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CAPÍTULO II – PARTICIPAÇÃO ELETRÓNICA

2.4 Caracterização do campo da e-participação

2.4.8 Modelos de avaliação de iniciativas de e-participação

Tambouris, Liotas e Tarabanis apresentam um instrumento para avaliar projetos e ferramentas de participação tradicional (isto é, sem recurso às Tecnologias de Informação e Comunicação) e de participação eletrónica. Sucintamente, a avaliação começa ao nível do projeto e investiga essencialmente as áreas de participação suportadas, os métodos de participação utilizados, e as categorias de ferramentas e, caso aplicável, de tecnologias usadas (Tambouris, Liotas & Tarabanis, 2007).

Os autores consideram que existem três domínios principais que interessa analisar em projetos e ferramentas de e-participação, designadamente as áreas de participação, as ferramentas e as tecnologias. As áreas de participação definem o contexto do processo de participação e são apoiadas por ferramentas tecnológicas que permitem alguma forma de automação dos processos relevantes (ver Figura 12).

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Figura 12 – Três níveis de análise de projetos e ferramentas de e-participação, segundo o instrumento de avaliação proposto em (Tambouris, Liotas & Tarabanis, 2007).

Concretamente, em relação à avaliação de projetos de e-participação, analisam-se as áreas de participação abrangidas, os métodos de participação empregues, as áreas tecnológicas incluídas, as ferramentas utilizadas, os custos e os resultados obtidos. As áreas de participação que foram incluídas no instrumento de avaliação baseiam-se principalmente na proposta de (DEMO-net Consortium, 2006b), e já foram apresentadas e descritas na secção 2.4.3 deste capítulo.

Os métodos de participação considerados para a avaliação de um projeto são divididos em três categorias: os métodos tradicionais (isto é, sem qualquer uso das tecnologias), os métodos que recorrem às Tecnologias de Informação e Comunicação, e os métodos mistos, em que se utilizam conjuntamente métodos tradicionais e métodos tecnológicos. Note-se, no entanto, que Tambouris, Liotas e Tarabanis alegam que é importante compreender como os métodos tradicionais se podem adaptar à introdução das Tecnologias de Informação e Comunicação, bem como relacionar as áreas de participação com os métodos de participação.

O instrumento de avaliação baseia-se nos métodos tradicionais de participação propostos em (IAP2, 2004) e no Citizens-Handbook elaborado pela Comunidade em Rede de Vancouver (http://www.citizenshandbook.org/), dos quais se destacam:

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charrettes, júris e assembleias populares, referendos, painéis de cidadãos, grupos de discussão, conferências (que visam a obtenção de consenso), consultas públicas, comités consultivos públicos, votações deliberativas, petições, entre outros. Para analisar as ferramentas de participação eletrónicas, o instrumento de avaliação baseia-se em (DEMO-net Consortium, 2006b; IBM, 2006). Assim, sucintamente, considera: blogues, Newsletters, fóruns de discussão eletrónicos, petições eletrónicas, plataformas de consultas eletrónicas, entre outros.

As áreas tecnológicas consideradas pelo instrumento de avaliação são as seguintes: media social, gestão do conhecimento, gestão do relacionamento com o cidadão (CRM – Customer Relationship Management / CZRM – Citizen Relationship Management), sistemas de informação geográfica (GIS – Geographic Information Systems), sistemas de visualização, sistemas de argumentação, Web semântica e ontologias.

Em relação à avaliação de ferramentas de e-participação, analisa-se a categoria, o nível de participação abordado, as fases do ciclo de vida político a que a ferramenta está associada, as categorias tecnológicas incluídas, os atores, os termos de utilização, a taxa de adoção da ferramenta, preocupações especiais e características-chave.

As categorias de ferramentas consideradas pelo instrumento de avaliação são as seguintes: blogues, portais Web, motores de pesquisa, Webcasts/Podcasts, mailing lists, grupos de discussão, chats, wikis, inquéritos on-line, sistemas de análise de conteúdos, sistemas de gestão de conteúdos (CMS – Content Management Systems), ambientes colaborativos, sistemas de trabalho em colaboração (CSCW – Computer Suported Cooperative Work), interfaces para linguagem natural, sistemas de argumentação, entre outras.

Para avaliar os níveis de participação, o instrumento adapta os cinco níveis propostos pela Associação Internacional para a Participação Pública (IAP2), designadamente e- informing; e-consulting; e-involving; e-collaborating; e e-empowerment, já discutidos.

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A avaliação das fases do ciclo de vida político a que a ferramenta está associada envolve, conforme ilustrado na Figura 13, a definição da agenda, análise, formulação, implementação, acompanhamento e monitorização da política.

Figura 13 – Fases do processo político. Fonte: (Macintosh, Coleman & Lalljee, 2005)

Assim, a primeira fase, a definição da agenda, envolve o estabelecimento das necessidades de uma política ou de mudança de uma já existente. Está também relacionada com a definição do problema que a política visa solucionar. A segunda etapa, a análise, inclui a recolha de evidências e de conhecimento, bem como a compreensão do contexto em que a política será aplicada. A terceira fase corresponde à criação da política. A quarta etapa envolve a implementação da política e a fase final refere-se ao acompanhamento e à monitorização da política.

Em relação à dimensão dos atores que interagem com as ferramentas de e-participação, o instrumento analisa os atores que beneficiam da ferramenta e os atores que fazem a moderação e a administração. As diferentes categorias de atores já foram objeto de discussão.

Em relação aos termos de utilização, o instrumento analisa se existe informação apresentada de forma clara, e facilmente acessível, sobre as regras de utilização da ferramenta. A taxa de adoção da ferramenta permite avaliar se existe informação sobre o número de utilizadores da ferramenta. O item “preocupações especiais” permite analisar, entre outras coisas, se é garantida a privacidade dos dados pessoais dos utilizadores. Finalmente, o item “características-chave” permite avaliar as principais

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características da ferramenta. Por exemplo, os requisitos tecnológicos necessários para poder utilizar a ferramenta.

Macintosh e Whyte propõem uma framework para a avaliação de projetos de participação eletrónica que, conforme ilustrado na Figura 14, integra critérios sociotécnicos, de avaliação de projetos, bem como da área da democracia. A framework inclui, além dos critérios de avaliação, uma vasta gama de métodos e de intervenientes para avaliar os projetos (Macintosh & Whyte, 2008).

Figura 14 – Critérios de avaliação de projetos de participação eletrónica. Fonte: (Macintosh & Whyte, 2008)

Sucintamente, os critérios da dimensão “democracia” abordam tópicos como representatividade, envolvimento, transparência, técnicas de negociação e de mediação de conflitos, construção de consenso, inclusão, entre outros. Os autores referem que um dos aspetos mais difíceis de analisar nesta dimensão é entender em que medida a e- participação afeta o processo democrático. Os critérios da dimensão “projeto” examinam em detalhe até que ponto foram atingidos os objetivos específicos da iniciativa de e-participação, de acordo com a definição inicial realizada pelos participantes do projeto. Os critérios da perspetiva sociotécnica analisam em que

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medida, o desenho, a conceção e a utilização das ferramentas tecnológicas afeta diretamente os resultados. Do ponto de vista social, estes critérios abordam questões como confiança, rigor e credibilidade da informação disponibilizada, e privacidade dos dados dos utilizadores. Em relação aos aspetos técnicos, abordam-se tópicos como usabilidade, acessibilidade, clareza dos conteúdos, possibilidade de efetuar correções, aparência, taxa de respostas, entre outros.