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Influência dos Padrões de Comparação Social e do Suporte Social Sobre o Bem Estar Subjetivo

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1.3 FATORES DE INFLUÊNCIA SOBRE O BEM ESTAR SUBJETIVO

1.3.6 Influência dos Padrões de Comparação Social e do Suporte Social Sobre o Bem Estar Subjetivo

Diener e Scollon (2003) afirmaram que devido ao fato de que as circunstâncias da vida variam extensamente as pessoas algumas vezes ficam satisfeitas outras insatisfeitas. Esse fato deu lugar à suposição de que os padrões de comparação social tenham influência para explicar o campo da satisfação e insatisfação com a vida. A idéia é que as pessoas podem comparar as circunstâncias de suas vidas com altos ou baixos padrões e dessa comparação resultaria em diferenças no bem estar subjetivo. Nessa teoria, por exemplo, até mesmo pessoas pobres poderiam ser felizes se comparassem suas vidas com a vida de pessoas desabrigadas. A idéia é que as metas das pessoas derivam de suas histórias de aprendizado por intermédio dos padrões culturais do meio em que vivem. Isto quer dize r que uma determinada cultura enseja que as pessoas desejem atender aos padrões apreendidos, bem como, as influencia quanto às maneiras de reagir aos eventos. Os autores sugeriram com base nisso que qualquer padrão comparativo pode influenciar o bem estar subjetivo se esse padrão destacar- se, em um determinado tempo, sobre o julgamento da satisfação, mas, salientaram que alguns padrões de comparação social que influenciam o bem estar subjetivo podem se expressar de forma crônica na vida de uma pessoa e, deste modo, influencia r o bem estar por muito tempo. Destacaram os autores que as metas produzem padrões de comparação social altamente expressivos. Esses padrões de comparação social são utilizados para guiar o comportamento e a avaliação do progresso das metas em uma variedade de situações. Em face disso, os autores supuseram que o progresso em direção a metas é um dos mais importantes preditores de bem estar subjetivo.

Festinger (1954) definiu o processo de comparação social como sendo um impulso ou tendência que o organismo humano apresenta que desperta nas pessoas o desejo de comparar suas opiniões e habilidades com referências objetivas ou com opiniões e habilidades de outras pessoas. Para esse autor o processo de comparação social é uma necessidade humana que serve para orientar comportamentos de pessoas e grupos. Como meio de sustentação de opiniões e de habilidades favorece a avaliação de situações e comportamentos que poderiam levar à punição ou até mesmo à morte por serem incorretos ou inapropriados. As principais idéias de sua teoria estão a seguir assinaladas:

• No organismo humano reside um impulso para avaliar suas opiniões e habilidades de forma comparativa com referenciais externos.

• Os referenciais externos de comparação podem ser concretos ou objetivos ou com base em opiniões e habilidades de outras pessoas.

• Se estiverem disponíveis padrões de comparação objetivos as pessoas não usarão os recursos de comparação com outras pessoas.

• Se possibilidades de comparação com recursos objetivos não forem disponíveis, ocorrerá então a utilização das possibilidades de comparação com outras pessoas.

• A ausência de padrões de comparação tanto objetivos (físicos) quanto de outras pessoas (social) causa instabilidade nas avaliações subjetivas quanto às opiniões e habilidades pessoais

• As pessoas não tendem a avaliar suas opiniões e habilidades por meio de comparação com outros que têm opiniões e habilidades divergentes delas.

• Dentro de um conjunto de pessoas comparáveis há a tendência de escolher realizar a comparação com alguém que possua opiniões e habilidades semelhantes.

• Se as possibilidades de comparação social forem muito divergentes uma pessoa não será capaz de realizar as avaliações com precisão sobre suas opiniões e habilidades.

• Quando há muitas opiniões e não há internamente um senso de que alguma delas é correta e válida, então surge um impulso unidirecional de comparação ascendente (upward).

Rodrigues (1971) a respeito das definições de comparação objetiva e com pessoas referidas por Festinger (1954) apresentou o seguinte exemplo. Uma pessoa pode avaliar a habilidade de levantar peso a partir das várias gradações de halteres e isso representaria uma comparação objetiva. Contudo se ela quiser atribuir qualidade a uma habilidade terá de comparar-se com outra pessoa. Por exemplo, uma pessoa que quer saber se sua habilidade de correr 100 metros em 15 segundos é boa ou ruim, terá que, necessariamente, comparar seu desempenho com a marca de outras pessoas que também correm.

Além dos processos de comparação com similares (lateral) e a comparação ascendente (upward) há o processo de comparação descendente (downward). Esse processo consiste de comparação com pessoas e situações que são avaliadas como estando em condições piores ou inferiores. (BLANTON, CROCKEN, MILLER, 2000)

Diener, Suh, Lucas e Smith (1999) citaram o trabalho de Wood (1989) sobre comparação social. Em seu estudo sobre a teoria e pesquisa a respeito da comparação social de atributos pessoais concluiu que o indivíduo analisa sua auto-avaliação com base em metas através de comparação social; que o ambiente social pode impor às pessoas comparações não desejadas. Destacou que o processo de comparação social envolve algo a mais do que uma seleção de objetivo s de comparação, e que é um processo bidirecional que pode adotar uma variedade de formas para que a pessoa encontre suas metas.

Nesse sentido Diener, Suh, Lucas e Smith (1999) destacaram a idéia de que a comparação social pode ser usada como uma estratégia de enfrentamento e pode ser influenciada pela performance da personalidade. A escolha do alvo de comparação, o uso de comparação com padrões superiores ou inferiores e a direcionalidade dos efeitos sobre bem- estar subjetivo são flexíveis e em algum grau dependem da personalidade. Além disso, sugeriram que a questão de interesse para pesquisas diria respeito a indagações sobre quando, onde e quais os tipos de efeitos a comparação social produz. Destacaram finalmente que a influência do ambiente social imediato de alguém aparentaria não produzir efeitos a longo termo sobre bem estar subjetivo através da comparação social. Ao invés, os autores propuseram que a informação social tem uma influência sobre o bem estar subjetivo quando ela produz influência sobre as metas das pessoas.

A informação e a comparação social são fatores que estão relacionados ao conceito de suporte social que também está associado ao bem estar subjetivo. Cohen e Syme (1985) destacaram que o suporte social que compreende os recursos que são providos por outras pessoas influencia a saúde e o bem estar. Segundo esses autores o suporte social corresponde à dimensão social do bem estar. Essa dimensão está relacionada ao quanto o convívio social e o apoio recebido de outras pessoas e instituições interfere no bem estar individual. Ressaltaram os autores que se constatou que muitos dos fatores psicossociais que afetam a saúde e o bem estar ocorrem primariamente por meio de impactos de rompimentos na rede social tais como as experiências de mudanças estressantes e prejuízos no trabalho, entre outros, e o suporte social pode funcionar como fa tor que protege a saúde e o bem estar.

Em apoio ao papel positivo do suporte social, Diener e Seligman (2004) ressaltaram que as relações sociais positivas que dão suporte aos trabalhadores são essenciais para aumentar seu bem estar.

1.3.7 Influência da Adaptação a Eventos da Vida Sobre o Bem Estar Subjetivo

A idéia de adaptação para a continuidade das condições de vida é um componente central da moderna teoria de bem estar subjetivo. A evolução preparou as pessoas para realizarem ajustes às condições externas. Por exemplo, o corpo realiza adaptações para ajustar-se ao frio, calor, necessidade de água e a altas atitudes. De maneira similar, as pessoas podem se ajustar, pelo menos até certo grau, a ambos bons e maus eventos, de modo que não haja permanência somente num estado de elevação ou de desânimo. O sistema de emoções reage mais fortemente para novos eventos e essas reações amortecem ao longo do tempo. Quando o bem estar é considerado, eventos recentes geralmente têm um maior impacto do que eventos que aconteceram no passado. Suh, Diener e Fugita (1996) em pesquisa sobre a relação de eventos da vida com bem estar subjetivo encontraram que o efeito dos eventos positivos e negativos deixaram de afetar significativamente a satisfação com a vida e os afetos positivos em um período entre três e seis meses após o evento. Os afetos negativos apresentaram o mesmo padrão, porém quatro anos depois do evento negativo, a pesquisa apresentou um inesperado aumento de impacto sobre o afeto negativo (r = 0,21, p<0,05 ). Segundo Diener, Suh, Lucas e Smith (1999) é possível concluir que as pessoas adaptam-se a muitos eventos em um período relativamente curto em cerca de três meses. É importante notar, contudo, que evidências consideráveis existem que contradizem a teoria hedônica de treadmill que considera que as pessoas completamente e rapidamente se adaptam a todas circunstâncias. A adaptação para alguns eventos pode ocorrer lentamente. Salientaram os autores que alguns estudos mostram que pessoas se adaptam rapidamente a algumas condições, outras pessoas se adaptam mais lentamente e outras não se adaptam a certas condições.

Beck e Cowan (1996) a respeito dos processos de mudança e adaptação afirmaram que as pessoas reagem a eventos segundo seu potencial de mudança que pode ser aberto, aprisionado ou fechado. O estado de abertura à mudança consiste de uma forma saudável de adaptação em que a pessoa antecipa-se à mudança e lida de forma pró-ativa e criativa com as barreiras internas e externas ao processo de adaptação juntamente com uma disposição para aceitar novas formas de ser. No estado de aprisionamento à mudança, as pessoas não conhecem suficientemente e nem lidam eficazmente com as barreiras internas e externas; lidam com barreiras tentando ajustar-se passivamente a elas, concentrando-se em fórmulas já testadas e reconhecidas; apresentam comportamentos agressivo-passivos de rejeição à mudança, estresse excessivo e desordens gastro- intestinais. O estado fechado demonstra total

falta de adaptabilidade ao meio, qualquer idéia é tratada da mesma forma; apresentam insaciabilidade e exigências incessantes; exclusividade de visão e de posição; qualquer coisa diferente é rejeitada imediatamente. As pessoas neste estado apresentam respostas indevidas à frustração e evitam se exporem a outras posições ou visões.

Segundo Diener, Suh, Lucas e Smith (1999) a adaptação pode ocorrer, contudo quando indivíduos aprendem como enfrentar as perdas e ajustar suas metas. Nesse processo os indivíduos reestruturam seus pensamentos a respeito dos estímulos de mudança de seus efeitos sobre suas vidas. Uma completa teoria do bem estar subjetivo deve rá explicar os efeitos do contexto temporal de eventos, bem como explicar quando adaptações ocorrem, que processos são responsáveis pela adaptação e quais são os limites para habilidades individuais de adaptação.

Salientaram ainda Diener, Suh, Lucas e Smith (1999) que o conceito de adaptação em algumas abordagens seria diferenciado do conceito de enfrentamento que dá ênfase ao papel ativo do participante no processo de mudança. Certas estratégias de enfrentamento são consistentemente relacionadas a maior bem estar subjetivo. Consideraram que a despeito das descrições desses modelos que enfocam o processo subjacente ao enfrentamento e o modo como eles mitigam o distresse não estavam ainda disponíveis. Concluíram ressaltando que talvez uma das muitas agendas para a psicologia do bem estar subjetivo seria o entendimento do porquê as pessoas usam certos métodos de enfrentamento e porque alguns métodos são mais efetivos do que outros. Em face disso, a adaptação incluiria diversos processos, tais como os hábitos emocionais e atencionais, mudança no conteúdo ou na estrutura de metas e outras estratégias cognitivas de enfrentamento.

1.3.8 Influência das Metas Sobre o Bem Estar Subjetivo

Diener (1984) afirmou que teorias télicas ou teorias de endpoint de bem estar subjetivo são aquelas que sustentam que a felicidade é conquistada quando ocorre um estado interior após a obtenção de algo como a realização de uma necessidade ou de uma meta. De acordo com essa definição de teorias télicas, (teorias que versam sobre a tendência de realização em direção a um propósito ou finalidade), os comportamentos dos indivíduos poderiam ser melhor compreendidos pelo exame de metas. Essa idéia faria com que pesquisadores inquirissem sobre o que as pessoas estariam tipicamente tentando fazer na vida e como estariam progredindo a isso. Diener, Suh, Lucas e Smith (1999) salientaram que os tipos de metas, a sua estrutura, o sucesso que as pessoas são capazes de alcançar e a taxa de progresso

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