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Valores e Cultura

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1.6 VALORES DO TRABALHO

1.6.1 Valores e Cultura

O significado do termo valor está associado à importância estabelecida de antemão à qualidade, ao mérito ou merecimento intrínseco de algo. A valores, entre outros, também está associado o significado de normas, de princípios ou de padrões sociais aceitos por um indivíduo, classe, sociedade, etc. (FERREIRA, 1975).

Quanto à significação de valores como normas ou padrões sociais, Heemann (2001) afirmou que há duas correntes de pensamento que definem a natureza dos valores: uma denominada de corrente da Objetividade que considera que existem valores em si mesmos, representada por Platão, Kant, entre outros, e a corrente da Relatividade que considera que existem seres que valoram, representada Nietch e outros. Na visão da Objetividade existem valores essenciais básicos pré-existentes. A visão da Relatividade considera que na natureza não há valores essenciais e que é necessário um referencial axiológico (referencial relativo ao estudo ou teoria dos valores morais para defini- los). Salienta o autor que a corrente da Objetividade, tem por objetivo, entre outros, tornar os valores pré-existentes ou básicos claros e a corrente da Relatividade criar e assimilar valores segundo a cultura. Nesse sentido a valoração tem duas esferas:

1. Corrente universalista – que corresponde a valores imutáveis essenciais ou básicos, gerais e comuns a todos seres humanos, que dirigem as grandes linhas da vida; está principalmente associada à idéia de busca do bem supremo ligado ao amor e à felicidade.

2. Corrente relativista – que corresponde a valores mutáveis construídos para regular as relações humanas e sociais e definir os comportamentos do dia a dia. Nessa visão o bem e o mal, o certo e o errado são relativos e as motivações são construídas associadas aos sentimentos e emoções do dia a dia, ava liadas por um tribunal interior.

A moral é um termo que indica o conjunto de regras e leis determinadas e colocadas em prática por um grupo. A moral define os valores e a importância relativa entre os valores culturais. A ética corresponde ao comportamento que envolve a escolha pessoal diante de um tema moral. Na prática, segundo Heemann (2001) moral e ética se confundem. Assim, a ciência ética se divide em duas partes:

1. A dimensão biológica que compreende algumas conjecturas filogenéticas (evolução) sobre o senso moral e um esboço sobre os mecanismos neurais que estão associados às percepções subjetivas que comumente são designadas como veredictos da consciência. É um nível de estudo mais identificado com a psicobiologia.

2. Outra dimensão da moralidade que é ocupada pelas disciplinas humanísticas, diz respeito ao conjunto de idéias, juízos de valor, normas e códigos que resultam da vida social, mais ligada às ideologias.

Tamayo (2005) afirmou que há duas dimensões de classificação de valores: os básicos ou gerais e os específicos. Os valores básicos ou gerais são conceitos abstratos subjacentes às ações humanas que podem ser generalizados para várias áreas da vida e aplicados em contextos específicos como, por exemplo, o mundo do trabalho. E valores específicos são aqueles que são pertinentes a apenas contextos específicos tais como religião, família, trabalho, educação; são valores que indicam o nível de análise e de expressão de uma pessoa em determinada área. Segundo esse autor, a maioria dos autores concorda com a definição de que os valores orientam e guiam a vida das pessoas. Considerou a influência dos valores sobre o comportamento a partir de dois aspectos básicos determinantes do comportamento: 1) o aspecto biológico; 2) e o aspecto cultural.

Quanto ao aspecto cultural Tamayo (2005) ressaltou que os valores culturais tem sido objeto de numerosos estudos e nesse sentido, diversos modelos de análise têm sido propostos. O modelo mais freqüentemente utilizado é o que considera o individualismo e o coletivismo como prioridades a metas axiológicas, ou seja, que considera o individualismo e o coletivismo como bases para o estudo da natureza, dos tipos e dos critérios de valores e de julgamentos de valores de grupos e etnias específicas. Destacou que nas sociedades individualistas o senso de si mesmo costuma ser autônomo, independente em busca da singularidade; o ponto de referencia é o eu, por ex: o outro é diferente ou semelhante a mim; as pessoas determinam seu comportamento segundo as necessidades pessoais; enfatizam análise e custo-beneficio dos relacionamentos; tendem a atribuir a causa dos eventos a fatores internos e consideram o lócus de controle a partir do seu interior. Nas sociedades coletivistas o senso de si mesmo é relacional e interdependente; o ponto de referência é o grupo; as metas individuais devem ser compatíveis com as metas do grupo; determinam seu comportamento segundo as normas, os deveres e obrigações do grupo; enfatizam os relacionamentos e as necessidades dos outros; tendem a atribuir as causas dos eventos a fatores externos e o lócus de controle é externo.

Hofstede (2002) afirmou que as pessoas são semelhantes em suas maneiras porque, biologicamente, são da mesma espécie, mas, por outro lado, todas as pessoas são também individualidades únicas e singulares no mundo. Considerou que todas as pessoas são seres sociais e, nesse sentido, desde a infância precoce, elas se dedicam em como sobreviver num mundo social. Isso requer habilidades de enfrentamento que dizem respeito a cinco questões ou dimensões valorativas: 1) identidade; 2) hierarquia; 3) gênero; 4) verdade; e 5) virtude. A maneira em que um grupo de pessoas resolve essas cinco questões é denominada de cultura. Afirmou que o mundo da criança em cada cultura é sentido por meio de símbolos e heróis que são fruto das manifestações culturais. Subjacentes a essas manifestações culturais, que ocorrem desde cedo na infância, estão os valores da cultura que são transmitidos através das gerações. Esses valores culturais de berço permitem que as pessoas se expressem de maneiras similares nos contextos sociais tais como família, escola, trabalho e outros contextos. Deste modo os valores culturais asseguram e definem os papeis para todas as idades, gêneros e profissões nas diferentes instituições sociais. As cinco dimensões culturais valorativas, segundo o autor, se apresentam em um continuum de pólos opostos. A dimensão identidade tem num extremo o coletivismo e no outro o individualismo; a dimensão hierarquia tem num extremo uma grande distância entre os papeis de poder e no outro uma pequena distância; a dimensão gênero tem num extremo a feminilidade e no outro a masculinidade; a dimensão verdade tem num extremo uma forte evitação à incerteza no outro extremo uma frágil

evitação à incerteza; a dimensão virtude num extremo tem uma orientação em longo prazo e no outro extremo uma orientação de curto prazo.

Hofstede (2001) afirmou que entende os valores e a cultura como sendo o resultado de programações mentais. Toda cultura pressupõe a existência de uma coletividade, mas os valores podem estar associados a coletividades e a indivíduos. Ele define valores como uma ampla tendência que as pessoas e coletividades têm de preferir uns estados afetivos sobre outros. Pelo fato de que os valores são transmitidos na infância precocemente eles não têm um caráter racional, mas eles determinam a definição subjetiva de racionalidade. Os valores tanto individuais quanto culturais podem ser mutuamente relacionados de modo a formar sistemas ou hierarquias, mas esses sistemas não precisam necessariamente estar harmonizados entre si. Muitas pessoas mantêm vários valores conflitantes tais como liberdade e igualdade. Destacou que o termo valores é usado em todas ciências sociais, antropologia, sociologia, economia, política e psicologia com diferentes compreensões e ressaltou que o estudo de valores requer uma certa quantidade de relativismo ou ao menos tolerância com os valores desviantes.

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