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A inovação do Ensino Médio no Distrito Federal: as experiências vivenciadas pelos gestores, professores, coordenadores e estudantes de duas escolas

SECRETARIA DE ESTADO DE EDUCAÇÃO, ESPORTE E LAZER (SEELDF)

5.6 A inovação do Ensino Médio no Distrito Federal: as experiências vivenciadas pelos gestores, professores, coordenadores e estudantes de duas escolas

Antes de apresentar as análises sobre a opinião dos diferentes atores sociais sobre a Proposta de Experiência Curricular Inovadora do Ensino Médio, é preciso explicitar a concepção das orientações norteadoras Programa e como se desenvolve a reestruturação curricular, de acordo essa proposta. O Documento Base (Brasil, 2009) defende que a proposta desse ensino tem uma identidade própria e visa suplantar de vez a dicotomia entre educação geral e ensino profissional, passando a assumir uma identidade unitária, organicamente articulada ao trabalho, à ciência, à tecnologia e à cultura. Nesse sentido, Pistrak (1981) considera o trabalho como elemento central dos processos de ensino. E, segundo esse autor, o trabalho agrega e imprime unidade aos processos de educação e formação do indivíduo.

Essa é a ideia central da proposta pedagógica do ProEMI: incrementar o Ensino Médio incentivando a reorganização curricular sob os princípios da integração educacional. Nesse âmbito, encontram-se proposições pedagógicas germinadas e reconhecidas nas próprias comunidades escolar e extraescolar, referendadas e subvencionadas pelo apoio técnico e financeiro da União.

Concebida dessa maneira, a Proposta de Redesenho Curricular Inovadora

[...] pressupõe uma perspectiva de articulação interdisciplinar, voltada para o desenvolvimento de conhecimentos – saberes, competências, valores e práticas. Considera ainda que o avanço da qualidade na educação brasileira depende fundamentalmente do compromisso político e da competência técnica dos professores, do respeito às diversidades dos estudantes jovens e da garantia da autonomia responsável das instituições escolares na formulação de seu projeto político pedagógico, e de uma proposta consistente de organização curricular (BRASIL, 2009, p. 16).

Para isso, o ProEMI estabeleceu, em seu Documento Base nº 1, o referencial que contém as orientações para o Projeto de Redesenho Curricular (RC) especificado a seguir:

a) Carga horária mínima de 3.000 (três mil horas), entendendo-se 2.400 horas obrigatórias, acrescidas de 600 horas a serem implantadas de forma gradativa; b) Foco em ações elaboradas a partir das áreas de conhecimento, conforme

proposto nas Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio e que são orientadoras das avaliações do ENEM;

c) Ações que articulem os conhecimentos à vida dos estudantes, seus contextos e realidades, a fim de atender suas necessidades e expectativas, considerando as especificidades daqueles que são trabalhadores, tanto urbanos como do campo, de comunidades quilombolas, indígenas, dentre outras;

d) Foco na leitura e no letramento como elementos de interpretação e de ampliação da visão de mundo, basilar para todas as áreas do conhecimento; e) Atividades teórico-práticas que fundamentem os processos de iniciação

científica e de pesquisa, utilizando laboratórios das ciências da natureza, das ciências humanas, das linguagens, de matemática e outros espaços que potencializem aprendizagens nas diferentes áreas do conhecimento;

f) Atividades em Línguas Estrangeiras/Adicionais, desenvolvidas em ambientes que utilizem recursos e tecnologias que contribuam para a aprendizagem dos estudantes;

g) Fomento às atividades de produção artística que promovam a ampliação do universo cultural dos estudantes;

h) Fomento as atividades esportivas e corporais que promovam o desenvolvimento integral dos estudantes;

i) Fomento às atividades que envolvam comunicação, cultura digital e uso de mídias e tecnologias, em todas as áreas do conhecimento;

j) Oferta de ações que poderão estar estruturadas em práticas pedagógicas multi ou interdisciplinares, articulando conteúdos de diferentes componentes curriculares de uma ou mais áreas do conhecimento;

k) Estímulo à atividade docente em dedicação integral à escola, com tempo efetivo para atividades de planejamento pedagógico, individuais e coletivas; l) Consonância com as ações do Projeto Político-Pedagógico implemendado com

participação efetiva da Comunidade Escolar;

m) Participação dos estudantes no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM); n) Todas as mudanças curriculares deverão atender às normas e aos prazos

definidos pelos Conselhos Estaduais para que as alterações sejam realizadas.

Para verificar e analisar se a concepção de currículo postulada no Documento Orientador do ProEMI retrata o Redesenho Curricular (RC) das escolas A e B, sob a ótica dos atores sociais que desenvolvem esse currículo, buscou-se, primeiramente, identificar os macrocampos. Neste caso, o macrocampo é entendido como um campo de ação pedagógico- curricular no qual se desenvolvem atividades interativas, integradas e integradoras dos conhecimentos e saberes dos tempos, dos espaços e dos sujeitos envolvidos com a ação educacional. Eles se constituem como eixo a partir do qual se possibilita a integração curricular com vistas ao enfrentamento e à superação da fragmentação e da hierarquização dos saberes, o que permite a articulação entre formas disciplinares e não disciplinares de organização do conhecimento (BRASIL, 2009, p.8).

Esses macrocampos são apontados como referência para a reestruturação curricular. Sua escolha deve ser feita de acordo com o interesse de toda a comunidade escolar, mas, principalmente, dos estudantes adolescentes, jovens e adultos dessa etapa da educação básica. Assim, estão identificados os macrocampos:

 Acompanhamento Pedagógico (Linguagens, Matemática, Ciências Humanas e Ciências da Natureza);

 Iniciação Científica e Pesquisa;  Leitura e Letramento;

 Cultura Corporal;

 Produção e Fruição das Artes;

 Comunicação, Cultura Digital e uso de Mídias;  Participação Estudantil.

E necessário mencionar que, para validar a RC, é imprescindível a presença de três macrocampos definidos como obrigatórios: Acompanhamento Pedagógico; Iniciação Científica e Pesquisa; e Leitura e Letramento. E, a partir dessas orientações, é possível analisar as propostas implemendadas pelas escolas, alvo desta pesquisa, quanto aos projetos pedagógicos que dão forma às suas respectivas RC:

a) Redesenho Curricular da Escola A

 Acompanhamento pedagógico em todas as áreas de conhecimento e componentes curriculares;

 Experimentos inovadores nas áreas artísticas científica e tecnológica para o fomento de novos cientistas e pesquisas;

 Revitalização e informatização da sala de leitura envolvendo todos os componentes curriculares;

 Integração das comunidades de estudantes da escola por meio de jogos interclasses;

 Revigoramento dos recursos materiais já existentes na escola e acesso a novas tecnologias de comunicação e informação;

 Aquisição de tecnologias – notebooks;

 Incentivo ao protagonismo juvenil para incremendar o Projeto Político Pedagógico.

b) Redesenho Curricular da Escola B

 Atividades de recuperação processual da aprendizagem;  Feira de ciências;

 Produção textual na área de arte e cultura;  Sarau hispânico;

 Projeto semana de arte (teatro, cultura afro-brasileira, gastronomia, sarau, festival de pipas);

 Projetos culturais diversos (rádio, laboratório de informática, festival de curtas),

 Incentivo à mostra de talentos.

O Redesenho Curricular das escolas analisadas seguem referendados nos macrocampos indicados pelo Documento Orientador do ProEMI. Sobre a forma como os projetos foram pensados, nota-se que as ações desenvolvidas nas escolas demonstram organicidade dentro da perspectiva do programa. Nesse sentido, buscou-se conhecer, nas falas dos sujeitos da pesquisa, a constatação de inovação escolar na experiência vivenciada por esses sujeitos (gestores, professores, coordenadores e estudantes).

Quando indagados sobre a concepção do Redesenho Curricular na escola, constata-se, na fala de alguns interlocutores, que a decisão em torno dessa reestruturação curricular demanda a participação de um coletivo, ou seja, quem decide sobre esse redesenho é a comunidade escolar. Essa constatação fica evidente na fala de um os interlocutores da Escola A:

A escola reuniu primeiro toda equipe de professores, representantes de turmas e Conselho Escolar para decidirem quais projetos seriam beneficiados e quanto se destinaria financeiramente. Todos os professores coordenadores de projetos foram convidados a apresentarem seus projetos e junto aos demais discutirem suas reais necessidades. Após estes direcionamentos, apresentou-se aos pais os projetos que seriam beneficiados. Com toda certeza. Os alunos demonstram mais interesse e aprendizagem real dos conteúdos desenvolvidos. Importante lembrar que durante a aplicação dos projetos, o aluno torna-se protagonista do próprio conhecimento. Ele coloca em prática todo conteúdo desenvolvido em sala de aula. Com o apoio financeiro, os projetos tornaram-se mais atrativos com recursos variados (Gestor da escola A).

Essa opinião também é compartilhada pelo gestor da Escola B, que faz a seguinte afirmação:

Em relação à escola, eu percebo uma mobilização do corpo docente e discente em torno dos projetos, né?! Ou seja, há uma mobilização da Direção da escola, em busca de projetos que sejam inovadores, né?!... do ponto de vista do ensino e aprendizagem... É... Eu percebo isso! E a gente participa. É... A gente tem uma forma de fazer reuniões, né de como é que deve ser a ideia do redesenho curricular. É... A gente faz uma atividade consultiva, tá certo?! Mas, ou seja, a gente trabalha com a perspectiva da liberdade da escola pra que ela proponha né?!... Um redesenho curricular, ou seja, a ideia é que a escola tenha autonomia total no sentido de propor o redesenho curricular e dentro do Programa, né?! Ou seja, com a construção coletiva. Bem! Na verdade, o professor, ele faz uma pesquisa prévia com os alunos do que há de interesse

entre eles pra ser discutido em sala! Claro que a gente precisa fazer isso pra que chame a atenção do aluno! A gente não pode chegar... e impor, assim! O professor, quer dizer, não pode chegar simplesmente com uma ideia só dele! Ele abre uma discussão, pega ideias dos alunos, né?!... Aí o professor vai pra Coordenação com essas ideias. Com essas ideias, a gente vai discutindo e vê o que pode ser aplicado ali como tema pra sala de aula. E com o que nós temos na escola, o que nós podemos captar pra poder utilizar, e daí por diante que a gente vai... é... aplicar em sala, né?!... Vai se usar como temas! (Gestor da Escola B).

No contexto das falas das pessoas participantes da pesquisa, a respeito do RC das escolas, percebe-se um aspecto convergente quanto à confluência do que recomenda o Documento Orientador do ProEMI com a organização das escolas em torno da reconfiguração curricular, no que diz respeito à autonomia escolar para a delimitação dessa reestruturação. Isso demonstra um nível de avanço com relação à promoção de práticas democráticas, no âmbito da escola. São atitudes imbuídas de autonomia entre os sujeitos partícipes, mas, sobretudo, de vínculos entre eles. Nesse sentido, o conhecimento escolar adquire significado.

No contexto das falas das pessoas participantes da pesquisa, a respeito do RC das escolas, percebe-se um aspecto convergente quanto a confluência do que recomenda o Documento Orientador do ProEMI com a organização das escolas em torno da reconfiguração curricular, no que diz respeito à autonomia escolar para delimitação dessa reestruturação. Isso demonstra um nível de avanço com relação a promoção de praticas democráticas, no âmbito da escola. São atitudes imbuídas de autonomia entre os sujeitos partícipes, mas, sobretudo de vínculos entre eles. Nesse sentido, o conhecimento escolar adquire significado.

Por outro lado, colidindo com a percepção dos gestores das escolas à respeito das práticas democráticas, particularmente, a participação da comunidade escolar na definição do redesenho curricular, constatou-se fragilidades no processo de discussão coletiva entre os professores. Isso é percebido na fala da gestora central:

Apesar de que, acredito, quando você discute currículo, e se essa discussão de currículo, realmente, o projeto apresentado pela escola foi efetivamente construído de forma colaborativa, conforme a gente orienta, junto com todos os professores, com o corpo docente, discutindo as ações, junto com o projeto pedagógico da escola e tal, ele tem força e tem como, muitas das vezes, apesar da ausência de recurso, dar continuidade aos seu projeto, porque é um projeto de currículo da escola, não é um programa de ação isolada da escola. Mas, se ele discute o seu currículo, estará repensando seu fazer em sala de aula e focado na aprendizagem (Gestora Central)

Ratificando a fala da gestora central, o professor 1 da escola A aponta: Pergunta:

Professora, você teve acesso à proposta do PROEMI no início do ano letivo? Quando começou aqui na escola, você teve acesso a essa proposta, discussão dessa proposta do PROEMI?

Professor 1 da escola A: Não.

Pergunta:

O PROEMI não foi discutido com vocês aqui na escola? Professor 1 da escola A:

É que a gente chega depois em que ele é discutido. Ele é discutido naquela semana... Pergunta: Na semana pedagógica? Professor 1 da escola A: É. [...] Pergunta:

Mas você não chegou a discutir os macrocampos, onde os projetos são selecionados para fazer o redesenho curricular? Você participou dessa discussão do redesenho curricular?

Professor 1 da escola A: Não.

Pergunta:

Você tem conhecimento da proposta do programa, que são os macrocampos. Como tu avalia esses macrocampos? São oito os macrocampos. Você conhece esses macrocampos? Já teve oportunidade de conhecer, discuti-los ou acabou inserindo a sua disciplina dentro desse projeto antes de discutir, ou você participou dessa inserção?

Professor 1 da escola A:

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