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CAPÍTULO III – MEDIAÇÃO DIGITAL E CAMPANHAS ELEITORAIS

3.2 Iniciativas de participação eletrónica

3.2.2 Iniciativas internacionais de participação eletrónica

Em (Scherer et al., 2009), evidencia-se a importância da utilização das noções e das técnicas provenientes dos domínios da usabilidade (Nielsen, 1993; Nielsen, 2000; Kaasgaard, 2000; Nielsen & Loranger, 1993) e da acessibilidade (W3C, 2012) na conceção e no desenho de aplicações de e-participação. Os autores apresentam o projeto VoicE, que promove o diálogo entre os cidadãos de duas cidades europeias

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(Baden Wurttemberg, na Alemanha e Valência, na Espanha) e os decisores políticos do Parlamento Europeu. Os autores argumentam que, na conceção e implementação de qualquer projeto de e-participação, o desenho deve ser contínuo e iterativo, e que a participação dos utilizadores é essencial em todas as fases do ciclo de vida do projeto. Além destas preocupações, considera-se nesta tese que os criadores de aplicações de e- participação devem também ter em conta os princípios oriundos dos campos da experiência de utilização38 (Unger & Chandler, 2012; Allen & Chudley, 2012), da escalabilidade (Schlossnagle, 2006; Abbott & Fishe, 2009; Loudon, 2010; Abbott & Fishe, 2011) e da engenharia de software (Pressman, 2005).

Hohberg Lubcke e Luhrs descrevem três iniciativas realizadas em Hamburgo, Berlim e Munique para criar, através da Internet, um diálogo com os cidadãos sobre como deveria ser a vida familiar em cada uma dessas cidades (Hohberg et al., 2009). Os autores referem que o sucesso de cada iniciativa ilustra que, por um lado, os políticos podem utilizar a tecnologia para aproveitar o conhecimento especializado local, que de outra forma permaneceria escondido, e que, por outro lado, as mulheres, apesar de serem conhecidas por tradicionalmente não utilizarem as ferramentas de e-participação, podem ser fortemente motivadas a envolver-se em número ainda maior do que os homens.

Cervelló descreve como o governo suíço financiou, no ano de 2000, em três cantões, iniciativas para testar a eficácia da e-participação nos processos consultivos realizados periodicamente em todo o país (Cervelló, 2009). Especificamente, foi testada, nas eleições, a utilização do voto eletrónico (e-voting) juridicamente vinculativo. O estudo testou as funcionalidades técnicas das ferramentas tecnológicas e analisou o impacto da sua utilização sobre o número de eleitores votantes. Os resultados demonstraram que é possível conceber e utilizar sistemas altamente robustos, seguros e simples de usar. O autor argumenta ainda que, à luz do seu estudo, é claro que, com os processos cuidadosamente projetados e apresentados, a Internet pode contribuir tanto para aumentar como para estabilizar a participação dos cidadãos ao longo do tempo.

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Por outro lado, Tomkova avaliou o modo como as consultas eletrónicas foram utilizadas em instituições políticas (Tomkova, 2009). A autora refere que os resultados são um pouco nebulosos e que, embora os cidadãos tivessem sido convidados para a mesa da decisão política, o impacto real da sua participação sobre a implementação das políticas foi relativamente baixo, e muitas vezes não foi sequer reconhecido pelos políticos ou governantes. Tomkova questiona ainda se as consultas eletrónicas marcam um novo começo na participação pública ou se, pelo contrário, servem apenas como uma fachada para a correção política.

Para terminar, faz-se uma breve alusão ao projeto “Iniciativa de Cidadania Europeia”39, onde é possível apresentar uma iniciativa de cidadania em qualquer domínio em que a Comissão tenha competência para apresentar uma proposta legislativa, como por exemplo, ambiente, agricultura, transportes, saúde pública, etc. Uma iniciativa de cidadania deve ter o apoio de, pelo menos, um milhão de cidadãos da União Europeia (EU) provenientes, no mínimo, de 7 dos 27 Estados-Membros, e obter em cada um desses 7 Estados-Membros um número mínimo de apoiantes, definido em http://ec.europa.eu/citizens-initiative/public/signatories.

Para apresentar uma iniciativa de cidadania, os cidadãos têm de constituir um “comité de cidadãos” composto, no mínimo, por 7 cidadãos (com a idade mínima necessária para exercer o direito de voto) da UE residentes em, pelo menos, 7 Estados-Membros diferentes. O “comité de cidadãos” deverá proceder ao registo da iniciativa no sítio Internet “Iniciativa de Cidadania Europeia”, antes de iniciar a recolha de declarações de apoio dos cidadãos. Uma vez confirmado o registo, os organizadores dispõem do prazo de um ano para recolher as assinaturas necessárias. As iniciativas de cidadania não podem ser apresentadas por organizações. No entanto, qualquer organização pode promover ou apoiar iniciativas, desde que o faça de forma totalmente transparente.

De acordo com a lista de Perguntas Mais Frequentes (FAQ) da Iniciativa, o direito de apresentar uma petição ao Parlamento Europeu, já previsto nos anteriores Tratados, difere substancialmente do novo direito de apresentar uma iniciativa de cidadania europeia, conferido pelo Tratado de Lisboa, essencialmente nos seguintes aspetos:

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 As petições podem ser apresentadas por cidadãos da UE ou por qualquer pessoa singular ou coletiva que resida ou tenha a sede social num Estado-Membro, individualmente ou em associação com outros cidadãos ou pessoas;

 As petições devem referir-se a assuntos que se inserem nos domínios de intervenção da UE e que afetam diretamente os requerentes (por exemplo, uma queixa);

 As petições são dirigidas ao Parlamento Europeu enquanto representante direto dos cidadãos a nível da EU;

 No caso das petições, não existem requisitos formais em termos de número mínimo de subscritores repartidos por vários países da EU;

 A iniciativa de cidadania oferece, porém, aos cidadãos a possibilidade de solicitarem diretamente à Comissão que apresente novas iniciativas políticas, desde que recolham apoios suficientes em toda a UE.