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APÊNDICE I Resultado Geral da Maturidade das Práticas na UFC

4.3 Análise Quantitativa e Qualitativa dos Dados

4.3.4 Estudo da Percepção do Processo de AE

4.3.4.1 Importância Relativa dos Critérios

No modelo desenvolvido por Luftman (2000) os seis critérios atuam no processo de AE com o mesmo peso, no entanto, a aplicação do SAMM, em estudos posteriores (LUFTMAN, 2003; LUFTMAN et al., 2008), demonstra que a importância desses critérios pode variar de organização para organização, dependendo do momento e das características do contexto. Farrel (2003) chegou a uma constatação semelhante na sua pesquisa sobre fatores intervenientes no AE, onde os resultados obtidos apontaram para

uma hierarquia entre os fatores. Rigoni (2006) também investigou a relevância dos critérios do modelo SAMM e sua relação com o nível de maturidade. A sua pesquisa, por exemplo, chegou a uma classificação na qual no primeiro lugar está Comunicação e no último Escopo e Arquitetura.

Tendo por base as ideias de Rigoni (2006) e visando a aprofundar o diagnóstico do AE na UFC, este experimento investigou a existência dessa relação por meio dos itens da questão Q24 (APÊNDICE G), correspondendo aos seis critérios do modelo SAMM de Luftman. Na referida questão, solicitou-se aos respondentes que, para cada item apresentado, atribuíssem uma pontuação de 0 a 100, de modo a estabelecer uma ordem de importância entre eles.

A análise preliminar dos dados, todavia, mostrou que a opção de oferecer nesse bloco de questões uma liberdade maior aos respondentes, sugerindo a distribuição de 100 pontos, mas evitando o controle da pontuação total atribuída, teve um resultado inesperado de uma grande diversidade no conjunto de respostas dado pelos gestores. Por exemplo, um sujeito R1 adotou uma distribuição de pontos na qual o critério mais importante recebeu 10 pontos e o de menor importância 1. Outro sujeito, R2, atribuiu 50 pontos ao mais importante e 10 pontos ao menos importante. Tal disparidade de valores tanto dificultava o estabelecimento da ordem de importância entre os critérios como poderia comprometer a confiabilidade dos resultados.

A solução encontrada, respeitando a preferência de cada respondente, foi uniformizar as diferentes respostas, convertendo as pontuações atribuídas pelo respondente em um peso do item em relação à soma da pontuação do conjunto de itens avaliados. Esse Peso de Importância do Critério (PIC) foi calculado do seguinte modo:

procedeu-se à identificação dos respondentes que atribuíram valor zero a todos os critérios (2 casos) e esses sujeitos foram arbitrariamente eliminados da amostra;

para cada um dos 80 respondentes restantes, foi calculado o PIC de cada um dos seis Itens/Critérios avaliados, utilizando-se uma regra de três simples, onde o quociente encontrado (X) representa a posição do critério no conjunto:

pts da Q24= 1 nn pts do Item = X

A primeira forma de estabelecer a classificação é por meio da análise dos resultados gerais de cada critério. A tabela 4.20 apresenta esses resultados para a amostra de 80 respondentes. Nela estão especificados : o valor mínimo do PIC (MIN) e o valor máximo (MAX), o somatório de todos os valores ( PIC), o valor médio (MPIC) e o desvio-padrão ( ) dos PICs.

Tabela 4.20 – Pontuação Geral por Critério

Critério MIN MAX PIC MPIC

Arquitetura (ARQ) 0 1 15,96 0,20 0,14 Comunicação (COM) 0 0,69 15,53 0,19 0,11 Governança (GOV) 0 0,43 10,05 0,13 0,08 Indicadores (IND) 0 0,38 10,63 0,13 0,08 Parceria (PAR) 0 0,30 12,37 0,15 0,07 Recursos Humanos (RH) 0 0,60 15,47 0,19 0,10 Fonte: Dados Pesquisa AE UFC 2009

Os dados da tabela 4.20 indicam que o fator Arquitetura ocupa a primeira posição, tanto pela maior média obtida (MPIC=0,20) como pelo somatório dos pesos ( PIC=15,96). Em seguida, estão os fatores Comunicação (MPIC=0,19 e PIC=15,53) e Recursos Humanos (MPIC=0,19 e PIC=15,47). Os menores pesos estão com Indicadores (MPIC=0,13 e PIC=10,63) e Governança (MPIC=0,13 e PIC=10,05). Observa-se proximidade dos valores médios, o que pode ser um sinal de que a maioria dos respondentes percebe e reconhece a influência dos seis fatores do modelo de Luftman para o alcance e manutenção do processo de alinhamento entre as estratégias de TI e de negócio. A pertinência ou validade do modelo SAMM de Luftman (2000) já vem sendo testada e comprovada em diversos trabalhos, dentre os quais se destaca Sledgianowski (2004), e, mesmo que não seja o objetivo desta pesquisa testá-lo, é interessante constatar que seus pressupostos se mostram válidos num contexto de aplicação diferente, como a UFC. No gráfico 4.6, pode-se ter uma noção mais exata da posição de cada um dos critérios em função dos pesos atribuídos pelos respondentes em duas variáveis: somatório de pesos ( PIC) e valor médio (MPIC).

Classificação Geral dos Critérios por Peso 12,37 10,63 10,05 15,47 15,53 15,96 0,19 0,19 0,2 0,15 0,13 0,13 9 12 15 18

ARQ COM RH PAR IND GOV

0 0,1 0,2 0,3 PIC MPIC

Gráfico 4.6 – Classificação Geral dos Critérios por Peso Fonte: Dados Pesquisa AE UFC 2009

Apesar da diferença de magnitude da escala de variáveis ( PIC: 9 a 17 e MPIC:0 a 0,21), o gráfico 4.6 demonstra um comportamento similar entre as séries, embora que, na primeira ( PIC), a diferença entre os critérios mais e menos relevantes é mais visível, ressaltando claramente o seu posicionamento entre os demais no que se refere à sua importância para o processo de AE. Na percepção dos gestores da UFC, formam-se dois grupos: o primeiro, onde os fatores mais importantes (Arquitetura, Comunicação e Recursos Humanos) têm valores de relevância bem próximos, e o segundo, com fatores menos importantes (Parceria, Indicadores e Governança), onde se verifica maior distanciamento do critério Parceria em relação aos dois demais. Algo interessante de se comentar é o fato de que o critério menos importante na UFC é justamente aquele que, segundo Luftman (2000), lida com a autoridade sobre as decisões em TI. A possível interpretação para essa baixa relevância da Governança pode estar nas características de funcionamento da universidade como anarquia organizada (ESTRADA, 2000), onde as unidades se sentem autônomas para tomar decisões, incluindo aspectos da área de TI que lhe dizem respeito. Essa baixa relevância da Governança é uma contradição, à medida que ela é o fator que deve vir primeiro e fundamenta todos os outros (SLEDGIANOWSKI, 2004).

A segunda maneira de interpretar os resultados da Q24 é analisar a frequência com que cada critério foi indicado no primeiro lugar entre os respondentes. Nessa análise, os pesquisadores identificaram outro problema: casos em que foram atribuídos pesos iguais a todos os critérios ou houve empate de dois ou mais critérios no primeiro lugar.

Partindo do princípio de que nessas situações o respondente não atendera à solicitação dos pesquisadores de definir uma ordem de importância entre os critérios (distribua um total de 100 pontos entre os 6 (seis) critérios, estabelecendo uma ordem de importância entre eles), e que a consideração de tais respostas poderia levar a um enviesamento do resultado final das frequências, convencionou-se isolar tais casos, incluindo-os em um novo critério - INDEFINIDO. A distribuição de frequência dos valores percentuais de cada critério como mais importante (Tabela 4.21) é apresentada no gráfico 4.7.

Tabela 4.21 – Distribuição de Indicações dos Critérios como Mais Importante

Critério Mais Importante Indicações Percentual

Indefinido 35 43% Recursos Humanos (RH) 14 17% Arquitetura (ARQ) 11 14% Comunicação (COM) 11 14% Indicadores (IND) 5 6% Governança (GOV) 2 3% Parceria (PAR) 2 3%

Fonte: Dados Pesquisa AE UFC 2009

Distribuição Indicações 1º Lugar

43% 17% 14% 14% 6% 3% 3% INDEFINIDO ARQ COM GOV IND PAR RH

Gráfico 4.7 – Ranking de Importância por Indicação Fonte: Dados Pesquisa AE UFC 2009

Chama a atenção, no gráfico 4.7, o percentual elevado de respondentes (43%) que não apontaram fator único como mais relevante, preferindo considerar dois ou mais fatores. Esse dado talvez possa ser atribuído a uma dificuldade de entendimento do conceito por trás de cada fator ou a novidade do tema no contexto da UFC. Na dúvida, os gestores preferiram a neutralidade, distribuindo os pontos uniformemente. Essa distribuição reforça a atuação dos seis fatores como um todo no processo de AE na UFC. Além do mais, como todos os fatores representam forças inter-relacionadas é natural que haja essa indefinição. Outro ponto que reforça o reconhecimento dos fatores do SAMM é que, mesmo com distribuições diferentes, todos os seis fatores receberam pelos respondentes indicações para a posição de mais importante.

Nessa análise, o critério Recursos Humanos foi o que obteve maior número de indicações (14), seguido pelos critérios de Arquitetura (11) e Comunicação (11). Novamente o grupo dos fatores mais importantes (veja Gráfico 4.5) se confirma.

Pelo número de indicações para o primeiro lugar, no entanto, há uma alteração no grupo dos critérios menos importantes. Neste caso, houve troca de posição entre os critérios Indicadores e Parceria, que passou a ocupar a última posição, junto com o critério de Governança.

A tabela 4.22 sintetiza as classificações obtidas com origem nas três leituras dos resultados: por média de pesos (MPIC), soma de pesos ( PIC) e por número de indicações ao 1º lugar (NIPL).

Tabela 4.22 – Resumo dos Resultados da Ordenação de Critério

Classificação de Importância de Critérios

MPIC PIC NIPL

Arquitetura Arquitetura Recursos Humanos Comunicação Comunicação Arquitetura Recursos Humanos Recursos Humanos Comunicação

Parceria Parceria Indicadores

Governança Indicadores Governança Indicadores Governança Parceria Fonte: Dados Pesquisa AE UFC 2009

Rezende (2002) apontou em sua pesquisa que os fatores com maior peso na promoção do AE estão ligados a questões comportamentais e de infraestrutura organizacional. Seu estudo demonstra que esses fatores atuam favoravelmente, independentemente de haver um planejamento formal de TI.

Na UFC, os critérios de Arquitetura e Recursos Humanos aparecem como mais relevantes. O critério de Comunicação, que ocupa a 2ª posição em duas categorias (MPIC e PIC), se relaciona também com as questões comportamentais citadas em Rezende (2002), além de ser apontado por diversas pesquisas como um dos principais fatores habilitadores do AE.

Para finalizar a análise desse conjunto de dados, realizou-se um cruzamento entre o grau de maturidade dos critérios (MAEC), estabelecido desde as médias de suas práticas, e as posições na classificação de importância. Na tabela 4.23, estão destacados os fatores que ocupam, respectivamente, a primeira e a última posição.

Tabela 4.23 – Cruzamento Maturidade e Importância de Critério

Posição do Critério Critérios

MAEC MPIC PIC NIPL

Arquitetura (ARQ) 5º 1º 1º 2º Comunicação (COM) 4º 2º 2º 3º Governança (GOV) 2º 5º 6º 5º Indicadores (IND) 6º 6º 5º 4º Parceria (PAR) 3º 4º 4º 6º Recursos Humanos (RH) 1º 3º 3º 1º

Fonte: Dados Pesquisa AE UFC 2009

Os dados revelam aparente contradição no critério Arquitetura, que tem um dos menores índices de maturidade em função da efetividade de promoção de suas práticas na UFC e, mesmo assim, é percebido em duas categorias (MPIC e PIC) como o fator mais importante para o AE. Na situação oposta, está o Critério de Indicadores, onde se verifica o menor índice de maturidade das práticas (MAEC) e também as mais baixas pontuações de relevância.

Uma justificativa para essa aparente unanimidade talvez seja o fato de os gestores ainda não terem despertado para a importância de se ter indicadores ou parâmetros de avaliação dos resultados, além da própria dificuldade de estabelecer medidas para captar os benefícios de natureza intangível da TI. Já a explicação para a importância da Arquitetura pode estar na combinação de dois aspectos da realidade da UFC: uma forte dependência das atividades da TI e a percepção intuitiva dos gestores de que a área tem um status de ferramenta estratégica.

Observa-se que o Critério de Recursos Humanos tanto alcançou a maior média de maturidade como também foi a moda nas indicações de critério mais importante. Esse resultado demonstra que os gestores estão cientes de que a posição das pessoas e

suas atitudes diante da inovação, da tecnologia, são determinantes do sucesso ou fracasso de qualquer projeto envolvendo as áreas de TI e negócio.

Os aspectos divergentes entre a maturidade dos critérios (MAEC) e a importância atribuída pelos gestores (valores de MPIC, PIC e NIPL) podem ser visualizados no gráfico 4.8.

Maturidade X Importância Critérios na UFC

0 1 2 3 4 5 6 7

ARQ COM GOV IND PAR RH

MAEC MPIC

PIC NIPL

Gráfico 4.8 – Comportamento Maturidade X Importância dos Critérios na UFC Fonte: Dados Pesquisa AE UFC 2009

Comparando as quatro séries, nota-se claramente a disparidade entre as percepções de importância e maturidade em todos os critérios. Dos três critérios considerados mais importantes (ARQ, COM e RH), dois estão no grupo de critérios Inibidores, pela baixa maturidade alcançada (ARQ e COM). Semelhante situação acontece entre os menos importantes (PAR, IND e GOV), porquanto dois deles (PAR e GOV) estão no grupo dos facilitadores pela média de maturidade superior ao AE organizacional. As relações entre maturidade e importância verificadas na UFC, embora pareçam contraditórias, não surpreendem. A pesquisa de Rigoni (2006), mesmo apontando mais coincidências entre maturidade e importância dos critérios do SAMM, como em Comunicação, que foi o critério mais importante e também com maior maturidade de promoção, também registra situações semelhantes às verificadas na UFC, onde o critério Arquitetura, considerado o de menor importância, obteve o segundo maior nível de maturidade.