• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO III – MEDIAÇÃO DIGITAL E CAMPANHAS ELEITORAIS

5.3 Modelo funcional

Da investigação-ação resultou o desenvolvimento de uma plataforma digital, designada iLeger, que permite a criação e gestão de múltiplos eventos de participação pública direta em períodos eleitorais. Nesta secção, apresenta-se a arquitetura e os principais requisitos funcionais do iLeger.

A plataforma iLeger foi projetada e desenvolvida de raiz, tendo por base o modelo proposto, para atender às necessidades e aos objetivos dos principais intervenientes de uma campanha eleitoral. Com o diagrama de classes da UML (Unified Modeling Language) apresentado na Figura 37 pretende-se essencialmente ilustrar os vários atores, os seus papéis, e os diferentes tipos de eventos de participação que podem ser levados a cabo na plataforma iLeger.

Figura 37 – Diagrama de classes UML simplificado da plataforma iLeger

Sucintamente, os cidadãos, os candidatos e os seus representantes, os partidos políticos, as associações e os movimentos sociais e políticos participam em eventos criados, geridos e moderados pelo editor (curador) da plataforma. Os eventos de participação podem ser de cinco tipos distintos, nomeadamente: perguntas da comunidade e

147

respetivas respostas dos candidatos, sugestões e ideias da comunidade, inquéritos à comunidade, análise, comparação, discussão e avaliação dos programas eleitorais dos candidatos e, finalmente, debates em direto.

A seguir, na Figura 38, apresenta-se a arquitetura funcional do iLeger. A aplicação está estruturada em seis grandes áreas, uma para a área pessoal dos utilizadores e uma para cada tipo de evento de participação pública. A gestão da plataforma é feita numa área dedicada, o backoffice.

Figura 38 - Arquitetura funcional do iLeger

A plataforma iLeger permite criar e gerir vários eventos de participação pública direta em linha durante o período eleitoral. É uma ferramenta que junta, num único espaço regulado, os principais intervenientes numa eleição, permitindo uma comunicação estruturada e multidirecional entre eles. Com o propósito de fomentar a comunicação, a deliberação e a partilha de conhecimento e de ideias, a plataforma iLeger suporta

148

interações de colaboração através de perguntas, respostas, sugestões, votações, comentários, inquéritos e debates em direto.

Resumidamente, a plataforma iLeger disponibiliza à comunidade a possibilidade de colocar perguntas direta e simultaneamente a todos os candidatos numa eleição. Na perspetiva dos candidatos, oferece-se o acesso direto às questões que a comunidade considera mais importantes e uma ferramenta para responder a essas perguntas. Isto é, os candidatos dispõem, deste modo, de um meio para expor as suas propostas para lidar com os principais problemas e preocupações da comunidade. É ainda possível aos candidatos apresentar os seus programas eleitorais, de modo a que a comunidade os possa, de forma simples, rápida e organizada, comentar, comparar e classificar, através de votação.

Ademais, a plataforma permite à comunidade apresentar as suas sugestões e ideias para os problemas de cada área da governação (educação, saúde, economia, justiça, finanças, entre outras). Os candidatos têm aqui também uma fonte de inspiração e de ideias para incorporar nos seus programas eleitorais e de governo.

A plataforma pode ainda ser usada para criar inquéritos com o intuito de dar a conhecer a opinião da comunidade acerca de temas-chave da campanha eleitoral. Tendo em vista a aproximação dos vários intervenientes em campanhas eleitorais e a melhoria da comunicação entre eles, podem ser realizados debates em direto no iLeger.

Todos os utilizadores registados possuem uma área de perfil, onde podem colocar informação pessoal, nomeadamente dados de contacto, links para as suas páginas nas redes sociais e de blogues e para os seus sítios Web. Na área de perfil público de cada utilizador, é também apresentada a sua atividade (as suas perguntas, sugestões e comentários) recente no iLeger, bem como a sua rede social (seguidores e utilizadores seguidos no iLeger). O editor (curador) da plataforma é responsável pela gestão dos conteúdos editoriais, dos utilizadores e dos eventos de participação, incluindo a sua moderação.

149

No que concerne ao registo e à participação dos utilizadores, convém referir que é possível configurar o iLeger para diferentes definições de interação dos utilizadores cidadãos. Numa das configurações, para poder usufruir das principais funcionalidades, tais como submeter perguntas, sugestões, comentários e votar, cada cidadão tem de estar previamente registado na plataforma e tem de efetuar o login. Nesse cenário, caso não efetue o login, o cidadão apenas pode consultar os conteúdos da aplicação.

De modo a permitir a participação de cidadãos não registados, há um cenário em que os utilizadores não registados podem votar, mas não podem introduzir conteúdos, e outro em que é permitida a votação e a introdução de conteúdos. Na última configuração, a única limitação para os utilizadores não registados é a falta de notificações por e-mail e dos recursos adicionais característicos das redes sociais, tais como seguir utilizador e acesso ao seu perfil público.

O iLeger pode também ser configurado em relação ao tipo de participação dos candidatos. Estão previstos dois cenários: com ou sem interação por parte dos candidatos. Com interação, os candidatos têm uma conta de acesso e são responsáveis pela introdução de conteúdos, permitindo a comunicação direta com os outros utilizadores. Neste cenário, é necessária a identificação prévia da pessoa ou pessoas responsáveis pelas contribuições da candidatura no iLeger.

Na ausência de interação do candidato, o iLeger pode ser usado pelo editor para identificar as principais questões e sugestões da comunidade, bem como as suas opiniões sobre as questões-chave da campanha eleitoral. Depois, caso tenha acordado com as candidaturas, pode enviar (por exemplo, por carta ou por e-mail) um TOP com as melhores questões e sugestões para que os candidatos respondam e comentem até um prazo previamente estipulado. Finalmente, o editor pode colocar no iLeger as respostas às questões e os comentários às sugestões, para posterior análise e comparação da comunidade. Neste cenário, o editor pode também colocar conteúdos (nomeadamente, os programas eleitorais, informação de campanha e ligações para o Sítio Web e redes sociais da candidatura) sobre as candidaturas, para que os cidadãos possam analisar, comparar e comentar.

150

Por outro lado, as associações, os movimentos sociais e políticos e os partidos políticos, para poderem participar ativamente (colocar conteúdos e votar) no iLeger, têm de se registar obrigatoriamente. Note-se que este processo de registo é extremamente importante e rigoroso, pois existe a necessidade de identificar a pessoa ou pessoas que vão representar esses atores no iLeger. Os editores da plataforma têm, neste aspeto, a tarefa de estabelecer contatos com esses atores, de modo a garantir a veracidade da sua identificação. Para o efeito, podem recorrer a reuniões face a face, telefonemas, videoconferências, e-mails, e a tradicional correspondência postal.

Para participar nos debates em direto, com a exceção dos candidatos, não é necessário o registo prévio dos utilizadores. Com esta opção, pretende-se fomentar a participação dos cidadãos. Como se trata de eventos em direto e previamente divulgados, é provável que acedam ao iLeger muitos utilizadores durante o debate. Dado que um debate em direto representa um evento de curta duração, a obrigatoriedade de efetuar o registo poderia afastar muitos utilizadores de participar. Por outro lado, este cenário também é interessante para os candidatos, pois reduz imenso as suas responsabilidades e esforços de participação na plataforma e, consequentemente, os recursos despendidos. Deste modo, os candidatos podem interagir com a comunidade em eventos breves e esporádicos.

No que concerne à moderação dos contributos escritos dos cidadãos (Wright, 2006; Salmon, 2004; Roeder, 2007), a plataforma iLeger está também desenhada para suportar diferentes configurações. Por exemplo, num cenário, todas as intervenções dos cidadãos são alvo de moderação, de acordo com as regras de utilização da plataforma. Note-se que, quando se registam na plataforma, os utilizadores têm de aceitar os termos de utilização. Existem ainda mais dois cenários de configuração da moderação: num, é permitido publicar diretamente no iLeger todos os conteúdos submetidos pelos cidadãos, isto é, a moderação está desabilitada; noutro, apenas são moderadas as entradas denunciadas pelos utilizadores da plataforma.

De modo a incentivar a participação, é permitido aos cidadãos, em todos os cenários de configuração da moderação, requerer o anonimato em todas as intervenções escritas submetidas na plataforma.

151

As contribuições das candidaturas (candidatos e representantes – staff), associações, movimentos sociais e políticos e dos partidos políticos não são moderadas, pois estes atores são alvo de um processo de identificação rigoroso, no momento do seu registo na plataforma.

Acredita-se que as redes sociais em linha serão cada vez mais importantes para as comunidades. Assim, considera-se muito importante munir a plataforma iLeger com recursos característicos das redes sociais. Por exemplo, um utilizador registado pode seguir outros utilizadores registados na plataforma. Todos os utilizadores registados possuem uma área de perfil público que pode ser consultada pelos outros utilizadores do iLeger.

A integração da plataforma com as redes sociais também é de suma importância (Taylor-Smith and Lindner, 2009). Por esse motivo, e como um passo inicial nessa direção, os utilizadores podem partilhar no Facebook42 e publicar diretamente no Twitter as perguntas e sugestões submetidas no iLeger. Deste modo, providencia-se uma interface mais aberta para promover a participação e reforça-se a voz do cidadão, uma vez que se aumenta o alcance e o potencial impacto de participação de cada indivíduo. Note-se que a publicação nas redes sociais não depende da aprovação do moderador.

A seguir, apresentam-se as principais funcionalidades da aplicação, organizadas por ator. Para o efeito, recorre-se aos diagramas de casos de uso da UML (Cockburn, 2001; Ambler, 2004). Os casos de uso são funcionalidades ou serviços do sistema vistos pelos utilizadores.

Estes diagramas constituem a técnica UML atualmente considerada como uma abordagem adequada para representar os requisitos funcionais de um sistema e, principalmente, conduzir todo o processo de desenvolvimento de software (Pressman,

42 Note-se que de acordo com (Socialbakers, 2012), em Novembro de 2012, Portugal ocupa a posição 39

na lista de países dos utilizadores do Facebook, contando com 4619260 utilizadores registados, o que representa 43,03% da sua população e 89,37% dos seus utilizadores de Internet. Entre os utilizadores do

Facebook em Portugal, 51% são do género masculino e 26% pertencem à faixa etária entre os 25 e os 34

152

2005). Por exemplo, o modelo do comportamento ou da dinâmica de um sistema começa com a análise de casos de uso.

Portanto, estes diagramas permitem descrever o comportamento de um sistema na perspetiva do utilizador, empregando ações e reações. Mostram para que serve o sistema (a utilidade do sistema), ignorando a forma como está organizado internamente, e permitem modelar o contexto do sistema – identificar a fronteira do sistema, com quem interage (atores) e o significado das suas funções (casos de uso). Focam primordialmente a utilização do sistema ou a sua visão externa, e não como os objetivos são alcançados. Isto é, refletem as “coisas” que o utilizador faz com o sistema e não a finalidade real que o utilizador tenta atingir.

A seguir, usam-se estes diagramas para ilustrar as principais interações que cada ator pode executar na plataforma iLeger.

5.3.1 Casos de uso do ator cidadão

A Figura 39 ilustra as interações dos cidadãos no iLeger. Assim, os cidadãos podem submeter perguntas, sugestões e comentários, votar, participar em debates em direto, definir critérios para receber notificações (por exemplo: quando um candidato responde a uma pergunta ou comenta uma sugestão do utilizador, quando outro utilizador responde a um comentário do utilizador, entre outros), seguir ou deixar de seguir outros utilizadores e candidatos, editar o seu perfil público, propor sugestões para melhoria do iLeger.

153

Figura 39 - Diagrama de casos de uso do ator cidadão

Os cidadãos podem ainda visualizar um vasto conjunto de informação. Por exemplo, podem consultar e comparar as respostas dos candidatos; consultar os comentários dos candidatos a sugestões propostas pelos cidadãos; consultar, avaliar e comentar os programas eleitorais propostos por cada candidatura; consultar o perfil público dos outros utilizadores e dos candidatos, bem como a rede (seguidores) e a atividade do candidato na plataforma; consultar o arquivo; consultar resultados estatísticos; visualizar os TOPs das perguntas e das sugestões mais populares, etc.

5.3.2 Casos de uso do ator candidato e representante

No caso de o iLeger estar configurado para haver interação direta dos candidatos, como se pode observar na Figura 40, os candidatos e os seus representantes podem editar o seu perfil, responder a perguntas e comentar sugestões colocadas pelos outros utilizadores do iLeger, marcar perguntas e sugestões para responder e comentar mais tarde, comentar respostas e comentários a sugestões de outros candidatos, participar em debates em direto, consultar dados estatísticos dos inquéritos feitos à comunidade, definir critérios para receber notificações (por exemplo: quando outro candidato comenta uma resposta ou um comentário seu, quando outro candidato comenta uma

154

proposta eleitoral sua, entre outros), apresentar o seu programa eleitoral (PE), incorporar sugestões dos cidadãos no PE, comentar os PE dos outros candidatos.

Figura 40 - Diagrama de casos de uso do ator candidato

O vasto conjunto de informação anteriormente referido para os cidadãos poderem visualizar está também, naturalmente, disponível para os candidatos. Destaca-se ainda a possibilidade de um candidato poder visualizar estatísticas sobre o seu desempenho, nomeadamente as votações às suas respostas e propostas eleitorais, o número de visualizações das suas entradas, a sua posição no ranking das melhores respostas, o seu nível de atividade, entre outras.

5.3.3 Casos de uso dos atores Movimentos sociais e políticos, associações e partidos políticos

A Figura 41 ilustra as principais interações dos atores movimentos sociais e políticos, associações e partidos políticos no iLeger.

155

Figura 41 - Diagrama de casos de uso dos atores Movimentos Sociais e Políticos, Associações e Partidos Políticos

Como se pode observar, estes atores interagem de forma semelhante aos cidadãos. A única diferença reside no processo de registo, pois é necessário validar a identificação destes atores, e na moderação, uma vez que as entradas destes intervenientes não são alvo de moderação.

5.3.4 Casos de uso do ator editor da plataforma

A administração de utilizadores, a configuração da plataforma e a gestão dos eventos de participação e dos conteúdos editoriais é efetuada a partir de uma secção dedicada, o backoffice. Como pode observar na Figura 42, o editor da plataforma pode criar eventos de participação para angariação de perguntas e de sugestões, para auscultação da opinião dos cidadãos (inquéritos) e debates em direto. O editor pode selecionar as iniciativas de participação que quer destacar na respetiva secção (perguntas, sugestões, inquéritos e debates em direto), até um máximo de quatro em simultâneo. O editor pode ainda definir o modo de moderação de cada evento de participação. Caso defina que o evento é moderado, todos os conteúdos escritos submetidos pelos cidadãos são alvo de

156

moderação. O editor, no papel de moderador, deve fazer a moderação à luz dos termos de utilização do iLeger. O editor pode marcar/selecionar perguntas e sugestões colocadas pela comunidade, que considere pertinentes para incluir em TOPs editoriais.

Figura 42 - Diagrama de casos de uso do ator editor

No caso de o iLeger estar configurado para não haver interação direta dos candidatos, o editor pode colocar informação sobre cada candidato: slogan de campanha, biografia, agenda de campanha, mensagem do candidato, notícias (texto ou através de um feed RSS), imagens e vídeos de campanha, links para o sítio Web e para as redes sociais da candidatura e o programa eleitoral. Neste cenário, o editor pode ainda usar o iLeger para identificar as melhores questões e sugestões da comunidade. Depois, pode remetê-las a todos os candidatos, para que possam responder e comentar. Finalmente, o editor publica no iLeger as respostas e os comentários dos candidatos, para que os cidadãos as possam comparar.

5.4 Resumo do capítulo

A atual conjuntura económica e social apela à intervenção cívica. Por outro lado, o acesso à Internet, quer a nível nacional, quer a nível Internacional, está a ser massificado. Perante estes fatores, acredita-se que pode ser útil e conveniente agregar