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Influência da Genética e dos Traços de Personalidade Sobre o Bem Estar Subjetivo

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1.3 FATORES DE INFLUÊNCIA SOBRE O BEM ESTAR SUBJETIVO

1.3.5 Influência da Genética e dos Traços de Personalidade Sobre o Bem Estar Subjetivo

A personalidade é um dos fatores mais fortes e consistentes preditores de bem estar subjetivo. Diener, Suh, Lucas e Smith (1999) e Diener e Scollon (2003) afirmaram que evidências de personalidade vinculam bem estar subjetivo a uma ampla variedade de tradições de pesquisas e metodologias. Porque a personalidade é um preditor confiável, um número considerável de teorias tem sido desenvolvido para explicar a relação com bem estar subjetivo. A predisposição temperamental é um modelo conceitual que vincula personalidade e bem estar subjetivo levando em conta que uma pessoa tem predisposição genética para ser feliz ou infeliz. Essa teoria considera que as diferenças na predisposição genética para graus variados de felicidade ou infelicidade são causadas por diferenças individuais inatas do sistema nervoso. Evidências mais fortes para a predisposição temperamental a certos níveis de experiências de bem estar subjetivo resultaram de estudos de hereditariedade e de comportamento e genética.

Diener, Suh, Lucas e Smith (1999) destacaram o estudo de Tellegen et al (1988) que administraram o Questionário de Personalidade Multidimensional (Multidimensional Personality Questionaire) em 217 gêmeos monozigotos e em 114 dizigotos educados juntos e em 44 monozigotos e 27 dizigotos educados em separado. A partir dessa amostra eles calcularam que 40% e 55% da variância da emocionalidade positiva e negativa respectivamente podem ser explicados por genes, ao passo que o ambiente familiar computaria 22% e 2% da variância na emocionalidade positiva e negativa respectivamente.

Lykken e Tellegen (1996) concluíram em outra pesquisa com gêmeos que prestígio sócio econômico, grau de educação, renda familiar, estado civil e comprometimento religioso computam com cerca de 3% da variância de bem estar subjetivo e que de 44% a 52% da variância estaria associado à variação genética. Nesse mesmo estudo eles concluíram que a hereditariedade seria responsável por 80% dos componentes estáveis de longo termo de bem estar subjetivo.

Diener, Suh, Lucas e Smith (1999) refletiram que, com base nessas estimativas de hereditariedade, poder-se- ia dizer que é muito difícil mudar a felicidade de alguém como mudar sua altura. Atentaram esses autores que, entretanto, as taxas estimadas de 80% seriam para a porção de afeto que se mostrou estável sobre um período de 10 anos. Estes autores consideraram que é natural que a porção de felicidade que é constante em um período de 10 anos seja influenciada por fatores estáveis tais como a genética e que seja menos influenciada por um conjunto de eventos que poderiam influenciar o fluxo de bem estar em curto prazo. Mas, ressaltaram que nesses estudos com gêmeos as estimativas hereditárias são influenciadas por uma quantidade de variáveis do ambiente da amostra que está sendo examinada. Se o ambiente de suporte fosse constante, então os resultados poderiam ser explicados somente por genes. Assim, os autores argumentaram que os estudos de hereditariedade apontaram para uma influência da hereditariedade sobre o bem estar subjetivo de longo termo de uma amostra específica de pessoas da sociedade moderna do ocidente, mas eles não significam em absoluto que sejam estimativas imutáveis e generalizáveis de efeitos genéticos. Outra razão para prudência com esses resultados que eles apontaram é que estimativas de hereditariedade são freqüentemente estudos transversais que podem ser inconsistentes e que os valores de outros estudos de hereditariedade freqüentemente apresentaram valores menores do que os encontrados pelos estudos mencionados. Para os autores referidos, um exame mais direto da influência genética sobre bem estar subjetivo seria um estudo que buscasse compreender como genes específicos podem influenciar os hormônios cerebrais e regiões receptoras que influenciam o bem estar. Assim, a abordagem da predisposição genética poderia ser conectada

a variáveis que indicam humor. Em face disso, Diener, Suh, Lucas e Smith (1999) argumentaram que os dados dos estudos com gêmeos apontam para alguma influência genética sobre o bem estar subjetivo que deveria ser melhor estudada.

Quanto aos aspectos disposicionais pessoais para experimentar estados de bem estar, Diener, Suh, Lucas e Smith (1999) argumentaram que se há predisposição estável para experimentar felicidade ou infelicidade dever-se- ia esperar que os níveis de bem estar subjetivo fossem, ao menos em parte, consistentes através do tempo e através das situações. Consideraram que fatores situacionais moveriam o bem estar subjetivo para cima ou para baixo a partir de níveis estáveis de base e que fatores estáveis de personalidade exerceriam uma influência visível a longo termo.

Diener, Suh, Lucas e Smith (1999) afirmaram que se a estabilidade dos escores de bem estar subjetivo é influenciada por variáveis estáveis de personalidade, então, poder-se-ia esperar, não somente estabilidade através do tempo, mas também haveria consistência através de diferentes tipos de situações. Pessoas que seriam felizes no trabalho poderiam também ser felizes no lazer.

Diener e Larsen (1984) examinaram a hipótese da estabilidade temporal e consistência das respostas cognitivas, comportamentais e afetivas através de 3512 situações da vida de 42 pessoas por um período de quatro anos. Eles encontraram que a estabilidade e a consistência das respostas dependem das situações, dos indivíduos e dos tipos de respostas envolvidas. As variáveis covariadas sugeriram uma conexão entre estabilidade e a consistência de respostas. Pessoas que eram consistentes através de um par de situações tendiam a ser consistentes em outro tipo de par de resposta situacional. Os resultados indicaram que a questão da existência da consistência da personalidade não tem uma resposta simples e isso requer conhecimento a respeito das pessoas, das situações, das respostas e dos níveis de análise envolvidos. Apesar de que os eventos e situações certamente influenciem e causem variações nas emoções e sentimentos de bem estar, as pesquisas mostraram que há a tendência para experimentar níveis mais estáveis de significados emocionais similares positivos e similares negativos em larga variedade de situações. Naturalmente, no dia a dia as pessoas reagem a eventos de forma variada e a estabilidade de significados ocorre somente em níveis agregados de emoções a longo termo.

Diener, Suh, Lucas e Smith (1999) afirmaram que a contribuição dos modelos no campo da hereditariedade seria o fato de que eles ressaltaram que os traços de personalidade predispõem as pessoas a certas reações afetivas, mas que é preciso considerar que os eventos

correntes também influenciam os níveis de bem estar subjetivo e que as circunstâncias da vida de longo termo podem ter também alguma influência contínua sobre níveis de bem estar.

Os traços de personalidade e disposição cognitiva que têm recebido maior atenção teórica e empírica em relação a bem estar subjetivo são extroversão, a introversão, o neuroticismo e o otimismo.

A extroversão influencia o afeto positivo ao passo que neuroticismo influencia o afeto negativo. Lucas et al (2000) a partir de quatro estudos testaram a hipótese com participantes de 39 nações de que a extroversão está vinculada à sensibilidade a recompensas. As análises foram realizadas por meio de equação estrutural e de correlações. Os resultados de todos os estudos indicaram que os extrovertidos são mais sensíveis à recompensa e que essa sensibilidade se manifesta na forma de maior afeto prazeroso quando a pessoa é exposta a estímulos recompensadores. O maior afeto positivo então motiva indivíduos a se aproximarem de estímulos recompensadores. Além disso, encontraram que, pelo motivo das situações sociais tenderem a ser mais divertidas e recompensadoras que as situações não sociais, o afeto positivo mais elevado e a maior sensibilidade para recompensas dos extrovertidos induzem ao incremento de comportamento social.

Diener, Suh, Lucas e Smith (1999) afirmaram que outros pesquisadores sugerem que a extroversão está relacionada ao afeto positivo através de mecanismos indiretos. Por exemplo, ambos extrovertidos e introvertidos experimentam mais afetos positivos em situações sociais que em situações não sociais, mas se extrovertidos gastam mais tempo em situações sociais sua maior felicidade poderia ser explicada pela quantidade maior de tempo dispendido em positivo e feliz engajamento com pessoas.

Magnus, Diener, Fugita e Pavot (1993) realizaram uma pesquisa longitudinal por quatro anos, com medidas em dois tempos no início e no fim do período em que participaram da pesquisa 130 estudantes universitários, que teve por objetivo examinar a hipótese de que fatores de personalidade especificamente a extroversão e o neuroticismo estariam associados a eventos objetivos da vida. A partir das análises de correlações entre extroversão, neuroticismo e eventos positivos e negativos nos dois tempos eles encontraram que a extroversão predispôs os participantes a experimentarem mais eventos objetivos da vida positivos, ao passo que o neuroticismo predispôs as pessoas a experimentarem mais eventos objetivos negativos. Personalidades que eram um tanto quanto estáveis não apresentaram influência dos eventos objetivos da vida sobre o bem estar. Eventos objetivos da vida positivos e negativos covariados sugeriram que as pessoas que experimentam mais de um tipo de evento experimentam também mais eventos da mesma valência.

Outra característica de personalidade que foi destacada por Diener, Suh, Lucas e Smith (1999) como correlato de felicidade é o otimismo. Afirmaram os autores que a teoria desenvolvida em 1985 e posteriormente revista por Scheier, Carver e Bridges (1994) sobre o otimismo disposicional está embasada nos pensamentos característicos que uma pessoa tem a respeito dos afetos das circunstâncias futuras. De acordo com Diener, Suh, Lucas e Smith (1999) a forma de pensar a respeito do futuro tem conseqüências sobre o bem-estar subjetivo. Levando-se em conta que o otimismo representa uma tendência generalizada que as pessoas têm para esperar que resultados favoráveis aconteçam em suas vidas, então, se uma pessoa tender a esperar que resultados positivos aconteçam, naturalmente ela trabalhará pelas metas desejadas, ao passo que se a tendência for esperar por falhas futuras a pessoa se desengajará dessas metas. Assim, concluem Diener, Suh, Lucas e Smith (1999) que o padrão de comportamento otimista induz a mais sucesso na realização de metas do que o padrão pessimista que espera falhas na concretização de seu futuro, e que esse aspecto conseqüentemente produz impactos sobre o bem estar subjetivo.

Em face disso, Diener, Suh, Lucas e Smith (1999) afirmaram que indivíduos mais felizes são extrovertidos, otimistas e livres de preocupações. Traços de personalidade exibem algumas das relações mais fortes com bem estar subjetivo e parece que genes podem ser particularmente responsáveis por essas relações, mas alertaram para o fato de que não havia ainda clareza na maneira como muitos traços de personalidade adicionais seriam necessários para prover um completo quadro da felicidade dos indivíduos. Afirmaram também que a direção de causalidade e os mecanismos responsáveis por essas relações têm emergido como metas importantes das pesquisas de personalidade e bem estar subjetivo e que vários modelos conceituais existem para explicar a relação de personalidade com bem estar subjetivo tais como estudos da relação bem estar subjetivo e predisposição afetiva, estudos de comportamentos compensadores e ajuste da pessoa ao ambiente e que há evidências que dão suporte a cada uma dessas abordagens. Em suma, ressaltaram que há um número de modelos para os quais extrovertidos podem experimentar mais afetos de prazer do que os introvertidos, mas uma intrigante possibilidade é a idéia de que as características dos extrovertidos seriam na verdade um resultado da experiência de maiores níveis de afeto positivo.

1.3.6 Influência dos Padrões de Comparação Social e do Suporte Social Sobre o Bem Estar

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