• Nenhum resultado encontrado

IMPRESSÕES DISCENTES SOBRE A FATEC DE ITAPETININGA

CAPÍTULO 3 O COTIDIANO NA FATEC DE ITAPETININGA

3.6 CORPO DISCENTE

3.6.2 IMPRESSÕES DISCENTES SOBRE A FATEC DE ITAPETININGA

A pesquisa foi realizada nos mesmos moldes daquela levada a efeito com os professores, com um grupo de dezesseis alunos, num universo de aproximadamente mil [insignificante enquanto amostragem estatística, bem o sabemos], através de entrevistas gravadas nas dependências da própria Fatec, nos intervalos entre as aulas. O questionário semi-estruturado que elaborei (ver Apêndice C) funcionou mais como um roteiro para uma conversação quando, ao longo desse percurso, senti a necessidade de adicionar outras perguntas àquelas já existentes, o que ocasionou ‘espaços vazios’ de algumas respostas dos alunos entrevistados anteriormente.

Não foi minha intenção levantar um ‘perfil’ nem traçar uma ‘identidade’ dos estudantes, muito menos inferir os resultados à população, mas é bom que se diga que a visão desses alunos, certamente, corresponde de forma mais fidedigna aos fatos que acontecem nas salas de aula e corredores da Fatec e, acredito também, representa, de modo bastante confiável, as opiniões da grande maioria dos alunos daquela instituição.

Foram coletados dados sobre as impressões que esses alunos têm da escola onde estudam, de seus professores, do curso e, principalmente, da experiência acadêmica que estão vivenciando, se lhes têm correspondido às expectativas e de que forma isso ocorre. Não é demais esclarecer minha postura e repetir que prevaleceu minha ‘intuição’ ao escolher esses alunos para fornecer dados mais confiáveis a respeito daquilo que me interessava. Todos os nomes foram representados por um código de letras para preservar o sigilo desejável nesses casos e o tratamento de gênero será sempre masculino.

Num primeiro momento, procurei tabular os dados de modo a criar uma planilha que me orientasse na obtenção de informações quantitativas. Assim, algumas categorias foram utilizadas para uma análise estatística. Posteriormente, fui identificando e compilando as demais categorias que ainda não havia previsto, agora de caráter qualitativo.

Do total de 16 (dezesseis) alunos, 6 (seis) eram do sexo masculino e 10 (dez) do sexo feminino. Participaram 3 (três) egressos que hoje são funcionários da instituição (18,75%); 6 (seis) alunos do Curso de Agronegócio (37,5%) sendo 4 (quatro) representantes de sala e 2

(dois) estagiários; 3 (três) alunos do Curso de Informática (18,75%) todos representantes de sala, embora um deles também seja estagiário; 1 (um) aluno do Curso de Análise e Desenvolvimento de Sistemas (6,25%) estagiário; e 3 (três) alunos do Curso de Comércio Exterior (18,75%) sendo 2 (dois) representantes de sala e um estagiário. Todos os estágios acontecem na própria instituição.

Os temas que acreditei relevantes nessa fala dos alunos se referem: à prática pedagógica de seus professores [aí identificando os que abordam temas transversais, os que utilizam o conhecimento prévio dos alunos e suas qualidades e ‘defeitos’]; a estrutura física da Fatec; o Projeto Pedagógico; as expectativas em relação ao curso que frequentam; o que mudou na vida pessoal de cada um e suas considerações mais gerais. Trechos dos depoimentos estão inseridos neste trabalho (ver Apêndice D). Passo a descrever a estatística calculada sobre os dados coletados.

A PRÁTICA DOCENTE Temas transversais

Para 43,75% dos alunos a maioria dos professores fala sobre os temas transversais; igual porcentagem de alunos (43,75%) responderam que a minoria fala sobre esses temas; e, 12,5% responderam que não se lembram ou que os professores abordam apenas os assuntos relacionados com a disciplina deles [nenhum].

Conhecimento prévio dos alunos

Com relação ao conhecimento prévio que os alunos detêm e que o professor procura trazer para a sala de aula, 62,5% dos alunos disseram que a maioria dos professores usa esse artifício contra 37,5% deles que disseram ser a minoria.

Qualidades do professor

Com relação às qualidades que um bom professor deve ter, os alunos apontaram as seguintes categorias: pontualidade (12,5%); preparo das aulas (18,75%); relacionamento com alunos (43,8%); didática (56,25%); dedicação encarada como um dinamismo do professor, no sentido de procurar saber se o aluno entendeu de fato e, caso contrário, se preocupar em tirar dúvidas (62,5%); e, conhecimento da matéria com demonstração de

domínio do assunto e segurança na sua exposição (87,5%). A soma das porcentagens ultrapassa os 100% em virtude de que cada aluno indicou mais do que um quesito.

‘Defeitos’ do professor

Os alunos apontaram, também, algumas características ‘indesejáveis’ nos professores, muito embora estivessem se referindo a um número bastante pequeno deles. Resolvi chamá- las de ‘defeitos’ e acredito ser importante fazer estas observações, uma vez que deve existir algum professor que não percebe seu comportamento ‘reprovável’ diante do aluno. Que sejam consideradas, portanto, como críticas construtivas. Alguns alunos fizeram comentários sobre professores desmotivados, cansados ou até mesmo arrogantes, mas nos seus depoimentos eles deixaram claro que isso acontece com um ou outro docente, especificamente, ou seja, são casos pontuais que não me interessam abordar neste trabalho. Os comentários mais contundentes dão conta de três características. O critério de avaliação injusto ou subjetivo foi declarado por 12,5%; a desmotivação foi indicada por 18,75%; e a falta de conhecimentos técnicos e/ou falta de didática obteve 25,0% das declarações dos alunos.

ESTRUTURA FÍSICA

Os alunos tiveram dificuldades para falar sobre este assunto, uma vez que a instituição passava por reformas e havia todo um inconveniente em virtude disso, poeira, barulho, uma série de transtornos que toda a comunidade acadêmica sentiu, durante praticamente dois anos. Assim, 18,75% dos alunos resolveram dizer que estava tudo excelente ou muito bom, pois acreditavam que as reformas levariam a uma situação ótima de estrutura do prédio. Outros 43,75% preferiram não declarar nada que fosse sobre a estrutura física da instituição, uma vez que a Fatec estava em desenvolvimento. Assim, as falhas na estrutura física ficaram por conta de 18,75% dos alunos apontando a Internet; 12,5% as salas de aula no que diz respeito à manutenção dos projetores ali instalados; igual porcentagem para a Biblioteca 12,5%; e, a dificuldade com o xérox indicado por 6,25% deles.

O PROJETO PEDAGÓGICO E O CURRÍCULO

Ao serem indagados sobre o Projeto Pedagógico e o currículo da Fatec, os alunos se pronunciaram no sentido de indicar os problemas mais frequentes e as ‘carências’ que eles sentiam existir na instituição. Nenhum deles falou sobre os conteúdos programáticos, a não ser para elogiar, mas apontaram o fato de que, para algumas disciplinas, a quantidade de horas-aula é exagerada e, em contrapartida, para outras essa quantidade é escassa. Houve quem dissesse estar tudo ótimo e que nada deveria ser mudado (12,5%). Assim, as demais respostas consideradas foram: elaboração de projetos de extensão (6,25%); frear a evasão (12,5%); número de horas-aula e/ou focar disciplinas (18,75%); maior número de eventos e maior participação dos alunos (18,75%); aumentar o número de aulas práticas e de visitas técnicas (43,75%); e, melhorar a comunicação interna (50,0%).

AS EXPECTATIVAS COM RELAÇÃO AO CURSO

Para esta questão houve unanimidade nas respostas. Todos sentem que as expectativas foram atingidas. Muitos deram início aos estudos mesmo não sendo exatamente o que queriam, mas, ao longo do tempo, foram se deixando ‘contagiar’ pela vida acadêmica e alguns pensam até mesmo em continuar seus estudos.

O QUE MUDOU NA VIDA PESSOAL

As respostas a essa questão me surpreendeu de tal maneira, que jamais poderia imaginar os alunos atingindo o nível de amadurecendo que eles demonstraram nas respostas e criando a consciência da importância, para suas vidas, de estar estudando e aprendendo cada vez mais. A ideia de que o diploma serve apenas para o mercado de trabalho acaba ‘caindo por terra’ no momento em que, aparentemente, não é o diploma em si, a prioridade desses alunos. Existe um deslumbre, da parte deles, que aumenta ainda mais a responsabilidade da Fatec, como um conjunto social, de ser a protagonista das transformações que ocorrem, ou que pelo menos sinto ocorrer, pelas respostas destes alunos.

AS CONSIDERAÇÕES GERAIS DOS ALUNOS

Após as respostas dadas às questões que eu tinha em mãos, solicitei aos alunos que fizessem suas considerações. Assim, muitas vezes os assuntos eram recorrentes, quer dizer, o aluno voltava a falar de coisas que ele já havia dito anteriormente. Vamos às principais.

Os alunos elogiaram seus professores dizendo que todos eles têm conhecimentos técnicos e específicos de suas respectivas disciplinas e que a importância delas fica mais acentuada quando o professor consegue relacionar sua utilização na resolução de problemas práticos do dia-a-dia. Disseram, também, que a maioria deles está sempre incentivando os alunos para que participem de eventos científicos como congressos, simpósios, mostras de projetos motivando-os, portanto, a realizar pesquisas e produzir textos técnicos a partir de assuntos do seu interesse.

Com relação ao diretor atual, eles apontaram o seu dinamismo em conseguir realizar os empreendimentos no prédio como a Internet sem fio e os projetores em todas as salas de aula. Acreditam que os contatos com a Prefeitura e o Centro Paula Souza possibilitaram a participação deles em eventos fora da instituição. As críticas ficaram por conta da pouca divulgação da Fatec na comunidade itapetiningana, com relação aos cursos e aos projetos desenvolvidos no sentido de chamar a atenção para a sua importância no cenário local e regional.

Também fizeram críticas quanto à maior participação dos alunos na vida acadêmica e sugeriram criar uma comissão que pudesse atuar mais ativamente nas tomadas de decisões que os envolvessem. Acreditam que isso poderia melhorar as questões sobre estágios remunerados, vistas técnicas e mesmo na solicitação de contribuições financeiras para patrocínio na realização de eventos na própria instituição ou de participação em outras.

No que diz respeito à comunicação interna os alunos também fizeram muitas críticas, pois até em eventos que a Fatec participava havia professores que não sabiam dar informações sobre o que estava acontecendo. Alguns alunos que se envolveram para ajudar a resolver problemas reclamaram que não existe um retorno, por parte da instituição, no sentido de agradecer ou de reconhecer a sua contribuição.

Algumas observações foram feitas sobre a participação do Diretório Acadêmico na publicação de um jornal [em março de 2012], todas elas contrárias ao ocorrido em virtude da postura de acusações do DA contra o atual diretor que provocou intrigas e ocupou espaço e dinheiro dos alunos veiculando assuntos que não acrescentaram em nada para a comunidade acadêmica.

Pouco foi comentado sobre a interdisciplinaridade que aconteceu em alguns momentos nos cursos de Agronegócio e de Análise e Desenvolvimento de Sistemas sendo apontado por alguns alunos como continuação do mesmo assunto entre duas ou mais disciplinas.

Alguns alunos disseram que pretendem continuar seus estudos acadêmicos e que vão fazer uma pós-graduação, pois deixaram claro a intenção de seguir a vida profissional na área de sua formação tecnológica e que a Fatec de Itapetininga acabou criando neles o gosto pelos estudos e pela pesquisa científica.

É obvio que esses alunos são ‘diferenciados’ no sentido de que a maioria deles é representante de seus pares. Mas, quem são os seus pares? Na verdade, mais de 80% dos alunos da Fatec de Itapetininga são oriundos da escola pública. A grande maioria não tem os conhecimentos básicos necessários para acompanhar os cursos que frequentam. No primeiro semestre de 2013, a Diretoria resolveu fazer um exame de proficiência em Português e Matemática para os alunos ingressantes aos seus três cursos. Para se ter uma ideia do problema, segue um trecho do Relatório que pude elaborar, em conjunto com outros dois professores, sobre a prova de proficiência em Matemática. Ressalte-se que, em Português, os resultados foram praticamente os mesmos. O trecho abaixo é, portanto, um recorte desse relatório:

V. ANÁLISE DOS RESULTADOS

Após a correção das questões, foram elaboradas planilhas utilizando-se o software Excel, para a construção de tabelas e gráficos que pudessem fazer a representação dos resultados. Cada planilha foi desenvolvida com os dados de cada classe, de modo que foram considerados: ADS Matutino, Noturno e Geral; AGRO Matutino, Noturno e Geral; e COMEX Vespertino, Noturno e Geral. Além dessas planilhas também foi feita uma específica para apresentação gráfica dos resultados. Essas planilhas encontram-se como Apêndice B, ao final deste relatório.

V.1. AGRONEGÓCIO

O que fica bastante evidenciado é que os alunos do Curso de Agronegócio estão muito aquém dos demais alunos dos outros dois cursos. Com média de 2,1 para o turno Matutino, 82,6% dos participantes obtiveram nota menor do que 5 (cinco) e, com média de 2,7 para o Noturno, 82,1% dos participantes obtiveram nota menor do que 5 (cinco). No geral, 82,4% dos alunos do Curso de Agronegócio foram convidados a realizar o curso de Fundamentos de Matemática.

Uma análise feita a partir das relações entre candidato/vaga do exame vestibular para os cursos deixa dúvidas a respeito do que se poderia acreditar, que uma maior relação candidato/vaga pudesse fazer uma melhor seleção de candidatos. O turno Matutino apresentou relação de 1,10 candidatos por vaga, sendo a maior nota (primeiro classificado) igual a 51,537 pontos. Já o décimo classificado ficou com nota igual a 41,250 pontos. O último classificado (foi o 36º) ficou com nota igual a 22,275 pontos. Isso já é um indicativo de que os alunos não possuem conhecimentos básicos mínimos para o bom acompanhamento desse curso.

No caso dos alunos do Noturno, a relação candidato/vaga foi de 3,33 o que poderia significar uma melhor seleção de candidatos. A maior nota (primeiro classificado) foi de 67,650 pontos caindo para 52,250 pontos para o décimo colocado e 40,425 pontos para o último colocado. Isso, porém não revelou uma melhor seleção de candidatos, pois a média dessa classe no Exame de Proficiência em Matemática, como foi dito anteriormente, ficou em 2,7 e 82,1% dos alunos não conseguiram média igual ou superior a 5 (cinco).

V.2. COMÉRCIO EXTERIOR

Os alunos do Curso de Comércio Exterior são os mais homogêneos no que diz respeito aos conhecimentos básicos de Matemática. Os dois turnos, Vespertino e Noturno tiveram praticamente o mesmo desempenho no exame de proficiência (médias de 4,1 e 4,2 respectivamente). No geral 54,8% dos alunos não conseguiram tirar média igual ou superior a 5 (cinco).

A relação candidato/vaga para o turno Vespertino foi de 1,78 enquanto que, para o Noturno, foi de 4,98 (o maior índice deste vestibular de 2013 para a FATEC de Itapetininga). Esses índices deveriam, também, fazer com que os alunos do Noturno fossem mais bem selecionados, garantindo-se dessa forma, um melhor desempenho destes últimos no Exame de Proficiência em Matemática, o que não aconteceu. A nota do primeiro colocado do turno Vespertino foi de 70,000 pontos contra 72,250 para o primeiro colocado do Noturno. A diferença vai se acentuando a partir do décimo colocado com nota igual a 56,500 pontos no turno Vespertino e 63,500 pontos no Noturno. O último classificado no turno Vespertino teve nota igual a 38,225 contra 51,632 pontos do último classificado no Noturno.

V.3. ANÁLISE E DESENVOLVIMENTO DE SISTEMAS

No Curso de Análise e Desenvolvimento de Sistemas registrou-se a maior diferença entre os dois turnos, indicando, neste caso, o que deveria ser a lógica da relação candidato/vaga nos exames vestibulares. O turno Matutino conseguiu média igual a 4,3 no exame de proficiência em Matemática de modo que 69,2% dos alunos não conseguiram média igual ou superior a 5 (cinco). Já os alunos do Noturno obtiveram média 5,7 quando 37% dos alunos não conseguiram média igual ou superior a 5 (cinco).

A relação candidato/vaga para o vestibular neste curso foi de 1,78 para o turno Matutino e 4,40 para o Noturno. Aqui, parece prevalecer a lógica que manda selecionar melhor os candidatos naquele curso onde a relação candidato/vaga for maior. De fato, os alunos do Noturno foram melhores do que os alunos do Matutino no Exame de Proficiência em Matemática, como indicado anteriormente. A nota do primeiro colocado no exame vestibular do Noturno foi de 84,000 pontos contra 65,450 do primeiro colocado do turno Matutino. O décimo colocado do Noturno teve nota igual a 61,000 pontos contra 54,482 do turno Matutino terminando o último colocado do Noturno com 48,675 pontos contra 39,850 do turno Matutino.

Realizando uma comparação entre os alunos do turno Matutino de ADS e os

alunos do turno Vespertino de COMEX notam-se algumas peculiaridades, como a

relação candidato/vaga de 1,78 para ADS e 1,60 para COMEX e, a média dos alunos de ADS no Exame de Proficiência, de 4,3 contra 4,1 para os alunos de COMEX. A diferença fica por conta do número de alunos com média abaixo de 5 (cinco) de 69,2% em ADS e 58,6% em COMEX. Isso pode significar que na classe de ADS, turno Matutino, estão os alunos que possuem maior discrepância de conhecimentos de Matemática visto que um número relativamente pequeno de alunos (30,8%) tiveram notas boas e o restante (69,2%) notas muito baixas, o que ocasionou média próxima dos alunos de COMEX (41,4% com nota igual ou superior a cinco contra 58,6% com nota inferior a cinco).