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Valores e Motivação Humana

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1.6 VALORES DO TRABALHO

1.6.2 Valores e Motivação Humana

Diener, Suh, Lucas e Smith (1999) destacaram que as pessoas avaliam suas condições de vida e dão significados a ela com base em valores estruturados a partir de suas experiências atuais e do passado.

Frankl (2003) definiu que o ser humano é fundamentalmente estruturado para a realização do sentido de sua vida. Esclareceu o autor que se o sentido da vida é a motivação humana fundamental, então indagar sobre o sentido significa perguntar como o homem pode numa situação concreta estabelecer uma tarefa também concreta que lhe faça sentido e que esteja em consonância com seus valores pessoais. Para ele os valores individuais são enquadrados em três categorias básicas:

• Valores criativos que se referem às motivações para realizar algo, como, por exemplo, o trabalho que pode dar sentido à vida de alguém. Nessa categoria de valores não se considera importante o que se faz, mas como se faz o que é feito.

• Valores vivenciais que se referem às motivações relativas àquelas experiências que tornam a vida cheia de sentido tais como a arte, o contato com a natureza, a contemplação do belo que produzem enriquecimento psicológico.

• Valores de atitude que são as motivações capazes de tornar plena de sentido a vida, mesmo em situações em que há pobreza psíquica ou não há possibilidades de criatividade ou

de vivências de enriquecimento psicológico. Ocorrem em situações de sofrimento inevitável em que se requer o contato com aqueles valores internos que fazem com que o homem não se identifique com o sofrimento, mas distancie-se dele a fim de assumir uma atitude plena de sentido.

Maslow (1943) definiu, com enfoque desenvolvimentista, uma hierarquia de necessidades ou de impulsos básicos motivacionais universais, subjacentes à conduta humana, voltados à manutenção e evolução da vida física, psicológica, social e de realização pessoal. Essas necessidades motivadoras definem classes de valores e respectivos comportamentos específicos. Deste modo, considerou que a humanidade possui motivações essenciais hierarquizadas em termos de necessidades básicas. O autor destacou que a totalidade integrada do organismo seria a pedra fundamental da teoria da motivação humana e que existem vários meios, delineados pela s diversas culturas, para se atingir um mesmo alvo. Portanto, consciência, especificidade, desejos locais e culturais não são tão fundamentais na sua teoria de motivação quanto o são as necessidades mais básicas que são alvos inconscientes e universais. Para ele qualquer comportamento motivado deve ser entendido como um canal pelo qual muitas das necessidades básicas podem ser simultaneamente expressas ou satisfeitas. Tipicamente uma ação tem mais do que uma motivação. Todos estados do organismo são entendidos como motivados e ao mesmo tempo como mo tivadores. Seus pontos de vista podem ser resumidos da seguinte maneira:

• As necessidades humanas se arranjam hierarquicamente em termos de potenciais que habilitam o organismo a vários comportamentos.

• As necessidades não podem ser consideradas como se fossem isoladas ou discretas e apresentam vários graus de satisfação e insatisfação que permitem ou não a execução de comportamentos da classe motivadora hierarquicamente superior.

• A sua teoria de motivação está centrada no ser humano. Deste modo, as necessidades motivadoras são apenas classes determinantes do comportamento, enquanto que a forma do comportamento está relacionada ao contexto cultural e situacional.

• Considera que o comportamento humano é motivado por classes distintas de necessidades básicas hierarquicamente organizadas, de maneira que quando uma classe é relativamente satisfeita criam-se condições de satisfação das próximas classes subseqüentes de necessidades.

• As classes motivadoras do comportamento em ordem hierárquica são: necessidades fisiológicas relativas à manutenção da vida corporal; necessidades relativas à segurança e pertencimento grupal; necessidades relativas ao amor e aos relacionamentos sociais; necessidades relativas à estima e ao compartilhar; e necessidades relativas à auto-realização.

A partir de uma abordagem também desenvolvimentista, Beck e Cowan (1996) apresentaram uma teoria motivacional em que as visões de mundo individuais e coletivas corresponderiam a um sistema de valores, a um nível de existência psicológica, a uma estrutura de crenças, a um princípio organizador, a uma forma de pensar ou um modo de adaptação e de ajustamento.

Beck e Cowan (1996) destacaram que Clare W. Graves, logo no período após 2ª guerra mundial, era Professor Emérito de Psicologia do Union College de Nova Yorque. Nesse tempo, sob a influência de um período de produção de pensamento arrojado e visionário para novas conquistas no conhecimento humano, ele escolheu procurar as razões que estão subjacentes às perspectivas de mudanças da natureza do pensamento e das ações humanas. Explorou porque as pessoas são diferentes, porque algumas mudam outras não, além disso, sua pesquisa visou buscar as melhores formas de “navegar através das emergentes (e freqüentemente caóticas) versões da existência humana”. Graves, segundo os autores, propunha que a psicologia do ser humano maduro é um processo cíclico, emergente, oscilante, representado em forma de espiral progressiva de sistemas de valores orientadores, de comportamentos que evoluem em processo hierárquico de inclusão e transcendência uns sobre os outros. Isto quer dizer que o pensamento humano desenvolve-se em “pacotes” que podem ser distinguidos à medida que as pessoas tentam se colocar em um mundo que se torna mais complexo. Essa complexidade do ambiente faz com que o ser humano viva, tome decisões e sofra mudanças por meio de sistemas subjetivos de valores básicos e de sistemas objetivos ambientais complexos. Destacaram os autores que a partir dos anos 60, Graves e seus seguidores Beck e Cowan se dedicaram ao estudo deste tema e de suas aplicações práticas. Seus pontos de vista podem ser assim resumidos:

• A natureza humana não tem caráter estático e nem finito. Ela se modifica à medida que as condições de existência se transformam criando assim novos sistemas pessoais e coletivos nas maneiras de dar significado e de agir no mundo.

• Essas maneiras de dar significado e de agir no mundo são baseadas em sistemas de valores que estão em potencial nas mentes humanas, aguardando que as condições de vida

concretas os ative. Quando um novo sistema ou novo nível é ativado as pessoas modificam sua psicologia e suas regras para se adaptarem às novas situações.

• Todos estão inseridos num sistema de valores potencialmente aberto com possibilidades infinitas de modos de vida. Não existe uma possibilidade final que se possa almejar.

• O indivíduo, as empresas, ou a sociedade inteira somente podem responder de forma singular e adaptada aos apelos de cada nível de existência (condições de vida) que está em vigor.

• Os níveis de existência são seqüenciais e evolutivos em um modelo representado em forma de vórtice espiral ascendente, tanto no que diz respeito à evolução ontogenética quanto à filogenética.

• Em cada nível de existência que estiver atuante haverá possibilidades de escolhas individuais e coletivas.

• Tempos diferentes produzem mentes (valores) e ações diferentes.

Os níveis psicológicos de valores estão apresentados resumidamente a seguir. Eles são numerados para indicar a seqüência hierárquica do desenvolvimento. No primeiro nível de existência impera o instinto de sobrevivência e a motivação básica é permanecer vivo por meio do equipamento sensório motor. No segundo nível impera a influência do grupo (família, tribo) e a motivação básica é a necessidade de pertencimento por meio de comportamentos e ritos que envolvem relações consanguíneas, as relações com os espíritos e o misticismo num mundo mágico e assustador. No terceiro nível imperam os impulsos por poder e por prazer imediatos, seus motivos básicos são a imposição do poder pessoal sobre os outros e sobre a natureza por me io de exploração. No quarto nível impera o desejo de conhecer a verdade e os motivos básicos são orientados pela crença absoluta num único caminho correto de obediência à autoridade. No quinto nível impera o esforço focado e a motivação básica é o enfoque na possibilidade de tornar as coisas melhores para o eu por meio da melhoria de recursos materia is e científicos. No sexto nível imperam os vínculos humanos e a motivação básica é a busca de bem estar das pessoas e a construção de consenso social. No sétimo nível impera um pensamento sistêmico de fluxo flexível e a motivação básica é a adaptação flexível à mudança por meio de visão sistêmica. No oitavo nível impera o pensamento voltado para o mundo (visão global) e a motivação básica é a atenção à

dinâmica de toda terra e ações num nível macro. Destaca-se que os níveis 1º, 3º, 5º e 7º são individualistas; os níveis 2º, 4º, 6º e 8º são coletivistas.

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