHEPHERD, 2000).

Essa variável estrutural é caracterizada pela condição de saturação do solo, pelo menos na maior parte do ano, em decorrência da proximidade do lençol freático. São áreas das mais dinâmicas, tanto em termos hidrológicos quanto geomorfológicos e ecológicos

(LIMA; ZAKIA, 2000). Pedologicamente, tais solos variam essencialmente em função de maior ou menor hidromorfismo. Ocorrem desde solos orgânicos, em áreas permanentemente encharcadas, até solos aluviais, em áreas mais altas (JACOMINE, 2000).

Schaefer-Santos (2003) e Lima; Zakia (2000) destacam que, de forma geral, a bacia hidrográfica está em constante transformação e, sem a interferência antrópica, está em equilíbrio dinâmico. Destacam-se ainda, segundo os mesmos autores, as funções das zonas ripárias:

A geração do escoamento direto;

A quantidade de água, a qual contribui para o armazenamento na bacia;

A qualidade da água, pois filtra sedimentos, diminui a concentração de agrotóxicos e retém nutrientes; O corredor de fluxo gênico ao longo da paisagem;

A ciclagem geoquímica de nutrientes e A interação direta com o ecossistema aquático.

A função hidrológica da vegetação ciliar ou ripária exerce sua influência em uma série de fatores importantes para a manutenção da estabilidade da bacia, tais como: atenuação do pico das cheias, dissipação de energia do escoamento superficial pela rugosidade das margens, equilíbrio térmico da água, estabilidade das margens e barrancas, dentre outros, desta forma influenciando, indiretamente, a qualidade da água e o habitat de peixes e de outras formas de vida aquática (ZAKIA, 1998).

Em todo o Brasil, os ambientes naturais têm sofrido com a degradação das áreas de florestas, como as áreas de preservação permanente e de reserva legal. Em uma pesquisa em Santa Catarina, Zaú, Vieira e Chagas (1998) concluem que a cobertura vegetal sofreu grandes alterações antrópicas desde a colonização do estado. Atualmente, encontram-se apenas remanescentes da vegetação original. Fato que tem gerado sérios desequilíbrios ambientais. Considerando que somente os trechos mais significativos de florestas, restingas e mangues foram mapeados, os autores concluem que são necessários levantamentos detalhados dos atributos físicos, biológicos e sócio-econômicos das referidas áreas; ressaltam ainda os benefícios e possíveis perdas para as regiões cujas florestas foram devastadas pelas ações antrópicas.

Na reabilitação de áreas degradadas, deve-se envolver um conjunto de fatores ambientais, de forma que se propiciem condições para que os processos ambientais sejam semelhantes aos de uma vegetação secundária da região, tanto nos aspectos hidrológicos, filtragem de radiação solar, umidade, micro-clima e meso-fauna (VALCARCEL; SILVA, 1997).

Sabe-se que um ecossistema torna-se degradado quando perde sua capacidade de recuperação natural após distúrbios, ou seja, perde sua resiliência. Assim, na recuperação de um ambiente ciliar, dependendo da intensidade do distúrbio, podem ser perdidos fatores essenciais para a manutenção da resiliência, como: banco de plântulas e de sementes no solo, capacidade de rebrota das espécies, chuva de sementes, dentre outros, os quais dificultam o processo de regeneração natural, ou o tornam extremamente lento (MARTINS, 2001).

Segundo o autor supracitado, existem indicadores importantes na recuperação de um ambiente ciliar. Os insetos têm sido considerados bons indicadores ecológicos de recuperação, principalmente as formigas, os cupins, as vespas, as abelhas e os besouros. No solo das áreas em processos de recuperação, há uma sucessão de organismos da meso e macrofauna, portanto, podem ser encontrados bioindicadores em cada uma dessas etapas da recuperação. Outros indicadores vegetativos podem ser medidos como: chuva de sementes, banco de sementes, a produção de serapilheira e silvigênese. Esses indicadores apresentam a vantagem de serem de quantificação relativamente fácil quando comparados com outros indicadores biológicos.

São ainda raros os trabalhos que procuram associar a delimitação e à caracterização hidrológica da zona ripária com a análise da vegetação característica desta área, num enfoque integrado do chamado ecossistema ripário. Tais estudos podem, sem dúvida, proporcionar informações úteis para nortear o manejo ambiental visando à manutenção da integridade e da saúde da microbacia, o que vem ao encontro de preceitos do manejo sustentável. Por outro lado, tais informações são necessárias para a realização de programas de recuperação de matas ciliares, onde as fontes de sementes da vegetação ripária foram completamente destruídas, ou ainda, no enriquecimento de fragmentos ciliares, onde a presença de espécies funcionalmente importantes tenha sido drasticamente diminuída (ZAKIA, 1998).

O efeito do piso florestal sobre a infiltração, que pode ser aspecto primordial na função e importância do ambiente ciliar, é melhor entendido através dos resultados obtidos por Arend (19428 citado por ZAKIA, 1998), quando comparou a infiltração em diferentes tratamentos.

8 AREND, J.L. (1942). Infiltration as affected by the forest floor. Soil Science Society of America

Zakia (1998), citando Trimble e Lull (19569), mostra que a intensidade da chuva

registrada sob a floresta de latifoliadas mistas é muito similar à intensidade da chuva registrada em terreno aberto. Desta forma, a proteção do solo contra o impacto das gotas de chuva deve-se mais pelo piso florestal do que pelas copas das árvores.

A análise desses resultados, assim como de vários outros disponíveis na literatura, permite concluir que, de maneira geral, a taxa de infiltração é tanto maior quanto maior for a cobertura florestal, sendo maior em florestas adultas do que em florestas mais jovens (ZAKIA, 1998).

A importância da macroporosidade na produção de água em bacias hidrográficas está discutida em German (199010) citado por ZAKIA (1998). A compactação do solo reduz a

porosidade total, principalmente a porosidade não-capilar (macroporos), e é responsável pelo fato das áreas cultivadas apresentarem menor infiltração do que áreas adjacentes florestadas.

Castro (2001) realizou pesquisa cujo principal objetivo foi a análise dos impactos de atividades humanas, incluindo desmatamento, sobre os recursos hídricos de pequenas bacias hidrográficas. O estudo de caso realizado no município de Santa Maria de Jetibá - ES objetivou avaliar, por meio da análise de características de bacias com o uso de SIG e monitoramento quali-quantitativo da água, os impactos causados pelo uso e ocupação humana em áreas anteriormente cobertas por florestas.

Santos (2001) realizou estudo, na cidade de Manaus, buscando oferecer ao poder público uma proposta de projeto, com a finalidade de minimizar os impactos, possibilitando uma melhoria na qualidade da água, com aproveitamento direto e indireto da população de modo geral, em forma de recreação, turismo, irrigação e outros, tendo em vista a proteção efetiva oferecida pela floresta às margens de rios e nascentes, apontando para a necessidade da consolidação de uma política consistente de preservação dos remanescentes florestais, pelos inúmeros benefícios que a floresta proporciona.

9 TRIMBLE Jr., G.R. & LULL, W.H. (1956). The role of forest humus in watershed management in New England. U.S. Forest Service, Northeastern Forest Research Station, Station Paper n 85, 65-67.

10 GERMAN, P.F. (1990). Macropores and hydrologic hillslope processes. In: Process Studies in