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PARTE III – A educação como assunto de “todos”: Incidência da R EDUCA e mobilidade

7. Formas globais, contextos locais e dinâmicas regionais das políticas educativas: a

7.3. Brasil: O Movimento Todos Pela Educação

7.3.2. Incidência na educação pública brasileira

No início do seu segundo mandato, em 2007, Lula da Silva lança um conjunto de programas com o objetivo de impulsionar o desenvolvimento do país e dinamizar os investimentos (BRASIL et al., 2011, p. 20). Faz parte desta política o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC I e PAC II) e a Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP), em conjunto com a expansão dos investimentos da Petrobrás. No campo da educação, foi lançado o Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), que, juntamente com o PAC impulsionariam o ‘desenvolvimento nacional’ (KRAWCZYK, 2008, p. 803).

Localizado no âmbito das parcerias promovidas na interlocução política entre empresários e governos, o PDE é compreendido como uma das ações políticas empresariais “mais audaciosas já registradas no país” (MARTINS, 2015, p. 308): O TPE, elaborou este projeto com base no seu manifesto “10 causas e 26 compromissos” (MARTINS, 2013a), apresentou ao então Ministro Fernando Haddad (também sócio- fundador do TPE), transformando-o em referência da política de educação dos governos do PT. Com o PDE, a agenda do TPE foi incorporada à política educativa (LEHER, 2010, p. 378–379; SAVIANI, 2007). Com efeito, um ato simbólico desta incorporação, foi a promulgação do Decreto Presidencial nº6.094/2007, que dispõe sobre a implementação do “Plano de Metas Compromisso Todos pela Educação”, homenageando explicitamente o TPE e subordinando, diante do regime federativo, estados e municípios brasileiros à formulação da política educacional operada pelo Ministério da Educação a partir do estabelecimento do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), índice que segue as métricas e recomendações da OCDE.

Embora seja “difícil demonstrar e expor as conexões entre os interesses

econômicos, ideológicos, políticos e filantrópicos” (BALL; OLMEDO, 2013, p. 40), a

elaboração, execução e efeitos do PDE e do Ideb na política educativa brasileira ilustram o processo de governança. Mais do que influenciar o processo de construção do PDE, o TPE, por meio de seus membros, representou um ‘nó’ entre setores da sociedade civil organizada e o Estado. Com o lançamento do PDE, a agenda do grupo representado pelo TPE entrou na pauta nacional e passou a orientar a política para a Educação Básica no Brasil. Entretanto, é importante que se ressalte que a incidência do TPE na política educacional não se restringe a apenas essa questão141.

141 Na mesma época, o TPE “participou ativamente e teve algum índice de influência” no estabelecimento do Pacto

Nacional pela Alfabetização na Idade Certa; de criação de uma comissão para a reformulação do ensino médio (GUIMARÃES, 2013).

O TPE tem trabalhado em conjunto junto com o Congresso Nacional, incluindo políticos ou ex-políticos em sua composição. O Movimento participa ativamente de reuniões e Câmaras de Discussões especiais sobre os Projetos de Lei em tramitação que podem impactar a educação brasileira na próxima década (TODOS PELA EDUCAÇÃO, 2013, p. 7), como o Projeto de Lei de Reforma do Ensino Médio, o Plano Nacional da Educação (Lei 13.005/2014) e o Projeto de Lei de Responsabilização Educacional (LRE) já previsto no Plano Nacional de Educação em sua meta de 20142.

Desde 2008, o TPE está presente em debates preliminares a respeito do estabelecimento de uma LRE, que, na sua perspectiva, deveria ter contornos semelhantes à Lei de Responsabilidade Fiscal (MARTINS, 2013b). O Movimento também acompanha e tenta ‘agilizar’ o processo de trâmite da LRE, assim como realiza debates sobre o tema na mídia e em diversos eventos143 (TODOS PELA EDUCAÇÃO, 2009, p. 45).

As propostas do TPE para o Ensino Médio enfocam a reorganização e diversificação do currículo, utilizando o exemplo de países que adotam o sistema dual, ou seja, baseado no desempenho nos anos iniciais de formação e na avaliação realizada pela instituição escolar, os estudantes são encaminhados para formação profissional ou a formação propedêutica cuja conclusão permite prosseguir para uma carreira universitária. O TPE apresentou duas propostas para a reformulação do Ensino Médio: 1ª.) Um currículo com um núcleo obrigatório, que pode ser preenchido com disciplinas eletivas à escolha do estudante ou da escola de acordo com uma prévia definição dos perfis estudantis; 2ª.) Um currículo com um núcleo básico, mas combinado com a predefinição de diferentes composições disciplinares (TODOS PELA EDUCAÇÃO, 2013, p. 41).

Além destas propostas, o TPE também tem atuando com projetos concretos no âmbito da sociedade e do governo, destacando-se: 1) Conexões pela Educação (anteriormente denominado “Grupos de Assessoramento” ou grupos consultivos), cujo objetivo é produzir discussões para contribuir concretamente na formulação de políticas educacionais. Desde 2012, os temas de discussão foram: formação de professores na

142 Cf.: https://www.todospelaeducacao.org.br/pag/quem-somos/#bloco_392. Acesso 06/2018.

143 Em 2008, no Congresso Nacional, o TPE, a Unesco do Brasil e a comissão de educação e cultura da Câmara dos

Deputados, realizou o Seminário Internacional ‘Ética e Responsabilidade na Educação: Compromisso e Resultados’. Esse seminário objetivou o estabelecimento de marcos regulatórios de responsabilidade dos governantes para a área da educação. Segundo o TPE, “o seminário resultou em um texto norteador legitimado para uma Lei de Responsabilidade Educacional”. Dentre os debatedores do seminário, destacavam-se o então senador Cristovam Buarque (PDT-DF), a então deputada professora Raquel Teixeira (PSDB-GO), e a presidente do Consed, Maria Auxiliadora Rezende – todos membros do TPE. Após a realização do seminário, o debate a respeito da LRE (PL 7.420/06 e apensados) se fortaleceu entre seus defensores na Câmara Federal dos Deputados (MARTINS, 2016, p. 113).

educação infantil, os desafios dos últimos anos do ensino fundamental; a reformulação do ensino médio; o uso da tecnologia na educação; e a Educação Integral ⸺ temas que podem ser equiparados à agenda da REDUCA. A intenção é que a partir das discussões o TPE produza propostas e publicações que constituam a base para o trabalho conjunto entre os participantes144 e o TPE.

Entre 2015 e 2016, o TPE145, também constituiu grupos de ‘assessoramento’ sobre o Sistema Nacional de Educação, em parceria com a Secretaria de Articulação com os Sistemas de Ensino (Sase), do Ministério da Educação (MEC); e outro sobre formação de professores, em parceria com o Instituto Península e o Itaú BBA. Para o grupo de Formação de Professores, dois estudos foram realizados: “Formação de professores no Brasil - Diagnóstico, agenda de políticas e estratégias para a mudança”, coordenado por Fernando Luiz Abrucio (FGV) e publicado pela Editora Moderna e Fundação Santillana. O outro estudo foi realizado pela área técnica do TPE que traz o perfil dos professores no Brasil146.

Desenvolvido com o financiamento do BID, o TPE coordena uma plataforma online denominada “Observatório do Plano Nacional de Educação (PNE)”147, que tem

como objetivo monitorar cada uma das 20 metas e estratégias do PNE (Lei 13005/2014); fornecendo análises das políticas educacionais atuais; oferecendo estudos, pesquisas e notícias relacionadas ao tema (TODOS PELA EDUCAÇÃO, 2013, p. 18).

O TPE também coordena a plataforma “Devolutivas pedagógicas das Avaliações148”, que interpreta e comenta os dados das provas padronizadas aplicadas no

sistema de educação brasileiro, especialmente a Prova Brasil149.

144 Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal (FMCSV), Centro de Estudos e Pesquisas em Educação Cultura (Cenpec),

Instituto Unibanco, Instituto Inspirare e Fundação Itaú Social.

145 Cf.: http://www.todospelaeducacao.org.br/projetos/todos-os-projetos/52/grupos-de-assessoramento/. Acesso em:

15 dez 2016.

146 Disponível em: http://www.todospelaeducacao.org.br//arquivos/biblioteca/perfil_docente_tpe.pdf. Acesso em 15

dez 2016.

147 São parceiros do TPE nesta iniciativa: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes),

Cenpec, Comunidade Educativa Cedac, Fundação Itaú Social, Fundação Lemann, Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, Fundação Roberto Marinho/Canal Futura, Fundação Santillana, Fundação Victor Civita, Instituto Avisa Lá, Instituto Natura, Instituto Paulo Montenegro, Instituto Rodrigo Mendes, Instituto Unibanco, Ipea, Mais Diferenças, Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Unesco e Unicef (TODOS PELA EDUCAÇÃO, 2013, p. 18).

148 Parceiros do TPE para esse projeto: INEP, Associação Brasileira de Avaliação Educacional (Abave). Apoio da

Fundação Lemann, do Itaú BBA e do Instituto Unibanco. Cf.: http://devolutivas.inep.gov.br. Acesso em 18 dez 2016.

149 Prova Brasil: Avaliação censitária dos estudantes de 4ª. Série /5º. Ano e 8ª. Série/ 9º. Ano. do sistema fundamental

Finalmente, o TPE desenvolve o Projeto “Métodos Inovadores de Ensino”150,

cujo principal objetivo é promover a utilização de tecnologias nas escolas públicas. Para tanto, o TPE faz o mapeamento nacional e internacional dos instrumentos existentes com esse foco; realiza pré-testes dos instrumentos identificados/elaborados; aplica os instrumentos em um piloto junto às redes públicas de ensino.