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Os Valores Humanos Básicos Segundo Schwartz

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1.6 VALORES DO TRABALHO

1.6.3 Os Valores Humanos Básicos Segundo Schwartz

Os valores individuais básicos correspondem aos significados e motivos que as pessoas assumem para guiar suas vidas. Schwartz (2005) destacou que os valores humanos básicos são critérios orientadores que os indivíduos distinguem e que são utilizados por eles para avaliar ações, outras pessoas, a si mesmos e situações. Afirmou que sua teoria é uma proposta unificadora para o campo da motivação humana, uma maneira de organizar as diferentes necessidades, os diferentes motivos e objetivos propostos em outras teorias. Alegou que sua teoria de valores descreve aspectos da estrutura abstrata psicológica dos indivíduos que são fundamentais e comuns a toda humanidade, isto é, que todos indivíduos distinguem independente da cultura a que pertençam.

Ros; Schwartz e Surkis (1999) afirmaram que a teoria de valores humanos trata das motivações que todos indivíduos de todas as culturas têm subjacentes aos seus comportamentos. Essa teoria, que se destaca como teoria dos valores individuais básicos, especifica dez tipos motivacionais e a dinâmica de relacionamento entre esses tipos. Os tipos motivacionais percorrem toda uma gama de valores que guiam as pessoas em várias situações de modo a abranger uma ampla representatividade a partir de várias sociedades pesquisadas. Essa teoria especifica quais valores são compatíveis entre si e que dão suporte uns aos outros e quais são opostos e conflitantes. Destacam que o aspecto crucial que distingue os valores do modelo de Schwartz entre si é o tipo de meta motivacional que eles expressam. Os diferentes conteúdos dos valores foram descritos em função da ordem de enfrentamento às mudanças inerentes à existência humana. Indivíduos e grupos traduzem suas necessidades e demandas expressas em forma de valores. Quanto à natureza dos valores básicos e de seus conteúdos Schwartz (2005) esclareceu:

• São crenças intrinsecamente ligadas à emoção. Quando são ativados, consciente ou inconscientemente, fazem emergir sentimentos positivos ou negativos.

• Consistem de um construto motivacional, isto é, referem-se a objetivos desejáveis que as pessoas se esforçam para obter. Ex. desejo de justiça, saúde, sucesso, etc.

• São objetivos abstratos que transcendem as situações; abrangem várias áreas e permeiam ações específicas dessas áreas. Ex. obediência e honestidade são valores relativos ao trabalho, escola, etc.

• São importantes para orientar as ações das pessoas porque guiam a seleção e avaliação de ações e de políticas de pessoas e de grupos, isto é, servem de padrões ou critérios éticos de avaliação.

• São ordenados hierarquicamente porque formam um sistema ordenado de prioridades axiológicas que caracterizam as pessoas como indivíduos distinguindo-os quanto às normas e atitudes que tomam.

Ros; Schwartz e Surkis (1999) e Schwartz (2005) destacaram que os valores representam, em forma de metas conscientes, respostas a três exigências universais que todos os indivíduos e sociedades devem enfrentar: 1) necessidades como organismos biológicos; 2) requisitos de interação social coordenada; e 3) requisitos para a sobrevivência e bem estar dos grupos sociais.

Ressaltou Schwartz (2005) que os indivíduos não podem lidar com esses três requisitos da existência humana de forma bem sucedida sozinhos. Em vez disso, em todos os grupos, as pessoas tem de articular objetivos apropriados e para lidarem com eles precisam se comunicar e ganhar cooperação para sua realização. Assim, os valores são conceitos socialmente desejados usados para representar esses objetivos mentalmente e por meio do vocabulário e linguagem na interação social. A sua teoria de valores especifica dez tipos motivacionais que os indivíduos distinguem:

1. Autodeterminação

i. Objetivo que o define: ação e pensamento independente e curioso – escolher os próprios objetivos, pesquisar, exercer criatividade e liberdade. ii. É derivado de necessidades orgânicas por controle e dominância e de

requisitos interacionais de autonomia e independência.

iii. Objetivo motivacional deste e de outros tipos: auto-respeito; inteligente; privacidade.

2. Estimulação

i. Objetivo que o define: excitação, novidade, desafio na vida, ousadia. Uma vida variada e excitante.

ii. É derivado de necessidades orgânicas relativas a variedade e estimulação para manter um nível de ativação ótimo e positivo em vez de ameaçador. 3. Hedonismo

i. Objetivo que o define: prazer ou gratificação sensual, auto- indulgência. ii. É derivado de necessidades orgânicas e do prazer associado à sua

satisfação. 4. Realização

i. Objetivo que o define: sucesso pessoal por meio de demonstração de competência de acordo com os padrões sociais - ambicioso e bem- sucedido, auto-estima social, capaz, influente.

ii. É derivado de necessidades de sobrevivência individual e para que grupos atinjam seus objetivos.

iii. Objetivo motivacional deste e de outros tipos: inteligente, auto-respeito, reconhecimento social.

5. Poder

i. Objetivo que o define: status social e prestígio, controle ou domínio sobre pessoas e recursos - autoridade e saúde, auto-estima social, poder social. ii. É derivado de necessidades de funcionamento das instituições e das

necessidades individuais de dominação/submissão.

iii. Objetivo motivacional de outros tipos: preservar a imagem pública pessoal e reconhecimento social.

6. Segurança

i. Objetivo que o define: segurança, harmonia e estabilidade da sociedade, dos relacionamentos e de si mesmo - higiene, saúde, ordem, família, segurança nacional, reciprocidade de favores.

ii. É derivado de necessidades de sobrevivência individual e grupal iii. Objetivo motivacional deste e de outros tipos: senso de pertencer 7. Conformidade

i. Objetivo que o define: restrição de ações, de inclinações e de impulsos que tendam a incomodar ou prejudicar os outros e que violem expectativas ou normas sociais. Enfatizam a auto-restrição na interação cotidiana geralmente com outros próximos - obediente, auto-disciplinado, polidez, respeito para com os pais e idosos.

ii. É derivado de requisitos de manutenção da interação e do funcionamento dos grupos sociais.

iii. Objetivo motivacional deste e de outros tipos: promover relações sociais cooperativas e suportivas (a fim de evitar resultados negativos), leal e responsável.

8. Tradição

i. Objetivo que o define: respeito, compromisso e aceitação dos costumes e idéias que a cultura ou a religião fornece. Desenvolvem práticas, símbolos, idéias e crenças que representam experiências e rumos compartilhados. ii. É derivado de necessidades de simbolizar a solidariedade do grupo e de

expressá- la a fim de contribuir para sua sobrevivência. iii. Objetivo motivacional deste e de outros tipos: vida espiritual. 9. Benevolência

i. Objetivo que o define: preservar e fortalecer o bem estar daqueles cujo contato é mais próximo.

ii. É derivado dos requisitos básicos para o funcionamento do grupo e de necessidades orgânicas de afiliação - prestativo, honesto, piedoso, responsável, leal, amizade verdadeira, amor maduro.

iii. Objetivo motivacional deste e de outros tipos: promover relações sociais cooperativas e suportivas (a partir de uma atitude interiorizada). Senso de pertencer, sentido da vida, vida espiritual.

10. Universalismo

i. Objetivo que o define: compreensão, agradecimento, tolerância e proteção do bem estar de todas pessoas e da natureza. Combina dois subtipos de preocupações: 1) com o bem estar da sociedade como um todo e do mundo e 2) com a natureza. Mente aberta, justiça social, igualdade, um mundo de paz, mundo de beleza, unidade com a natureza, sabedoria, proteção ao meio ambiente.

ii. É derivado de necessidades de sobrevivência dos grupos e de indivíduos. Têm a percepção de que a não aceitação e o tratamento injusto do diferente levam a conflitos que ameaçam a vida. Percepção da escassez dos recursos naturais.

iii. Objetivo motivacional deste e de outros tipos: harmonia interior e uma vida espiritual.

A espiritualidade segundo Schwartz (2005) é um valor que permeia todos os tipos de valores, porque a maioria das pessoas pode satisfazer a necessidade de significado e de coerência de diversas maneiras, por exemplo, por meio dos valores de universalismo, de tradição e de segurança.

Afirmou Schwartz (2005) que há uma estrutura de relações entre os valores mencionados. Essa estrutura deriva do fato de que as ações para a busca de qualquer valor têm conseqüências que podem conflitar ou ser congruente com a busca de outros valores. Ações que expressam valores têm conseqüências práticas, fisiológicas e sociais. Por exemplo, no domínio prático, o uso drogas em um culto ritualístico pode contrariar os valores do tipo motivacional tradição e, em decorrência disso, resultar em sansões sociais. Destaca-se também que as pessoas podem buscar valores antagônicos, mas não na mesma ação.

Ros; Schwartz e Surkis (1999) afirmaram que a identificação das relações entre os valores básicos individuais tem como fundamento a suposição de que ações tomadas em busca de um tipo de valor traz conseqüências psicológicas, práticas e sociais que podem ser compatíveis ou podem conflitar com a busca de outros tipos de valores. Como exemplo, destacaram os autores que a busca por valores de realização freqüentemente conflitam com a busca por valores de benevolência, isto é, a procura pessoal por sucesso provavelmente obstrui algumas ações almejadas para crescimento e bem estar de pessoas próximas que necessitam do suporte para viver. A busca por valores de tradição conflita com a busca por valores de estimulação; por exemplo: necessidades de aceitação social, costumes religiosos e ancestrais inibem a procura por novidades, desafios e excitação. Por outro lado, a busca por valores de benevolência é compatível com valores de conformidade porque ambos requerem maneiras de agir que são aprovadas pelo grupo. A busca por segurança e poder também podem ser compatíveis porque ambas evitam as tensões causadas pela incerteza que resulta da falta de controle sobre recursos e relacionamentos. Assim Schwartz (2005) ressaltou que os dez tipos motivacionais formam um continuum de motivações relacionadas em 12 combinações:

1. Poder e realização – superioridade social e auto-estima. 2. Realização e hedonismo – satisfação centrada no indivíduo.

3. Hedonismo e estimulação – desejo por excitação efetivamente agradável. 4. Estimulação e autodeterminação – interesse intrínseco em novidade e domínio. 5. Autodeterminação e universalismo – confiança no próprio julgamento e conforto com a diversidade da existência.

6. Universalismo e benevolência – promoção de outros e transcendência de interesses egoístas.

7. Benevolência e conformidade – comportamento normativo que promove relacionamentos íntimos.

8. Benevolência e tradição – devoção ao grupo primário.

9. Conformidade e tradição – subordinação do indivíduo em favor de expectativas socialmente impostas.

10. Tradição e segurança – preservação de arranjos sociais existentes que dão segurança à vida.

11. Conformidade e segurança – proteção da ordem e da harmonia nas relações.

12. Segurança e poder – evitação e superação de ameaças, controle de relacionamentos e recursos.

A figura 1 apresentada por Ros; Schwartz e Surkis (1999) mostra o esquema estrutural do modelo de valores de Schwartz para a situação teorizada, de modo que os valores mais próximos são compatíveis entre si e os mais distantes conflitantes. Também apresenta uma agregação dos dez tipos motivacionais em quatro tipos maiores: abertura à mudança; autotranscendência; autopromoção; e conservação.

Figura 1- Estrutura de Relações Entre Tipos de Valores Individuais Básicos Fonte: Ros; Schwartz e Surkis (1999)

Poder Segurança Conformidade Tradição Benevolência Universalismo Autodeterminação Estimulação Hedonismo Realização Valores de Autopromoção Valores de Conservação Valores de Autotranscendência Valores de Abertura à Mudança

O quadro 5 apresenta uma comparação dos conteúdos dos valores de Schwartz com os conteúdos de valores propostos pela Dinâmica da Espiral, por Maslow e por Frank l.

Quadro 5

Semelhança Entre Valores de Schwartz, Valores Definidos na Dinâmica da Espiral e Valores Definidos por Maslow e por Frank l

Schwartz Dinâmica da Espiral Maslow Frankl

Autodeterminação 7º Auto-realização Criativos

Estimulação 5º Auto-realização Criativos e vivenciais

Hedonismo 1º e 3º Necessidades físicas Vivenciais

Realização 5º Auto-realização Criativos

Poder 3º e 5º Social Atitudes e criativos

Segurança 2º Segurança Atitudes

Conformidade 4º Social Atitudes

Tradição 2º e 4º Social Atitudes

Benevolência 6º Estima Atitudes e criativos

Universalismo 8º Auto-realização Atitudes e criativos

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