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SEÇÃO 2 DIAGNÓSTICO E CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-AMBIENTAL DAS

3.1 STATUS DAS ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE

Os estados brasileiros, na sua expressiva maioria, a partir da determinação legal, passaram a apontar os espaços territoriais denominados “áreas de preservação permanente.” Esses espaços podem estar no domínio público ou privado e limitam constitucionalmente o direito de propriedade, aplicando a função ambiental da propriedade prevista no Art. 170, VI, CF (BRASIL, 1988).

As áreas em estudo das microbacias Santa Rosa e Xaxim caracterizam-se pela Floresta Ombrófila Mista Montana, uma formação que ocupava quase todo o planalto situado acima dos 500 m de altitude, nos estados do Paraná, Santa Catarina, e Rio Grande do Sul. Podia-se observar a Araucaria angustifolia (pinheiro) ocupando e emergindo da submata de

Ocotea pulchella (canela pimenta, canela laranja) e Ilex paraguariensis (erva mate), acompanhada da Cryptocarya aschersoniana (canela fogo, canela amarela, canela branca) e

Nectranda megapotamica (canela ferrugem). No norte do Paraná, a araucária estava associada à Ocotea porosa (imbuia) (AMBIENTEBRASIL, 2003).

No Paraná, grandes agrupamentos gregários desapareceram, sendo substituídos pela monocultura intercalada de soja e trigo. Atualmente, eles são encontrados em poucas reservas particulares, na Região Oeste, e um dos mais importantes agrupamentos está presente em uma das principais Unidades de Conservação Federais, inseridas no Estado do Paraná, o Parque Nacional do Iguaçu, denominado PARNA do Iguaçu, com 185.262 ha na região de Floresta Estacional Decidual (Figura 15).

O Parque Nacional do Iguaçu tem o seu início próximo à Microbacia Xaxim, no Município de Céu Azul, mas abrange também, os municípios de Foz do Iguaçu, Matelândia, Medianeira e São Miguel do Iguaçu (Figura 15). Ademais, desenvolvem-se atividades de Educação Ambiental, uso público, pesquisa e fiscalização.

FIGURA 15 - MAPA DO MUNICÍPIO DE CÉU AZUL – COM A LOCALIZAÇÃO DO PARQUE NACIONAL DO IGUAÇU

Fonte: Parque Nacional do Iguaçu. Disponível: www.parquenacionaldoiguacu. org.br. Acesso: 05/05/2007.

Segundo o levantamento detalhado e geoprocessado e as observações de campo das Áreas de Preservação Permanente (APP) ou de Reserva Legal (RL), ou ainda, áreas em recuperação nas Microbacias Xaxim e Santa Rosa, é possível dizer que existem alguns remanescentes florestais ou exemplares típicos desse povoamento florestal, esparsos entre as áreas de mata secundária, em estágio médio ou avançado de recuperação.

Pode-se analisar que, na Microbacia Xaxim, existem apenas 324 ha destinados à APP (área de ambiente ciliar) que representam aproximadamente 10% da área total da bacia, ou seja, falta implantar o correspondente a 521,52 ha de mata ciliar (Figura 16).

Muitas destas áreas já foram destinadas à recuperação e encontram-se cercadas nas microbacias, como respostas às ações do Projeto Cultivando Água Boa. A área existente na Microbacia Xaxim, em reserva legal, é de apenas 6% e corresponde a 185,25 ha conforme a Figura 16, distribuídos em inúmeros fragmentos, mas falta implantar cerca de 357,58 ha.

185,25 ha 6% 324,01 ha 10% 2808,52 ha 84%

Mata Ciliar Existente RL Existente Outros usos

Uso e Ocupação das Terras Microbacia: Sanga Xaxim Área Total: 3.584 ha

Área Total Lavantada: 3.317,74 ha

FIGURA 16 - DISTRIBUIÇÃO DE MATA CILIAR E RESERVA LEGAL EXISTENTES NA MICROBACIA XAXIM

Fonte: Dados brutos de Itaipu, 2007.

Na área amostrada da Microbacia Santa Rosa, existem, atualmente, 8,26 ha (3,62%) de ambiente ciliar e 13,98 ha em reserva legal, correspondentes a 6,13% e, se somados são quase 10% em APP (Figura 17).

8,26 ha 4% 13,98 ha 6,13% 205,76 ha 90,25%

Mata Ciliar Existente RL Existente Outros usos Uso e Ocupação das Terras

Microbacia: Sanga Santa Rosa Área Total: 1.836 ha

Área Total Levantada: 228 ha

FIGURA 17 - DISTRIBUIÇÃO DE MATA CILIAR E RESERVA LEGAL EXISTENTES NA MICROBACIA SANTA ROSA

Fonte: Dados brutos de Itaipu, 2007.

As APPs, que representam as florestas nas propriedades rurais e que devem, além de preservar a natureza e a integridade dos ecossistemas aquáticos, servir como espaços de preservação da flora e fauna locais, foram analisados pelos dados do levantamento das propriedades das bacias em estudo.

Na Figura 18, está apresentado o mapa obtido com o levantamento das áreas de ambiente ciliar e de reserva legal, nas propriedades da Microbacia Xaxim.

O mapa da microbacia Santa Rosa, que representa as áreas de ambiente ciliar e de reserva legal existentes, na amostra realizada, é apresentado na Figura 19.

O levantamento realizado nas microbacias estudadas pode representar um estudo característico do uso e ocupação do solo atual da região Oeste Paranaense. Assim, pode-se depreender que o atual status das Microbacias Santa Rosa e Xaxim apontou uma grande necessidade no que tange à recuperação das áreas de preservação permanente.

FIGURA 18 - MAPA COM AS ÁREAS DE AMBIENTE CILIAR E RESERVA LEGAL NA MICROBACIA XAXIM

FIGURA 19 - MAPA COM AS ÁREAS DE AMBIENTE CILIAR E RESERVA LEGAL NA ÁREA AMOSTRADA DA MICROBACIA SANTA ROSA Fonte: Itaipu, 2007.

4 A PRESSÃO PELOS CONFLITOS: USO E CAPACIDADE DA TERRA

SEGUNDO O LEVANTAMENTO UTILITÁRIO DAS PROPRIEDADES

As origens das condições sócio-econômicas da população rural encontram-se especialmente concentradas na posse da terra, uma vez que a população das áreas rurais obtém seu sustento por meio da produção rural. Levantada a posse da terra, obteve-se que na Microbacia Santa Rosa é, em média, 6,56 ha por família. A maioria das famílias possui menos que 6,30 ha de terra (Figura 20).

FIGURA 20 - DISTRIBUIÇÃO POR TAMANHO DAS PROPRIEDADES NA MICROBACIA SANTA ROSA, 2006.

Fonte: Itaipu, 02/04/2007.

Esta média de área é considerada pequena do ponto de vista da sustentação econômica da propriedade, pois, para os padrões brasileiros, a pequena propriedade é determinada em, no máximo, 30 ha. No entanto, em outros países, a média é ainda menor. Em um estudo, com variáveis semelhantes, realizado na província de Java Oeste, na Indonésia,

por Brutuisworo (2000), a média por família encontrada foi de 0,60 ha, e, segundo o pesquisador, “dificilmente um fazendeiro possui mais que 5 ha de terra”.

Na Microbacia Santa Rosa, o maior número de propriedades encontra-se na faixa de até 5 ha, representando 46% (Figura 20). Já na Microbacia Xaxim, de acordo com os dados obtidos, o maior número de propriedades encontra-se na faixa de 5 a 10 hectares (26,82%), conforme Figura 21.

FIGURA 21 - DISTRIBUIÇÃO POR TAMANHO DAS PROPRIEDADES NA MICROBACIA XAXIM, 2005.

Fonte: Itaipu, 02/04/2007.

Somando-se as propriedades com área menor que 30 ha na Microbacia Xaxim, essas correspondem a 87%, e na Microbacia Santa Rosa são 96% as que se constituem em pequenas propriedades, segundo estabelece a Medida Provisória No 2.166-67/2001 (BRASIL, 2001).

Na Figura 22, que representa a dispersão das áreas das propriedades na Microbacia Lajeado Xaxim, observa-se que a maior concentração está entre as propriedades que possui área de 0 a 15 ha e aparecem distribuídas quase uniformemente. Entre 15 e 30 ha existe uma concentração menor, porém significativa, enquanto as que possuem área maior que 30 ha encontram-se esparsamente distribuídas.

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 0 50 100 150 200 Proprie dade h ec ta re s

FIGURA 22 - DISPERSÃO REFERENTE AO RESULTADO DO TAMANHO DAS PROPRIEDADES DA MICROBACIA XAXIM

Fonte: A autora. Dados brutos extraídos de Itaipu, 2007.

A Microbacia Santa Rosa não apresentou, na amostragem realizada, propriedades com área acima de 30 ha, mas, pelo levantamento de observação realizado em campo, existem aproximadamente cinco propriedades acima de 30 hectares.

A pressão populacional sobre a terra é um dos principais problemas em muitos países em desenvolvimento. Grande parte dos problemas ambientais tais como desflorestamento, erosão, secas e enchentes tiveram suas origens em virtude dessa pressão. O crescimento populacional, as demandas econômicas com as inovações tecnológicas agrícolas para uso familiar, bem como a mudança de padrão de consumo obrigam os fazendeiros das áreas rurais a aumentar suas terras cultivadas, a fim de fazer frente a esses incrementos de demanda, caso contrário, serão forçados a abandonar suas terras e procurar novas fontes de renda. “A falta de uma política agrícola que promova a fixação do homem no campo favorece o constante fluxo migratório. Os assentamentos são compostos, na maioria das vezes, por agricultores de outras regiões e pessoas estranhas ao meio rural que trazem na bagagem sistemas produtivos inadequados” (BRASIL, 2003; BRUTUISWORO, 2000).

Na Microbacia Santa Rosa, possivelmente, a pressão econômica representada pelo padrão de consumo atual e a agricultura extensiva, voltada para a exportação realizada no Oeste do Paraná, têm exercido pressão para que muitas famílias não encontrem condições

para se manterem em pequenas propriedades rurais. Percebe-se que a decisão de morar na cidade não é pela falta de apreço dos moradores pela terra, já que amor e apego são demonstrados especialmente pelos mais idosos; eles partem em busca de condições econômicas e culturais como emprego e estudos.