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2. REVISÃO DE LITERATURA

2.1. Fatores a serem considerados no processo de resfriamento, transporte e utilização do

2.1.1.1. Individualidade do reprodutor

influenciada pelo seu uso, comportamento sexual, momento e método de cobrição e, também pela fertilidade das éguas, dentre outros fatores. Submetidos a um manejo adequado, machos subférteis podem atingir taxa de nascimento razoável (Hurtgen, 1992). No entanto, poucos são os reprodutores que cobrem um número suficiente de éguas para se estabelecer, verdadeiramente, o seu potencial de fertilidade (Pickett e Voss, 1973).

Alguns autores consideram que a espécie equina possui índices de fertilidade mais baixos quando comparada às demais espécies domésticas (Sullivan et al., 1975). Parte dessas observações relaciona-se ao fato de que nesta espécie, não há seleção para fertilidade (Merkt, 1986). Além disso, há uma tendência de se atribuir à fêmea os problemas de infertilidade, comprometendo uma avaliação mais criteriosa do garanhão (Pimentel, 1989; Hammes et al., 1996). Independentemente da forma de utilização do sêmen (monta natural, inseminação artificial com sêmen fresco, resfriado ou congelado), a

literatura é unânime no que diz respeito às variações individuais. Mann et al. (1963) e Pickett et al. (1970) descreveram variações significativas nos parâmetros físicos do sêmen entre indivíduos e também entre ejaculados de um mesmo indivíduo.

Dentre os fatores que podem alterar os índices reprodutivos, a qualidade seminal assume um efeito considerável. No entanto, essa associação tem-se mostrado questionável sob determinados aspectos. Neste sentido, Haag (1959), Nishikawa (1959) e Bielanski (1975) foram os pioneiros em estabelecer uma variação da fertilidade a partir de diferentes padrões seminais. Enquanto Haag (1959) verificou melhores índices de concepção associados a garanhões que apresentavam mais de 50% de motilidade e percentuais de espermatozóides anormais inferiores a 40%, Bielanski (1975) observou que garanhões com altos índices de anormalidades morfológicas poderiam apresentar excelente fertilidade. Mais tarde, Kenney et al. (1983) verificaram que a concentração espermática associada ao percentual de espermatozóides morfologicamente normais e a motilidade eram as características seminais que melhor explicavam variações nas taxas de concepção obtidas ao final de uma estação de monta. Tais características serviram de base para determinar um padrão qualitativo que pudesse auxiliar na interpretação dos espermiogramas de garanhões. Nesta mesma linha, outros autores têm mostrado que, das variáveis seminais, a motilidade e a morfologia espermática são as mais relevantes (Dowset et al., 1984; Jasko et al., 1990).

Pimentel (1989) avaliou a fertilidade de quatro garanhões com diferentes porcentagens de espermatozóides normais (40%, 61%, 68% e 82%) e obteve índices de fertilidade de 67%, 80%, 83% e 87%, respectivamente. Além disso, observou alta correlação entre esse parâmetro e a prenhez (r=0,98, p<0,01). Palhares (1989) trabalhando com éguas Mangalarga Marchador e com 26 garanhões, obteve uma taxa de prenhez/ciclo média de 51,28%, que variou de 23,53% a 100% entre os garanhões.

Repetindo o experimento realizado por Pimentel (1989), porém utilizando 11 garanhões, Gastal et al. (1991) observaram diferenças quanto à porcentagem de espermatozóides normais entre os garanhões, que variou de 31,3% a 63,5%. Entretanto, quando submetidos ao teste de fertilidade, as taxas de prenhez por ciclo (45,4% a 100%), as de prenhez total (75% a 100%) e o número de montas por prenhez (1,2 a 4,4) não diferiram entre os garanhões. Talvez o número insuficiente de éguas cobertas por cada garanhão tenha sido responsável pela baixa correlação encontrada entre a porcentagem de espermatozóides normais e a fertilidade, neste estudo.

Embora os aspectos morfológicos do sêmen tenham mostrado associações com a fertilidade (Pimentel, 1989; Jasko et al., 1990), as dificuldades em se estabelecer um modelo prático para utilização na rotina clínica dos haras ainda são marcantes. As anormalidades morfológicas variam entre indivíduos, durante a sua vida reprodutiva, podendo ou não estar associadas a outras características seminais (Hellander et al., 1991; Hammes et al., 1996), sem que haja um comprometimento efetivo da fertilidade. Pressupõe-se, com base nesses estudos, que as características seminais assumem um papel decisivo na determinação da fertilidade do garanhão, particularmente na sua eficiência reprodutiva. Porém, muitos aspectos ainda são contraditórios (Voss et al., 1981; Palmer e Fauquenot, 1984; Rousset et al., 1987; Amann, 1989).

O tempo de sobrevivência espermática em diferentes condições de estocagem também varia entre os indíviduos (Demick et al., 1976; Malmgren et al., 1992). Segundo Tischner (1979) a congelabilidade do sêmen parece ser específica para garanhões e independente da estação do ano. Assim, ao estudar a susceptibilidade de 36 garanhões ao congelamento,/descongelamento, classificou os animais de acordo com as características seminais em: a) bom, espermatozóides com índice satisfatório; b) razoável/suficiente e c) pobre/insuficiente, encontrando 20%, 60% e

20% dos garanhões em cada grupo, respectivamente. Além disso, o autor não observou nenhuma interdependência entre a motilidade espermática antes e após o congelamento.

Para asininos, Ferreira (1993) e Santos (1994) observaram diferenças (p<0,05) entre jumentos e entre ejaculados de um mesmo animal para as variáveis seminais motilidade total, motilidade progressiva e vigor durante o armazenamento do sêmen resfriado a 5°C. Também trabalhando com a espécie asinina, porém com sêmen congelado, Miró et al. (2003), citado por Castejón (2005), observaram viabilidade espermática pós- descongelamento variando entre 23% e 60% de acordo com o indivíduo. Desta forma, a habilidade do espermatozóide em resistir ao processamento de conservação é inerente a cada garanhão, podendo influenciar a motilidade, vigor, morfologia e capacidade fecundante do sêmen pós-processamento. Ao avaliarem o comportamento do sêmen de jumentos da raça Amiata submetidos ao resfriamento, Rota et al. (2008) observaram efeito do reprodutor sobre as características espermáticas (motilidades espermáticas total e progressiva), logo após a diluição do sêmen, bem como variações entre ejaculados de um mesmo reprodutor. Esta variação individual se manteve até as 72 horas de armazenamento à 5ºC, sendo identificadas diferenças entre os indivíduos quanto ao percentual de redução da motilidade. Nos estudos de Contri et al. (2010) o jumento também foi fonte de variação no que se refere aos parâmetros de motilidade e viabilidade espermáticas, avaliados durante o resfriamento do sêmen. Também Rossi (2008) observou grande variação individual entre jumentos da raça Pêga quanto às diferentes características seminais avaliadas, tais como concentração espermática, concentração de espermatozóides móveis, número total de espermatozóides por ejaculado e número total de espermatozóides móveis por ejaculado. Quando as coletas foram destinadas ao resfriamento, o número de montas/ejaculado,

volume de sêmen, motilidade espermática no sêmen in natura, concentração espermática, concentração de espermatozóides móveis, número total de espermatozóides por ejaculado, número total de espermatozóides móveis e motilidade após diluição e resfriamento, diferiram para os cinco jumentos utilizados. Além disso, a fertilidade diferiu entre os jumentos quando da utilização do sêmen fresco diluído, com taxas de concepção / ciclo variando de 36% a 71%; sendo esta diferença mantida quando as éguas foram inseminadas com sêmen diluído e resfriado a 5°C por até 12 horas, quando as taxas de concepção variaram de 36% a 74%. Vários estudos têm sido conduzidos na tentativa de se explicar as variações individuais do sêmen do garanhão. Amann et al. (1987) observaram maiores variações associadas com ejaculados de um mesmo garanhão do que entre garanhões, quanto à concentração de proteínas, sódio, cálcio, fósforo e cloro no plasma seminal de sete garanhões com diferentes motilidades pós- descongelamento. Também foram identificadas diferenças entre garanhões quanto à habilidade de seus espermatozóides formar reservatórios na tuba uterina de éguas, com garanhões subférteis mostrando menos espermatozóides móveis na tuba de éguas após inseminação quando comparados com garanhões férteis (Scott et al., 1995).

Baseando-se nos achados de Aurich et al. (1996), a composição do plasma seminal parece ser fator determinante para o comportamento do sêmen frente à criopreservação. A adição de plasma seminal de garanhões apresentando boa congelabilidade ao sêmen de garanhões com baixa motilidade espermática após congelamento/descongelamento aumentou significativamente a motilidade progressiva do segundo grupo. Verificou-se, ainda, melhor integridade da membrana espermática. Além disso, a adição de plasma seminal de garanhões de baixa congelabilidade reduziu a motilidade progressiva dos garanhões com boa motilidade pós-congelamento/ descongelamento. Os componentes do plasma

seminal responsáveis pela boa congelabilidade do sêmen permanecem desconhecidos. Entretanto, diferenças individuais no conteúdo de substâncias estabilizadoras do plasma seminal podem explicar os diferentes comportamentos das células espermáticas dos garanhões quando submetidas ao congelamento (Aurich et al., 1996).

2.1.1.2. Características do sêmen de