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A população mundial de equídeos têm se mantido estável nas últimas décadas e tem sido estimada atualmente em 113.473.522 de cabeças, sendo composta por 58.770.171 equinos, 43.496.677 asininos e 11.206.674 muares (FAO, 2008). No Brasil, estima-se que a população de equídeos tenha 7.986.023 cabeças, sendo 5.541.702 equinos, 1.130.795 asininos e 1.313.526 muares (IBGE, 2008). Em 2007, o efetivo de asininos era de 1.163 milhões de cabeças, 2,0% menor que o de 2006, com o número de muares (mulas e burros) sendo estimado em 1.343 milhões de cabeças, com uma queda de 3,1% em relação ao número de 2006 (IBGE, 2007).

Apesar de substanciais reduções nos efetivos dos equídeos motivadas pela moto- mecanização dos transportes, a produção de muares, constitui, ainda, uma atividade economicamente importante no Brasil. Os muares são animais híbridos, oriundos do cruzamento de jumentos (Equus asinus) e fêmeas da espécie eqüina (Equus caballus), destacando-se, no país, a criação de jumentos da raça Pêga e seus híbridos (mulas e burros), oriundos do seu cruzamento com éguas de diversas raças nacionais (Campolina, Mangalarga, Mangalarga Marchador, etc.). Investimentos em genética têm sido responsáveis por uma grande valorização da raça. O mercado dos muares, por sua vez, abrange vários setores, salientando-se o seu uso como animais de tração, bem como os envolvidos no manejo de rebanhos de corte. Destaca-se ainda a sua utilização em concursos de marcha e na realização de cavalgadas. No topo da pirâmide encontra-se um mercado mais restrito, mas de substancial valor agregado, o da seleção genética.

A biotecnologia da reprodução se coloca como uma importante ferramenta a serviço da equideocultura mundial, como instrumento direto no melhoramento genético. A inseminação artificial representa a biotecnologia de maior impacto na produção equídea, possibilitando o maior aproveitamento de animais de grande mérito

genético, além de ser uma ferramenta fundamental na prevenção de enfermidades oriundas do trânsito e contato entre animais (Canisso, 2008). Nesse contexto, o armazenamento e o transporte do sêmen, seja pela refrigeração ou congelamento, permitem direcionar melhor os acasalamentos utilizando-se garanhões geneticamente superiores (Nunes, 2006).

A evolução das técnicas de congelamento de sêmen foi intensa na espécie bovina. Entretanto, apesar dos diversos estudos realizados, a fertilidade do sêmen criopreservado de garanhões ainda está bem distante daquela obtida em bovinos. Desta forma, a fertilidade do sêmen congelado ainda é baixa, impedindo a sua utilização em larga escala (Amann e Pickett, 1987; Henry et al., 2002). Diante desta realidade, observa-se ainda nos equídeos a utilização massal da inseminação com sêmen a fresco diluído ou do resfriado e/ou transportado.

A diluição do sêmen e seu armazenamento sob refrigeração oferece inúmeras vantagens como o prolongamento da sobrevivência espermática, proteção dos espermatozóides de condições adversas, maximização do número de fêmeas a serem inseminadas, redução da possibilidade de transmissão de doenças durante o transporte de machos e fêmeas, incremento do melhoramento genético e redução da consanguinidade uma vez que permite a utilização de um reprodutor de valor genético superior localizado à grande distância de uma propriedade e, finalmente, a eliminação dos custos e riscos associados ao transporte das fêmeas, principalmente das amamentando.

O processo de resfriamento do sêmen requer tecnologia e equipamentos mínimos que permitam a coleta, avaliação, diluição e preparação das doses inseminantes. Entretanto, a manipulação do sêmen destinado à inseminação artificial exige profissionais com experiência e conhecimento para fazê-lo de forma apropriada. Além disso, nem todos os reprodutores possuem sêmen capaz de suportar as condições de

resfriamento. O manejo reprodutivo adequado da fêmea também representa um ponto crucial na utilização desta técnica, podendo um controle reprodutivo deficiente (falha na detecção dos cios, desconhecimento do melhor momento e frequência ideal das inseminações) acarretar um substancial decréscimo da fertilidade.

Como vantagens destaca-se a possibilidade de se poder coletar e armazenar o sêmen a curto e a médio prazos, transportá-lo e utilizá-lo, o que faz do resfriamento uma técnica amplamente utilizada no mundo, em grande parte das espécies de produção, principalmente na suína e equina (Pickett, 1995; Allen, 2005; Martínez et al., 2005). Atualmente, publicações envolvendo a utilização do sêmen resfriado asinino para a inseminação de éguas concentraram-se no continente sul-americano, onde se encontra, ainda, grande população muar (Ferreira, 1993; Boeta e Quintero, 2000; Rossi, 2008). Na Europa, a aplicação de técnicas modernas de reprodução assistida (inseminação artificial, congelamento de gametas, transferência de embriões, etc) têm sido utilizada como ferramentas auxiliares visando a conservação de algumas raças asininas que se encontram em perigo de extinção como a raça Zamorano-Leonesa e Catalã na Espanha, e a Baudet Du Poitou na França (Trimeche, 1996; Trimeche et al., 1998; Serres et al., 2002; Miró et al., 2009; Vidament et al., 2009).

Diversos são os fatores capazes de influenciar a longevidade e viabilidade espermática do sêmen submetido ao resfriamento, valendo salientar o diluidor utilizado, os protocolos de refrigeração, os métodos de transporte, fatores físicos, morfológicos, bioquímicos e metabólicos inerentes aos espermatozóides bem como características inerentes às membranas.

Os diluidores mais utilizados para a diluição e resfriamento do sêmen de equinos e asininos possuem em sua constituição macromoléculas oriundas da gema de ovo ou do leite, capazes

de fornecer proteção aos espermatozóides contra os danos causados pela queda da temperatura. Assim, Ferreira (1993) e Mello et al. (2000) relataram superioridade dos diluidores contendo gema de ovo em relação aos a base de leite, quando da preservação das características físicas do sêmen de jumentos. Apesar da participação dos constituintes do plasma seminal em diversos eventos fisiológicos, a sua presença, durante o processo de resfriamento e criopreservação, parece deletéria ao sêmen bovino (Martinus et al., 1991; Bergeron et al., 2004) e equino (Jasko et al., 1992a; Brinsko et al., 2000; Way et al., 2000; Moore et al., 2005a). No que diz respeito ao sêmen asinino, os efeitos da remoção do plasma seminal antes do resfriamento do sêmen permanecem controversos, tendo sido observados efeitos benéficos da remoção do plasma seminal em alguns experimentos (Dalmau, 2003), enquanto em outros não observou-se diferenças na qualidade do sêmen armazenado na presença ou ausência do plasma seminal (Ferreira et al., 1991; Rota et al., 2008). Em equinos, Jasko et al. (1992a) demonstraram vantagens da remoção do plasma seminal na manutenção da viabilidade espermática apenas quando se utilizou diluidores a base de gema de ovo. A coleta fracionada surge como alternativa para remoção do plasma seminal, eliminando os efeitos deletérios da centrifugação sobre a motilidade espermática. Entretanto, não existem relatos na literatura envolvendo a utilização do sêmen asinino coletado de forma fracionada para a inseminação de éguas ou jumentas.

A falta de padronização dos protocolos de processamento e resfriamento do sêmen equídeo tem sido acompanhada pela existência de diversas metodologias, o que torna a sua comparação bem difícil, notadamente no que se refere aos resultados de fertilidade. Assim, muitos estudos não incluem detalhes como a composição do meio diluidor, a curva de resfriamento utilizada, a duração e a temperatura final de armazenamento do sêmen, o volume e a

concentração da dose inseminante, bem como o número de ciclos por prenhez, apenas a fertilidade total obtida. Há que se ressaltar a escassez de publicações envolvendo a mensuração da capacidade fecundante do sêmen asinino, determinada pela inseminação de éguas e avaliação das taxas de concepção ou do percentual de recuperação de embriões. A concentração ideal da dose inseminante do sêmen resfriado não foi objeto de nenhum estudo até o momento, estando a literatura disponível a este respeito restrita à tese de Leite (1994) que, no entanto, utilizou apenas o sêmen fresco diluído de asininos.

Considerando-se a importância do uso da inseminação artificial e do resfriamento e congelamento do sêmen no avanço da equideocultura, é fundamental que novos trabalhos sejam desenvolvidos neste sentido. Diante do exposto, objetivou-se com esse trabalho:

a) Caracterizar, individualmente, os jatos que compõem a fração rica do ejaculado de jumentos da raça Pêga;

b) avaliar dois diferentes diluidores, a base de leite em pó desnatado-glicose ou lactose- gema de ovo, na preservação das características físicas do sêmen e taxa de gestação de éguas inseminadas com sêmen asinino coletado de forma fracionada e resfriado a 5°C;

c) avaliar a utilização de duas concentrações espermáticas da dose inseminante, 400x106 ou 800x106, sobre a manutenção das características físicas do sêmen e taxa de gestação das éguas inseminadas com sêmen asinino coletado de forma fracionada e resfriado a 5°C;

d) verificar a viabilidade da utilização da coleta fracionada no protocolo de processamento do sêmen asinino;

e) observar a resposta de diferentes reprodutores asininos frente ao resfriamento, com base nas características físicas do sêmen e na taxa de gestação das éguas inseminadas;

f) verificar a viabilidade da incorporação de um manejo reprodutivo, fixando-se as inseminações em três dias da semana.

2. REVISÃO DE LITERATURA