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4. A Agricultura Urbana na cidade de Lisboa

4.2. Enquadramento da agricultura urbana na cidade de Lisboa

4.2.2. Iniciativas municipais: Parques Hortícolas Municipais

Se considerar-se a área das hortas no ano de 2008, fixada em 72,2 ha, verifica-se que a área das hortas cresceu perto do dobro (97,1%). Fruto desta evolução, importa destacar a relevância do Projeto dos Parques Hortícolas – alvo de análise no capítulo seguinte - para o crescimento da área ocupada pelas hortas urbanas na cidade.

cultural dos sistemas de produção artesanais, assim como sensibilizar de todas as populações de diferentes estratos sobre a relevância dos alimentos frescos e da vantagem nutricional e económica da agricultura biológica (Artº. 2 do Regulamento).

Conforme os benefícios que se espera ser alcançados através das hortas urbanas, o Regulamente define quatro tipologias de hortas urbanas - hortas sociais e comunitárias, hortas de recreio e hortas pedagógicas. Para cada tipo de hortas, o documento também define as áreas de implementação, como deve ser feita a utilização, a população alvo, destino dos produtos cultivados, assim como as suas dimensões máximas (Tabela 4). Apesar da amplitude da estratégia para a agricultura urbana em Lisboa, importa ao presente estudo aprofundar as tipologias “hortas sociais e comunitárias” e “hortas dispersas” pelo seu forte caráter social, tendo como públicos-alvo populações desfavorecidas. Assim, considera-se estas duas tipologias como as mais relevantes para o estudo, uma vez que vão ao encontro dos objetivos deste, dado à sua relação clarividente com populações vulneráveis, comparativamente às outras tipologias identificadas pela CML.

As “hortas sociais e comunitárias” focam especialmente a produção de alimentos para o consumo próprio, para atender às necessidades alimentares das famílias, ou até eventuais ganhos económicos com excedentes, assim como pelo potencial de inclusão social ou o desenvolvimento comunitário associado à prática agrícola em contexto urbano (Sousa & Madureira, 2017).

Ao encontro das “hortas sociais e comunitárias”, as “hortas dispersas” também estabelecem uma relação direta com populações desfavorecidas, sendo uma das suas finalidades contribuir para o acréscimo do rendimento familiar destas mesmas populações, seja pela possibilidade de consumir produtos frescos, como pela sua possível comercialização. Contrariamente às “hortas sociais e comunitárias”, a sua ocupação é espontânea, sendo que a intervenção da CML apenas ocorre ao nível da legitimação, enquanto ocupação temporária, e como tal não são regulamentadas, nem se inserem no domínio do Projeto dos Parques Hortícolas Municipais.

Tabela 4. Tipologias de hortas urbanas, segundo o Regulamento para a Instalação e Funcionamento de Áreas de Agricultura Urbana

Hortas Finalidade População alvo Área de implementação Destino dos produtos

cultivados Dimensão

Hortas sociais e comunitárias

• Terapia ocupacional

• Bem-estar físico / económico / social

• Educação ambiental

• População desfavorecida

• Faixas etárias inativas

• Espaços verdes e parques urbanos (PDM – áreas de hortas)

• Terrenos municipais com aptidão agrícola

• Consumo próprio

• Comercialização • Máximas de 150m2

Hortas de recreio

• Bem-estar físico / psicológico pelo contacto com práticas agrícolas

• Estabelecimento de relações entre diferentes comunidades

• População inativa (faixa etária ou incapacidades físicas / mentais)

• Consumo próprio

• Máximas de 100m2

Hortas pedagógicas

• Educação ambiental

• Articulação com as populações e várias entidades / instituições

• População e entidades com interesse na ligação homem - terra

Hortas dispersas

• Legitimar a ocupação até a intervenção prevista para o espaço ser efetuada, mediante acordos de ocupação temporária

• Valorização ambiental, ecológica e paisagística

• Rendimento familiar

• População desfavorecida

• Terrenos expectantes públicos, tendo de ser estabelecido com o município um acordo para sua legitimação

• Consumo próprio

• Comercialização

• Sem dimensão definida

Fonte: Adaptado de Silva & Monte (2014)

Segundo os dados mais recentes disponibilizados pelo site do município, atualmente, Lisboa dispõe de 21 parques hortícolas de gestão municipal, que se consubstanciam em 850 talhões, num total de 9,5 ha, variando as suas entre hortas sociais ou recreativas. Desde o primeiro parque hortícola, Quinta da Granja, inaugurado em 2011, até ao último, Horta Nova, em 2020, ambos constituídos por hortas sociais, muitos outros parques foram abertos na cidade, contudo não foram atingidas as metas estabelecidas pelo Município, que apontavam que em 2021 existissem em Lisboa 1.000 talhões (CML, 2020). Relativamente à produção, estimativas da CML apontam para uma produção de alimentos nos lotes dos parques hortícolas de cerca de 260 toneladas anuais (CML, 2020).

Figura 17. Parques Hortícolas Municipais Fonte: CML, 2022 Segundo as Normas de Acesso e Utilização das Hortas Urbanas dos Parques Hortícolas Municipais (Anexo IV), o processo de atribuição, direitos e deveres são comuns entre os Parques Hortícolas de cariz social ou recreativo. A atribuição e ordenação dos candidatos atende a um critério principal, a proximidade da área de residência relativamente ao Parque Hortícola, sendo limitada a um agregado familiar (residência comum).

Em caso de empate e de candidaturas em número superior ao de hortas disponíveis, a seleção será feita por ordem cronológica de chegada das candidaturas. Curiosamente, o Regulamento para a Instalação e Funcionamento de Áreas de Agricultura Urbana, criado no início do Projeto dos Parques Hortícolas, refere no número 4 do art.4º (Anexo II) que se cumpre sempre a ordem cronológica enquanto critério se não existirem

“condições especiais que se provem ser fundamentais para a sobrevivência de agregados familiares no caso

das Hortas Sociais”, algo que não está estipulado nas Normas de Acesso e Utilização das Hortas Urbanas dos Parques Hortícolas Municipais, pelo que fica evidente alguma confusão relativamente à aplicação das normas de acesso.

Os Parques Hortícolas foram projetados, entre outros objetivos, para a promoção de alimentos saudáveis e seguros, sendo garantida a qualidade dos solos e disponibilizada água da rede pública (CML, 2020), assim como outro tipo de infraestrutura de apoio (como abrigo ou compositores). Estes Parques seguem uma lógica de sustentabilidade, pelo que os utilizadores das hortas urbanas estão obrigados à prática da agricultura biológica, recorrendo-se a técnicas de compostagem de resíduos orgânicos (CML, 2020). Para assegurar o cumprimento das normas estabelecidas para utilização das hortas urbanas, a CML faz visitas de fiscalização periódicas.

Contrariamente, nas hortas urbanas informais (identificadas pela CML como “hortas dispersas”), sejam elas implementadas ou em terrenos públicos em terrenos privados, os utilizadores são os responsáveis pela gestão e manutenção dos espaços, não sendo garantida a qualidade do solo e a água para rega não é assegurada. Nestes espaços, não existe qualquer obrigatoriedade quanto à prática, nem entraves quanto aos produtos cultivados nas parcelas das hortas.

Importa ainda destacar que as hortas dos Parques Hortícolas estão sujeitas a um pagamento anual, que se fixa em 1,60 €/m2, sobre o qual recai um desconto de 80% nas hortas socais e 20% nas hortas recreativas. Tendo em consideração as dimensões mínimas das parcelas (80 m2 para hortas sociais e 50 m2 para hortas recreativas), definidas nas Normas de Acesso e Utilização das Hortas Urbanas dos Parques Hortícolas Municipais, o preço anual para usufruto da horta num Parque Hortícola nunca é inferior a 58,60 € nas hortas sociais e 58,60 € nas hortas recreativas.

4.3. Seleção dos casos de estudo através de análise estatística multivariada