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Martha Graham e alunas na Bennington College na década de 1930.

De certa forma, os anos da Bennington foram os anos mais importantes em toda a história da dança moderna norte-americana. A

Bennington tornou possíveis as primeiras produções completas e em

larga escala, fornecendo a planta e o equipamento. Ela fornecia ao artista um lugar para morar, dançar, trabalhar e material em quantidade para trabalhar. A impressão das apresentações do festival tinha um efeito duradouro, não apenas sobre quem as via, mas sobre

36 Nesse trabalho, chamamos de dança política um movimento que envolvia dois tipos de

práticas diferentes: a dança de massa, que era um tipo de aula voltada para grupos de trabalhadores, e a dança revolucionária, que era uma prática de produção de obras

quem delas participava. Além da agitação do experimento, das ondas de excitação, dos milagres da realização, compartilhados pelo público e pelos artistas, os participantes da oficina tiveram a inspiração da liderança artística, a experiência de ser um eu dentro de um coletivo, maior que o eu pessoal, que era diversificado pelo tamanho, personalidade e facilidade de cada bailarino.37

Margaret LLOYD, em The Borzoi book of modern dance (1949, p.321)

American Document, como estamos tentando demonstrar, foi produto de um momento histórico e de um contexto muito específico, ligado à cultura da cidade de Nova Iorque. Entretanto, precisamos lembrar que essa obra foi concebida na verdade nas colinas de Vermont, na Nova Inglaterra, perto do local onde, no final do século XVIII, havia acontecido uma das principais batalhas pela independência dos Estados Unidos. A Bennington College foi, nos anos 1930, o mais importante centro acadêmico de ensino e produção em dança dos Estados Unidos.

A Bennington College era uma instituição nova e com uma proposta de educação progressista e inovadora. A faculdade abriu suas portas em 1932, em plena depressão econômica, e logo no seu primeiro ano promoveu um simpósio chamado Modernismo nas Artes, que já incluía concertos e discussões sobre dança. Seu primeiro presidente, Robert Devore Leigh, chamou Martha Hill, ex-aluna e bailarina do grupo de Graham, para criar o primeiro curso superior dedicado somente à dança dos Estados Unidos. Em 1934, inspirados pelos diversos cursos de verão que eram promovidos por outras faculdades ou universidades, com foco em teatro, música, ou literatura, Hill, Leigh e sua assistente Mary Josephine Shelly decidiram montar o primeiro curso de verão em dança do país. Os objetivos eram: criar um programa unificado que englobasse os vários aspectos da dança moderna; atrair um corpo

37 No original: “In some ways, the Bennington years were the most important years in the

whole history of the American modern dance. Bennington made possible the first full-length, large-scale productions by supplying the plant and equipment. It provided the artist with a place to live, to dance, to work, and material in large groups to work with. The impress of the festival performances had a lasting effect, not only on those who saw them, but on those who took part in them. In addition to the stir of experiment, the salvos of excitement, the miracles of attainment, shared by audiences and performers, the workshop participants had the inspiration of artistic leadership, the experience of being one of a composite selfhood, bigger than personal selfhood, that was diversified by the size, personality and facility of each dancer.”

diversificado de alunos; formar público; promover o uso produtivo das dependências da faculdade durante as férias dos cursos regulares e, por um custo baixo para os alunos, criar um curso autossustentável e sem fins lucrativos. Para compor o núcleo de professores do primeiro curso de verão da Bennington School of the Dance, Hill conseguiu recrutar os artistas e críticos mais importantes de Nova Iorque, a saber, Martha Graham, Hanya Holm, Doris Humphrey, Charles Weidman, Louis Horst e John Martin. A proposta era arriscada e era preciso conseguir, no mínimo, 43 alunos para viabilizar o curso. Com 103 mulheres inscritas, com idades variando entre 15 e 49 anos, a faculdade precisou fechar as inscrições para a Bennington School of the

Dance de 1934 por falta de camas e espaço para acomodação. As alunas (nenhum

homem se inscreveu no primeiro ano) eram, na sua maioria, professoras de educação física vindas de diversas partes dos Estados Unidos.

A primeira temporada de cursos durou seis semanas, com cada um dos quatro coreógrafos dando uma semana de aulas técnicas. Martha Hill dava as aulas do ‘Curso de Dança Moderna’ na primeira semana para preparar os alunos para a maratona que viria a seguir, e depois voltava na última. Paralelamente, foram oferecidos cursos como os de ‘Composição em Dança’, ‘Técnica Fundamental’ e ‘Ensinando Materiais e Métodos’ também com Hill, ‘Música Relacionada ao Movimento’ com Horst, ‘Música para Bailarinos’ com Gregory Tucker, ‘Produção’ com Jane Ogborn, ‘Prática’ com Bessie Schönberg e ‘História e Crítica de Dança’ com John Martin. Demonstrações, espetáculos, palestras, projeção de filmes e discussões de vários temas relacionados com a dança moderna complementavam o programa. Os relatos indicam que o curso foi um sucesso, inclusive, do ponto de vista financeiro.

Para as próximas temporadas do Bennington School of the Dance, Hill e Shelley pensaram em dar mais suporte para a produção de obras dos diferentes coreógrafos, oferecendo dois programas: o Programa Geral, bem parecido com o do ano anterior, e o Programa Oficina, o primeiro de uma série de quatro. A ideia é que a cada ano um dos coreógrafos criasse uma coreografia com um grupo de alunos, que iriam trabalhar junto com os bailarinos da companhia daquele artista e apresentar o trabalho no final do curso. Graham foi a primeira a comandar a Oficina em 1935, que resultou na produção de Panorama. Em 1936, foram realizadas duas Oficinas simultâneas: Doris Humphrey trabalhava com as mulheres, enquanto Charles Weidman coreografava os homens. Para fechar a primeira parte do ciclo, Hanya Holm

ficou responsável pela Oficina de 1937. Em 1938, o programa Oficina da Bennington

School passou a se chamar Programa Profissional e os quatro artistas trabalharam

simultaneamente, cada um com um grupo de alunos avançados, para criar obras coreográficas e, possivelmente, agregar bailarinos às suas companhias. Foi nesse programa que American Document foi criado.